A NBA é a principal liga de basquete do mundo, mas isso não significa que seja perfeita. Longe disso. Tanto não é que, vira e mexe, mudanças nas regras e sistemas vigentes são propostas e discutidas com o objetivo de melhorar o que já vem funcionando bem. Fatos que acontecem a cada temporada (contusões, postura das franquias dentro e fora de quadra) vão gerando a necessidade de repensar o como tudo é estruturado e regido na NBA.
Hoje, nós reunimos quatro integrantes do Jumper Brasil e o convidado Luís Araújo (do portal iG) para falar sobre algumas das mudanças que são comentadas e discutidas nos bastidores da liga. O que é necessário e o que não é tão importante assim? O que é possível e o que é sonho? O que incomoda e o que agrada? Nossa equipe opina…
1. Verdadeiro ou falso: chegou a hora da NBA repensar seu calendário e diminuir o número de jogos.
Gustavo Freitas: Verdadeiro. Sessenta e seis partidas (como na temporada do locaute) no período em que se disputam, atualmente, 82 jogos seria bem mais interessante em termos de desgaste. As franquias vão ter receita menor, mas, sem dúvidas, a saúde dos atletas seria preservada.
Kaio Kleinhans: Muito verdadeiro. Eu falo sobre isso em todas as edições do “Visita ao DM”. Hoje, o jogo está muito físico, forçado, e o corpo dos jogadores acaba comprometido demais com esse ritmo frenético. Os resultados são atletas importantes desfalcando suas equipes e jovens ganhando o rótulo de injury prone.
Ricardo Stabolito Jr.: Verdadeiro e falso. Verdadeiro para repensar, falso para diminuir. Reduzir o número de jogos é algo muito mais complexo do que parece e passa por várias decisões antes: cortes dos salários de jogadores (que recebem para atuar em 82 partidas), renegociação dos direitos de transmissão, novos planos para uso das arenas e por aí vai. Muito mais simples dizer do que fazer. Seria mais fácil aumentar a temporada regular em um mês para comportar melhor o número de jogos.
Ricardo Romanelli: Verdadeiro. Para ser campeão, um time tem que jogar entre 98 e 110 partidas em sete meses. Uma média de um jogo a cada dois dias na maior parte do ano. O calendário puxado cria muitos confrontos em apelo, especialmente do meio para o fim da temporada. Além disso, o número de partidas desgasta mais os atletas e pode acarretar em lesões.
Luís Araújo: Verdadeiro, mas parece utopia. Com a diminuição do calendário, daria para acompanhar melhor as equipes, existiria uma melhor distribuição dos jogos e os jogadores tenderiam a sofrer menos lesões sérias. Mas a NBA não vai diminuir o número de partidas. Isso representaria menos exposição de patrocinadores e menos grana. Será que as franquias, que tanto se aproveitam dos jogos em casa, topariam tão facilmente a redução? Duvido.
2. Cometer faltas intencionais em atletas com baixo aproveitamento de lances livres (o popular hack) para recuperar a bola sem sofrer pontos é um expediente muito empregado na liga hoje. A NBA precisa criar mecanismos para acabar de vez com esta estratégia?
Gustavo Freitas: Não. Honestamente, eu gosto do hack. É uma estratégia e as regras não abolem este tipo de situação. Aos alvos desta estratégia, cabe um treino mais específico de lances livres e melhorar neste fundamento para não ser “explorado”. Não consigo pensar de forma diferente.
Kaio Kleinhans: Não. É feio ver um jogo com faltas sendo cometidas o tempo todo, mas um profissional de NBA que não consegue acertar lances livres é mais feio ainda. Acho que não tem que fazer nada, porque o hack oferece a chance de dois pontos fáceis. Quem sofre com isso deve treinar mais, mudar a técnica de arremesso para se aproveitar da situação.
Ricardo Stabolito Jr.: Sim. Não tenho nada contra o hack como estratégia, mas a NBA vem fazendo uma série de mudanças nos últimos anos para deixar o jogo mais atrativo. Jogadores fazendo faltas intencionais para parar o relógio deixa tudo mais lento, chato e desinteressante. Acabem com isso e deixem o jogo fluir.
Ricardo Romanelli: Não. Pode não ser a tática mais nobre do ponto de vista puramente esportivo, mas, se um jogador tem determinada deficiência, por que isso não pode ser explorado pelo adversário? Não se deve proibir a prática. Os atletas que não tem bom aproveitamento de lances livres devem treinar o fundamento para não serem vítimas desta tática.
Luís Araújo: Sim. Não faço parte da turma que condena os técnicos que adotam tal estratégia, mas o jogo fica muito chato de se ver quando isso acontece. O que poderia ser feito é mandar o jogador que sofre a falta sem estar com a bola nas mãos para a linha dos lances livres e manter a posse de bola com seu time.
3. Você é a favor da mudança no sistema de loteria do draft?
Gustavo Freitas: Sim. Sou totalmente a favor. Hoje, é fácil para um ou outro time perder por querer e se beneficiar disso com uma boa escolha de draft no ano seguinte. É o tipo de coisa que ainda não consigo entender: ajudam quem não se esforçou ou aquele que é ruim de verdade?
Kaio Kleinhans: Sim. Sou totalmente a favor de um novo método para definição da ordem de escolhas. A NBA precisa pensar em uma estratégia para fazer com que todos joguem para vencer e chegar aos playoffs. Gostei bastante da sugestão do rodízio, mas, para ser aplicada, deve ser feita uma boa estruturação das regras de elegibilidade do recrutamento.
Ricardo Stabolito Jr.: Não. Eu simplesmente não vejo problemas com o sistema de loteria. O pior time não é automaticamente premiado com a primeira escolha e não há nenhum sistema claramente melhor à disposição. Além disso, existe uma reação exagerada com a questão do tank: o início do 76ers e a campanha do Suns provam que, por mais que dirigentes montem elencos ruins, ninguém entra em quadra para perder.
Ricardo Romanelli: Não. É justo que os times que ficaram fora dos playoffs tenham prioridade para escolher. O sistema de loteria garante uma disputa honesta porque o pior time ou aqueles que praticam o tank não ficam, automaticamente, com a primeira escolha. É controverso, mas não consigo pensar em outro modelo que não tenha propriedades igualmente problemáticas.
Luís Araújo: Não. O sistema atual funciona bem, de certa forma. Afinal de contas, a equipe de pior campanha não tem nenhuma garantia de que terá direito à primeira escolha do draft. Sempre vai ter alguém procurando brechas nas fórmulas em uso, não tem jeito. Apesar de tanta gente entrando no campeonato para perder, a atual parece a menos sujeita a tais brechas.
4. A expansão europeia da NBA é algo viável ou apenas uma utopia?
Gustavo Freitas: Utopia. Como fazer viagens longas assim? Uma ou outra partida na Europa, tudo bem. Mas imagine um time em Berlim ou Londres, por exemplo. Supondo que tenhamos uma temporada de 82 partidas, essa equipe teria que ficar viajando atravessando o Atlântico o ano inteiro para completar seus 41 jogos fora de casa. Seria um caos.
Kaio Kleinhans: Utopia. Pelo menos, neste momento. Acredito que não seja impossível de fazer, mas seria muito difícil adaptar tudo que se faz necessário para funcionar. Demanda muito planejamento. Se for para acontecer, é algo para se colocar em ação dentro de uns, digamos, dez anos.
Ricardo Stabolito Jr.: Utopia. É importante pensar no mercado internacional, mas pensar em uma expansão europeia da NBA é uma ideia sem o menor sentido. Cada país precisa ter sua liga nacional e, se querem um tipo de intercâmbio, criem um torneio ao fim da temporada com os melhores times da NBA e Europa. Isso é o máximo viável neste sentido.
Ricardo Romanelli: Utopia. As viagens transatlânticas seriam impossíveis em uma rotina de temporada regular. Além disso, a Europa já tem suas ligas tradicionais e o basquete praticado lá é bastante diferente da NBA. Um jogo ou outro é saudável para a globalização do esporte, mas não há viabilidade para se disputar um campeonato longo com uma divisão europeia. O que poderia ser realizado é um torneio como o Mundial de Clubes da FIFA, por exemplo.
Luís Araújo: Utopia. Não consigo enxergar viabilidade nisso. Viagens de uma costa à outra dentro dos EUA já são extremamente cansativas para os jogadores. Atravessar o Atlântico será muito mais desgastante em uma temporada com 82 partidas para cada equipe.
5. Se você pudesse abolir uma única regra “de quadra” da liga, a infração que mais te incomoda ver sendo marcada durante um jogo pela arbitragem, qual seria?
Gustavo Freitas: Três segundos no garrafão. Sem pensar muito. Acredito que isso poderia incentivar os times a explorarem mais jogadas na área pintada – e deixariam de arremessar 25 ou 30 vezes de longa distância em uma mesma partida.
Kaio Kleinhans: Delay of the game. Não estou gostando nada desta nova infração: bastante irritante e pune as equipes por praticamente nada. Na verdade, o que mais me incomoda é a má atuação das arbitragens, que deixa de punir os infratores em muitos momentos por não marcar faltas intencionais e antidesportivas.
Ricardo Stabolito Jr.: Três segundos de defesa no garrafão. Salvo engano, a NBA é o único lugar do mundo em que esta regra vigora. A liga tomou várias medidas nos últimos anos para aumentar a pontuação dos jogos – e funcionou. Agora, podem dar um pouco de liberdade às defesas.
Ricardo Romanelli: Falta técnica automática para quem faz pedido de tempo sem ter mais nenhum disponível. É uma regra sem qualquer nexo. O atleta não tem que ser obrigado a saber quantos tempos sua equipes já usou, isso é dever da comissão técnica. Na grande maioria das vezes, o jogador que pede tempo sem poder não usa de má-fé. Está apenas equivocado.
Luís Araújo: Delay of the game. Talvez, nem seja o caso de abolir. Ter uma maior tolerância nas marcações já ajudaria.