A Universidade de Duke não está para brincadeira quando o assunto se refere ao recrutamento de grandes prospectos do basquete colegial. Depois dos alas R.J. Barrett e Cameron Reddish anunciarem que estão comprometidos com o programa dos Blue Devils, no último sábado foi a vez do ala-pivô Zion Williamson oficializar sua intenção de se juntar à equipe treinada por Mike Krzyzewski, o Coach K. Com isso, Duke conseguiu recrutar, na mesma classe, os três atletas mais bem ranqueados do High School, algo inédito no basquete universitário.
A maioria dos especialistas de basquete colegial considerava que o jogador de 17 anos, que atua pela Spartanburg Day School, na Carolina do Sul, fosse escolher a Universidade de Clemson, localizada no mesmo estado, como o seu destino. Kentucky, Kansas e South Carolina também estavam no páreo. Já famoso por conta de seus lances e enterradas espetaculares publicados no YouTube, Williamson surpreendeu quando anunciou que estava comprometido com Duke, que fica na Carolina do Norte. Algumas coisas chamaram a atenção no discurso de Zion:
“Duke se destacou porque a fraternidade representa uma família. Coach K é o técnico mais lendário que já treinou no basquete universitário. Sinto que posso aprender muito com ele”.
“Quando o Coach K veio à minha casa para se encontrar com a minha família, não foi apenas sobre o basquete e o que ele poderia fazer por mim em uma temporada. Foi sobre como ele poderia construir Zion como uma marca dentro e fora de quadra pelos próximos anos e pelo resto da minha vida”.
Sim, Mike Krzyzewski é uma lenda viva. Ele comanda o programa de Duke desde 1980 e ajudou os Blue Devils a conquistarem cinco títulos do Torneio da NCAA. Além disso, Coach K tornou-se o primeiro treinador a superar a marca de mil vitórias na divisão principal do basquete universitário e foi tricampeão olímpico com a seleção dos Estados Unidos (2008, 2012 e 2016). Aos 70 anos, ele mostrou que também é o melhor recrutador do College na atualidade.
Coach K insiste que a cultura da universidade em formar atletas ainda é mais forte que o famoso one-and-done (jogadores que atuam apenas uma temporada no basquete universitário antes de irem para a NBA).
“No que diz respeito ao recrutamento, acho que você está sempre se ajustando. Em quatro décadas de recrutamento, muitas coisas mudam e você precisa se adaptar ao longo do caminho. Obviamente, a coisa que mais chama a atenção na última década é o one-and-done. Estamos à procura de jovens que realmente possam jogar, que tenham notas boas e que se tornem boas pessoas. Esse perfil de atleta buscado pelo nosso programa não mudou desde o início dos anos 80. Não estou dizendo que somos os únicos que possuem um excelente produto, mas a Universidade de Duke é uma das grandes escolas do mundo. Nós temos um corpo estudantil global. E nós produzimos jogadores realmente bons. Os talentos que passaram por aqui melhoraram como atletas e muitos deles tiveram ou têm bastante sucesso como profissionais. Temos um histórico de sucesso comprovado. Não estou dizendo que somos os únicos que fazem isso, mas somos um deles. Então, por isso, somos capazes de recrutar bons jogadores”, disse o lendário treinador, em entrevista recente concedida ao repórter Adam Zagoria.
O exemplo de Kentucky
A estratégia do one-and-done foi bem utilizada nos últimos anos pelo técnico John Calipari, da Universidade de Kentucky. Conhecido pelo poder de persuasão, Coach Cal adotou a filosofia de recrutar prospectos de elite do High School e ajudá-los a se tornarem estrelas na NBA. Anthony Davis, John Wall, DeMarcus Cousins, Karl-Anthony Towns e Devin Booker são os maiores exemplos.
Desde 2009, quando chegou a Kentucky, Calipari procurou ser agressivo na questão do recrutamento e conseguiu bons resultados graças a elencos formados, em sua maioria, por calouros. No entanto, ele só foi campeão em 2012, quando tinha Davis como seu principal pupilo. Kentucky foi vice em 2014 e chegou ao Final Four em 2011 e 2015.
Mais importante que os títulos, que são difíceis de serem alcançados por equipes repletas de novatos, Calipari conseguiu ser o mentor, mesmo que por apenas uma temporada, de vários atletas que hoje fazem sucesso na NBA.
Questionado sobre o que mudou para Kentucky não ter conseguido recrutar prospectos de elite na classe de 2018, como no caso de Barrett, Williamson e Reddish, Calipari deu uma alfinetada em Duke e exaltou o feito de sua universidade (ou dele mesmo), nós últimos anos, em produzir alguns dos grandes astros da NBA.
“Eu não vendo essa ideia de que, quando o jogador vem para cá, a universidade e o estado vão cuidar dele para o resto de sua vida (foi o que Duke falou ao ala-armador Hamidou Diallo, prospecto cinco estrelas da classe de 2017, que optou por Kentucky). Minha preocupação com quem chega aqui é a seguinte: como podemos ajudá-lo a ser a melhor versão dele dentro e fora da quadra? Como iremos enviá-lo para a NBA daqui a um, dois, três ou quatro anos, com uma base para ter sucesso dentro e fora da quadra, onde eles possa estar envolvido com a sua comunidade, e que isso não se trata apenas de basquete? Alguns deles estão bem. É só olhar quem nós perdemos nos últimos anos e perceber como eles estão se saindo na NBA. Alguns já estão muito bem, por sinal. Cada um de nós neste país se baseia no princípio de que você precisa cuidar de si mesmo. E então, quando você consegue isso, você se certifica de que está ajudando outros a conseguirem também. É isso que estamos tentando fazer aqui. Apenas damos a melhor oportunidade a esses jovens. Não estamos tentando dizer aos jovens que esta universidade ou este estado vão cuidar dele para o resto da vida. Não há socialismo aqui. Em Kentucky funciona assim: ‘você deve fazer isso e nós vamos ajudá-lo a fazer isso’. Alguns recrutas gostam disso. Outros não. Nós conseguimos aqueles que realmente precisam vir para cá. Os jovens que vieram para Kentucky hoje valem mais de US$1 bilhão em contratos da NBA. Três deles foram a primeira escolha do draft”, afirmou Calipari ao repórter Kyle Tucker.
Duke entrou de cabeça no one-and-done
Duke sempre estará na disputa pelos melhores jogadores porque é um dos programas mais tradicionais e respeitados da NCAA, mas nos últimos anos Coach K passou a “desafiar” Calipari nos recrutamentos e angariou uma série de atletas projetados como one-and-done. De 2011 para cá, cinco jogadores de Duke foram escolhas TOP 3 no Draft da NBA: Kyrie Irving (primeira escolha de 2011), Jabari Parker (segunda escolha de 2014), Jahlil Okafor (terceira escolha de 2015), Brandon Ingram (segunda escolha de 2016) e Jayson Tatum (terceira escolha de 2017). E olha que nem falei de Justise Winslow e Tyus Jones. O que todos eles têm em comum? Ficaram apenas uma temporada em Durham.
O título de 2015, por exemplo, veio graças a três jogadores “one-and-done“: Okafor, Winslow e Jones.
Entre 2009 e 2013, Kentucky recrutou dez prospectos TOP 10 e oito TOP 5, enquanto Duke conseguiu somente três atletas TOP 10. Mas nas últimas três classes, Calipari trouxe nove prospectos TOP 10 e seis TOP 5. Já o Coach K recrutou somente três jogadores TOP 10.
Desde 2009, 17 jogadores de Kentucky foram escolhas de loteria no Draft, enquanto Duke emplacou oito. E tem mais. Nesse período, os Wildcats produziram três primeiras escolhas (Wall, Davis e Towns), que se tornaram estrelas na NBA. E Cousins, quinta escolha de 2010, já vai para a sua quarta participação no All-Star Game. Já os Blue Devils emplacaram apenas uma primeira escolha (Irving), outro astro da melhor liga do mundo. Três escolhas TOP 3 mais recentes – Parker, Okafor e Ingram – ainda não mostraram na NBA tudo o que se esperava deles.
Neste ano, Duke pode ter mais quatro one-and-dones. O ala-pivô Marvin Bagley deverá figurar no TOP 4 do próximo Draft. O pivô Wendell Carter e o armador Trevon Duval são cotados para serem escolhidos ao final da loteria. O ala-armador Gary Trent Jr. tem boas chances de sair ao final da primeira rodada. Como o ala-armador Grayson Allen estará se graduando ao final desta temporada, os Blue Devils podem perder todo o quinteto titular de uma vez só.
Para a temporada 2018/19, Duke já garantiu os três melhores prospectos do basquete colegial e aquele que é considerado o armador mais talentoso da classe (Tre Jones, irmão de Tyus Jones). Com isso, teoricamente, quatro dos cinco titulares para a próxima temporada serão novatos. E todos eles deverão ficar apenas um ano sob o comando do Coach K. O quinteto inicial deverá ser completado pelo pivô Marques Bolden, que irá para o terceiro ano em Duke. No banco, os Blue Devils deverão ter o armador Alex O’Connell (segundanista) e o ala Javin DeLaurier (junior), que já contribuem nesta temporada. Ou seja, Duke terá, mais uma vez, um time recheado de talentos e pronto para brigar pelo título da NCAA.
O fato é que Kentucky se sobressaiu em boa parte desta década na questão dos recrutamentos, mas Duke conseguiu os melhores prospectos nas últimas três classes. Ninguém sabe quanto tempo vai durar essa era em que os melhores jogadores do basquete colegial ficam apenas uma temporada no College antes de chegar à NBA. O que dá para prever é que os treinadores das duas universidades vão continuar usando todas as armas que têm para recrutar os atletas de elite do High School. Até agora, Coach K parece estar se ajustando muito bem ao one-and-done.
Histórico recente de one-and dones de Duke e Kentucky
Classe 2018 – Prospectos cinco estrelas | ||||
Jogador | Posição | Universidade | Ranking ESPN | Ranking 247 Sports |
R.J. Barrett | SG/SF | Duke | 1 | 1 |
Zion Williamson | PF | Duke | 2 | 3 |
Cameron Reddish | SG/SF | Duke | 3 | 2 |
Tre Jones | PG | Duke | 12 | 8 |
Keldon Johnson | SG | Kentucky | 6 | 12 |
Immanuel Quickley | PG | Kentucky | 17 | 13 |
Classe 2017 – Prospectos cinco estrelas | |||||
Jogador | Posição | Universidade | Ranking ESPN | Ranking 247 Sports | Cotação no Draft 2018 |
Marvin Bagley | PF | Duke | 1 | 1 | TOP 4 |
Wendell Carter | C | Duke | 5 | 7 | Loteria |
Trevon Duval | PG | Duke | 6 | 6 | Loteria |
Gary Trent Jr. | SG | Duke | 8 | 17 | Primeira rodada |
Hamidou Diallo | SG | Kentucky | – | 10 | Loteria |
Kevin Knox | SF | Kentucky | 10 | 11 | Loteria |
P.J. Washington | PF | Kentucky | 12 | 15 | Primeira rodada |
Nick Richards | C | Kentucky | 17 | 18 | – |
Jarred Vanderbilt | SF | Kentucky | 19 | 12 | Primeira rodada |
Quade Green | PG | Kentucky | 24 | 2 | – |
Classe 2016 – Prospectos do tipo one-and-done | |||||
Jogador | Posição | Universidade | Ranking ESPN | Ranking 247 Sports | Posição no Draft |
Harry Giles | PF | Duke | 1 | 2 | 20 |
Jayson Tatum | SF | Duke | 3 | 4 | 3 |
Frank Jackson | PG | Duke | 10 | 13 | 31 |
De’Aaron Fox | PG | Kentucky | 6 | 6 | 5 |
Bam Adebayo | C | Kentucky | 5 | 9 | 14 |
Malik Monk | SG | Kentucky | 9 | 11 | 11 |
Classe 2015 – Prospectos do tipo one-and-done | |||||
Jogador | Posição | Universidade | Ranking ESPN | Ranking 247 Sports | Posição no Draft |
Brandon Ingram | SF | Duke | 3 | 3 | 2 |
Skal Labissière | PF | Kentucky | 2 | 2 | 28 |
Jamal Murray | PG | Kentucky | – | 10 | 7 |
Classe 2014 – Prospectos do tipo one-and-done | |||||
Jogador | Posição | Universidade | Ranking ESPN | Ranking 247 Sports | Posição no Draft |
Jahlil Okafor | C | Duke | 1 | 1 | 3 |
Tyus Jones | PG | Duke | 4 | 8 | 24 |
Justise Winslow | SF | Duke | 15 | 13 | 10 |
Karl-Anthony Towns | C | Kentucky | 9 | 5 | 1 |
Trey Lyles | PF | Kentucky | 6 | 12 | 12 |
Devin Booker | SG | Kentucky | 18 | 22 | 13 |
Classe 2013 – Prospectos do tipo one-and-done | |||||
Jogador | Posição | Universidade | Ranking ESPN | Ranking 247 Sports | Posição no Draft |
Jabari Parker | SF | Duke | 2 | 4 | 2 |
Julius Randle | PF | Kentucky | 3 | 2 | 7 |
James Young | SG/SF | Kentucky | 8 | 9 | 17 |
Classe 2012– Prospectos do tipo one-and-done | |||||
Jogador | Posição | Universidade | Ranking ESPN | Ranking 247 Sports | Posição no Draft |
Nerlens Noel | PF/C | Kentucky | 1 | 1 | 6 |
Archie Goodwin | SG | Kentucky | 15 | 15 | 29 |
Classe 2011 – Prospectos do tipo one-and-done | |||||
Jogador | Posição | Universidade | Ranking ESPN | Ranking 247 Sports | Posição no Draft |
Austin Rivers | PG/SG | Duke | 3 | 2 | 10 |
Anthony Davis | PF | Kentucky | 1 | 1 | 1 |
Michael Kidd-Gilchrist | SF | Kentucky | 4 | 3 | 2 |
Marquis Teague | PG | Kentucky | 8 | 6 | 29 |
Classe 2010 – Prospectos do tipo one-and-done | |||||
Jogador | Posição | Universidade | Ranking ESPN | Ranking 247 Sports | Posição no Draft |
Kyrie Irving | PG | Duke | 1 | 2 | 1 |
Brandon Knight | PG | Kentucky | 4 | 5 | 8 |
Enes Kanter | C | Kentucky | 25 | 8 | 3 |
Classe 2009 – Prospectos do tipo one-and-done | |||||
Jogador | Posição | Universidade | Ranking ESPN | Ranking 247 Sports | Posição no Draft |
John Wall | PG | Kentucky | 5 | 2 | 1 |
DeMarcus Cousins | C | Kentucky | 4 | 3 | 5 |
Daniel Orton | C | Kentucky | 13 | 18 | 29 |
Eric Bledsoe | PG | Kentucky | – | 68 | 18 |
OBS: Produzidos com base nas análises de scouts, os rankings da ESPN e da 247 Sports são os mais conceituados do segmento.