Oscar Schmidt: maior cestinha da história do basquete, com 49.737 pontos. Maior pontuador da história dos jogos olímpicos, com 1.093 pontos em cinco Olimpíadas, o que também é o recorde de participações. Maior cestinha da seleção brasileira e principal nome do maior título de nossa história, o Pan Americano de 1987, conquistado na casa da seleção dos EUA, derrotada na final.
Ídolo na Itália, onde jogou durante 11 anos e inclusive inspirou Kobe Bryant, então criança, que morava naquele país. Jogador do Hall da Fama da FIBA e homenageado pela NBA, com amplo reconhecimento como um dos maiores atletas de todos os tempos. É o jogador de basquete com a carreira mais longeva de história, tendo atuado profissionalmente durante 29 anos. Recusou a oportunidade de jogar na maior liga de basquete do mundo para defender a seleção de seu país, e se orgulha muito por isso.
Onde quer que se apresente um currículo desses, Oscar seria considerado um mito do esporte. Mas no Brasil, ainda existem aqueles que insistem em criticá-lo.
“Ele era fominha”, dizem alguns. “Chutava muitas bolas de três”, afirmam outros. Estes mesmos chegam a afirmar, de maneira convencida, que o estilo de jogo de Oscar individualista e arremessador demais teria estragado toda uma geração de jogadores brasileiros que o copiaram na sequência. Falácia pura.
Oscar foi um jogador de estatura global, num momento onde o basquete brasileiro não era nada. Já nos anos 80 ele arremessava (e convertia) bolas de três muito acima de qualquer média. A bola de três é uma arma importantíssima no basquete, tanto é que seu uso vem crescendo na NBA década após década. Nos anos 1980, um time arremessava em média cinco bolas de três por jogo. Hoje, times costumeiramente tentam pelo menos vinte bolas de longa distância por partida. Não é exagero dizer que, neste quesito, Oscar não apenas estava muito a frente de seu tempo, como também poderia ter revolucionado a NBA daquela época caso tivesse optado por jogar lá.
Mas ele não foi. E fez isso para defender a seleção brasileira. Três anos depois do Draft de 1984, onde foi selecionado pelo então New Jersey Nets, ele ganhou o título máximo do basquete brasileiro.
“Mas ele não jogou contra os profissionais dos EUA”, respondem os críticos. Claro, isso é óbvio. Pelos mesmos motivos que impediam Oscar de jogar pela NBA e pela seleção, os profissionais dos EUA em atividade na maior liga do mundo também não podiam. Não significa que o time que Oscar e seus companheiros bateram em solo americano era ruim. Muito pelo contrário. A equipe tinha nomes como David Robinson, Danny Manning e Rex Chapman, Os EUA dominaram o torneio e estavam 12 pontos a frente no intervalo, quando Oscar decidiu o jogo. Ele anotou 35 pontos na segunda etapa, num total de 46 no jogo.
Os EUA tinham perdido apenas uma outra edição de Pan Americano em 36 anos de história dos jogos, e esse foi apenas a terceira partida em que a seleção americana saiu derrotada em toda a história desta competição. Ou seja, era uma equipe que dominava o basquete nesta competição, fossem profissionais ou não, e o time liderado por Oscar venceu na casa deles. Como pode haver brasileiro que não se orgulhe desta conquista, e ainda por cima consiga criticar seu protagonista?
Teimoso. Fominha. Polêmico. Gênio difícil. Sim, Oscar é tudo isso. Mas isso não é exclusividade dele. Muitos gênios da pontuação no basquete possuem características de personalidade parecidas, que em última análise são meras expressões de sua incomparável e implacável vontade de vencer. Kobe Bryant e Michael Jordan, por exemplo, sofreram o mesmo tipo de crítica em suas carreiras, mas as vitórias e os títulos conquistados apagaram isso. Por que com Oscar deveria ser diferente?
É um mal do brasileiro não saber reconhecer suas conquistas e seus ídolos. Infelizmente, o mundo faz isso melhor do que nós, e com Oscar vemos apenas mais um caso destes. Não é a toa que a seleção brasileira acumula fracassos e desilusões nos últimos anos, mesmo com tantos atletas jogando na NBA e na Europa. Oscar tinha algo a mais: a vontade de vencer e de representar a camisa de seu país acima de tudo. E isso fez dele o maior cestinha da história do basquete. Não é pouco e ele deve ser respeitado ao invés de ver suas conquistas colocadas em cheque.
Na última segunda-feira, ele foi homenageado pelo Brooklyn Nets, equipe pela qual teria jogado se tivesse escolhido ir a NBA. Na sexta-feira, vai participar do jogo das celebridades no final de semana das estrelas. Ainda é tempo do torcedor brasileiro reconhecer sua grandeza e aplaudi-lo, quando finalmente ele fizer sua estreia na NBA.