O novato do ano é um prêmio essencialmente estatístico. Digo isso porque, por mais que você jogue bem dentro de quadra, precisa de médias altas para ter uma chance de vencê-lo. No fim das contas, lógico, o troféu costuma ir para quem melhor combina números, desempenho e impacto positivo sobre o time. Mas, se tiver que se agarrar a apenas um deles, o calouro deve ficar com os números.
Vamos pegar somente as três estatísticas que tendem a ter mais visibilidade: média de pontos, rebotes e assistências. Os últimos oito vencedores do prêmio de novato do ano lideraram sua classe em, pelo menos, um destes quesitos. LeBron James (2004) foi o último a ser nomeado sem estar no topo da turma em nenhuma das três. No entanto, o hoje astro do Miami Heat estava entre os cinco melhores em todas.
Indo ainda mais além, a estatística bruta que mais impressiona os votantes (não é preciso ser gênio para deduzir) é a pontuação. Sete dos oito últimos vencedores foram os cestinhas da turma. Dois deles venceram em rebotes, enquanto três lideraram os novatos nas assistências. Confira no quadro abaixo as médias dos premiados nos quesitos e a posição que ocuparam entre todos os novatos do ano:
Ano |
Vencedor Publicidade
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Pontos |
Rebotes |
Assistências |
2005 Publicidade
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Emeka Okafor |
1º (15.1) |
1º (10.9) |
30º (0.9) Publicidade
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2006 |
Chris Paul |
1º (16.1) |
4º (5.1) Publicidade
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1º (7.8) |
2007 |
Brandon Roy |
1º (16.8) Publicidade
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7º (4.4) |
1º (4.0) |
2008 |
Kevin Durant Publicidade
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1º (20.3) |
9º (4.3) |
4º (2.4) |
2009 Publicidade
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Derrick Rose |
2º (16.8) |
15º (3.9) |
1º (6.3) Publicidade
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2010 |
Tyreke Evans |
1º (20.1) |
5º (5.3) Publicidade
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2º (5.8) |
2011 |
Blake Griffin |
1º (22.5) Publicidade
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1º (12.1) |
2º (3.8) |
2012 |
Kyrie Irving Publicidade
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1º (18.5) |
17º (3.7) |
2º (5.4) |
Para o premiado, as estatísticas (ou, pelo menos, algumas delas) são fundamentais. Pontos, em especial. Mas será que elas traduzem sucesso também para os demais? Será que uma pontuação alta como calouro é sinônimo de carreira sólida no basquete profissional? Não dá para cravar, mas trata-se de um bom sinal. Se analisarmos as cinco turmas de novatos que entraram na liga entre 2004 e 2008, você encontrará 36 jogadores que anotaram 10 ou mais pontos por jogo em sua primeira temporada na NBA. Apenas cinco deles (13.9%) não estão mais na liga. Por outro lado, 21 são titulares em franquias atualmente (58.3%). Onze dos 36, inclusive, já foram para – no mínimo – um Jogo das Estrelas (30.5%).
No momento em que escrevo este texto, seis calouros possuem média de 10 ou mais pontos por partida: Damian Lillard (18.6), Anthony Davis (14.5), Dion Waiters (14.4), Bradley Beal (12.1), Michael Kidd-Gilchrist e Alexey Shved (10.8). Seguindo as proporções registradas no levantamento anterior, podemos imaginar que, dentro de quatro a oito anos, temos neste “sexteto”:
– De três a quatro titulares na NBA;
– De um a dois all stars;
– Um possível jogador que não estará na liga;
Além disso, utilizando a lógica do “poder da pontuação”, a disputa do prêmio de novato do ano tende a estar centrada em três nomes: Lillard, Davis e Waiters. Os dois primeiros, já se podia imaginar, possuem vantagem sobre o terceiro na “briga”: enquanto o armador lidera a turma em assistências por jogo (6.7), o ala-pivô tem a maior média de rebotes entre os estreantes (8.4).
Vamos à segunda edição do Ranking dos Novatos Jumper Brasil, que analisa o desempenho dos estreantes da liga no período entre 30 de novembro e 29 de dezembro.
(-) 1. Damian Lillard (armador, Portland Trail Blazers)
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O segundo mês de temporada é, tradicionalmente, o período de caça aos melhores armadores calouros da turma. Após ser destaque em novembro, o jovem passa a ser mais visado e tirado de sua zona de conforto pelas marcações adversárias. Neste cenário, assim como Kyrie Irving e Derrick Rose, Lillard teve uma queda em seu aproveitamento nos arremessos de quadra em dezembro e, em contrapartida, aumentou sua média de assistências. Esse é o efeito de boas marcações sobre bons jogadores da posição um: ao mesmo tempo em que os arremessos se tornam mais difíceis, o atleta cria a consciência de que o passe pode ser a melhor alternativa. A parte interessante do crescimento do número de assistências do titular do Blazers é que foi acompanhado pela queda dos desperdícios de bola. A proporção de assistências por erros dele saltou de 1.906 para 2.174 entre um mês e outro. A expectativa é que, daqui para frente, suba ainda mais.
Paradoxalmente, ser o foco das marcações colocou em evidência outra virtude do seu jogo no ataque: a capacidade de criar o próprio arremesso. Lillard tem um dos 15 melhores índices da NBA de pontos por posse em situações de isolation (popular um contra um), com 0.97. Isso é um reflexo direto não apenas de sua velocidade com a bola nas mãos (necessária para bater oponentes quando ataca a cesta), mas, em especial, da capacidade de criar separação para os marcadores. Ele apresenta incrível domínio da bola e controle corporal para mudar de direção com a posse da bola, driblando adversários sem perder o equilíbrio no arremesso. O step back já pode praticamente ser considerado uma marca registrada, tamanho o conforto e frequência com que usa o drible.
Cada vez mais eficiente passando a bola e dono de um dos mais completos arsenais ofensivos entre os calouros dos últimos anos, Lillard é fundamental para o ataque do Blazers desde o seu primeiro jogo na NBA. Tanto que, em estatística divulgada recentemente, constatou-se que o time de Portland é 13.3 pontos melhor (com ajuste de volume e ritmo ofensivo) quando o jovem está em quadra em relação a quando ausente. Nenhum atleta da NBA influencia tanto o ataque da sua equipe nesta metragem específica quanto o estreante.
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(↑) 2. Andre Drummond (pivô, Detroit Pistons)
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“Tal cara só enterra”. Você já ouviu e/ou leu isso por aí. E, aposto, nunca como elogio ao atleta de quem se está falando. Mas será que a interpretação não poderia ser um pouco diferente também? A enterrada em si, sem firulas, é a jogada ofensiva mais segura do basquete. Se o jogador só enterra e possui ótimo aproveitamento nos arremessos, ele não seria eficiente? Veja o caso de Andre Drummond. Seu arsenal no ataque é quase inexistente, pois, por mais que seja ágil e atlético, tem trabalho de pernas que necessita bastante aprimoramento. É puramente um finalizador neste momento da carreira: quase 90% de seus arremessos são realizados, literalmente, debaixo da cesta. Muito deles, lógico, são incríveis enterradas. E o resultado disso? Quase 58% de conversão com 1.03 ponto por posse de bola – um dos 40 melhores índices de toda a liga.
E a eficácia do jogo do pivô vai além dos arremessos. Em dezembro, Drummond passou o versátil Anthony Davis para liderar os estreantes no índice de eficiência PER (criado por John Hollinger, baseado em estatísticas por minuto) com 21.65. O jovem jogador pega 20.8% dos rebotes que acontecem quando presente em quadra (ou seja, pouco mais de um em cinco), também liderando a classe. Seus 0.797 tocos por minuto é o oitavo melhor índice de toda a NBA entre os atletas que têm médias de – pelo menos – dez minutos de ação e 0.5 tocos. E, voltando ao início, seu true shooting percentage (o aproveitamento de chutes contabilizando lances livres e bolas de três) de 57.4% é o quarto melhor entre os novatos e um dos 60 mais altos da temporada. Melhor do que o de muitos arremessadores natos (Nicolas Batum, Ryan Anderson, Stephen Curry) e pivôs com recursos ofensivos (Brook Lopez, Nikola Pekovic).
Neste momento, basicamente, Drummond só enterra. E eu não acho que você vá encontrar muita gente reclamando disso.
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(↓) 3. Michael Kidd-Gilchrist (ala, Charlotte Bobcats)
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Antes do draft, ninguém discutia a qualidade defensiva de Kidd-Gilchrist. No entanto, muito se falava sobre suas limitações no ataque – em especial, como sua mecânica de arremesso era ruim (quebra no movimento, atira na descida do salto). Os problemas continuam os mesmos, mas impressiona a consciência do ala sobre tais limitações. Seus mais de 50% de conversão nos arremessos é sinal de uma seleção de chutes muito madura e eficiente. Mais de 70% das tentativas que realiza acontecem no garrafão, onde explora sua incrível habilidade como finalizador (explosão, força física, controle corporal) para acertar 60% delas. Além disso, o calouro é mais eficiente do que a média da posição “empurrando” jogadores mais baixos e/ou com menor vigor físico para próximo da área pintada e explorando seu jogo de costas para a cesta. São decisões ofensivas sábias quando levamos em conta que “MKG” converteu apenas 18 de 73 arremessos tentados (24.6%) fora do garrafão na temporada.
É por conta dessa consciência que a presença de Kidd-Gilchrist faz o Bobcats (muito) melhor nos dois lados da quadra – e não só na defesa. Até mesmo em um período como o estudado aqui, onde o time perdeu as 16 partidas que disputou, o impacto do jovem atleta é bastante visível. Nos 768 minutos jogados por Charlotte, o saldo acumulado pela equipe foi de (pífios) -182 pontos. Mas, se contarmos somente os 448 minutos em que o novato esteve em quadra, a desvantagem cai para menos de metade: -82 pontos.
Vamos além. Quando ele está em quadra, o índice de eficiência ofensiva do Bobcats (ou seja, o número de pontos que se marca por 100 posses de bola) é de 105.3. Tire o ala da quadra e o índice desce para apenas 99.3. A eficiência ofensiva dos oponentes também oscila a depender da presença e ausência de Kidd-Gilchrist: sobe de 110.3 para 112.3 quando o garoto vai para o banco.
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(↑) 4. Anthony Davis (ala-pivô, New Orleans Hornets)
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Anthony Davis só precisava entrar em quadra para se recolocar na briga pelo prêmio de novato do ano. Todos sabem que ele é um grande talento e seus números provam que, se não é um jogador perfeito, já produz bastante entre os profissionais. O ala-pivô tem tudo o que se espera de um prospecto de astro (altura, condição atlética excepcional, personalidade, versatilidade, disposição), mas é sua postura ativa que faz a diferença em quadra. O campeão da NCAA por Kentucky nunca está parado e usa efetivamente sua mobilidade para se fugir de marcações, posicionar-se com precisão e dar sempre opção para bons passes. Resumindo, ele tem excelentes instintos dentro de quadra e está sempre nos lugares certos.
Não por acaso, ele está entre os 35 melhores jogadores da temporada pontuando em três situações nas quais agilidade, mobilidade e explosão são muito válidas: pick and roll (1.09 pontos por posse, 33º melhor no geral), finalizando após rebotes ofensivos (1.33 pontos por posse, 7º geral) e cuts (cortando para a cesta sem a posse de bola para receber e pontuar, quando anota 1.35 pontos por posse, 21º melhor índice da liga). São situações em que sua seleção de arremessos se destaca muito mais do que à média distância, quando continuo achando que o calouro é facilmente marcado e força um ou outro chute desequilibrado.
Basicamente, o que o impede de estar mais acima na lista é a falta de jogos e a surpreendente ineficiência que vem mostrando na defesa – aspecto que era considerado um de seus pontos fortes. Como observou Zach Lowe, em artigo para o site Grantland, Davis parece literalmente perdido na marcação. Ele cede 1.05 pontos por posse no momento e, a primeira vista, parece não ter quem defender entre os profissionais. Seu lugar de origem é o garrafão, mas a falta de físico faz com que não tenha condições de proteger espaço e impedir o avanço de jogadores mais fortes. No perímetro, o novato ainda não se acostumou com trocas de marcações simples e sofre lidando com os mesmos pick and rolls em que se destaca no ataque, cedendo 66.6% de aproveitamento nas situações ao adversário.
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(↑) 5. Alexey Shved (armador, Minnesota Timberwolves)
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Na ausência de quase metade do elenco do Timberwolves, Alexey Shved aproveitou o amplo tempo de quadra disponível para ser um dos estreantes que melhor jogaram em dezembro. É possível até encontrar argumentos para dizer que o russo foi o melhor novato do segundo mês da temporada, com médias de 11.7 pontos, 5.7 assistências e 43% de acerto nos arremessos. Exceto nos lances livres, ele melhorou em todas as estatísticas “brutas” em relação à primeira edição do ranking. Imaginar um perímetro formado por Ricky Rubio e o calouro pode ter suas limitações nos tiros de média e longa distância, mas projeta ser a melhor dupla de passadores da liga.
Shved dá assistências em 26.5% das posses que joga. Esta não só é a quarta melhor entre os novatos, mas também a melhor de todo o elenco do Twolves. Como já falei na edição anterior, o número é especial porque não estamos tratando de alguém que atua como armador na maior parte do tempo e, por isso, não tem a bola nas mãos com a mesma frequência de atletas como Luke Ridnour e J.J. Barea. Mesmo assim, sua porcentagem de posses para assistência é mais alta do que a de 12 armadores hoje titulares na NBA. Além disso, a excelente proporção de 2.1 assistências por erro que acumula é o quarto melhor índice entre todos os ala-armadores em atividade na temporada.
Talvez, a única coisa a se questionar em seu ótimo mês de dezembro (onde, note em relação ao primeiro mês, como subiu a conversão nos arremessos) é como sua presença em quadra não teve um impacto representativo na superioridade da equipe sobre os oponentes. Nos 624 minutos que Minnesota disputou no período analisado aqui, o salto acumulado foi de +41. Com Shved em quadra, o saldo ficou um pouco abaixo do geral: +40 em 416 minutos. Jogando no (alto) nível em que jogou, era de se esperar um impacto maior.
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(↑) 6. Jared Sullinger (ala-pivô, Boston Celtics)
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Sullinger é um dos interessantes casos de jogadores que mudaram o perfil de jogo na transição do basquete universitário para a NBA. O ala-pivô ficou conhecido mostrando ofensiva refinada por Ohio State, mas suas limitações no lado defensivo da quadra criavam questões na cabeça dos recrutadores. Será que aquele “garoto” acima do peso, sem vigor atlético e baixo para a posição que atua poderia marcar alguém entre os profissionais? A resposta era sim. Não só isso: o novato vem se destacando em sua temporada de estreia exatamente pela (inesperada) eficiência como defensor.
Permitindo apenas 0.73 ponto por posse aos adversários, Sullinger está entre os 30 melhores defensores da temporada segundo o índice. E faz isso sem fórmulas mágicas. Na verdade, a eficiência reside nos detalhes mais básicos. Primeiro de tudo, contrariando os descrentes, ele está se movimentando muito bem pela quadra e passa longe de ser anulado pelos oponentes mais atléticos que enfrenta. Em segundo lugar, o ala-pivô não foge do contato: usa seu corpo para atrapalhar, desequilibrar e encurtar o espaço de ação dos que o atacam. Por fim, contesta todos os arremessos possíveis e não deixa que um arremesso seja executado sem um braço levantado para dificultar. É um esforço constante e simples que mostra resultados concretos, principalmente para um jogador que nunca teve a defesa como especialidade.
Em um time veterano e vencedor como o Celtics, só conseguir alguns minutos na rotação e entrar em quadra já é um desafio para um calouro. Sullinger não só conquistou seu espaço, mas faz a equipe melhor quando joga. No total do mês, Boston acumulou saldo de -22. Ele esteve em ação por 38% deste tempo e, neste período, o saldo tem um salto bastante expressivo: vai para +37.
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(↓) 7. Kyle Singler (ala, Detroit Pistons)
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No último dia 28, após a vitória do Detroit Pistons diante do Miami Heat, Kyle Singler admitiu que “não vinha jogando particularmente bem nos jogos anteriores”. O ala estabeleceu padrões muito altos para si mesmo em novembro, quando jogou próximo da perfeição: 9.9 pontos, 52% de acerto nos arremessos de quadra (46% para três) e somente 0.8 desperdícios de posse em 26 minutos. Desde então, seu tempo de quadra aumentou. Sua responsabilidade aumentou. E o rendimento caiu. Mais importante do que a queda nos números, o impacto do novato sobre o sucesso do time entrou em declínio. No primeiro mês de temporada, eu elogiei como a equipe evoluiu ao passo em que participava mais. Agora, a situação se inverteu. No período estudado aqui, o Pistons teve saldo acumulado de -22 pontos. Enquanto o calouro esteve em quadra, o número teve leve piora e foi para -28.
A maioria das qualidades de Singler continuou a mostra na maior parte de dezembro: leitura de jogo, boa tomada de decisões, fundamentos defensivos. No entanto, algumas sutis alterações em relação ao primeiro mês – que fogem de suas características e, imagino, estão ligadas ao fato de assumir uma função maior no time – fizeram com que sua incrível produtividade inicial fosse abalada (mais tempo com a bola nas mãos, atacar mais a cesta, arremessar após drible). Nada sentiu mais a virada de mês quanto seu aproveitamento nos arremessos: queda de 8.2% no geral de quadra e 9.2% para três pontos. Seu número de pontos por posse foi de 1.13 para 0.92 e em caiu em todas as situações possíveis de análise (spot up, isolation, off screen e por aí vai), segundo o site Synergy Sports.
Agora, a questão é tentar descobrir quem é o verdadeiro Singler: aquele preciso e próximo da perfeição (novembro) ou o falho e em adaptação a um novo papel (dezembro). Pela minha experiência, a tendência é que esteja em algum ponto entre os dois.
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(↓) 8. Dion Waiters (ala-armador, Cleveland Cavaliers)
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David Thorpe, comentarista da ESPN, definiu Waiters como um “caçador de arremessos” em novembro. Eu não tiro a razão dele. Neste momento, a benção de criar o próprio arremesso é uma maldição disfarçada em seu jogo. Com sua inexperiência e confiança, o ala-armador cria um caminhão de chutes ruins – e, acredite, os 36.6% de aproveitamento são muito bons perto da qualidade do que cria para si. Reforço, porém: há muito a gostar sobre o calouro assistindo-o dentro de quadra do que os números sugerem.
Por conta de uma lesão no tornozelo, Waiters não participou de oito partidas do período aqui analisado. No entanto, o jovem foi importante para o time em um dos piores momentos da temporada: durante a ausência de Kyrie Irving, ele foi o mais próximo de um armador que o Cavs teve. Diferente de “queimadores” de posses como Jeremy Pargo, o novato foi quem incorporou a função de movimentar a bola no perímetro e demonstrou visão de jogo mais apurada do que todas as opções disponíveis no elenco para a posição um. O ala-armador ainda protege melhor a bola do que qualquer um deles, cometendo erros em menos de 10% das suas posses.
No mês, Waiters acumulou 4.4 assistências por 2.2 desperdícios. A proporção de dois passes decisivos por erro só é inferior entre os novatos do que às mantidas pelos armadores Lillard e Shved. Se isolarmos só os jogos em que Irving esteve ausente, os números do ala-armador sobe para 5.3 assistências para 2.0 desperdícios – comparáveis aos índices registrados por titulares da liga, como Kirk Hinrich (Chicago Bulls) e George Hill (Indiana Pacers).
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(↑) 9. Andrew Nicholson (ala-pivô, Orlando Magic)
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Um adepto das variações de rotação conforme o adversário que enfrenta, o treinador Jacques Vaughn vem utilizando Nicholson de forma bastante “instável”: há dias em que atua de 25 a 30 minutos e outros em que não passa dos dez. O que não muda de duelo para duelo é o incrível arsenal ofensivo que o ala mostra – o tipo de jogo refinado que remete mais a um veterano de longa data do que um calouro de recém-completos 23 anos. No perfil que escrevi aqui sobre o ala-pivô, comparei-o com o subestimado Leon Powe (ex-Celtics). As atuações recentes fazem ir além: lembra jogadores bem-sucedidos na liga, como Carl Landry e David West.
Nicholson tem um sólido arremesso de curta e média distância, com boa mecânica e equilíbrio, mas seu jogo se torna mais e mais interessante a cada passo que aproxima de cesta. O novato tem um excelente trabalho de pernas e utiliza fintas com precisão rara entre os atletas de sua idade para criar o próprio arremesso em torno da cesta e bater pivôs não com trombadas, mas com muito estilo. Resumindo, é bonito vê-lo jogar porque sabe jogar. O ala-pivô ainda tem os ganchos como uma forte virtude em seu arsenal de costas para a cesta: é capaz de executá-los com as duas mãos e seus braços longos fazem com que seja virtualmente impossível de ser contestado (como também acontece nos arremessos). Não por acaso, o reserva do Magic anota 1.03 ponto por posse e está entre os 40 melhores da temporada no quesito. Isso, bom lembrar, sem o físico adequado para atuar em um garrafão da NBA.
David West foi selecionado na 18ª posição do draft de 2003, depois de ala-pivôs como Mike Sweetney e Zarko Cabarkapa. Um steal. Carl Landry foi escolhido na 31ª posição em 2007, atrás de Yi Jianlian, Brandan Wright, Al Thornton e Sean Williams. Mais um steal. Nicholson foi apenas o quinto ala-pivô selecionado no recrutamento de 2012…
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(↑) 10. Tyler Zeller (pivô, Cleveland Cavaliers)
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Tyler Zeller é o senhor correto da classe. Para o bem e para o mal. Dentro de quadra, ele não faz algo que particularmente chame a atenção. Joga “direitinho”, mas não impressiona. Mais estranho ainda, talvez, seja como também não se destaca em nenhum aspecto do ponto de vista estatístico. Basicamente, os números sugerem que ele não deverá ser mais do que um pivô reserva entre os profissionais. O novato foi beneficiado, porém, pela ausência do titular Anderson Varejão para atuar mais tempo do que de costume em dezembro. A boa notícia é que, se nada salta aos olhos em ação, também passa longe de comprometer.
Uma das coisas que Zeller faz realmente bem é se movimentar sem a bola no perímetro. Pivôs não costumam ser bons nisso, pois estão mais acostumados a estabelecer espaço no garrafão e atuarem de forma mais estática. O calouro do Cavs não é o seu pivô habitual: ele não possui o corpo e força física que se espera de um atleta da posição cinco, mas sua agilidade e leitura do jogo são dignas de alguém que atua na posição três, por exemplo. É eficiente espaçando a quadra porque sempre está nos lugares certos, adaptando-se à movimentação do armador e dando opção de passe – algo que não seria capaz de fazer com frequência atuando como um pivô tradicional. Neste momento da carreira, para ser eficiente, ele praticamente precisa jogar “aberto”, no perímetro.
Como já havia dito antes do draft, não duvido que Zeller se torne um jogador da posição quatro na NBA. É ali, e não entre os pivôs centrais, que suas virtudes podem ser melhor exploradas.
COMPLETANDO O TOP 20 (em ordem alfabética):
Bradley Beal (ala-armador, Washington Wizards)
Brian Roberts (armador, New Orleans Hornets)
Chris Copeland (ala, New York Knicks)
Draymond Green (Golden State Warriors)
Harrison Barnes (ala, Golden State Warriors)
Jeff Taylor (ala, Charlotte Bobcats)
Jonas Valanciunas (pivô, Toronto Raptors)
Meyers Leonard (pivô, Portland Trail Blazers)
Pablo Prigioni (armador, New York Knicks)
Terrence Ross (ala-armador, Toronto Raptors)
FORA DO RANKING
EM ALTA
Marquis Teague (armador, Chicago Bulls)
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Depois de participar de apenas seis partidas no primeiro mês de temporada, Teague finalmente teve mais chances de atuar em dezembro. Assim como o irmão (Jeff, titular do Atlanta Hawks) no início de carreira, o armador ainda precisa trabalhar muito em seu jogo ofensivo. Sua visão de quadra, compreensão da dinâmica do jogo e arremesso são limitados neste momento. Ele “vive”, basicamente, de atacar a cesta no ataque: quase 70% dos arremessos que tenta são executados dentro do garrafão e seu índice de acerto não passa dos 43% em tais situações. Mas isso pouco importa para o treinador Tom Thibodeau, pois a grande utilidade do calouro para a equipe tem sido no outro lado da quadra.
Teague simplesmente lidera a liga (sim, a NBA inteira) em pontos cedidos por posse de bola adversária, limitando-os a somente 0.61 ponto. Lógico que ele atuou muito menos do que a maioria dos jogadores, mas esse excelente dado é reflexo do grande potencial que Marquis possui como defensor – aspecto do jogo em que supera, com folgas, o irmão. Mesmo ainda novato, ele consegue manter-se diante do qualquer armador profissional por ter combinação ideal de atributos físico-atléticos. O ex-jogador de Kentucky possui movimentação lateral e velocidade de elite, um corpo extremamente forte (capaz de absorver contato) e envergadura acima da média para contestar arremessos. Em resumo, ele é um “pesadelo em formação” marcando e estar em um dos melhores times defensivos da NBA, comandado pelo provável melhor treinador defensivo em atividade, é uma situação perfeita para o estreante.
Ilustrando: último dia 15. Vinte segundos para o fim do jogo e o Bulls vence o Brooklyn Nets por dois pontos. Thibodeau coloca Teague em quadra para marcar Deron Williams. O astro recebe a bola para empatar, não consegue bater o jovem na tentativa de infiltração e acaba forçado a arremessar marcado. Erra. O Bulls vence. Isso é um novato ganhando uma partida para você.
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EM BAIXA
Thomas Robinson (ala-pivô, Sacramento Kings)
Jogos |
Min. |
Pts. |
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Ass. |
R.B. |
Erros |
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3pt.% |
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26 |
16.1 Publicidade
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4.6 |
4.0 |
0.6 |
0.6 Publicidade
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1.2 |
40.4 |
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65.9 Publicidade
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Geralmente, um novato é reflexo do meio em que está inserido. Thomas Robinson é mais um exemplo desta afirmação na prática. Quinto selecionado no último draft, o ala-pivô encontra dificuldades para justificar a posição em que foi escolhido dentro do conturbado Sacramento Kings. Como não poderia ser diferente. É possível argumentar que vários novatos recentes (Tyreke Evans, DeMarcus Cousins, Isiah Thomas) tiveram sucesso em suas temporadas de estreia pelo time. Mas eles têm uma vantagem fundamental sobre o ex-jogador de Kansas: atuam com a bola nas mãos e/ou podem criar o próprio arremesso.
Robinson está fora deste perfil. É o tipo de atleta que depende de armadores que o coloquem em condições de finalizar ou passem a bola quando está com posição bem estabelecida em quadra. O Kings não tem armador e poucos por lá estão realmente dispostos a passar a bola, então não impressiona que esteja totalmente perdido. E a reação do ala-pivô é a mesma de qualquer novato que não recebe a bola nas condições em que gostaria: forçar jogadas. Força contato, acelera jogadas desenfreadamente, precipita arremessos e mostra terrível controle corporal. Os resultados, não é difícil imaginar, são bem ruins. Pior do que qualquer índice de acerto, ele comete erros de ataque (os turnovers) em uma de cada cinco posses que tem. Ele possui a quarta maior proporção de desperdícios por posse da turma (a maior entre todos os ranqueados aqui) e a segunda maior entre todos os ala-pivôs da liga. Algo realmente abissal.
Robinson está cada vez mais “enterrado” como a quarta opção de garrafão em um dos piores times da liga. Mas, novamente, não é fácil ser um jogador produtivo (ou meramente eficiente) no Kings. A equipe é uma bagunça e o jogador Robinson, neste momento, também é.
RELATÓRIO DA D-LEAGUE
Kendall Marshall (armador, Phoenix Suns / Bakersfield Jam)
Jogos |
Min. |
Pts. |
Reb. Publicidade
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Ass. |
R.B. |
Erros |
FG% Publicidade
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3pt.% |
FT% |
9 |
31.0 Publicidade
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9.6 |
3.0 |
7.6 |
1.2 Publicidade
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3.3 |
31.3 |
22.2 |
69.2 Publicidade
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Assisti a duas atuações completas de Marshall no mês de dezembro (contra o Los Angeles D-Fenders e Idaho Stampede), nas quais ele enfrentou armadores que atuam ou já atuaram na NBA – como Coby Karl, Courtney Fortson, Darius Johnson-Odom e o veterano Orien Greene. De forma geral, o calouro mostrou as mesmas virtudes e defeitos comentados na época em que foi selecionado no draft.
Sua qualidade como passador é, claramente, aquilo que salta aos olhos quando se observa o novato em ação. Marshall tem sensacional visão de jogo e um talento natural para colocar os companheiros de time em condições de pontuar, o que se destaca em meio à competição da D-League. Na verdade, a (boa) proporção de 2.3 assistências por erro de ataque que registra não faz jus ao que cria em quadra, pois não é raro ver seus companheiros deixarem ótimos passes escaparem das mãos ou não acompanharem a velocidade de raciocínio do calouro. Uma surpresa foi perceber como o armador – que tem condição atlética abaixo da média – conseguiu se manter defensivamente estável diante dos oponentes, sem permitir infiltrações fáceis e até forçando eventuais erros. Embora vá ter problemas inevitáveis para defender na NBA, ele demonstra sólidos fundamentos e boa noção de como usar seu físico na marcação.
Por outro lado, é evidente que Marshall possui latentes dificuldades para pontuar. Como os aproveitamentos evidenciam, o estreante foi quase inofensivo nos arremessos de média e longa distância – mesmo, na maioria das vezes, chutando absolutamente livre. Ainda que tenha conseguido ser eficiente em várias oportunidades atacando a cesta, ele foi ajudado claramente pelo esforço defensivo medíocre dos oponentes e teve sérios problemas para finalizar em torno da cesta quando minimamente contestado – algo que já mostrava no basquete universitário. Na NBA, é provável que essas limitações fiquem ainda mais expostas. E, consequentemente, sejam exploradas.
Marshall tem uma habilidade inquestionavelmente em nível profissional, mas será que isso basta para garantir-lhe uma carreira bem sucedida? A julgar pelo que se viu na D-League, pode-se argumentar pelo sim e pelo não.
UMA SEGUNDA OPINIÃO…
John Hollinger (recém-contratado vice-presidente de operações do Memphis Grizzlies) sobre Draymond Green:
“Eu achava que Green seria um ala-pivô baixo que teria problemas na defesa. Ao invés disso, o Warriors está o utilizando como um ala defensivo e vem tendo baixo rendimento no ataque. No fim das contas, ele é esperto o bastante para descobrir como ajudar. Vamos ver onde isso vai parar”.
Chad Ford (ESPN) sobre Andre Drummond:
“Na época do recrutamento, o grande ponto de interrogação sobre Drummond girava em torno de sua vontade dentro de quadra, seu amor pelo jogo e a baixa produtividade como novato em Connecticut. Ele tem superado as expectativas de todos até agora. Se ele mantiver a curva de evolução, o Pistons vai ter um dos melhores garrafões da NBA dentro de alguns anos”.
David Thorpe (ESPN) sobre Tony Wroten Jr.:
“Wroten possui a condição física de um jogador da NBA e vê a quadra em um nível avançado. Seu senso de antecipação é especial. Mas seu jogo ainda está longe de estar desenvolvido”.
Chris Bernucca (Sheridan Hoops) sobre Jeffery Taylor:
“Mike Dunlap confia em seus calouros. Jeffery sabe jogar basquete, mas precisa manter seu arremesso consistente para ajudar o sistema do treinador – muito baseado na capacidade ofensiva do perímetro”.
Anthony Macri (Hoopsworld) sobre Kyle Singler:
“Ele pode não ser o mais rápido ou atlético em quadra, mas é adequado nos dois quesitos e joga com esperteza – toma decisões bem pensadas, está sempre focado”.
Legenda:
Min. – Minutos
Pts. – Pontos
Reb. – Rebotes
Ass. – Assistências
R.B – Roubos de bola
FG% – Porcentagem de aproveitamento de arremessos de quadra
3pt.% – Porcentagem de aproveitamento de arremessos de três pontos
FT% – Porcentagem de aproveitamento de lances livres
Fontes estatísticas: NBA, ESPN, 82 games, Synergy Sports – e minha calculadora.