NBA Draft 2019 – Uma visão geral sobre a classe

Colunista de scouting, Gabriel Andrade faz uma análise inicial dos destaques do próximo recrutamento

Fonte: Colunista de scouting, Gabriel Andrade faz uma análise inicial dos destaques do próximo recrutamento

Por Gabriel Andrade

Diferentemente da classe de 2018, tida como extremamente forte e profunda, possivelmente impactando a NBA imediatamente – o que realmente aconteceu – catapultada por super-adolescentes como Luka DoncicDeandre AytonJaren Jackson Jr, Shai Gilgeous-Alexander, Marvin Bagley e vários outros jovens produtivos com diferentes papéis em diferentes equipes; a classe de 2019 vem sendo criticada há alguns anos pelos especialistas, tanto por desempenhos frustrantes do Team USA em torneios de base, quanto por camps em que os jovens pareciam preguiçosos e pouco ativos. Desde 2013, um Draft não vinha com expectativas tão baixas quanto ao nível de talento. Realmente, este não parece ser um bom ano para tank 

Esse tipo de categorização de uma classe antes dela acontecer profissionalmente não costuma ser saudável. Além de poderem queimar a língua, são jovens, com linhas de aprendizado diferentes e que podem muito bem se desenvolver. A própria classe de 2013 revelou estrelas como Giannis AntetokounmpoRudy Gobert, CJ McCollum e Victor Oladipo 

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Colocado esse ponto, o início da temporada do College trouxe nomes muito badalados em seu topo, em especial Zion Williamson e RJ Barrett, nenhum deles unanimidade quando no High School, mas jogadores que eram muito produtivos em seu nível de competição, com destaque para Barrett já jogando pela seleção principal e até ganhando títulos nos torneios de base da FIBA com o Canadá. Enquanto isso, Zion brilhava em revistas, YouTube e todo tipo de conteúdo que mostrava suas acrobáticas enterradas. Ambos acabaram escolhendo Duke, ao lado também de Cam Reddish, formando o trio melhor ranqueado no High School. Além dos treinandos de Coach K, outros nomes ganharam perspectiva por diferentes motivos, como Quentin GrimesNassir Little, Bol BolDarius Garland, Romeo Langford e Jontay Porter.  

Zion Williamson: favorito à primeira escolha?

Contudo, além dos olhares já desconfiados, lesões e más temporadas fazem que, desse grupo, apenas Williamson tenha superado suas expectativas quanto ao desempenho no College, o que por si só é um desafio. Para alguém tão midiático, a maneira como sua produção e versatilidade tem encontrado espaço no basquete universitário segue impressionante. Trata-se de alguém muito melhor do que enterradas em contra-ataques. Grandes passes, habilidoso, capaz de ler o jogo e ainda com uma presença defensiva feroz. Muita gente fala de Zion como se fosse um gordinho, mas ele é puro músculo, com incrível impulsão. As questões sobre arremesso e qual papel pode exercer em um time na NBA são legítimas, mas o feroz atleta é um jogador tão único e que se sobressai tanto em relação aos demais que disparou na corrida para ser a escolha número 1 do recrutamento. 

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RJ Barrett é outro candidato à primeira escolha

Companheiros de Zion, Barrett e Reddish enfrentam questões diferentes para se consolidar. O canadense tem tido dificuldades para se manter um jogador ofensivamente produtivo. Sua habilidade, capacidade atlética e instintos ainda o mantêm no topo das opções das franquias, mas o pouco impacto defensivo, aspecto pouco passador de seu jogo e QI de Basquete parecem o manter distante do ideal de estrela que as franquias perseguem. Reddish, por outro lado, já não era bem visto pelos scouts. Apesar de ser possivelmente o jogador com o maior ‘talento natural’ do Draft, sempre pareceu preguiçoso na defesa, não gostar do jogo físico, finalizar muito mal ao redor do aro, muito apegado a arremessos contestados de longa distância. O destino não ajudou Cam, sendo ofuscado por jogadores mais desenvolvidos e com personalidade, mas também ajudou a escancarar alguns de seus defeitos. 

Enquanto Jontay Porter, Darius Garland e Bol Bol tiveram que amargar lesões longas e difíceis de se recuperar, ao menos sempre deixaram boas impressões em seus jogos. Porter como um pivô moderno, que arremessa, passa e defende com muita inteligência; Garland como um armador veloz, criativo e ótimo arremessador após o drible; e Bol Bol como um gigante super longo capaz de arremessar após o drible e proteger o aro de maneira intrigante, dada sua envergadura descomunal. Além das lesões, os três não são considerados versáteis defensivamente e precisarão se provar no próximo nível.

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E aí, já entrou na hype de Ja Morant?

Aproveitando o baixo desempenho dos pré-estelares nesta temporada do College, alguns prospectos ganharam tração, com destaque para Ja Morant e Jarrett CulverMorant, que joga pela pouco badalada universidade de Murray State, foi chamando a atenção pela capacidade criativa de passe e incrível habilidade atlética. Com atuações monstruosas contra universidade pequenas, pouco teve oportunidade de enfrentar equipes realmente competitivas no NCAA. Não se deve ignorar esse tipo de prospecto, como Lillard e McCollum podem provar, mas coisas além desses contextos que podem colocar dúvidas sobre o potencial do armador. Primeiro, ele é péssimo na extremidade defensiva, em parte por causa das responsabilidades excessivas que carrega. Segundo, é um jogador ainda com corpo franzino, que tende a enfrentar dificuldades em seus primeiros anos de NBA, pelo menos. Além do mais, é uma máquina de erros que não vimos atuar sem a bola nas mãos. Esse tipo de rendimento estatístico (24 pontos, 6 rebotes, 11 assistências, 5 turnovers e 52% nos arremessos de média) é realmente sustentável? 

Culver, por outro lado, se consolidou como uma força versátil e segura. Ótimo passador que contribui em várias facetas do jogo, trata-se de um atleta refinado, com boa capacidade de criar separação, defender múltiplas posições e jogar um basquete muito eficiente. Ainda restam questões sobre a versatilidade e capacidade real de seu arremesso, mas parece ser uma opção bastante viável em uma classe incerta.

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Ainda existem alguns prospectos que são tratados a “Amem-vos ou deixo-os”, com destaque para Rui Hachimura. O japonês de Gonzaga vem tendo uma temporada estatisticamente fantástica, mas numa direção de desenvolvimento que não agrada muito os olheiros. Embora atlético, capaz de finalizar e jogar na área pintada, seu corpo e atual impacto sugerem que deveria ter um jogo de ala versátil, que defendesse e atacasse sem a bola, dois pontos muito fracos em seu conjunto de habilidades. Não apresenta confiança alguma em seu chute e é facilmente o pior defensor do recrutamento entre os prospectos badalados, tanto no perímetro quanto no garrafão, com destaque para as leituras de defesa coletiva. Outro jogador que merece destaque neste sentido é Charles Bassey, um pivô que protege muito bem o aro e que causa estragos nos rebotes, mas muito limitado e sem uma capacidade atlética que o ajude como finalizador no pick and roll ou defendendo o perímetro. 

Brandon Clarke e sua rotina de distribuir tocos

Queridinho de muita gente, Brandon Clarke, companheiro de Hachimura em Gonzaga, vem se revelando o melhor protetor de aro do recrutamento (4,5 tocos por 40 minutos), que usa de todas as facetas possíveis da defesa de cobertura para alterar arremessos, tanto fora quanto perto do semicírculo. Além do mais, seu passe, QI de Basquete e eficiência geral faz com seja tratado como alguém que geraria impacto imediato na maioria dos cenários dentro da NBA, ao menos como um jogador de rotação. 

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Dentre os que ganharam projeção, ainda é possível destacar: Nickeil Alexander-Walker, versátil ala-armador, capaz de arremessar de longa distância de qualquer canto da quadra, criar para os companheiros como playmaker secundário e usar sua envergadura na defesa; Jaxson Hayes como pivô longo e explosivo, aos moldes de Clint Capela, para fazer a função de protetor de aro capaz de trocar a marcação e finalizar por cima da defesa; Goga Bitadze, forte pivô georgiano, que vem fazendo uma temporada incrível, ganhando inclusive um contrato na Euroliga e impactando imediatamente na segunda melhor liga do mundo com sua agressividade, capacidade de finalizar ao redor do aro, arremessar de meia distância e distribuir tocos; e De’Andre Hunter, um verdadeiro canivete suíço nas alas. 

Em uma classe cheia de incertezas como esta, cada Mock Draft é uma história, as variações de pensamento são gigantes e existe muita inconsistência. É simplesmente muito difícil imaginar como os gerentes gerais vão escolher suas direções, além dos próprios olheiros não estarem seguros do talento dos atletas para suprir as necessidades das equipes. Não existe nenhuma unanimidade, sobretudo depois das duas primeiras escolhas. Podem haver ainda muitos influxos. Ainda há tempo para se tomar melhores conclusões sobre os jovens que entrarão na NBA no próximo semestre, mas uma coisa é certa, muito na cabeça de quem avalia os prospectos ainda vai mudar e, provavelmente, surpresas virão. 

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