Após 11 anos, o Phoenix Suns está de volta aos playoffs da NBA. A contratação de Monty Williams, o fenômeno na bolha, e a troca por Chris Paul transformam um time que há dois anos parecia um caos, e sem muita esperança, em um sério candidato ao título. Phoenix tem várias marcas de um time campeão: peças que se encaixam bem, estrelas, um elenco profundo e versátil e está no seleto grupo dos dez melhores ataques e das dez melhores defesas. Tudo, exceto a inexperiência de boa parte do elenco, indica a equipe do Arizona como um sério candidato ao título.
O ataque do Suns é extremamente peculiar. Trata-se de uma equipe que ataca muito pouco o aro e está na média de bolas de três tentadas, enquanto arremessa um alto volume das tipicamente ineficientes bolas de meia distância. Mas, por diversos fatores, isso funciona.
O bom funcionamento desses arremessos “ruins” se deve em parte pelas tentativas serem livres: Phoenix lidera a NBA em bolas de mid range com defensores a pelo menos quatro pés do arremessador. No saldo, arremessar de meia distância não é tão ruim para o Suns. O time tem o melhor aproveitamento da liga na região – 47.2%. Não trata-se de uma base para ataque eficiente, mas é uma arma extremamente útil para atrair a atenção de defesas e facilitar arremessos em outras regiões.
Isso se reflete por exemplo no fato de o Suns ser um dos times mais eficientes da liga ao finalizar na cesta (67.4% de aproveitamento), na parte longa do garrafão (50.4%) e especialmente na maior arma de Phoenix: o arremesso na zona morta. A equipe de Monty Williams é a quarta da liga que mais arremessa na região (quase dez tentativas por jogo) e converte o segundo maior percentual (absurdos 43.3%). Além de todos esses fatores, o ataque da equipe flui pelo fato de não haverem posses desperdiçadas. O Suns perde a bola em apenas 13% das suas posses, a sexta melhor marca da NBA.
Sob um ponto de vista de estilo de jogo, o time do Arizona se destaca pelo altíssimo volume de finalizações assistidas, refletido em uma das maiores taxas de arremessos vindos de spot up e de corta-luzes fora da bola em toda a liga. Curiosamente, o Suns está longe de ser uma das equipes que mais passa. A questão é que o time gera uma quebra na defesa e encontra um jogador livre, o que ocasiona em um bom arremesso.
Há muito de Chris Paul nesse time. Poucos turnovers, geração de arremessos livres e trabalho facilitado para arremessadores são características muito associadas ao veterano armador. Apesar dos números brutos não chamarem a atenção, Paul é ainda um dos melhores jogadores da liga. Ele distribui muitas assistências (8,7), desperdiça muito pouco a bola (2,2) e é um jogador muito acima da média em eficiência de arremessos (59%). Sempre sendo um general de quadra, muito do crescimento do Suns passa por ele e sua performance nos momentos decisivos (onde tende a controlar o jogo e chega perto de 60% em eficiência de arremessos).
Porém, o talento de Phoenix não está apenas na armação. Devin Booker também é responsável por boa parte do sucesso do time. Tendo tido menos a bola na mão nas duas temporadas sob o comando de Monty Williams, ele se tornou um jogador muito mais eficiente, como uma espécie de canivete suiço ofensivo. Booker ainda executa pick-and-rolls, jogadas de mano a mano e cria seu arremesso, mas também tem taxas relevantes de spot ups, post ups, arremessos vindo de corta luz e handoffs. Por mais que não seja estupendamente efetivo em nenhuma das jogadas, ele é competente o suficiente em quase todas, de modo a ser uma arma ofensiva imprevisível.
O Suns também tem na profundidade uma das suas maiores forças. Não trata-se apenas do time de Paul e Booker. Deandre Ayton tem sido um dos roll man mais eficientes da NBA (1.4 ponto por arremesso) e uma grande ameaça cortando para a cesta. Cam Johnson e Jae Crowder são arremessadores de spot up extremamente acima da média em volumes altíssimos. Além disso, a segunda unidade comandada por Dario Saric é um terror para os adversários, com um absurdo net rating (saldo de cestas) de 12.6!
Defensivamente, a equipe também brilha. O primeiro nome a ser mencionado é o de Mikal Bridges, que limitou jogadores como Damian Lillard, Jayson Tatum, Donovan Mitchell, De’Aaron Fox e Khris Middleton a menos de um ponto por arremesso. Bridges é um defensor excelente para jogadores de diversas alturas e estilos de jogo. Além disso, Paul é sempre um incrível ladrão de bola, e Ayton, ainda que não seja um grande defensor (pivô abaixo da média em proteção de aro), tem sido menos explorável.
O Suns não está entre as melhores campanhas da liga por acaso. Trata-se de uma equipe de nível extremamente alto e, apesar da relativa inexperiência, pode sim brigar pelo título em 2020/21. Não os vejo como favoritos, pois há equipes mais fortes e calejadas, mas eu não descartaria Phoenix de maneira alguma chegando a uma final de conferência. E, a partir daí, tudo pode acontecer.
* Por Matheus Gonzaga e Pedro Toledo (Layups & Threes)