Agentes livres restritos parecem uma benção, mas podem se revelar uma maldição ao longo de uma offseason. Ao mesmo tempo em que ter a chance de cobrir propostas de outros times para manter o atleta é uma vantagem fundamental, incentiva os concorrentes a pagarem mais do que o mercado sugere por tais jogadores para dificultar a ação das franquias donas de seus direitos. Neste ano, a história não foi diferente.
Por isso, nesta semana, o Jumper Brasil reuniu seus integrantes e dois convidados especiais (Zeca Oliveira, do Go-To Guy, e Vitor Camargo, do Two-Minute Warning) para comentar as situações – definidas ou não – dos mais importantes agentes livres restritos da offseason. Então, vamos lá…
1. Você cobriria a proposta do Dallas Mavericks por Chandler Parsons (três anos, US$46 milhões)?
Ricardo Stabolito Jr.: Não. Parsons é um ótimo jogador, mas poucos atletas valem o que vai receber. Eu acredito que ele se sairá bem no Mavs, assim como se sairia permanecendo em Houston, mas o nome do jogo para o GM Daryl Morey é flexibilidade. “Engessar” as finanças com seu terceiro melhor jogador simplesmente não é o estilo da franquia no momento.
Zeca Oliveira: Sim. Não cobriria em situações normais, mas, neste caso, sim. O Rockets abriu mão de um ano com Parsons recebendo seis dígitos e, assim, meio que obrigou-se a igualar qualquer proposta que viesse de fora. Então, sim.
Gustavo Lima: De jeito nenhum. Parsons é um bom jogador, em constante evolução, mas o valor do contrato é absurdo. O Rockets fez bobagem ao deixar que ele testasse o mercado agora, mas agiu bem em não cobrir a oferta do Mavs. Se tivesse feito, a folha salarial da franquia estaria comprometida para os próximos anos.
Vitor Camargo: Sim. O preço é alto, mas Parsons é um jogador de perímetro que arremessa para três pontos, cria oportunidades para si mesmo e outros, e pode atuar como ala-pivô em formações mais baixas. Tais habilidades fazem com que valha o dinheiro que vai receber – especialmente se o salary cap seguir aumentando. Entendo que o Rockets queira manter sua flexibilidade salarial, mas dar um passo atrás dessa maneira não me parece o melhor.
Vinicius Donato: Não, no caso específico do Rockets. O plano era até simples: assinar com outro jogador de peso e depois igualar a oferta que fosse feita para Parsons, mas tudo furou. Manter o ala seria perder a flexibilidade financeira e, contratando Trevor Ariza, o time ainda mantém a chance de melhora: montar um elenco capaz de combater os grandes do Oeste.
2. O Sacramento Kings acertou em não manter Isaiah Thomas (quatro temporadas, US$27 milhões) e permitir sua saída para o Phoenix Suns?
Ricardo Stabolito Jr.: Não. O Kings quer ser um time melhor e piorou deixando Thomas sair para pagar um valor anual muito próximo por Darren Collison. E olha que passo longe de ser um fã do novo atleta do Suns.
Zeca Oliveira: Não. Entendo que Thomas não seja a solução dos problemas do Kings e eles não queiram contratos longos neste momento, mas acho que deixar um atleta tão útil sair do elenco por um preço tão acessível não ajuda em termos de flexibilidade. Sobretudo, se você não é capaz de atrair bons agentes livres.
Gustavo Lima: Não. Até entendo que a franquia pensava em trazer um armador com outra mentalidade, mas o Kings assinou com Darren Collison – menos talentoso do que Thomas. Conseguiram piorar em uma posição que já não era das melhores e a diferença de salário entre ambos é de uns US$2 milhões por ano. Tem coisas que só acontecem em Sacramento…
Vitor Camargo: Não. Foi uma péssima decisão, especialmente depois de contratarem Darren Collison ganhando quase a mesma coisa. Thomas é um jogador muito superior, então a troca tira talento sem alívio salarial. A única coisa boa é terem conseguido uma exceção para trocas que podem usar para adquirir Josh Smith. Mas isso é outra história.
Vinicius Donato: Não. Thomas é um bom jogador e o contrato foi excelente. Assinar com Darren Collison por US$5 milhões anuais torna o negócio ainda pior. Talvez, eles queiram um armador com outro estilo. Se fosse o meu time, ele ficaria.
3. Você cobriria a proposta do Charlotte Hornets por Gordon Hayward (US$63 milhões por quatro temporadas)?
Ricardo Stabolito Jr.: Sim. Não acho que o Jazz tenha muita escolha, na verdade. Hayward é a principal peça da reconstrução da franquia e perdê-lo seria praticamente implodir tudo o que foi construído até agora. Ele é mais um bom jogador que não parece valer o que vai embolsar, mas Utah não é um polo atrativo e precisa manter os jovens talentos que tem.
Zeca Oliveira: Não. Corro o risco de ser rigoroso demais, mas não acho que Hayward tenha provado merecer sequer US$10 milhões por temporada até o momento. Jamais daria um contrato máximo a ele.
Gustavo Lima: Sim. Diferente do Rockets, o Jazz tinha flexibilidade para cobrir a proposta do Hornets e não se comprometer financeiramente. Por mais que ache o valor absurdo, Hayward é o maior talento da equipe, está em franca evolução e criou uma identificação com o time em quatro anos. Não seria inteligente para uma equipe em reconstrução perder um talento desses.
Vitor Camargo: Sim. Hayward receberá mais do que merece, mas não faz sentido para o Jazz perder um jogador como ele sem ganhar nada em troca. Com muito espaço na folha salarial, o time precisava garantir a permanência de um talento tão promissor – e com potencial a evoluir ainda mais. O contrato é ruim, mas perder o “branquelo” seria pior.
Vinicius Donato: Sim. O Jazz precisa de um ponto de partida e Hayward pode ser um começo. Agora, é o jogador que precisa provar merecer um contrato tão alto.
4. Verdadeiro ou falso: Greg Monroe vai iniciar a próxima temporada como jogador do Detroit Pistons.
Ricardo Stabolito Jr.: Falso. Eu simplesmente não acho que o Pistons está tão interessado em manter Monroe. Só não vai deixá-lo saia por qualquer coisa. Se uma equipe chegar com uma proposta sólida de sign and trade, que renda mais do que somente exceções salariais, Stan Van Gundy deverá considerar com carinho.
Zeca Oliveira: Falso. Seria estranho ver um time de Van Gundy incapaz de espaçar a quadra. Mas, de fato, é uma difícil decisão a se tomar.
Gustavo Lima: Falso, mas é complicado. Van Gundy teria garantido que Josh Smith não será trocado e Monroe não gostaria de atuar ao lado do ala. Nós vimos na última temporada que a experiência com Smith, Monroe e Drummond foi um fracasso. Com o novo técnico, isso está totalmente descartado. Ao que parece, o pivô deverá ser envolvido em uma sign and trade em breve.
Vitor Camargo: Verdadeiro. Monroe não atraiu tanto interesse quanto esperava, então acho que um de dois cenários vai se concretizar: ele volta ao Pistons pela qualifying offer e testa o mercado novamente no ano que vem ou Josh Smith é trocado por vínculos expirantes com o Kings e Drummond-Monroe volta a ser a linha de frente do Pistons.
Vinicius Donato: Falso. Parece que a tentativa é ficar com Monroe ou Josh Smith. Como as conversas para negociar o ala não avançam, é possível que o Pistons esteja pronto para abrir mão do pivô. O Suns, que tem espaço na folha salarial para fazer uma boa oferta, estaria interessado.
5. Você cobriria um contrato máximo (cinco anos, US$80 milhões) para manter Eric Bledsoe?
Ricardo Stabolito Jr.: Sim. Posso estar sendo influenciado por sabermos que, hoje, nenhum concorrente oferecerá o máximo sem uma sign and trade. Eu acho que Bledsoe foi bem mais importante para o recente sucesso do Suns do que recebe crédito, nos dois lados da quadra. Apostaria no aumento do teto salarial em 2016 para aliviar o peso do contrato e dane-se.
Zeca Oliveira: Não. Bledsoe teve apenas uma temporada em alto nível e sequer conseguiu ficar saudável em parte dela. O fato de ser injury prone preocupa-me muito mais do que qualquer outro, a propósito.
Gustavo Lima: Nem que a vaca tussa. Esse contrato seria a maior aberração da offseason. Bledsoe fez uma mísera temporada como titular – e ainda perdeu alguns jogos por lesão – e exige o máximo? O Suns está em uma posição confortável, já que possui três armadores no elenco. Já acho até exagerados os US$12 milhões anuais que foram oferecidos antes.
Vitor Camargo: Sim. O teto salarial da NBA tem aumentado e deve continuar subindo, então o peso do contrato seria absorvido em médio prazo. Bledsoe joga nas duas posições baixas e nos dois lados da quadra. Se uma boa proposta de sign and trade fosse oferecida, eu pensaria em trocá-lo. Mas, se a alternativa for perdê-lo por nada, eu prefiro pagar o máximo.
Vinicius Donato: Não. Bledsoe é bom, mas não merece o máximo ainda. Outros atletas da mesma posição, com números bem expressivos, assinaram por menos recentemente. Eu ficarei surpreso se alguém oferecer um contrato de US$80 milhões nesta ou na próxima temporada.