O ala-armador Lonnie Walker cortou o seu icônico cabelo nessa semana e surgirá com um novo visual quando a temporada for retomada. Mas, por trás da decisão surpreendente, havia uma história muito maior e mais estarrecedora. O atleta do San Antonio Spurs revelou que a ação serviu para que se livrasse de memórias muito dolorosas, mais especificamente dos abusos que sofreu durante a infância.
“A verdade é que comecei a deixar meu cabelo crescer na quinta série como uma camuflagem. Eu estive com mais pessoas da minha família naquela época, alguns nomes que deixarei de lado. Fui sexualmente assediado, abusado e estuprado. Eu fiquei acostumado a sê-lo, pois era uma criança inocente, curiosa que não sabia o que era o mundo real”, contou o jogador, em sua conta no Instagram.
Diante de uma situação em que não possuía qualquer controle, violado por pessoas mais velhas, o cabelo tornou-se uma forma de manifestar seu desejo por ter mais poder e atitude. “Meu pensamento é que meu cabelo era algo que podia controlar. Era uma parte do meu corpo que podia fazer o que quisesse, criar e ser realmente comandado por mim. Isso me deu confiança para seguir em frente”, explicou.
Walker conseguiu manter-se em silêncio sobre o assunto por anos, reprimido, mas as circunstâncias únicas em que vivemos trouxeram fantasmas de volta à sua vida. O isolamento provocado pela pandemia do coronavírus forçou o atleta de 21 anos a encarar algumas de suas inquietudes e revisar seu histórico de abusos. Isso era, no fim das contas, o que realmente precisava para superar o terrível trauma.
“Não estive bem nos últimos tempos. Voltei a pensar em histórias passadas e isso me demoliu mentalmente. Mas, por causa desse vírus, olhei para mim mesmo no espelho vi quem realmente sou. Encontrei paz e felicidade interior nessa jornada, graças a Deus. Perdoei todos, mesmo aqueles que não mereciam. Por que? Bem, porque era peso morto em minha vida”, desabafou o jovem talento.
A NBA iniciou uma cruzada em favor da saúde mental de seus atletas nos últimos anos, com astros como Kevin Love e DeMar DeRozan contando as suas histórias de depressão. Walker é mais um dos casos que mostram a importância desse tipo de acompanhamento pela liga e times. Afinal, agora, o 18º selecionado do draft de 2018 sente-se à vontade para mostrar seu rosto sem vergonha ou medo.
“O tempo não espera ninguém, então por que desperdiçá-lo? Meu cabelo era uma máscara para esconder as inseguranças que sentia. Cortando-o, estou melhor do que nunca. Mostrei minha pele – emocional, física e espiritualmente. A vida será sempre dura e você deve tentar fazer uma mão vencedora das cartas que possui. E, se perder, nunca será uma derrota. É uma lição”, concluiu Walker, finalmente em paz.
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