O Sacramento Kings surpreendeu a todos que acompanham a NBA ao anunciar, nesta segunda-feira, a saída do técnico Mike Malone do comando da equipe.
A decisão foi muito estranha e evidencia que a zona que reinava na franquia de Sacramento nos últimos tempos está de volta. O empresário indiano Vivék Ranadivé, que comprou a equipe há um ano e sete meses pela bagatela de US$534 milhões, está mostrando que não é muito diferente dos irmãos Maloof, que comandaram a franquia de 1998 a 2013.
O ótimo início de temporada
O time californiano foi uma das agradáveis surpresas no começo da temporada, tanto que conquistou nove vitórias nos primeiros 15 jogos e recebeu vários elogios da mídia especializada. Muitos falavam que o Kings tomou rumo, que deixou de ser um time peladeiro e até que Malone brigaria pelo prêmio de técnico do ano se a boa campanha fosse mantida.
Mas um balde de água fria atingiu a equipe com o afastamento da estrela da companhia, o pivô DeMarcus Cousins, em razão de uma meningite. Sem o camisa 15, o Kings perdeu sete das últimas nove partidas disputadas. Em uma conferência marcada pelo equilíbrio e por ter várias equipes fortes, isso foi fatal para que o time despencasse na tábua de classificação.
Quatro dos últimos nove adversários do time de Sacramento foram Memphis Grizzlies, Houston Rockets, San Antonio Spurs e Toronto Raptors, times que ganharam mais de 70% de seus jogos. E o Kings, mesmo sem seu principal jogador, foi páreo duro para essas equipes, perdendo por uma diferença de quatro pontos para o Rockets (após a disputa de uma prorrogação), oito pontos para Raptors e Spurs, e 12 para o Grizzlies. As derrotas para os fracos Los Angeles Lakers, Detroit Pistons e Orlando Magic também tiveram placares apertados.
Vale lembrar que a última vez que o Kings chegou aos playoffs foi em 2006. Desde então, o time teve seis treinadores. Nenhum deu certo. Malone chegou à franquia na temporada passada e, só agora, seu trabalho começava a render bons frutos. Ninguém apostava que o Kings começaria tão bem a temporada, mesmo com o nada confiável Darren Collison na armação e um cone na posição 4. Cousins fazia a sua melhor temporada da carreira até ficar doente. Ele era nome comentado até para o prêmio de MVP dado o alto nível de suas atuações. E o torcedor da franquia voltou a ficar animado com a possibilidade de um retorno aos playoffs.
Veio a doença de Cousins e, com ela, os resultados negativos. Obviamente que o time iria sentir a ausência de seu principal nome. Aliás, qual time no mundo não sentiria uma troca no quinteto titular de Cousins por Ryan Hollins? A fase turbulenta era perfeitamente compreensível, menos para o indiano que assina os cheques.
Segundo a imprensa de Sacramento, Malone tinha a confiança dos jogadores. Durante a Copa do Mundo de Basquete, o treinador viajou até a Espanha para estreitar a relação com a dupla Cousins e Rudy Gay, que representou os Estados Unidos na competição. Foi graças ao trabalho de Malone que o pivô melhorou seu desempenho dentro e fora da quadra, e que Gay assinou a extensão de contrato com a franquia. Estou bastante curioso para ver como os atletas vão digerir essa demissão.
A péssima relação entre dono e treinador
Após o anúncio da demissão, várias fontes ligadas à equipe dão conta que a relação entre Malone e os dirigentes do Kings vinha em crise nos últimos meses. Mesmo com o bom começo de temporada, Ranadivé desejava que o time atuasse em um ritmo mais rápido e não mostrava satisfação com o desenvolvimento dos atletas do elenco. Há quem garanta até que Ranadivé dava palpites táticos durante os treinamentos da equipe, deixando Malone em uma situação desconfortável.
De acordo com os jornalistas que cobrem o Kings, o gerente-geral Pete D’Alessandro, contratado após a chegada de Malone, era outro que não se dava bem com o treinador. Isso que dá contratar o técnico antes do GM, Mr. Ranadivé.
Outro fato que teria estremecido a relação foi o veto por parte de Malone à contratação de Josh Smith, do Detroit Pistons. Mesmo com o treinador sendo contrário à vinda do ala-pivô, Ranadivé estava decidido a trazer Smith. Segundo o sempre bem informado Adrian Wojnarowski, do Yahoo! Sports, o Kings fez algumas propostas ao Pistons na offseason, todas recusadas por Stan Van Gundy, presidente e técnico da equipe de Detroit. Desde então, a relação entre Malone e Ranadivé azedou. Agora percebemos que o que segurava o treinador no cargo eram os resultados obtidos nos primeiros jogos.
E agora, Kings?
A imprensa dos Estados Unidos especula George Karl e Vinny Del Negro como os principais candidatos ao cargo. O primeiro é veterano de NBA, dono de uma ótima reputação na liga e que adota a filosofia de jogo que o indiano deseja para a equipe. Com Karl no comando, o Kings vai correr como nunca. Mas será que um treinador experimentado como Karl vai se dar bem com um dono que adora dar pitacos no time?
Quanto a Del Negro, apenas uma coisa a ser comentada: caso ele seja contratado, o time de Sacramento merece ficar mais 20 anos sem chegar aos playoffs por causa da incompetência de Ranadivé.
Enfim, demitir o único técnico que conseguiu fazer com que o Kings jogasse um basquete coletivo nos últimos anos, com um elenco não muito qualificado, foi uma tremenda burrice. Malone estava tirando leite de pedra. Nos próximos jogos, com o fraco Tyrone Corbin como interino, e ainda sem poder contar com Cousins, a tendência é que o time continue ladeira abaixo. Tudo leva a crer que a temporada do time de Sacramento tenha ido para o espaço.
Depois de tudo o que foi apresentado, encerro o artigo com a pergunta que não quer calar: por que raios o indiano não demitiu Malone na offseason, se ele queria um treinador com outro estilo de jogo? Tem coisas que só acontecem no Kings…