Nesta semana, vamos relembrar um dos grandes pivôs da última década da NBA: Yao Ming. Pretendo fazer um paralelo entre sua carreira e todas as lesões que sofreu para entender o por quê de sua brilhante trajetória no basquete norte-americano ter sido, infelizmente, encurtada em alguns anos.
A carreira
Yao foi um dos mais altos jogadores da NBA, com 2m30 e aproximadamente 140 quilos. Após muita burocracia e discussões com o governo chinês – para o qual foi obrigado a “doar” metade de seu salário –, o pivô foi inscrito no draft de 2002 e tornou-se o primeiro estrangeiro que não atuou na NCAA a ser selecionado na primeira escolha do recrutamento, pelo Rockets.
Em Houston, Yao foi o principal jogador do time por muitos anos: escolhido para o Jogo das Estrelas em oito oportunidades, votado para um dos quintetos ideais da liga em cinco temporadas e classificou os texanos para quatro playoffs – sendo que, em 2009, a equipe passou para a segunda rodada pela primeira vez em 12 anos.
Em apenas oito temporadas com o Rockets, o chinês chegou ao sexto lugar da história da franquia em números totais de pontos (9.274) e rebotes (4.494), além de ser o segundo maior bloqueador (920). No vídeo abaixo, vemos alguns dos lances do gigante asiático e suas habilidades, raras para alguém de seu tamanho e peso.
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=htm7b_saqcs]
Os primeiros problemas com lesões
As primeiras lesões de Yao aconteceram ainda quando garoto, um jogador juvenil na China, e é por isso que o assunto está sendo discutido em nossa coluna. Segundo um médico chinês especializado na área esportiva, dois problemas mal tratados quando ainda adolescente foram os “vilões” da carreira do pivô.
Em 1997, Yao pisou no pé de um garoto adversário em uma partida e quebrou o tornozelo esquerdo. A decisão dos responsáveis pelo time do futuro astro foi fazer apenas um tratamento conservador – a base de repouso, gelo e imobilização – ao invés de optar por uma cirurgia.
Dois anos após a primeira contusão, ele sofreu outra fratura no seu tornozelo esquerdo e novamente decidiu-se por um tratamento conservador. Se, ao menos, a segunda lesão tivesse sido reparada via cirurgia, é provável que o chinês tivesse conseguido estender sua carreira um pouco mais e sofrido menos com lesões no mesmo pé.
Lesões na NBA
Yao enfrentou uma série de lesões e submeteu-se a diversas cirurgias no seu tornozelo esquerdo durante a passagem pela NBA, com a inclusão de parafusos e materiais artificiais para tentar fortalecer o combalido pé e prevenir novas lesões. Há rumores que, por conta do grande número de intervenções, todo o material inserido no pé do atleta chega a pesar, aproximadamente, meio quilo.
Basicamente, o jogador teve (no mínimo) uma lesão por ano no tornozelo ou outras áreas do corpo enquanto esteve na NBA. O que se revela um número ainda mais surpreendente grave porque ele conseguiu ser bastante saudável em suas três primeiras temporadas nos EUA, perdendo apenas dois jogos no período. Foi a partir do quarto ano que tudo começou a se complicar.
As contusões começaram com um esporão no calcanhar e osteomielite no dedão do pé esquerdo em 2005. No ano seguinte, Yao sofreu uma pequena fratura no tornozelo esquerdo, juntamente com um problema no joelho. Depois de um ano livre de lesões, ele teve mais uma fratura em 2008, agora por estresse no tornozelo. Na temporada seguinte, o chinês fraturou mais uma vez o mesmo tornozelo esquerdo. Ele retornou para a temporada 2010-11 com um plano da direção do Rockets de poupá-lo em jogos consecutivos e utilizá-lo por tempo de quadra limitado, mas foi diagnosticado com uma nova fratura por estresse e acabou decidindo pela aposentadoria.
Em quase todos os anos de sua carreira, Yao passou por problemas no seu tornozelo esquerdo – remetendo diretamente ao garoto que, lá atrás, contundiu-se na China. E, além disso, todas as outras lesões menores que vieram em seguidas são, por muitas vezes, decorrentes dos problemas e compensações de um corpo com um tornozelo claramente debilitado.
Considerações finais
A medicina esportiva sempre será um assunto complicado, pois todos sabemos dos fatores envolvidos no esporte de alto nível – pressão de patrocinadores, paixão da torcida, influência de dirigentes, interesse da comissão técnica. Tudo isso faz que muitos atletas retornem à prática na hora errada, sem o preparo correto.
A aposentadoria de Yao é a consequência de um problema maior que o esporte de alto nível encara hoje: o resultado ser muito mais importante do que a saúde dos atletas. Por mais que se diga o contrário, essa é a visão dos grandes responsáveis por comandar, “bancar” e gerenciar os times – e eles têm poder, muitas vezes, maior do que a comissão médica para decidir sobre a volta de um jogador.
No caso do pivô, é bem provável que um tratamento cirúrgico das duas primeiras lesões teria se convertido em uma carreira profissional bem menos “sofrida”, já que o corpo e o pé ficaram debilitados e susceptíveis a novos problemas. A decisão errada de quem era responsável pelo jovem Yao acabou criando uma fragilidade quase definitiva lá na frente para a carreira de um jogador que poderia ter feito muito mais história do que fez.
No fim, quem perdeu foi o basquete e todos os fãs do esporte. Yao Ming foi um dos raros casos de pivô que garantiam 20 pontos e 10 rebotes todas as noites aos seus times, além de ajudar a defesa de garrafão com aproximadamente dois tocos por jogo também. O jogador chinês fez muito dentro das quadras graças ao seu corpo grande e pesado, mas este mesmo corpo também causou-lhe danos quanto mais travava batalhas na área pintada. Ele ficou de fora de, aproximadamente, 180 partidas em oito temporadas disputadas na NBA – a esmagadora maioria deles, lembre-se, a partir de sua quarta temporada.
[polldaddy poll=7660564]
