Fonte: Mark Brown/AFPUma das figuras mais controversas da NBA nos últimos anos, Kyrie Irving vê seu legado em jogo na próxima temporada. Embora o atleta possa ter feito papel de bobo nos últimos anos, com declarações esquisitas e decisões de carreira tão esquisitas quanto, é inegável que Kyrie é um grande jogador. A plasticidade com que dribla a bola, os mil e um jeitos que ele consegue finalizar bandejas… Irving é, sem dúvidas, um dos jogadores mais habilidosos da história da liga.
O começo da carreira em Cleveland
Draftado em 2012 pelo Cleveland Cavaliers, encontrava terra arrasada em Ohio, já que LeBron James havia deixado a equipe há pouco mais de uma temporada. Em suas primeiras três temporadas pelo Cavs, Irving já se mostrou um dos melhores jovens armadores da liga: teve médias de 20 pontos e seis assistências por jogo, com quase 38% nas bolas de três, sendo selecionado All-Star por duas vezes. No entanto, a equipe de Cleveland continuava horrível; um jovem de apenas 21 anos não conseguia liderar a organização aos playoffs.
Em 2014, entretanto, tudo mudou. LeBron James voltou para a equipe após quatro anos em Miami, onde conseguiu dois títulos. Agora mais maduro, James buscava cumprir sua promessa e dar o título que a equipe de sua terra natal buscava há tanto tempo.
Para isso, o Rei pediu algumas mudanças no time. Para começar, exigiu a troca de Andrew Wiggins, recém-draftado com a escolha número 1 do draft, por Kevin Love. Love era um jogador mais estabelecido e maduro, enquanto Wiggins precisaria se desenvolver, o que levaria tempo. Se nós conhecemos LeBron, uma coisa é clara: o jogador quer ganhar hoje.
No tempo de uma offseason, portanto, Irving agora se via jogando com duas superestrelas – uma delas sendo um dos melhores jogadores da história. Embora as responsabilidades dentro do time agora fossem divididas, a pressão para ser campeão passou a existir. No entanto, Irving reagiu bem. Em três temporadas com Love e James, teve médias de 22 pontos e cinco assistências, mantendo o bom aproveitamento de três pontos e sendo selecionado All-Star mais duas vezes (estava lesionado em uma das temporadas) – foi também All-NBA 3rd Team em 2015. Além das premiações individuais, entretanto, Kyrie conseguiu três vezes ir para as finais, vencendo uma delas com um dos arremessos mais icônicos da história.
A conturbada estadia em Boston
Porém, como nem tudo são flores, Kyrie pediu para sair após a derrota para o Golden State Warriors, em 2017. O que era dito na época é que o jogador queria ser a estrela de uma equipe, o que seria impossível jogando com LeBron James, obviamente. Portanto, a troca foi feita: Kyrie Irving foi para o Celtics.
Em Boston, duas temporadas repletas de decepção. Seus números individuais foram ótimos, com 24 pontos, seis assistências e quatro rebotes por jogo, além de seleção para o segundo time da liga e nomeado All-Star. No entanto, chegando os playoffs, Irving se lesionou na primeira das temporadas. O time, mesmo assim, chegou às finais de conferência, liderado pelos jovens Jayson Tatum e Jaylen Brown. Com Irving de volta, em 2018, claramente a equipe não funcionava tão bem. Era possível constatar que o Celtics jogava melhor sem Kyrie, dando liberdade para a dupla Tatum e Brown.
A autossabotagem em Brooklyn
Rumando a Brooklyn junto de Kevin Durant, Irving começou bem. Entretanto, se lesionou: uma sina na carreira do jogador, que já soma mais de 200 jogos perdidos por lesão na carreira. No Nets começaram também as declarações esquisitas de Kyrie, que o tornaram uma espécie de piada na liga. O jogador chegou a dizer que a Terra era plana, bem como que dinossauros não existiram. Além disso, disse que nunca havia jogado junto de alguém que ele considerasse tão bom quanto ele (você jogou com LeBron James, Irving).
Em quadra, mesmo com as lesões, sua produção continuava. Em 2020, a gestão do Nets fez uma troca arriscada e trouxe James Harden para a equipe, formando um dos Big 3 mais habilidosos e amedrontadores da história da liga, somados a Kevin Durant. No entanto, graças a lesões de Harden e de Irving, a equipe perdeu em sete jogos para o Milwaukee Bucks nos playoffs. Sem problemas, certo? Na próxima temporada os três voltam juntos, rezam para não se lesionar e ganham o campeonato.
Errado. Irving não quis cumprir o protocolo de saúde e segurança, e por leis do estado de Nova York, não poderia jogar os jogos em casa. Frustrado com a situação (e a loucura) do companheiro, James Harden pediu para ser trocado, deixando o time e indo para o Philadelphia 76ers. Eventualmente, Irving foi reintegrado ao time, jogando só as partidas fora de casa. Nos playoffs, atuou também em seus domínios. Entretanto, não adiantou muito, já que o Nets foi obliterado pelo Boston Celtics em quatro jogos.
Como resultado, a direção do Nets não estendeu seu contrato, o que irritou Durant e causou toda a novela sobre uma troca que não veio.
O legado
Todo essa contextualização nos trás a um ponto: o legado de Kyrie Irving está em jogo. Todos sabem de sua qualidade e habilidade, mas as frequentes declarações esquisitas, bem como decisões na carreira, o tornaram uma espécie de piada no meio da NBA. Para a próxima temporada, o jogador retorna ao Brooklyn Nets junto de Kevin Durant. Agora, para melhorar seu legado e a forma como os fãs da liga o enxergam, só uma coisa resta para Irving: o título.
Tendo ido de um dos jovens jogadores mais amados da liga para um zombado, a situação se mostra irreparável se não com um anel (e jogando bem). Qualidade nós sabemos que ele tem, resta saber se a cabeça e o corpo do jogador estão em ordem para isso – afinal, alguém com a habilidade de Kyrie Irving com a bola não merece ter seu legado manchado na história do jogo.
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