O locaute da NBA completa hoje exatos quatro meses, para a apreensão dos fãs do melhor basquete do mundo. O antigo Acordo de Negociação Coletiva (CBA) expirou no dia 30 de junho e desde então cartolas e jogadores vêm tentando alcançar um novo acordo. Mas isso não está nada fácil.
Se as duas partes já tivessem se entendido, a temporada 2011/2012 da NBA começaria na noite desta terça-feira. E com um baita jogo inaugural entre Chicago Bulls (time de melhor campanha na última temporada regular) e Dallas Mavericks (atual campeão da Liga). Para piorar, todos os jogos do mês de novembro já foram cancelados. Caso jogadores e cartolas não se entendam nos próximos dias, os duelos do mês de dezembro também correm o risco de serem cancelados. Não quero nem pensar na hipótese de uma temporada inteira jogada no lixo.
Não vou entrar em detalhes a respeito dos inúmeros temas discutidos nas exaustivas reuniões entre os proprietários das franquias e Associação de Jogadores. Segue um breve resumo do impasse: os cartolas, insatisfeitos com as perdas acumuladas nos últimos anos, querem reduzir os salários dos jogadores em 30% e impor um teto salarial mais rígido. Eles não abrem mão de um novo sistema operacional econômico para dar às 30 equipes da Liga uma possibilidade igual de ser lucrativa e brigar pelo título. Em contrapartida, os jogadores têm argumentado que a NBA nunca ganhou tanto dinheiro em contratos publicitários e televisivos, e não aceitam a redução drástica dos salários.
Novo acordo praticamente fechado, mas…
Até o momento, segundo os jornalistas norte-americanos especializados, o novo CBA está praticamente fechado. Alguns chegam a afirmar que ele está 95% sacramentado. O problema é que o imbróglio reside em dois fatores que todos sabiam que ia dar confusão: o tal BRI, que nada mais é do que as Fontes de Receitas Relacionadas ao Basquete (ingressos, cotas de TV, patrocínios, venda de camisas, etc) e o sistema de teto salarial (cartolas querem o teto rígido, jogadores preferem o teto flexível). Esse novo sistema só será negociado depois que a porcentagem do BRI de cada parte for definida.
O cartolas insistem em uma fração de 50-50 do BRI, enquanto os jogadores fizeram uma proposta formal de 52.5%. Vale lembrar que, no CBA antigo, os atletas tinham direito a 57% do BRI. Na última temporada, foram arrecadados US$3,8 bilhões na categoria de BRI, com os jogadores ficando com cerca de US$ 2,2 bilhões desse montante. Caso a proposta de 50-50 seja aceita, os atletas vão perder cerca de US$ 300 milhões do BRI.
Cresce a pressão dentro da Associação de Jogadores
Só com o cancelamento dos jogos do mês de novembro, os jogadores perderam algo em torno de US$ 350 milhões em salários. A pressão dentro da Associação de Jogadores (NBPA) aumenta a cada dia que passa. Segundo o jornalista Adrian Wojnarowski, do Yahoo! Sports, o clima entre Derek Fisher (presidente da NBPA) e Billy Hunter (diretor-executivo da NBPA) não é dos melhores. O estopim teria sido a reação de Hunter ao final da última reunião entre as partes envolvidas no impasse. Ele deixou o encontro fulo da vida e bradando aos quatro cantos que não aceitaria negociar mais se a porcentagem do BRI para os atletas fosse menor que 52%. Vários jogadores teriam ficado insatisfeitos com a postura de Hunter. Há um movimento forte dentro da NBPA para que ele não aja de forma unilateral novamente.
Já Derek Fisher está sendo acusado de tentar fazer um acordo secreto com o comissário da NBA, David Stern. Na noite dessa segunda-feira, ele enviou uma carta aos jogadores se defendendo das acusações. A carta não convenceu muita gente. Fisher está sendo pressionado pelos jogadores, que querem o fim do locaute o quanto antes. Dificilmente, os cartolas vão alterar a proposta do BRI (50-50) e Fisher sabe que o novo CBA vai tirar alguns milhões de dólares dos atletas. Resta saber até quando a NBPA vai resistir à pressão. Com o passar dos dias, a tendência é que a situação só piore para os atletas. Já os cartolas não se importam em perder toda a temporada para chegar a um acordo que eles consideram ideal.
E os fãs? Como é que eles ficam nesse impasse?
Justamente no período em que a Liga começou a atrair a atenção de mais fãs, veio o locaute. As partes envolvidas nesse imbróglio parecem que se esqueceram de que as finais da última temporada, entre Dallas Mavericks e Miami Heat, registraram a maior audiência dos últimos sete anos na televisão norte-americana. Em 2010/2011, todos os ginásios tiveram ao menos 72% de sua capacidade preenchidas, sendo que metade da Liga teve pelo menos 90%. Na última década, as ações de marketing se intensificaram, as franquias se valorizaram, surgiram astros como LeBron James, Dwyane Wade, Kevin Durant, Carmelo Anthony, Dwight Howard, Chris Paul, Deron Williams, Derrick Rose.
Essa é uma briga de bilionários contra milionários, em que os maiores prejudicados são os fãs da NBA. O cancelamento de uma temporada inteira seria muito prejudicial à imagem da Liga, que vem vivendo uma ótima fase nos últimos anos. Que cartolas e jogadores não joguem fora o que foi conquistado junto ao público. A esperança de todos os fãs é de que um acordo seja alcançado ainda este mês. Queremos a NBA de volta. Se possível, antes do Natal…