“Rubio, Rubio, Rubio”
Quantos jogos são necessários para que um jogador da NBA se torne um ídolo? Há bons atletas que passaram a carreira em busca de tal reconhecimento e nunca o conquistaram. No entanto, como tudo em sua precoce trajetória, o armador Ricky Rubio precisou de bem menos do que anos para “converter” os torcedores do Minnesota Timberwolves.
Pode-se dizer que aconteceu no dia 30 de dezembro, em um jogo equilibradíssimo contra o temido Miami Heat. O garoto de 21 anos saiu do banco de reservas para quase dar uma improvável vitória a sua equipe. Fez 12 pontos, pegou seis rebotes, distribuiu 12 assistências e ouviu seu nome ser gritado em coro pelos fãs no Target Center: “Rubio, Rubio, Rubio”.
O espantoso? Era apenas sua terceira partida na NBA. Muitos novatos precisam de três confrontos para pontuar pela primeira vez. Neste minúsculo espaço de tempo, o prodígio espanhol virou peça de idolatria.
Assistindo àquele jogo, mais um feito para a lista do garoto, eu fiquei pensando: como ele consegue? Quero dizer, como Rubio passou de um completo estranho para a maioria da torcida a uma figura reverenciada, que tem o nome gritado entusiasmadamente, em apenas três jogos? Afinal, por que Rubio encanta?
Questionado sobre atletas a quem o jovem espanhol poderia ser comparado, o treinador David Thorpe – analista da ESPN e que trabalha no desenvolvimento de centenas de jogadores profissionais – afirmou: “Ricky é único”. Para mim, aqui reside o ponto central da discussão, a aura que envolve o badalado calouro. Independente de ser “melhor do que fulano” ou “pior do que sicrano”, Rubio é diferente de tudo que existe na NBA hoje.
Especialmente nos EUA, cresce a geração dos Derrick Roses e Russell Westbrooks. Isso quer dizer que os armadores da NBA estão se formando ou sendo formados cada vez mais orientados para facilitar o próprio jogo e não organizar um time. Trata-se de uma legião de atletas que não buscam enxergar a quadra (muitas vezes) como um todo, mas sim como uma linha reta em direção à cesta.
Neste panorama, Rubio surge como uma espécie em extinção: ele é o garoto que enxerga a quadra em sua completude e joga focando no passe – que, no fim das contas, é um dos mais importantes fundamentos de qualquer esporte. A chegada de um armador como o espanhol é algo que não se via há muito tempo na NBA. Desde o início da carreira de Jason Kidd, talvez?
O jovem é um grande arremessador/finalizador? Não. Mas, na prática, quando ele entra em quadra, seus quatro companheiros se tornam arremessadores mais precisos, porque seus passes os colocam em melhores condições de pontuar. Em um jogo cada vez mais individualizado, Rubio nos remete ao caráter coletivo do basquete: seu melhor é fazer os outros melhores. E, como provam os gritos da torcida do Timberwolves, não são necessários olhos treinados para ver seu impacto em uma partida.
Diferente do que posso dar a entender, não estou pregando aqui que o calouro europeu seja melhor do que Rose ou Westbrook. Não é e ainda tem muito a percorrer apenas para justificar uma comparação. O que digo é que eles representam formas diferentes de praticar basquete e, por ser a novidade, o prodígio acaba se tornando o alvo natural de fascínio.
O garoto de 21 anos é, de fato, único. Ver algo tão raro, especial, e ao mesmo tempo tão ligado às raízes do basquete bem jogado, coletivo, nos encanta por natureza.
Encantar nem sempre significa ser bem sucedido. Rubio, porém, tem feito ambos. E por que será que, desde o primeiro jogo, o garoto tem funcionado tão bem? Este será o assunto da segunda parte desta análise. Aguardem!