O Philadelphia 76ers está caminhando a passos largos para fazer mais uma temporada ridícula. A equipe venceu apenas um dos 20 jogos disputados até o momento, e a tendência é a de que ainda veremos muitos vexames do Sixers até o fim da campanha. Mas a pergunta que não quer calar é a seguinte: quando é que vai acabar essa fase terrível do time de Philadelphia?
Antes de mais nada, vamos recapitular quando e como começou esse interminável processo de reconstrução. O início do rebuild remonta a maio de 2013, com a contratação do gerente-geral Sam Hinkie, após o fracasso do time em alcançar os playoffs na temporada 12/13. O executivo, que é um entusiasta das estatísticas avançadas para a avaliação de atletas, até então ocupava um cargo diretivo no Houston Rockets.
Um mês depois de sua chegada, na noite do draft, Hinkie já colocou em prática suas ideias para a reconstrução do elenco. A primeira medida foi trocar o principal jogador da equipe, Jrue Holiday. Naquele ano, o armador foi selecionado pela primeira vez para o Jogo das Estrelas. Valorizado, Holiday foi enviado para o New Orleans Pelicans pela sexta escolha do recrutamento, o ala-pivô Nerlens Noel, considerado o maior talento daquele draft. Além disso, Hinkie usou a 11a escolha do recrutamento para selecionar o substituto de Holiday, o armador Michael Carter-Williams. Começava ali o audacioso e arriscado plano de trocar os principais jogadores do time e acumular jovens talentos e escolhas de draft. É o famoso tank – quando um time percebe que não possui chances de classificação para os playoffs, monta um elenco ruim e começa a perder de forma velada para ter uma boa posição no draft.
O próximo passo foi a contratação do novo treinador, após a demissão de Doug Collins ao final da temporada 12/13. Hinkie apostou em Brett Brown, que era assistente técnico de Gregg Popovich no San Antonio Spurs. Para tirar Brown de uma franquia vencedora, na qual ele trabalhava há 11 anos, o Sixers fechou um contrato de quatro temporadas com o treinador.
2013/14
A equipe até começou a temporada 13/14 de forma surpreendente, com vitórias sobre Miami Heat e Chicago Bulls, dois dos times mais fortes da conferência Leste na época. Só que as coisas voltaram à normalidade e o time de Philadelphia conseguiu a proeza de perder 26 partidas seguidas, um recorde para a franquia. Na trade deadline de 2014, Evan Turner, Spencer Hawes e Lavoy Allen foram negociados, e o time, que já era fraco, se tornou uma piada. Com um plantel de dar inveja a qualquer equipe da Liga de Desenvolvimento (D-League), o Sixers terminou a temporada com a pífia campanha de 19 vitórias e 63 derrotas, que só não foi pior que a do Milwaukee Bucks (15-67). Ainda se recuperando de uma grave lesão no joelho, Noel não disputou um jogo sequer naquela temporada. De bom para o Sixers, apenas o início promissor de Carter-Williams na NBA, tanto que ele foi eleito novato do ano.
2014/15
No draft de 2014, o time da Philadelphia selecionou, na terceira escolha geral, o pivô Joel Embiid, considerado um dos três maiores talentos do recrutamento. Por causa de uma grave lesão no pé direito, o jogador camaronês perdeu toda a temporada. O filme se repetiu. O Sixers apostou em talento (Noel e Embiid), mas não se importou com as lesões dos jogadores. Afinal, o projeto era “apanhar” mais um tempo.
Ainda com relação ao recrutamento daquele ano, a franquia selecionou o armador Elfrid Payton (10ª escolha) e o enviou para o Orlando Magic em troca do ala croata Dario Saric (12ª escolha). Na ocasião, o jogador croata já havia avisado que não iria para a NBA de imediato, pois desejava ganhar experiência no basquete europeu. Isso fez com que ele despencasse no draft, já que era um dos quatro maiores talentos da classe.
O time de Philadelphia angariou, na segunda rodada daquele draft, os alas K. J. McDaniels e Jerami Grant, o ala-armador Jordan McRae (via troca com o Spurs) e o armador sérvio Vasilije Micić (outro que continuaria na Europa).
Na offseason do ano passado, o Sixers trocou o ala Thaddeus Young, o melhor jogador do time na ocasião. Ele foi envolvido na negociação tripla que o levou junto com Andrew Wiggins e Anthony Bennett para o Minnesota Timberwolves, enquanto Kevin Love foi para o Cleveland Cavaliers. E o que o Sixers recebeu na troca? Uma escolha de primeira rodada do draft de 2015 e os “possantes” Luc Mbah a Moute e Alexey Shved.
Veio a temporada e, com ela, mais uma campanha pífia: 18 vitórias e 64 derrotas, que só não foram piores que as de New York Knicks (17-65) e Timberwolves (16-66). Brown não podia fazer muita coisa com o elenco ridículo que tinha em mãos. Ah, e Carter-Williams, aquele que havia ganhado o prêmio de calouro de 2014, foi envolvido em uma negociação na trade deadline com Milwaukee Bucks e Phoenix Suns. Para abrir mão de seu jovem armador, que foi para o Bucks, o Sixers recebeu uma futura escolha de primeira rodada do Suns (via Los Angeles Lakers). McDaniels, que vinha se destacando em alguns jogos, também foi trocado. O ala foi para o Houston Rockers, e o Sixers, por sua vez, recebeu o armador Isaiah Canaan e uma escolha de segunda rodada do draft de 2015.
O ponto positivo na temporada foi a estreia de Noel na liga. Ele disputou 75 dos 82 jogos da temporada regular e chamou a atenção por dois detalhes: ser muito cru no ataque e ter capacidade defensiva acima da média. Noel foi recompensado com a seleção para o time de novatos da temporada.
Escolhas de draft feitas desde a chegada de Sam Hinkie
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2015/16
Pelo terceiro ano seguido, mesmo com uma das piores campanhas da liga, o Sixers não conseguiu abocanhar a primeira escolha do draft. Talvez um castigo a Sam Hinkie. Restou à franquia o direito de fazer a terceira escolha geral. Novamente, a equipe apostou no melhor talento disponível, no caso, o pivô Jahlil Okafor. Mais um jogador de garrafão oriundo do recrutamento. Pelo menos esse não tem histórico de lesões como Noel e Embiid.
Para azar do Sixers, o camaronês voltou a se machucar gravemente. Foi anunciado que o pivô faria a segunda cirurgia no pé direito e, consequentemente, perderia toda a temporada. Ah se Embiid estivesse saudável… Estaríamos acompanhando uma promissora rotação de garrafão com Noel, Okafor e ele. Fica para a próxima temporada. Ou não…
Ainda sobre o draft, o Sixers selecionou o pivô espanhol Guillermo Hernangomez (35a escolha) e o trocou com o Knicks; o ala-pivô Richaun Holmes (37a escolha), o pivô lituano Arturas Gudaitis (47a escolha), o ala J.P. Tokoto (58a escolha) e o pivô sérvio Luka Mitrovic (60a escolha).
Pouco tempo depois do recrutamento, o time da Philadelphia adquiriu o ala-armador Nik Stauskas e, pasmem, uma futura escolha de primeira rodada do draft, em uma negociação com o Sacramento Kings, que despachou para o Sixers os contratos nada amigáveis de Carl Landry e Jason Thompson. Além de receber essas “bombas”, o 76ers cedeu os direitos de Gudaitis e Mitrovic ao Kings.
O fantasma das lesões, que tambem gosta de aparecer em Philadelphia, atingiu Stauskas, que perdeu toda a pré-temporada e o jogo inaugural de 2015/16 (contusão por stress na tíbia direita). Vale lembrar que o jogador canadense foi a oitava escolha geral do recrutamento do ano passado, ou seja, o Sixers passou a ter em suas fileiras mais uma pick de loteria.
Próximos passos
Brown está no penúltimo ano de contrato e a necessidade do Sixers apresentar resultados decentes está batendo à porta da franquia. Como terá, seguramente, mais uma pick TOP 5, e a possibilidade de outras três escolhas de primeira rodada no próximo recrutamento, quero acreditar que esta será a última temporada de tank do 76ers. Uma franquia tradicional, que já conquistou três títulos (1955, 1967 e 1983), não pode continuar dando vexames históricos.
Hinkie parece que se esqueceu de que a cultura da vitória é importante para uma franquia. Desde que ele assumiu como GM, a equipe perdeu 146 dos 184 jogos disputados (79,3%). De que adianta ter um time jovem, com alguns talentos, é verdade, que perde noite após noite? E daqui a pouco, os contratos de novatos desses jogadores vão se encerrar. Será que eles vão ter motivação para continuar em uma equipe com espírito derrotista?
A impressão é de que Hinkie se perdeu nesse louco processo de reconstrução. Ou então ele é um gênio incompreendido. Dos 16 jogadores selecionados por ele no draft, apenas Embiid, Okafor, Grant e Holmes permanecem na equipe. Trocou Carter-Williams logo após o armador ter sido o novato do ano. Trocou McDaniels, que foi um achado na segunda rodada. O time simplesmente não tem continuidade, não tem identidade. Alguém sabe a escalação do perímetro titular do Sixers? Hinkie não dá tempo para que os jovens se desenvolvam. Não dá para criticar o treinador nessa Torre de Babel em que se transformou a franquia. O trabalho de Brown vem sendo minado pelo plano maluco de Hinkie.
Elenco do Sixers nesta temporada – Média de idade de 22,7 anos
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Os vexames têm que acabar nesta temporada. É preciso colocar um fim a essa fase de “laboratório”. Já deu para perceber que Okafor e Noel foram escolhas acertadas (apesar de que tenho seríssimas dúvidas se eles podem atuar juntos) e que Covington e Grant merecem permanecer na equipe. No ano que vem, se tudo “der certo”, Embiid vai estar recuperado da lesão e o time de Philadelphia terá a primeira escolha do draft e a chance de selecionar um talento como Ben Simmons. Ele e o croata Saric podem atuar nas posições 3 e 4.
Nos últimos recrutamentos, a equipe priorizou o garrafão. Chegou a hora de reforçar o perímetro. Seja no draft, via troca ou agência livre. E se quiser trazer algum reforço decente, o Sixers vai ter que abrir os cofres. Atualmente, só mesmo muita grana para convencer algum jogador de nível aceitar jogar pelo time. Espaço na folha salarial não vai faltar – cerca de US$63 milhões. Oito dos 15 jogadores do atual elenco têm contratos garantidos em 2016/17: Okafor, Noel, Embiid, Stauskas, Covington, Grant, Holmes e Landry. Reparem que apenas três deles atuam no perímetro.
Enfim, o Sixers é grande demais para se sujeitar a esse tank eterno. A torcida não aguenta mais a chacota. Uma franquia que já teve em suas fileiras lendas como Wilt Chamberlain, Julius Erving, Moses Malone, Charles Barkley, Allen Iverson e Dikembe Mutombo não merece um elenco recheado de jogadores medianos/médiocres. Acorda, Sam Hinkie!