Rumornelli: NBA já teria ideia para o teto salarial

Preocupação cresce sobre possibilidade de jogos sem torcida na próxima temporada

Fonte: Preocupação cresce sobre possibilidade de jogos sem torcida na próxima temporada

Uma das maiores dúvidas que assolam o cenário da NBA durante a pandemia é sobre o que vai acontecer com o teto salarial. Diretamente vinculado às finanças da liga, o limite de gastos que as franquias podem ter em suas folhas de pagamento se tornou imprevisível e um problema latente.

Continua após a publicidade

Nos últimos anos, os salários e o teto vieram numa escalada impressionante, puxados pelo crescimento constante da liga. Isso gerou maior movimento de jogadores, já que para eles se tornou mais vantajoso assinar contratos mais curtos para que pudessem, cada vez mais, assinar contratos recorde.

Antes da pandemia, as receitas da NBA para esta temporada eram projetadas em US$ 8,4 bilhões. Agora, a estimativa já é de US$ 1 a 2 bilhões a menos, com esse número podendo piorar bastante caso a temporada que vem ainda não tenha torcida nos ginásios, já que 40% da receita total vem de bilheteria e outros proventos relacionados à torcida nos jogos.

Continua após a publicidade

Brian Windhorst e Tim Bontemps, insiders da ESPN americana, conversaram recentemente com diversos executivos e agentes ao redor da liga, e perceberam um clima propício para uma solução intermediária. Segundo eles, a ideia predominante seria a de manter o teto artificialmente alto, pelo menos na próxima temporada, para não penalizar demais equipes e atletas que vinham se planejando para a realidade pré-pandemia.

Neste cenário, a NBA manteria o teto nos atuais US$ 109 milhões para 2020-21, mesmo com a queda vertiginosa nas receitas. Isso permitiria, por exemplo, que atletas que vão ser agentes livres nesta offseason não saiam prejudicados. A maioria dos contratos – especialmente os máximos – são vinculados a percentuais do teto salarial, e com isso um atleta que assinasse este contrato numa realidade de teto reduzido veria seus proventos baixarem muito.

Continua após a publicidade

Além disso, times que já têm grandes contratos comprometidos teriam que operar no vermelho, com a punitiva luxury tax pairando sobre a cabeça de todos. Muito se falou em um teto salarial em torno de US$ 95 milhões caso a realidade fosse aplicada. Como ficariam times como Golden State Warriors e Philadelphia 76ers, que já têm mais de US$ 140 milhões comprometidos para o ano que vem? Na sequência, aparecem Brooklyn Nets e Milwaukee Bucks acima dos US$ 130 milhões, com mais de dez times na casa dos US$ 120 milhões.

Este valor não inclui renovação com eventuais agentes livres e salários de escolhas de Draft, então fica clara a inviabilidade de uma redução no teto salarial, o que faz com que a saída de manter o teto artificial seja bastante atrativa para todos.

NBA e NBAPA, a associação dos jogadores, estabeleceram setembro como data-limite para chegar a este acordo, e existe vontade das duas partes para que as negociações se desenrolem o mais rápido possível. Ninguém quer perder mais tempo de jogo, e a agência livre deve começar em 18 de outubro.

Continua após a publicidade

Outro ponto discutido é sobre o percentual de salários dos jogadores que fica retido durante a temporada. Como as receitas são apenas uma previsão no começo do campeonato, atualmente 10% dos salários devidos aos atletas fica retido como uma espécie de “garantia”, e é pago a eles no final da campanha caso a liga realmente atinja aquela previsão de receita. Na solução debatida, esta quantia subiria para 20% dos salários, o que é um ponto que deve gerar discussões mais acaloradas.

A questão dos jogos sem torcida também é crucial. O comissário Adam Silver tem dito que a liga vai respeitar as decisões de cada autoridade regional sobre permitir ou não jogos com público, o que pode gerar uma temporada 2020-21 começando com times podendo jogar com torcida e outros não. Diante do dado que 40% das receitas vêm de bilheteria e relacionados, não parece que a liga estaria disposta a impedir que houvesse torcida onde fosse permitido, mas o que isso geraria em termos de balanço competitivo?

Continua após a publicidade

Além disso, pelo menos em tese, os maiores mercados como New York, Los Angeles e San Francisco devem ser os últimos a abrir, e a lucratividade das receitas em dia de jogo pode reduzir bastante. Se tradicionalmente estes mercados ditam os rumos financeiros da liga, a NBA estaria dependente de praças menores para gerar receitas, onde inclusive grandes negócios locais que dependem da NBA têm mais força local, como restaurantes, hotéis e as próprias arenas e franquias.

Outro possível reflexo é na propriedade das franquias. Se na última década vimos valores recordes na compra e venda de times na NBA, pode ser que tenhamos um cenário onde alguns donos mais impactados precisem se desfazer do negócio. Tilman Fertitta, por exemplo, comprou o Houston Rockets por US$ 2,2 bilhões em 2017, e fez sua fortuna no ramo de restaurantes, sendo um dos maiores empresários do setor nos EUA. Este segmento é um dos mais afetados com a pandemia, e deve continuar assim pelos próximos tempos.

Continua após a publicidade

Não há, ainda, indicativo de insolvência de Fertitta, mas é só um exemplo de como este tipo de situação pode mudar o processo decisório de várias franquias. Vale lembrar que após 2008, ano em que tivemos uma crise financeira global, várias franquias mudaram de dono e a liga teve até problemas para encontrar compradores, precisando assumir a direção do New Orleans Pelicans (então Hornets) durante algum tempo, até que encontrasse um novo dono disposto a fazer o investimento.

O cenário segue bastante incerto, mas a ideia de times e jogadores é atravessar este momento da maneira mais indolor possível, e para isso o teto salarial artificial parece a solução mais lógica. Medidas complementares como o aumento do percentual de garantia e uma renovada cláusula de anistia, já aplicada em outros momentos, parecem ser o complemento ideal para este plano.

Continua após a publicidade

A relação entre liga e jogadores é muito boa e a melhor entre todas as ligas de esportes americanos. As duas partes trabalharam juntas na criação da solução para a retomada da temporada em Orlando, e existe confiança e objetivo mútuo para chegar a um novo acordo. As atuais regras não foram feitas para uma crise tão longa, então vai ser bastante curioso ver o que as partes conseguem bolar para contornar o maior obstáculo da história recente da NBA.

Últimas Notícias

Comentários