Aquela brincadeira infame que diz “nada está tão ruim que não possa piorar” pode representar bem a atual situação – de bastidores – que vive a NBA. Se, por um lado, a liga foi um sucesso de audiência e venda na mais badalada temporada dos últimos anos, a disputa interna, já denominada por alguns como o “confronto entre milionários x bilionários”, parece estar muito longe de terminar.
As notícias sobre o possível lockout já existem há tempos, com jogadores e donos de franquias preparando terreno para a paralisação através de declarações de apoio às respectivas classes ou, simplesmente, apresentando números pra lá de indigestos nos balanços financeiros. E qualquer um pouco familiarizado com o assunto não estranhou a instalação do lockout no primeiro minuto do mês de julho. Começava oficialmente uma disputa que promete substituir boa parte da temporada por debates, entrevistas e negociações, e, em breve, também não será surpresa para muitos se a temporada 2011/12 da NBA ficar resumida apenas à segunda metade.
No capítulo dessa terça-feira, a trama ganhou tons de seriedade: após mais uma reunião de muita conversa e nenhum avanço, a NBA optou por acionar judicialmente a associação de jogadores da NBA (NBPA), acusando os jogadores de não cooperarem nas negociações para um acordo de negociação coletiva (CBA), fazendo “mais de duas dezenas” de ameaças de dissolver a associação com o intuito de processar a Liga com base nas leis antitruste para garantir condições mais favoráveis em um novo CBA.
Nas palavras de David Stern, figura maior da NBA, “eles (os jogadores) não estão encarando as negociações com a NBA com seriedade, estão muito ocupados conversando sobre a estratégia de dissolução, como aconteceu na NFL, e acreditamos que isto esteja distraindo os jogadores”.
O que significaria a dissolução da associação de jogadores? A partir do momento em que os jogadores não fossem mais representados pela associação, eles estariam livres para acionar a NBA judicialmente com base nas leis antitruste – práticas comerciais injustas projetadas para criar um monopólio. Prevendo tal possibilidade, a NBA teria se antecipado e chegado antes aos tribunais, assim como fez a NFL contra a sua associação de jogadores pouco antes da dissolução da mesma.
A ação judicial é, portanto, uma medida preventiva por parte da NBA. Ela busca o apoio do tribunal quanto à legalidade do lockout, já se precavendo da possibilidade dos processos com base nas leis antitruste. Mais ainda, a NBA pediu ao tribunal para declarar que a possível dissolução da associação anularia todos os contratos existentes com os jogadores, pois os mesmos foram feitos pela associação durante o antigo CBA.
Billy Hunter, diretor da NBPA, respondeu da seguinte forma: “a NBPA não tomou qualquer decisão de negar o seu papel como representante de negociação coletiva dos jogadores e tem se empenhado nas negociações com boa fé há mais de dois anos. Pedimos à NBA que se engaje com a gente na mesa de negociação e use de forma mais produtiva o curto período de tempo que nos resta antes da temporada 2011-12 estar seriamente comprometida”. Qualificando as ações da Liga como “sem mérito”, Hunter acha que a medida tomada pela NBA é apenas “mais um exemplo da má fé nas negociações por parte da Liga”.
Prever o próximo ato desse imbróglio é quase impossível. Talvez o jogo de basquete tenha sido substituído pelo xadrez, e cada novo movimento venha a ser exaustivamente pensado e demorado. Enquanto isso, os fãs devem estar preparados para o mais longo e tenebroso verão da história da NBA.