Por Ricardo Romanelli
O incidente mais comentado da última semana na NBA foi, sem dúvidas, a manobra utilizada por Jason Kidd para tentar ganhar um jogo contra o Los Angeles Lakers. Atrás no placar e sem pedidos de tempo, Kidd, técnico do Brooklyn Nets, pediu que Tyshawn Taylor, seu jogador, esbarrasse nele para que fingisse derrubar um copo cheio na quadra, fazendo com que o jogo fosse interrompido para secar o chão. Com isso, o Nets teve a chance de desenhar uma jogada enquanto funcionários da arena cuidavam do problema, mas acabou não ganhando o jogo.
A manobra gerou diversas reações ao redor da liga. A maioria delas em tom jocoso, especialmente pelo fato de ter dado errado, pois o Nets terminou perdendo o jogo. A internet foi tomada por piadas e fotos editadas. Vários atletas comentaram a situação no twitter. Jason Kidd inicialmente negou a intencionalidade do ocorrido, mas acabou admitindo que sua ação foi premeditada. Acabou multado em 50 mil dólares pela liga, que se deu por satisfeita e colocou ponto final ao episódio, apesar de protestos daqueles mais exaltados que defendiam uma punição mais severa.
Mark Cuban, dono do Dallas Mavericks e criador de intrigas nas horas vagas, postou em seu blog vídeo de Kidd, enquanto jogador, ficando exaltado após presenciar Del Harris, ex-técnico de várias equipes da NBA, praticar manobra idêntica.
Apesar dessa repercussão toda, o fato é que o burlesco episódio resume o que tem sido a temporada do Brooklyn Nets até agora: uma verdadeira farsa. Quando esse time foi formado, com certeza não se esperava que a essa altura estivesse abaixo de 30% de aproveitamento. Muito pelo contrário.
A celebrada união de forças entre Deron Williams, um dos melhores armadores da liga, e veteranos sagazes como Paul Pierce, Kevin Garnett e Joe Johnson, junto com bons jogadores como Andray Blatche, Reggie Evans e Brook Lopez parecia impossível de dar errado. Mas, por enquanto, tem sido um desastre.
Tudo bem que praticamente todo o time titular perdeu vários jogos por conta de lesões, mas esse não é o problema principal. Sob o comando de Kidd, um técnico calouro, o time ainda não criou uma identidade. Não tem padrão de jogo estabelecido. Parece um bando de peladeiros de final de semana tentando errar menos que o adversário.
E é por isso que o teatro de Kidd com o copo tomou proporções além do que deveria. Se o time estivesse bem, talvez ele fosse chamado de gênio pela imprensa e torcedores, que celebrariam esta “catimba” como uma malandragem saudável e até mesmo válida. No entanto, a falta de resultados fez com que o episódio se tornasse motivo de chacota e, para alguns, não apenas um sinal de desespero de Kidd, mas também o início de sua derrocada. Alguns torcedores mais exaltados já vem, há algum tempo, defendendo a saída de Kidd do comando técnico do Nets.
Jason Kidd foi um dos melhores armadores da história da liga. Jogador diferenciado e único, que fez algumas campanhas em nível de MVP e chegou a duas finais da NBA, perdendo para as duas maiores equipes da última década. Seu lugar entre os maiores
nomes da história do basquete já está garantido, mas seu desempenho como técnico neste início de nova carreira tem colaborado para manchá-lo.
Com o episódio do copo agora no passado, Kidd precisa usar a criatividade e sagacidade que o marcaram como jogador para mudar o terrível destino que se desenha para o Brooklyn Nets. Pelo pouco tempo, ele ainda merece uma chance de tentar. No entanto, após este início turbulento e o fiasco do copo, seu próximo truque precisará ser muito mais convincente, e precisa produzir resultados melhores para o Nets, sob pena terminar sua carreira como técnico muito mais cedo do que imaginava.