Por Luiz Henrique dos Santos
Um dos clichês do basquetebol é o de que “lance livre ganha jogo”. Muitas vezes ouvimos a frase sem perceber o seu real conteúdo. Em tempos de James Harden, candidato a MVP da temporada, eis que o termo lance livre domina os holofotes. Mas será que a atual geração consegue compreender o valor de um lance livre?
Não sei dizer, mas vou mergulhar um pouco na história do lance livre para ver se ajudo vocês a perceberem como ele é fundamental em um jogo de basquete.
O lance livre não esteve presente nas 13 regras originais do jogo criado pelo professor James Naismith, em 1891. Inicialmente, quando um time fazia várias faltas consecutivas, era penalizado com um ponto sendo dado ao adversário. No entanto, como todas as cestas valiam um ponto, Naismith achou a penalidade muito severa mudando-a para um arremesso livre de marcação a uma distância de vinte pés (um pouco mais de 6 metros) da cesta.
Em 1895, ele reduziu a distância para 15 pés (aproximadamente 4,5 metros) e reformulou a regra de pontuação. Os arremessos de quadra passariam a valer dois pontos e os arremessos livres valeriam um ponto. Essa regra se manteve por 29 anos, mas havia uma peculiaridade: naquela época, a equipe poderia escolher quem iria arremessar os lances livres. Por conta disso, surgiram os especialistas, jogadores que eram designados apenas para bater lances livres.
Posteriormente, a regra foi alterada novamente em 1924. A partir dali, quem sofresse a falta é que teria que bater os seus próprios lances livres. Essa foi a maior mudança da regra. Ainda houve algumas pequenas mudanças que tiveram pouco impacto prático no esporte hoje em dia.
Desde o início, o lance livre gerou controvérsia entre os fãs do esporte. Muitos se questionavam como um jogo poderia potencialmente ser ganho ou perdido em um arremesso que não permite qualquer defesa ao adversário. Naismith tinha a resposta em seu livro, “Basquetebol : sua origem e desenvolvimento” e é uma filosofia que ainda é válida hoje.
“Muitas vezes, tenho ouvido alguns espectadores expressarem a opinião de que um jogo foi ganho por lances livres. Eu prefiro dizer que o jogo foi perdido por faltas. Pessoalmente, eu acredito que qualquer tendência a diminuir a penalidade de uma falta seria um erro grave”.
E você, o que acha? Lance livre é uma penalidade justa? Ou precisa ser repensado?
Por Gustavo Lima
Pegando gancho no texto gentilmente escrito pelo Luiz Henrique, um dos leitores mais assíduos do Jumper Brasil, tenho a obrigação de comentar sobre a temporada espetacular de James Harden e o quanto ela vem sendo até mesmo ridicularizada por alguns.
Junto ao armador Stephen Curry, do Golden State Warriors, o ala-armador do Houston Rockets, de 25 anos, é o nome mais falado quando o assunto é o prêmio de MVP da temporada. Mas eu já reparei nos comentários o quanto Harden vem sendo criticado pelo simples fato de bater um número elevado de lances livres. Críticas sem nenhum fundamento, na minha opinião. Como se os árbitros fossem parceiros do jogador na hora de marcarem faltas.
Temos que observar o jogo de Harden como um todo. Ele arma a equipe, cria chances para os companheiros, finaliza perto do aro, defende razoavelmente (inegavelmente, ele melhorou no aspecto defensivo), mete bola de longa distância e, claro, cobra muitos lances livres. Com o declínio físico dos astros Kobe Bryant e Dywane Wade, aliada à elevação de seu jogo, o barbudo vem se consolidando como o melhor ala-armador da liga.
Em dois dos últimos quatro jogos, Harden cobrou 47 lances livres e converteu 43. Sua média na temporada é de 10.1 por partida. O segundo colocado, Russell Westbrook, cobra, em média, 9.7 lances livres. Algum demérito nisso? Não! De jeito nenhum! O barbudo do Rockets sofre muitas faltas justamente por causa do seu estilo de atacar bastante a cesta, a exemplo de Westbrook. E Harden é excelente na linha de lance livre (aproveitamento de 86.8%). Eficiência. Mesma palavra que pode ser usada em referência ao desempenho de Curry nos arremessos de longa distância (aproveitamento de 42.2%).
Quem aprecia um jogo de basquete sabe que a importância de Harden para o time de Houston ultrapassa o aspecto do lance livre. Ele é o líder da equipe, o cara que assume a responsabilidade nos momentos mais críticos, o grande responsável pela ótima campanha do Rockets. A temporada do camisa 13 é digna de aplausos, assim como é a de Curry. Com toda a justiça, um deles vai ser eleito o MVP da temporada. Mas tem gente que vai falar que Harden só sabe bater lance livre.
Números de James Harden em 2014/15
– 27.2 pontos, 5.8 rebotes, 7.0 assistências, 1.9 roubada de bola, 4.0 desperdícios de bola, 86.8% de aproveitamento nos lances, 10.1 lances livres por jogo, 36.9% de aproveitamento nas bolas de três pontos, 43.9% de aproveitamento nos arremessos de quadra
– segundo em pontos (atrás apenas de Russell Westbrook)
– oitavo em número de assistências
– terceiro em roubadas de bola
– quinto jogador que mais arremessa bolas de três pontos
Dito isso, não consigo entender como é que alguém critica frequentemente um jogador que está nos brindando com uma temporada fantástica. Aliás, pensando bem, até consigo, já que vivemos na Era dos haters. Esse termo é usado na internet para definir pessoas que postam comentários de ódio ou crítica sem muito critério.
No futebol, percebemos o haterismo naquela discussão chata sobre quem joga mais: Lionel Messi ou Cristiano Ronaldo? Eu prefiro Messi. Na minha opinião, o argentino é o maior jogador de futebol que já vi nos meus 32 anos de vida, mas reconheço o talento de Ronaldo. O português é um cracaço de bola. Somos privilegiados por acompanharmos, na mesma época, dois jogadores desse nível absurdo. Mas tem (muita) gente que prefere detonar um para elevar o outro.
Nesta temporada da NBA, os haters escolheram Harden como alvo predileto. LeBron James e Kobe Bryant também já estiveram nesse papel. Todos os dias leio aqui críticas (são poucos leitores, eu sei) sobre o desempenho do ala-armador. Ele pode fazer uma partida espetacular, levar o Rockets a mais uma vitória, mas mesmo assim aparece aquele chato de plantão detonando o jogador porque ele cobrou 15 lances livres no jogo, por exemplo. O cara só quer botar para baixo. Não reconhece, não dá o braço a torcer.
Enfim, o cara que é hater está errado em todas as discussões. Todas. Por isso, não levem essas pessoas a sério, não caiam na pilha. Só lamentem pela função cognitiva problemática deles. Aposto que quem detona o Harden pelos lances livres adoraria tê-lo no time de coração.