Eu vi os três começando na NBA. Já acompanhava há algum tempo e não foi difícil admirar cada um deles. Mas começar uma temporada sem Kobe Bryant, Tim Duncan, e agora, Kevin Garnett, é algo que não acontece desde 1994-95. Claro que isso mexe com quem gosta do esporte, mas esses aí possuem um detalhe em comum, além do talento: a paixão pela competição.
Os três se despedem com pelo menos um título na bagagem. Garnett foi campeão pelo Boston Celtics em 2007-08, enquanto Kobe e Duncan possuem cinco troféus cada. Desses, apenas Garnett atuou por mais de um time. Após 12 temporadas no Minnesota Timberwolves, o ala-pivô foi negociado para o Celtics, onde ficou por seis anos. Em 2013-14, foi trocado para o Brooklyn Nets, que iniciava uma tentativa frustrada de lutar pelo campeonato. Durou uma temporada e meia e retornou ao Wolves.
A primeira passagem pelo time de Minneapolis foi marcante e, para muitos, ele foi o responsável direto pelo primeiro locaute na NBA. Hoje é bem mais comum ver um jogador saindo de seu contrato de calouro, e após uns três anos ele recebe um aumento considerável. Mas na época, seu salário pulou de US$ 2.1 milhões para US$ 14 milhões, valor que dobrou em cinco temporadas. Apesar de toda controvérsia gerada por seus vencimentos, ele provou nos anos seguintes que era capaz de calar os críticos. Em pouco tempo, ninguém falava mais sobre o assunto.
Garnett escondeu durante toda a carreira sua altura real. Sempre afirmou ter 2,11 metros, enquanto nitidamente era pelo menos três centímetros maior. O motivo? Não queria jogar de pivô, algo que acabou acontecendo no Celtics. Para ele, era melhor jogar fora do garrafão, usando sua habilidade e a altura em seu favor do que enfrentar atletas bem mais pesados e fortes que ele. No fim da carreira, e claro, sem tanta mobilidade, aceitou atuar na área pintada.
Ao lado de Latrell Sprewell, Wally Szczerbiak e Sam Cassell, sem esquecer de mencionar Fred “The Mayor” Hoiberg, Garnett alcançou o ponto mais alto de sua carreira até então. Em 2003-04, o Timberwolves liderou a conferência Oeste com 58 vitórias na temporada regular, passou pelo Denver Nuggets e Sacramento Kings nos playoffs, mas foi brecado na final de conferência pelo Los Angeles Lakers de Shaquille O’Neal, Karl Malone, Gary Payton, e claro, Kobe.
Anos depois, foi envolvido na troca que o levou para o Celtics e o time tornou-se aquele a ser batido. Com Paul Pierce, Ray Allen e Rajon Rondo, foi campeão logo na primeira tentativa. E olha que Rondo estava longe de ser reconhecido como um grande armador. Pierce, Allen e Garnett eram chamados de Big Three. Deu certo, e por lá, sempre foram candidatos ao título.
O tempo passou, porém.
O corpo já não era mais o mesmo. A velocidade, idem. A passagem pelo Nets foi terrível, com tempo de quadra restrito e sem a função de principal jogador. Ele não tinha mais condições de atuar em alto nível.
Não me surpreende o fato de Garnett parar agora, aos 40 anos. Não pela idade, mas pela forma que conseguiu chegar até ali sendo útil. Claro que ele não era mais um jovem e estava sendo cada vez mais raro vê-lo em quadra. Foram apenas 43 jogos desde a troca para o Timberwolves. Ficou de fora de 66 embates, dando sinais óbvios de que o fim estava próximo.
Mas a sua capacidade de se fazer ser entendido, provavelmente era a sua única motivação para ainda estar considerando seguir a carreira. Garnett sempre foi dono do vestiário por onde jogou. Ao mesmo tempo em que era o sujeito que fazia Glen Davis chorar, ele conseguia fazer com que Rondo fosse o seu cão de guarda. Sim, isso mesmo. Garnett se metia em confusões em quadra, geralmente com atletas de seu tamanho e Rondo tomava suas dores. Os vídeos abaixo são só alguns dos exemplos.
Tudo isso motivava Garnett. Era seu combustível. Era sua identidade. Fazia com que seus companheiros o seguissem sem pestanejar. Nos últimos meses serviu como “tutor” de Karl-Anthony Towns, ensinando os caminhos a serem percorridos, passo a passo.
Mas nem mesmo essa paixão por fazer a diferença fora das quadras parece ter seduzido Garnett a continuar jogando. Diferente de Kobe e Duncan, era a única “pedra cantada” que iria parar antes do início da temporada passada. Bryant só definiu após os primeiros jogos, enquanto Duncan optou por deixar o basquete depois de o San Antonio Spurs ser eliminado nos playoffs.
Apenas em salários, os três receberam juntos pouco mais de US$ 900 milhões em suas carreiras. Mas os verdadeiros números são: 48 seleções para o Jogo das Estrelas, 39 indicações para os times ideais da NBA, 39 para os times de defesa e 11 títulos.
Exceto Duncan, que não só disputou o basquete universitário, mas também jogou os quatro anos, Kobe e Garnett pularam direto do colégio antes da banalização que ocorreu nos anos seguintes e culminou com a proibição para tal.
Garnett igualou a marca de 21 temporadas na NBA, que pertencia apenas a Robert Parish e Kevin Willis. Ele encerra sua jornada como um dos jogadores mais completos que a liga já viu.
Senti tristeza quando vi Dennis Rodman sem chances de atuar depois de passagens problemáticas por Dallas Mavericks e Lakers. Aconteceu o mesmo quando Michael Jordan deixou o basquete em definitivo. Depois, foi a vez de Shaq. É duro ver três ídolos parando de uma só vez. Restam Dirk Nowitzki e Vince Carter. Ainda bem.
Meninos, eu vi. Meninos, eu os vi.