O Brasil nunca teve tantos representantes na NBA. São nada menos que nove, no total. Um recorde absoluto para o nosso país, que vai sediar os Jogos Olímpicos em 2016, no Rio de Janeiro. O problema é: eles não estão jogando.
O técnico Rubén Magnano está de orelha em pé e já conversou com a maioria de seus atletas. Ele quer saber qual será a condição física deles, mas principalmente, a técnica.
Claro que não se desaprende a jogar. Quem tem talento, consegue encontrar atalhos. Mas a falta de ritmo preocupa até o mais experiente.
Para temos uma ideia, se forem somados a média de minutos de todos os nove, teríamos apenas 99.2. Digo apenas porque na NBA, uma equipe atua por 240 minutos a cada partida. Ou seja, temos somente 41.3% do tempo de quadra de um jogo.
Em entrevista aos jornalistas Bernardo Cruz e Jonas Moura, do Lance!, Anderson Varejão comentou o momento dos jogadores.
“Acho que é muito cedo para falarmos sobre isso. A temporada é longa, são 82 jogos”, afirmou em novembro. “É claro que todos nós gostaríamos de jogar mais tempo. Infelizmente, por algum motivo não estamos jogando tanto. O importante é que todos se mantenham em forma e preparados para essa temporada e para a Seleção. Desde já, temos que nos cuidar para ajudar o Brasil na briga por uma medalha olímpica”.
Varejão é um dos veteranos da seleção. Aos 33 anos, ele é parte vital do grupo há mais de uma década. Mas as frequentes lesões pelo Cleveland Cavaliers atrapalham os planos de Magnano. Após sofrer uma contusão no tendão de Aquiles, o camisa 11 do Brasil ficou fora de quase toda a temporada 2014-15 e, quando recuperou-se, viu o russo Timofey Mozgov em seu lugar. Resultado: ele está jogando por apenas nove minutos por partida. Isso, quando pisa em quadra.
Nenê, do Washington Wizards, também perdeu a titularidade. Depois de quase cinco anos como um dos principais jogadores da equipe, ele foi para o banco de reservas por conta de um novo estilo de jogo adotado pelo treinador Randy Wittman. Para piorar sua situação, uma contusão na panturrilha não o deixa atuar desde o dia 27 de novembro.
Tiago Splitter mudou de time. Deixou o San Antonio Spurs rumo ao Atlanta Hawks para jogar com o seu antigo assistente, e agora técnico, Mike Buddenholzer. Só que no Hawks, existem dois titulares incontestáveis no garrafão: Al Horford e Paul Millsap. Seus números por 36 minutos, entretanto, são bons. Ele produz 12.5 pontos, 7.3 rebotes e um aproveitamento recorde de 81.5% na linha dos lances livres.
Já Leandro Barbosa, do atual campeão Golden State Warriors, convive com o que lhe é oferecido na equipe. Com o MVP Stephen Curry e o calibrado Klay Thompson no time, Leandrinho sai do banco para dar velocidade ao elenco e para dar descanso aos titulares. Outrora melhor reserva da NBA, hoje atua por 14 minutos.
Agora, um fato preocupante: a armação.
Marcelinho Huertas é o titular da seleção há vários anos e até hoje, ninguém conseguiu superá-lo. Dono de uma ótima visão de quadra, Huertas conseguiu realizar o sonho de atuar na NBA. O problema é que foi para o Los Angeles Lakers, onde só joga se algum dos atletas de perímetro estiverem contundidos. Isso incomoda, pois é ele quem dita o ritmo das jogadas e é o mais qualificado para exercer sua função nas Olimpíadas.
Alguns rumores apontam que ele teria recebido propostas de times para retornar ao basquete europeu. Mas sabendo de seus atributos, Marcelinho bem que poderia ficar na NBA, mas em outra equipe. Até o momento, é improvável.
A base
O Brasil conta com quatro jovens jogadores na liga. Todos eles, promissores. Quem aparece mais hoje é Raul Neto, do Utah Jazz.
Raulzinho é o único titular brasileiro na atualidade. A lesão de Dante Exum o ajudou e ele divide seus minutos com Trey Burke. Ainda inconstante, o armador é muito elogiado por sua defesa e tem aprimorado o arremesso de longa distância. Em 2015-16, converteu 38.3% das tentativas, uma marca expressiva.
Lucas Nogueira, o Bebê, recebeu algumas oportunidades quando Jonas Valanciunas se machucou. Vindo do banco no Toronto Raptors, o pivô chegou a fazer 14 pontos em uma partida. Cheio de confiança, Bebê faz parte do futuro da seleção e já poderia ser convocado para as Olimpíadas. Ainda está em desenvolvimento, mas o talento está ali.
Seu colega no Raptors, Bruno Caboclo e o ala-pivô Cristiano Felício, do Chicago Bulls, são tiros no escuro no momento. Ambos possuem bom potencial e, assim como Bebê e Raulzinho, serão fundamentais no futuro.
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Os outros
Ainda é uma incógnita quais serão os outros convocados por Magnano. Baseando-se pelo elenco que disputou o Mundial de 2014, Marquinhos e Alex Garcia parecem nomes certos. Vitor Benite está no Murcia, da Espanha, onde faz 7.8 pontos, mas com apenas 33.3% de aproveitamento nos arremessos na ACB. Seu companheiro, o pivô Augusto Lima, está com 8.3 pontos e 6.3 rebotes.
Guilherme Giovannoni e Larry Taylor terão 36 e 35 anos, respectivamente na época das Olimpíadas. Difícil cravar suas participações.
Já Rafael Hettsheimeir, atleta do Bauru, é um dos destaques do NBB com 15.2 pontos e 5.9 rebotes em aproximadamente 29 minutos.
Resultados
No Mundial, o Brasil fez uma primeira fase excepcional, com cinco vitórias em seis jogos. Na fase dos mata-matas, superou a Argentina por 20 pontos de diferença nas oitavas, mas caiu perante a Sérvia por 84 a 56. A classificação para a disputa do torneio, porém, veio apenas via “convite” da Fiba. E isso quase tirou a seleção das Olimpíadas porque o pagamento demorou a ser feito e o a federação ameaçou com a exclusão das próximas competições. A CBB se acertou e agora pode pensar em como fazer uma boa participação.
As chances de o Brasil fazer um bom papel nas Olimpíadas são reais. Apesar do pouco tempo de quadra, os jogadores são talentosos e o argentino Magnano tem um currículo impecável. Haverá tempo para ele trabalhar, já que a temporada da NBA termina, no máximo no fim de junho. Os Jogos Olímpicos acontecem entre 5 e 21 de agosto. Ou seja, ele terá pelo menos um mês para fazer amistosos e criar um ambiente vencedor.