O “Visita ao Departamento Médico” é uma das novas colunas do Jumper Brasil, onde vamos discutir as lesões mais importantes que ocorrem com jogadores da NBA. É um espaço para entendermos melhor o impacto dos problemas físicos no dia-a-dia dos atletas e as dificuldades que enfrentam para voltar às quadras em alto nível.
Para começar, nós analisaremos um caso histórico. Provavelmente, a lesão mais complicada e devastadora que um jogador da NBA sofreu nos últimos anos: o milagre do armador Shaun Livingston.
Livingston chegou à NBA vindo direto do basquete colegial e cercado de grandes expectativas. Era comparado a ninguém menos do que Magic Johnson, um dos maiores da história do esporte. Foi a quarta escolha do draft de 2004, atrás somente de Dwight Howard, Emeka Okafor e Ben Gordon.
Ele era reserva do Los Angeles Clippers e entrava em quadra para substituir o excelente Sam Cassell, com quem aprendeu muita coisa no início de carreira. No entanto, após dois anos na NBA enfrentando lesões menores, o pior aconteceu. Para aqueles que ainda lembram ou já viram o vídeo, não recomendo assistir novamente.
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=MHFs4a-Bb-c]
Em uma partida contra o Charlotte Bobcats, em fevereiro de 2007, o armador do Clippers tentou uma bandeja, caiu e teve seu joelho praticamente destruído. Para entender a complexidade do joelho humano, vamos conhecer suas estruturas.
Como podemos ver na figura, temos:
– Ligamento Cruzado Anterior (LCA) e Ligamento Cruzado Posterior
– Menisco Lateral e Menisco Medial
– Ligamento Colateral Medial e Ligamento Colateral Lateral
Na figura ainda, conhecemos os ligamentos da articulação do joelho. Eles são os responsáveis por dar a estabilidade da articulação, unindo as partes ósseas e sustentando bem a região. A boa ligação entre as estruturas possibilita maior segurança nos movimentos, além de absorver impactos da prática do esporte de uma forma mais “suave”, pois as estruturas estão bem interligadas.
Vamos ao caso de Livingston. Em sua terrível lesão, o jogador acabou lesionando quase todas as estruturas do joelho. A imagem é assustadora, como vocês puderam observar no vídeo. Começaremos a contar a história a partir do momento em que ele caiu.
A extensão da lesão foi visível no mesmo instante, pelo ângulo que a perna e o joelho fizeram quando ele aterrissou da tentativa de bandeja. Naquele momento, os médicos do Clippers que foram socorrê-lo ainda não sabiam o que tinha acontecido dentro do joelho, o dano ocorrido e a extensão das lesões.
Segundo o médico do Clippers que correu para fazer o atendimento em quadra, o joelho de Livingston parecia um pretzel – todo enrolado e amassado. A dificuldade naquele momento era que, como a região estava toda contorcida, existia a certeza de que a contusão era gravíssima. E o pior de tudo: se o atendimento não fosse eficiente, se o doutor não conseguisse colocar o joelho de volta da melhor forma possível –o deslocamento prejudicou a circulação sanguínea da perna e do pé –, a situação poderia resultar em uma gangrena e a única saída seria a amputação da perna.
Com sucesso, os médicos conseguiram voltar o joelho no lugar e carregar o jogador para o vestiário.
“É provavelmente a lesão mais grave que você pode ter com o joelho”, disse o doutor Tony Daly. “Ele pode nunca mais jogar basquete na sua vida”.
Quando saíram os resultados dos exames, veio a triste notícia: Livingston teve ruptura do ligamento cruzado anterior, ligamento cruzado posterior, ligamento colateral medial, menisco medial e menisco lateral. Tudo isso associado a um deslocamento da patela e um leve deslocamento da fíbula.
Basicamente, ele perdeu todo o joelho. Era como tirar tudo o que tinha ali dentro e substituir por uma maçã. Alguns médicos disseram que ele nunca mais poderia andar sem o auxílio de muletas, por exemplo. Mesmo com o auxílio, poderia caminhar por um período de tempo muito pequeno. A lesão foi muito grave, os danos foram muito grandes, mas o armador do Clippers estava decidido a dar a volta por cima e provar aos médicos que, além de caminhar novamente, ele ainda voltaria a jogar.
O caminho para retornar era longo. Até mesmo para poder andar, ele teve que esperar meses depois da delicada cirurgia para reconstruir seu joelho. E o processo de reabilitação também seria extenuante. Por meses, Livingston teria que dar seu máximo em sessões de fisioterapia, sempre com muito cansativos e dolorosos alongamentos, exercícios para aumentar a força das pernas, além do trabalho especializado de reabilitação do corpo à prática esportiva.
No vídeo abaixo, nós podemos acompanhar um pouco do trabalho realizado pelo atleta para conseguir, contra todas as probabilidades, voltar às quadras.
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=6zBvZH_MEX8]
A reabilitação feita pelo armador foi bem complexa e o fato dele ter voltado a jogar basquete é muito admirável, já que tinha grandes chances de não conseguir mais andar sozinho. Tinha chances de ter que conviver o resto da vida com muletas ou em uma cadeira de rodas. Conseguir correr e praticar esporte na liga de maior rendimento do mundo é um grande feito, principalmente pelo esforço físico a que são submetidos os atletas da NBA.
Livingston ainda construiu uma carreira, no mínimo, sólida como um bom reserva. Mesmo que, por muitos, possa ser considerado uma decepção por conta de toda a expectativa gerada por seu potencial, ele é um vencedor e um grande exemplo para todos os fãs de basquete.