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O bilionário russo Mikhail Prokhorov comprou o New Jersey Nets prometendo novos tempos, em 2010. Na época, a equipe alternava temporadas ruins e regulares desde as duas finais disputadas no início do século, sob a liderança de Jason Kidd. Um misto de elencos fracos e pouco interesse do público fizeram a proposta do magnata boa demais para ser recusada pelos antigos donos. O juramento de grandes injeções de capital e investimento fizeram a proposta boa demais para ser recusada pelos torcedores.
A empolgação foi enorme e não poderia ser diferente. Estavam nos planos uma mudança do time para o Brooklyn – local de grande concentração de fãs de basquete – com uma arena bilionária e até o rapper Jay-Z tornou-se dono minoritário da franquia. De repente, o Nets era cool e o sucesso parecia inevitável. Parecia impossível dar errado. Mas deu.
Deu errado por uma sucessão de equívocos. O começo foi quando, ao chegar, Prokhorov decidiu trocar Rod Thorn por Billy King na gerência geral do time. Thorn não era nenhum gênio, mas tinha grande experiência com o Nets (10 anos) e montou o elenco bicampeão de conferência. Com a mudança drástica, seria prudente manter um dos baluartes do antigo time por perto para uma transição mais suave. Longe disso. Ele ainda o substituiu por Billy King, alguém que faz o ex-GM parecer um dos mais habilidosos executivos da liga.
A grande maioria das decisões de King nos últimos cinco anos foi altamente reprovável. Ele trocou todas as escolhas de primeira rodada de draft do Nets até 2019 por atletas que, em grande parte, já não integram o elenco. A franquia apostou (erroneamente) em Deron Williams, desmotivado e sem compromisso, para ser sua principal referência. Trouxe os veteranos campeões Kevin Garnett e Paul Pierce por um caminhão de ativos para liderar um experimento desastrado com o recém-aposentado Jason Kidd como técnico em 2013. O ex-armador evoluiu bastante como treinador no jovem Milwaukee Bucks, mas não tinha condições de comandar um time veterano com a pressão de chegar aos playoffs saindo da carreira de atleta.
O comando técnico, aliás, foi outro aspecto muito trocado também na gestão de Prokhorov/King: Avery Johnson, P.J. Carlesimo, Kidd e, agora, Lionel Hollins passaram pelo cargo de treinador com filosofias bem distintas desde 2010. Isso, em um time passando por várias transformações (atletas, nome, direção, arena e cidade), ajudou tudo a ficar ainda mais sem identidade.
Todos os erros podem ser atribuídos, em última análise, ao russo. Sua intenção era boa: desejava liderar um processo de mudança que levaria o Nets de volta ao topo da NBA. Ocorre que falhou grandiosamente na execução com sua megalomania e criou um elenco pouco coeso em quadra, sem pontos de união ou objetivos comuns. Ele assumiu uma franquia sem ter qualquer noção de como atingir o sucesso a nível de NBA e cercou-se dos piores conselheiros possíveis.
A perspectiva para o Nets é muito ruim em curto prazo: o time possui pouquíssimos jogadores com mercado para tentar alguma troca e não tem jovens promessas ou a perspectiva de escolhê-los via draft. Ocupa a vice-lanterna do Leste, à frente apenas da pior equipe da NBA, o Philadelphia 7ers. É hora de Prokhorov fazer o que deveria ter feito desde o princípio: investir em um projeto em longo prazo para orientar suas ações de negócios e basquete.
Considerando a disponibilidade de investimento que tem e o mercado em que está inserido, o Nets tem um potencial gigante. Para alcançá-lo, porém, precisa de bons movimentos e cercar-se das pessoas certas – como seu vizinho New York Knicks fez ao contratar Phil Jackson. É isso que o bilionário precisa entender: ficou no passado a época em que dinheiro, um bom mercado e correr riscos garantiam sucesso. Na NBA atual, é primordial planejamento e execução durante anos. Esta é uma lição que, por exemplo, serviria também ao Los Angeles Lakers.
Deixamos aqui, por ora, apenas o desejo de que Prokhorov tenha aprendido que não é tão fácil vencer na liga. Mais do que dinheiro, é necessário construir um ambiente vencedor em torno de filosofia e elenco coerente. Esperamos também que ele não tenha desanimado de fazer grandes investimentos e apostas no Nets, pois a NBA carece de mais donos que invistam no negócio. Isso é muito bom para o esporte e, justamente por isso, precisamos de modelos de sucesso com esse perfil. Para que outros se encorajem a fazê-lo.