Reconstruções – Parte 2

Depois de seis títulos em oito anos, o Chicago Bulls passou por várias transformações

Fonte: Depois de seis títulos em oito anos, o Chicago Bulls passou por várias transformações

A diretoria do Chicago Bulls sempre foi duramente criticada, mesmo nos tempos em que o time vencia. E durante alguns anos, Jerry Heinsdorf, foi apontado como um dos grandes vilões dos jogadores e da própria associação que os representa. Ele nunca quis pagar altíssimos salários aos seus atletas, que por vezes deixavam a equipe em busca de melhores e lucrativos contratos.

Mas Heinsdorf nunca deixou de lado a ideia de montar grandes grupos de atletas, até mesmo nas temporadas em que o Bulls fracassava em quadra. Existe uma linha tênue entre formar um time vencedor e perder de propósito, na busca por uma escolha alta no próximo draft, especialmente quando a equipe depende em demasia de um ou outro jogador.

No entanto, após adquirir a franquia em 1985, ele apostou todas as suas fichas em Michael Jordan e foi bem recompensado por tal. Jordan era um fenômeno dentro e fora das quadras. Primeiro, por ser uma continuação para a própria NBA na tentativa de mudar o cenário e a visão dela para o público. Antes, Magic Johnson e Larry Bird trouxeram do basquete universitário a rivalidade, expandida ao Los Angeles Lakers e Boston Celtics. Até então, a liga era vista como um espaço de viciados em drogas, arruaceiros e verdadeiros bandidos. Porém, Jordan, Magic e Bird, fizeram exatamente o contrário e trouxeram a família para o jogo. Além disso, Jordan trazia ao americano o sonho de um dia ser vencedor, superando todos os limites.

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Até o Bulls conquistar o seu primeiro título, o time penou diante do Detroit Pistons. Jordan apanhava de todas as formas de Bill Laimbeer, Dennis Rodman, Isiah Thomas, e John Salley, e simplesmente não conseguia jogar. Com o seu principal atleta “fora” de combate, o time de Illinois foi eliminado em três ocasiões seguidas pelo Pistons. Mas esses dias estavam por acabar.

https://www.youtube.com/watch?v=qYFzyyNq1IQ

Em 1990-91, Jordan já tinha Scottie Pippen ao seu lado. Phil Jackson estava em seu segundo ano na franquia e pretendia solucionar os problemas do “quase”. Contra um Pistons em um verdadeiro fim de feira, varreu o rival na final de conferência. Por três temporadas, Los Angeles Lakers, Portland Trail Blazers, e Phoenix Suns, tentaram, sem sucesso, desbancar o time do melhor jogador de todos os tempos. Mas a morte de seu pai o fez refletir sobre o futuro. Jordan não queria mais jogar basquete e foi tentar a sorte no beisebol. Quem perdeu com isso? O próprio basquete.

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Na primeira temporada sem o astro, o Bulls visivelmente não era um time campeão. Pippen chegou ao ponto de liderar a equipe em todas as principais estatísticas, mas era pouco. Já em 1994-95, o croata Toni Kukoc era tido como a principal esperança por dias melhores até que Jordan, enfim, retornou contra o Indiana Pacers trajado com a camisa 45. Ainda sem o ritmo ideal, ele voltou a utilizar a 23 e conduziu o Chicago aos playoffs. Diante de um Orlando Magic com Shaquille O’Neal, Penny Hardaway, Nick Anderson, e Dennis Scott, o Bulls não teve armas para superar o adversário.

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Então, Jackson se encontrou com Rodman e perguntou se ele gostaria de ser um jogador do Bulls. Sua resposta, um singelo “tanto faz”, foi suficiente para o técnico dizer: “Muito bem. Bem-vindo ao Chicago Bulls”. Sem Horace Grant, que havia se transferido para o Magic, o Chicago teve no camisa 91 duas sensações ao mesmo tempo: win or wall, uma alusão aos pilotos de automobilismo que se arriscavam muito e poderiam tanto vencer, quanto bater no muro. Para evitar isso, Jack Haley foi contratado como uma espécie de babá de Rodman. Haley era seu melhor amigo no Spurs e fez um bom trabalho, com raras exceções.

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O Bulls tinha Batman, Robin, e Rodman. Steve Kerr, hoje técnico do Golden State Warriors, era o principal arremessador de três, enquanto Ron Harper fazia um trabalho defensivo magnífico e dominava o triângulo ofensivo como poucos. Antes de ir para o time de Chicago, Harper era mais conhecido pelo talento ofensivo no Los Angeles Clippers e no Cleveland Cavaliers. Para completar o grupo, estavam ali os promissores que não passaram disso Dickey Simpkins e Jason Caffey, o pivô Luc Longley e seu reserva, o lenhador Bill Wennington, além de Jud Buechler e de Kukoc. Ah, Salley também estava no elenco das até agora imbatíveis 72 vitórias. 

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Mais três anos, outros três títulos. Jordan renovava ano a ano. O contrato de Rodman seguia os mesmos padrões e adivinha? Reinsdorf seguia pagando mal e continuava sendo alvo de críticas.

Acontece que em 1999, a NBA viu um problema, repetido mais de uma década depois: o locaute. A greve de jogadores fez com que muita gente, incluindo Jordan, perdesse o apetite pelo jogo. Após ajudar nas negociações, ele pediu o boné pela segunda vez e se aposentou novamente. Seus colegas acabaram tomando rumos diferentes e o elenco desabou em termos de qualidade.

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Sem todos eles, o Bulls estava aos cacos. Brent Barry, hoje analista da NBATV, e Hesey Hawkins, ex-Seattle Supersonics, foram contratados como principais jogadores. Longley e Harper permaneceram, mas foi um festival de horrores. Com Tim Floyd no comando, o Chicago não era nem sombra do que fora e perdia sucessivamente. Jerry Krause, então GM, era cobrado por fãs, acostumados aos triunfos. Mas nada dava certo.

Um jogo em especial marcou o momento daquele Bulls.

A equipe não vinha bem, mas diante do Philadelphia 76ers, em dezembro de 99, tinha uma chance real de pelo menos levar o jogo para a prorrogação. Restavam cinco segundos para o fim, quando o húngaro Kornel David resolveu arremessar do meio da quadra. Claro que ele errou. 

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Elton Brand apareceu como uma provável estrela, porém ficou por pouco tempo e se mandou para o Clippers. Ron Artest ou Metta World Peace, ou The Panda’s Friend, como queira, também não durou ali e começou sua peregrinação pela NBA. 

Jovens e promissores jogadores estavam no elenco em 2000, como Jamal Crawford, Marcus Fizer, Ron Mercer, Brad Miller, além de World Peace e Brand. Ainda assim, o time não passava de um projeto. Nos anos seguintes, chegaram Ed Curry, Tyson Chandler, Luol Deng, Ben Gordon, Andres Nocioni, e Kirk Hirich. 

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Bulls

O azar era tão grande, que o armador Jay Williams, segunda escolha do draft de 2002, acidentou-se de moto e após apenas uma temporada, jamais retornou ao basquete profissional.

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Após somente 49 vitórias em 239 jogos, Floyd foi demitido. Bill Cartwright foi colocado como interino até que finalmente Scott Skiles assumiu o time.

Após a chegada de Skiles, o Bulls virou outro time. Com um grupo bastante jovem, foi aos playoffs pela primeira vez desde a era-Jordan. Desde então, só ficou fora da zona de classificação em apenas uma ocasião, especialmente pela chegada do treinador Tom Thibodeau e do astro Derrick Rose, o único MVP da equipe, ao lado de Jordan.

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https://www.youtube.com/watch?v=_REUpQ7Eahg

O Bulls ainda não voltou a ser campeão, mas nos últimos anos sempre esteve entre os principais cotados ao título. Em um elenco com Pau Gasol, Joakim Noah, e principalmente Jimmy Butler e Rose, o time reúne condições reais de vencer. Ah, e Heinsdorf continua por lá, firme, forte, e pão duro.

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Números

30, 32, 34 – Essas eram as idades de Pippen, Jordan, e Rodman, no ano das 72 vitórias na temporada regular.
7 – Minutos de Jack Haley pelo Bulls.
1- Phil Jackson ganhou apenas um prêmio de técnico do ano em toda a carreira.
545 – Este foi o número de vitórias de Jackson pelo Bulls em 738 jogos (aproveitamento de 73.8%). Em playoffs, foram 111 triunfos 152 embates (aproveitamento de 73%).
49 – Pontuação da equipe diante do Miami Heat, em abril de 1999.

75 – Número de jogos de Jay Williams na carreira. 

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O que aconteceu com os vencedores de 1995-96

Randy Brown – O ex-armador se aposentou em 2003, no Phoenix Suns. Após declarar falência, iniciou uma venda online de seus três anéis de campeão. Aos 46 anos, hoje ele é assistente de GM do Bulls.

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Jud Buechler – A última notícia que se tem sobre o ex-ala é que ele tornou-se técnico de vôlei. Antes de tornar-se jogador da NBA, Buechler jogava vôlei de praia.

Jason Caffey – Um ala-pivô talentoso, mas que nunca conseguiu atingir seu ápice foi Caffey. O ex-jogador deixou a NBA em 2003, aos 29 anos após problemas pessoais. Em 2010, ele tornou-se técnico de um time da ABA.

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James Edwards – Aos 40 anos, Edwards se aposentou com o título em seu primeiro e único ano pelo Bulls. Encerrou sua carreira com três campeonatos, sendo dois deles pelo Detroit Pistons.

Jack Haley – Sem muito sucesso na NBA, Haley deixou de ser “babá” de Rodman em 95-96. Ele fez apenas uma partida em toda a temporada, a última da fase regular. Depois de se aposentar, virou assistente, depois comentarista e ainda apareceu em dois filmes de basquete e um clipe da banda Aerosmith.

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Ron Harper – Um dos principais defensores daquele time, Harper ainda jogou e foi campeão pelo Los Angeles Lakers. Sua contratação foi considerada fundamental para Phil Jackson. Parou de jogar em 2001, mas em 2007 foi assistente do Detroit Pistons. Hoje, ele trabalha como treinador de crianças em New Jersey.

Michael Jordan – Após aposentar-se em 1998, tornou-se presidente do Washington Wizards. Uma de suas principais atitudes, e também a mais controversa foi a seleção de Kwame Brown como a primeira escolha do draft de 2001. Entretanto, ele resolveu voltar às quadras em 2001-02, desta vez pelo Wizards. Em dois anos, longe de sua melhor forma física, não conseguiu levar o time aos playoffs. Posteriormente, adquiriu ações do Charlotte Bobcats, hoje Hornets. A Michael Jordan Brand é uma marca da Nike para equipamentos esportivos assinados pelo ex-jogador e segue como uma das mais prestigiadas entre os principais jogadores.

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Steve Kerr – Após cinco títulos na carreira, sendo três pelo Bulls e dois pelo San Antonio Spurs, Kerr virou um dos melhores comentaristas da NBA. Arriscou-se como GM do Phoenix Suns, cargo que ocupou entre 2007 e 2010. Voltou a ser analista da rede de televisão TNT, mas ganhou a chance de ser técnico, agora do Golden State Warriors. E novamente, parece ter se dado bem. Em 36 jogos disputados, ele venceu 31.

Toni Kukoc – Um dos jogadores estrangeiros de maior sucesso na história da liga, Kukoc era o terceiro cestinha do Bulls. Ficou por lá até 2000, quando se transferiu para o Philadelphia 76ers. O croata ainda teve passagens pelo Atlanta Hawks e Milwaukee Bucks, mas decidiu parar em 2006, aos 37 anos. Seu filho, Marin, jogou sem sucesso por uma temporada na Universidade da Pennsylvania em 2010-11 e abandonou o time.

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Luc Longley – Hoje assistente do Australian Boomers, Longley deixou o Bulls em 1998 e teve passagens discretas pelo Phoenix Suns e New York Knicks.

Scottie Pippen – Eleito um dos 50 melhores jogadores de todos os tempos, Pippen foi para o Houston Rockets, onde ficou por apenas uma temporada. Depois, transferiu-se para o Portland Trail Blazers e retornou ao Bulls em 2004, para aposentar-se. Em 2008, teve uma passagem rápida pelo basquete europeu, aos 42 anos. Recentemente, ganhou o cargo de embaixador da equipe.

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Dennis Rodman – Ao ver seus colegas indo embora em 1998, Rodman também deixou o Bulls e assinou com o Lakers no meio da temporada seguinte. Os problemas extra-quadra tiraram um dos maiores reboteiros de todos os tempos de ação e em 2000 aventurou-se no Dallas Mavericks, mas novamente não teve sucesso e foi dispensado. Tentou retornar às quadras, porém sem grande sucesso em ligas menores. Em 2011, foi para o Hall da Fama. Participou de reality show, virou amigo de Kim Jong-il, presidente da Coreia do Norte e afirmou ser um interlocutor entre Estados Unidos e aquele país. OK. 

John Salley – Depois de passar anos brigando com Jordan e Pippen, Salley foi para o Bulls ser campeão e deixou a NBA. Jogou na Grécia em 1996, mas em 1999-00, voltou para a liga pelo Lakers, onde novamente ganhou um anel. Ele se autoproclamou o único jogador da história a ser campeão em quatro ocasiões, por três times diferentes em três décadas diferentes e em dois milênios. Salley ainda foi um dos apresentadores de um programa da Fox Sports chamado The Best Damn Sports Show Period entre 2001 e 2009.

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Dickey Simpkins – Após deixar o Bulls em 1997, Simpkins foi para o Golden State Warriors e retornou ao time de Chicago em 98. Ainda jogou pelo Atlanta Hawks antes de rodar o mundo e parou de jogar em 2006, na Alemanha. Ele é fundador da empresa Next Level Performance Inc., e trabalha com discursos motivacionais.  

Bill Wennington – O ex-pivô ficou no Bulls até 1999 e encerrou a carreira em 2000, no Sacramento Kings. Depois de aposentado, Wennington tornou-se comentarista de rádio do time de Chicago, não sem antes ter em restaurantes do McDonald’s da área da cidade um sanduíche chamado Beef Wennington em sua homenagem.

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