Gustavo Lima analisa o desempenho do time de Utah em 2011/2012 e projeta a próxima temporada
A última impressão não é a que fica. Mesmo após ser varrido pelo San Antonio Spurs na primeira rodada dos playoffs, o Utah Jazz superou as expectativas nesta temporada. Em dezembro, quando começou a temporada 2011/2012, poucos acreditavam que o time de Salt Lake City conseguiria a classificação para os playoffs.
A equipe treinada por Tyrone Corbin, que tem uma média de idade de 26 anos, teve um bom desempenho e alcançou a pós-temporada com uma campanha de 36 vitórias e 30 derrotas. Neste artigo, vou fazer um apanhado da temporada do Jazz, desde o draft realizado em junho do ano passado, até a eliminação para o Spurs. Além disso, já vou projetar o que pode acontecer com a equipe na próxima temporada.
Draft 2011
A equipe de Salt Lake City teve duas escolhas de loteria no recrutamento do ano passado. Na terceira escolha, o Jazz selecionou o pivô turco Enes Kanter (19 anos), e na 12ª selecionou o ala-armador Alec Burks (20 anos). Nenhuma surpresa, já que Kanter e Burks foram os prospectos que mais chamaram a atenção do GM Kevin O’Connor e do técnico Tyrone Corbin.
O detalhe é que ambos tiveram poucos minutos de quadra na temporada regular. Kanter conseguiu médias de 4.6 pontos e 4.2 rebotes, em 13 minutos em quadra. Já Burks alcançou 7.2 pontos e 2.2 rebotes, em quase 16 minutos disputados, em média. No caso do jogador turco, o pouco tempo de quadra é explicado pela rotação do garrafão do Jazz, que conta com Al Jefferson, Paul Millsap e Derrick Favors (20 anos). Já quanto a Burks, acho que Corbin poderia ter dado mais oportunidades a ele, pois o Jazz não teve um scorer de perímetro durante a temporada.
Temporada regular
Antes do início da temporada, fiz a previsão de como seria o desempenho do Jazz em 2011/2012. Escrevi que o time terminaria a temporada com o 11° lugar na conferência Oeste. Errei por três posições. O time de Salt Lake City, de certa forma, surpreendeu na temporada regular. A equipe estava reconstruindo seu elenco após as saídas do técnico Jerry Sloan, do armador Deron Williams, do ala Andrei Kirilenko e do pivô Mehmet Okur. A ideia era dar espaço, aos poucos, aos jovens jogadores.
Inexplicavelmente, o Jazz assinou com o agente livre Josh Howard, jogador em franca decadência. Isso custou minutos de Alec Burks e C.J. Miles. Para aliviar a folha salarial, a franquia decidiu trocar Okur com o New Jersey Nets. Aí sim a direção do Jazz mandou bem.
Durante a temporada regular, o time de Utah teve mais altos do que baixos e conseguiu fechar o ano com um aproveitamento acima de 50%. Foram 36 vitórias em 66 jogos, incluindo os cinco triunfos nas últimas cinco partidas, que foram decisivos para que o time chegasse aos playoffs. O ponto forte do Jazz foi o ótimo desempenho da dupla de garrafão Al Jefferson e Paul Millsap. Combinados, eles contribuíram com 35.8 pontos, 18.4 rebotes, 2.6 roubadas de bola e 2.5 tocos. Me fala quantos times da NBA têm uma dupla de garrafão tão talentosa como a do Jazz. Talvez apenas a do Los Angeles Lakers (Pau Gasol e Andrew Bynum) seja melhor.
O jovem Gordon Hayward (22 anos), em seu segundo ano de NBA, consolidou a condição de titular e não decepcionou. Seu tempo de quadra quase que dobrou, em relação ao primeiro ano, e ele mostrou que será peça importante do futuro da franquia. O armador Devin Harris, que teve um péssimo início de temporada, terminou o ano com boas atuações. Entre os reservas, o destaque foi Derrick Favors, que teve médias de 8.8 pontos, 6.5 rebotes e 1.0 toco, em cerca de 21 minutos em quadra.
Como disse anteriormente, o grande problema do Jazz na temporada foi a ausência de um scorer de perímetro. Hayward é bom passador e defensor, mas não é agressivo no ataque e nem tenta tantos arremessos de longa distância. Vale dizer que o time de Utah foi o terceiro time que menos converteu bolas de três pontos na temporada. O técnico Tyrone Corbin tentou C.J. Miles, Raja Bell, Josh Howard e DeMarre Carroll. Nenhum convenceu. Ele até escalou, em algumas partidas, Millsap na posição 3. Diante disso, o novato Alec Burks poderia ter tido mais minutos em quadra.
Playoffs
Na pós-temporada, o Jazz sucumbiu diante do time que fez a melhor campanha da conferência Oeste. A equipe foi facilmente batida pelo San Antonio Spurs em quatro jogos. Os jovens jogadores sentiram a disputa, mas pelo menos ganharam a experiência de participar dos playoffs. Claro que ninguém gosta de ver o seu time “varrido”, mas a última impressão não é a que deve ficar, no caso do Jazz. A equipe estava desacreditada no início da temporada e chegou aos playoffs com um elenco muito jovem e um treinador em início de carreira. A torcida tem mais é que ficar orgulhosa com a temporada do time de Salt Lake City.
Números do Jazz em 2011/2012
– Quarto melhor ataque (99.7 pontos)
– Terceiro time que mais acertou arremessos de quadra (38.2)
– Terceiro time que menos converteu bolas de três pontos (4.1)
– Terceiro time que mais pegou rebotes (44.2)
– Terceiro time que mais pegou rebotes ofensivos (13.1)
– Quarto time que mais deu tocos (5.8)
– Segundo time que mais cometeu faltas (21.8)
Folha salarial do Utah Jazz em 2012/2013
Al Jefferson: 15 milhões de dólares (expirante)
Devin Harris: 8,5 milhões de dólares (expirante)
Paul Millsap: 7,2 milhões de dólares (expirante)
Derrick Favors: 4,8 milhões de dólares
Enes Kanter: 4,4 milhões de dólares
Raja Bell: 3,5 milhões de dólares (expirante)
Gordon Hayward: 2,7 milhões
Alec Burks: 2,2 milhões de dólares
Earl Watson: 2 milhões de dólares (expirante)
Jamaal Tinsley: 1,3 milhões de dólares (team option)
Perspectivas
O Utah Jazz tem cerca de 50 milhões de dólares comprometidos para a próxima temporada, o que deixa a equipe com poucos recursos para investir no mercado de agentes livres (aproximadamente 8 milhões de dólares). C.J. Miles e Josh Howard serão agentes livres e não devem permanecer na equipe para 2012/2013. Outro que não deve continuar é o veterano Raja Bell, que teve problemas de relacionamento com o técnico Tyrone Corbin.
Cinco jogadores do atual elenco, incluindo Al Jefferson, Devin Harris e Paul Millsap, terão seus contratos expirando ao final da próxima temporada, o que os tornam prováveis moedas de troca na offseason. E outra coisa: o time de Utah não terá escolha de primeira rodada no draft 2012, mas apenas uma de segunda rodada (pick 47).
Ainda não sabemos qual a intenção do Jazz, se vai renovar com os três, se vai tentar se desfazer do armador, se vai tentar trocar um dos jogadores do garrafão por um scorer de perímetro. Enfim, eu renovaria com Jefferson porque são poucos os times que possuem um pivô de qualidade. E ele mostrou nesta temporada que é o principal jogador da equipe. E mais, Jefferson tem “apenas” 27 anos, ou seja, dá para acertar um contrato de quatro ou cinco anos com o pivô.
Eu tentaria trocar Harris e Millsap. O primeiro não é um armador muito confiável, tanto que mostrou muita inconsistência nesta temporada. Já o segundo continua mostrando que é um ótimo jogador de garrafão. Mas o “problema” é que, no banco, o Jazz tem Favors e Kanter, dois jovens jogadores de garrafão com um potencial imenso. Seria um “crime” limitá-los a 21 e a 13 minutos, respectivamente.
Para liberar Harris e/ou Millsap, a ideia seria trazer o tal scorer de perímetro que a equipe não possui. Tyreke Evans (Sacramento Kings), Kevin Martin (Houston Rockets), Ben Gordon ou Rodney Stuckey (Detroit Pistons) seriam algumas das opções. E na agência livre, o Jazz buscaria um armador para suprir a saída de Harris. Se possível, um armador veterano para liderar esse jovem time. Steve Nash, Chauncey Billups e Andre Miller seriam os melhores nomes.
Portando, mantendo uma base jovem e talentosa (Hayward, Favors, Kanter e Burks), capitaneada pelo pivô Al Jefferson, e adicionando um armador mais confiável e um scorer de perímetro, o Jazz tem tudo para voltar aos playoffs na próxima temporada. A reconstrução do elenco já deu resultados em 2011/2012 e a tendência é de que os próximos anos sejam de muita alegria para os fãs da equipe. A semente já foi plantada, e o futuro é dos mais promissores.