Se existe um time na NBA que pode estar perdendo, vendo a equipe desmoronar, e seu torcedor vai continuar acompanhando, é o Los Angeles Lakers. Responsável por nada menos que 15 títulos na liga, mais um da BAA, a franquia californiana não só possui mais adeptos, mas também é a que vale mais, de acordo com a revista Forbes. O momento ruim dentro de quadra contrasta com o passado de vitórias e de inúmeros ídolos.
Uma pergunta rápida: para você, torcedor do Lakers, quem é o melhor jogador de todos os tempos do time? Alguns vão arriscar Magic Johnson, outros, porém, vão cravar Kobe Bryant, ou até mesmo Kareem Abdul-Jabbar. De qualquer forma, todos eles foram responsáveis por algo quase inacreditável: o Lakers jamais ficou de fora dos playoffs por mais de duas temporadas seguidas. E isso aconteceu apenas uma vez, entre 1974-75 e 1975-76. Isso certamente irá se repetir neste ano, porém a corrida contra o tempo já é para evitar uma inédita terceira.
Enquanto a diretoria se prepara na tentativa de evitar este sofrimento, vamos até o início dos anos 90, quando o Lakers sofreu sua pior derrota de todos os tempos: a descoberta do vírus HIV em Magic.
Aos 31 anos, Johnson já era um jogador consagrado. O sujeito foi selecionado nada menos que 11 vezes em suas 12 primeiras temporadas para o Jogo das Estrelas, cinco vezes campeão, outras três eleito o MVP, e líder em assistências em três ocasiões. Isso é algo para poucos. Bem poucos.
Na temporada 1990-91, Magic e o Lakers enfrentaram o Chicago Bulls de Michael Jordan em uma das finais mais empolgantes de todos os tempos. Ora, de um lado estava um verdadeiro mito e do outro, um que estava iniciando sua sequência de seis anéis. Ter perdido o título para Jordan deixou o então armador bastante irritado, o que era algo bastante difícil de acontecer pelo já conhecido ótimo humor. Ele estava mordido e queria a revanche de todas as formas no ano seguinte.
Entretanto, durante os testes físicos para 1991-92, Johnson descobriu que portava o vírus da doença e foi obrigado a abandonar a brilhante carreira de forma abrupta. Apesar de alguns jogadores na época se mostrarem contra, Magic foi escolhido para atuar como titular no All Star game daquele ano pelo voto popular e aquele jogo não poderia terminar de forma diferente, a não ser com uma cesta dele no fim. Deixamos de lado o fato de a partida ainda não ter acabado oficialmente. Foi ao mesmo tempo épico e o primeiro fim para o lendário camisa 32.
Posteriormente, ele ainda disputou as Olimpíadas de Barcelona, em 1992, e foi um dos grandes destaques. Sem erros, sem surpresas. Foi exemplar.
Mas o Lakers sentia sua ausência. E de forma dura.
Sem ele em quadra, o time foi aos playoffs nos dois anos seguintes, mas o resultado não agradava ninguém. Eliminado nas duas vezes ainda na primeira rodada e para piorar ainda mais, sequer se classificou em 1993-94, quebrando uma série de 17 anos consecutivos. Até Magic se aventurou como treinador, após a demissão de Randy Pfund, o mesmo executivo do Miami Heat entre 1996 e 2008.
Mesmo contando com jogadores como Vlade Divac, Elden Campbell, Nick Van Exel, e os promissores George Lynch e Doug Christie, além dos já veteraníssimos James Worthy e Kurt Rambis, o Lakers não teve forças para superar seus rivais de conferência.
Os próximos anos foram considerados péssimos, apesar de o time sempre se classificar para os mata-matas, sempre caía cedo. Magic ainda retornou às quadras em 1995-96 por 32 jogos, na maioria das vezes como ala ou ala-pivô. Mas quem se importava com isso? O cara chegou a jogar de pivô na partida decisiva de 1979-80 e ainda saiu como o MVP das finais. Porém, ali ele parava de vez.
Cinco anos depois do pior anúncio que o Lakers poderia ter, o time fez um de seus melhores: a contratação do pivô Shaquille O’Neal.
Vindo do Orlando Magic, onde chegou a disputar uma final diante do Houston Rockets de Hakeem Olajuwon, Shaq já era realidade. Em quatro temporadas pelo time da Flórida, ele havia quebrado algumas tabelas e deixado grandes pivôs sem respostas dentro de quadra. O’Neal passava por cima de qualquer um, era o mais dominante dentro do garrafão, mas faltavam-lhe títulos. Apesar disso, naquele ano, chegara um jogador vindo direto do colégio para ser seu fiel escudeiro: Kobe.
A parceria teve sucesso quase imediato, porém ainda não estava completa. Precisavam de um treinador capaz de organizar todos os sentidos dentro e fora das quadras, além de alguém com uma tática vencedora. Phil Jackson foi a resposta em 1999-00.
O triângulo ofensivo, um dos responsáveis por seis títulos em Chicago, estava em Los Angeles e Jackson o encaixou, mesmo quando Shaq se perguntava se seria eficaz: “Certo, triângulo. Então, quem sou eu? Luc Longley? Estranho”.
Mas foi.
https://www.youtube.com/watch?v=6HlDyLpfDWE
O Lakers triunfou por três vezes seguidas, mas a segunda delas foi deslumbrante. Nos playoffs de 2000-01, o time sofreu apenas uma derrota, e nas finais para o Philadelphia 76ers de Allen Iverson. O’Neal foi o MVP nas três ocasiões, com sobras.
Enquanto Shaq reinava, aos poucos Bryant ganhou espaço e tornou-se, com todos os méritos, o status de estrela e até mesmo cestinha da equipe.
Em 2002-03, um revés. A relação dos dois, outrora perfeita, passou a ter contratempos quase que diários. Tanto que foram formados dois grupos dentro do elenco. Um em prol de O’Neal e outro a favor de Kobe. A situação não poderia ser diferente além de uma eliminação para o time que seria campeão naquele ano, o San Antonio Spurs.
Arestas foram aparadas, ao menos oficialmente, para 2003-04. A ambição da diretoria e de seus principais jogadores era a mesma: mais um título.
Para tal, o Lakers assinou com os astros Karl Malone e Gary Payton.
Já contei isso para vocês uma vez, mas vou contar de novo.
Payton simplesmente não entendia os triângulos, o que não chega a ser nenhuma vergonha para J.R. Smith. Malone se machucou ao tropeçar no pé de Derek Fisher, enquanto Shaq e Kobe pouco se falavam.
Apesar disso, dentro de quadra os gênios se entendiam e o time chegou nas finais como o franco favorito contra o Detroit Pistons.
Mas Shaq estava pesado demais para cobrir os arremessos de Chauncey Billups e Rip Hamilton do lado da tabela, e também não conseguia se livrar totalmente do paredão formado por Ben Wallace e Rasheed Wallace. Kobe estava muito bem marcado por Tayshaun Prince, e o resto foi apenas o resto mesmo.
O Pistons sacramentou não só a derrota do Lakers, mas o fim de uma era. O’Neal foi trocado para o Miami Heat, enquanto Malone se aposentou, Payton saiu correndo para o Boston Celtics, e Jackson escreveu o livro “The Last Season: A Team in Search of its Soul”, que conta a guerra de egos e as brigas que teve com Bryant.
Esse desmanche resultou em 2004-05 sem playoffs para o time de Los Angeles. Para quem tinha O’Neal, contar com Chris Mihm como titular foi quase que você trocar uma Ferrari por um Fusca. E não estou exagerando.
Jackson resolveu voltar ao Lakers em 2005-06, mas os resultados não passavam de novas eliminações na primeira rodada. Até que um dia a direção resolveu agir: conseguiu enviar Kwame Brown, alguns trocos de bala e os direitos do então desconhecido na NBA Marc Gasol pelo seu irmão, Pau.
E a troca não só surtiu efeito quase imediato, como também deixou uma sensação de que o Memphis Grizzlies levou uma senhora manta. Claro que demorou a cair a ficha e Marc ainda levou tempo para se tornar o que é hoje, mas naquele momento foi algo absurdo.
O Lakers voltou às finais e contra o Boston Celtics, que estava em seu primeiro ano com Paul Pierce, Kevin Garnett, Ray Allen, e Rajon Rondo. Perdeu, mas Jackson tinha novamente um elenco de respeito, com Lamar Odom em grande fase e Andrew Bynum ganhando respeito.
Em 2008-09 e na temporada seguinte, o Lakers superou o Orlando Magic e se vingou do Celtics, conquistando dois títulos consecutivos. Já em 2010-11, parou pelo caminho após ser derrotado pelo Dallas Mavericks, que bateu o Miami Heat na final.
Jackson parou por ali. Deu lugar a Mike Brown, ex-técnico do Cleveland Cavaliers. Mas Brown durou só por uma temporada e cinco jogos de 2012-13. Mike D’Antoni assumiu o cargo com um elenco de dar inveja, que contava com Steve Nash, Dwight Howard, além de Gasol e Kobe.
Mas quem pensou que aquele time pudesse ser campeão, se enganou completamente. E eu me incluo nesta. O grupo era excelente, porém era pouco, ou quase nada eficaz. Quase não se classificou para os playoffs, e logo Howard rumou para o Houston Rockets. Aparentemente, alguns problemas aconteceram por ali entre Bryant e ele.
https://www.youtube.com/watch?v=mwokzThiJ18
De contrato renovado, Kobe bem que poderia ter pensado em ajudar seu time a contratar jogadores de peso em busca de um novo título. Mas não. Ele preferiu seguir ganhando muito, ao contrário de Dirk Nowitzki, e o Lakers também não se ajudou.
Quando poderia brigar por jogadores talentosos, preferiu reassinar com Nick Young, Jordan Hill, e deu acordos lucrativos para Jeremy Lin e Carlos Boozer, além de não ter feito a menor questão de acertar novos salários com Pau Gasol.
Hoje, o Lakers está em baixa. Quem vê esse Gasol que vai disputar o Jogo das Estrelas como titular, fica intrigado com aquele que vestia a 16 dourada. São dois completamente diferentes, o que já fez vários jornalistas se perguntarem se o problema não era ele, mas a falta de empenho. Agora, aquela preguiça era devido a algum jogador ou será que a questão era com a diretoria?
De uma forma ou de outra, ele faz parte do passado, assim como as derrotas. Bem, essas ficam até o fim de 2014-15. Mas a partir da próxima temporada, isso deve mudar.
O Lakers terá um espaço gigantesco em sua folha salarial, mesmo que Bryant permaneça no elenco. Existe uma possibilidade de ele parar, por conta de repetidas lesões, e até porque ele não precisa provar mais nada para ninguém, convenhamos.
Essa nova reconstrução precisa ser séria, sem contratos de gratidão, e com apenas uma meta: voltar a brilhar. Até porque, para o torcedor — que não quer ouvir sobre a aposentadoria de Kobe por nada — não suporta mais ver jogadores de nível questionável em seu elenco e jamais imagina ver o recorde de três temporadas seguidas fora dos playoffs.
Ah, quase ia me esquecendo. Na última quinta-feira, conhecida também como ontem ou hoje (são 7 da manhã quando termino de escrever e ainda não dormi), o Jumper Brasil completou oito anos de existência, graças aos nossos leitores, patrocinadores, e ao imenso esforço de meus colegas. Sem tudo isso, jamais estaríamos aqui. É um hobby, mas é um hobby sério. Obrigado a todos que contribuíram durante todo esse tempo.