Ex-Pinheiros, Isaac abre o jogo sobre racismo, coronavírus e futuro no NBB

Ala que atuou pelo clube da capital paulista no último NBB fala que os negros têm que continuar lutando por igualdade

Fonte: Ala que atuou pelo clube da capital paulista no último NBB fala que os negros têm que continuar lutando por igualdade

Por Diego Marcondes e Georgios Tsoukas

O assassinato de George Floyd, no último dia 25 de maio, por um policial, em Mineápolis (EUA), gerou revolta e virou o estopim para manifestações ao redor do mundo. Uma semana antes, o jovem João Pedro de 14 anos, foi morto em uma operação das polícias Civil e Federal no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Esses são apenas dois dos diversos casos de brutalidade policial contra negros que ocorrem no Brasil e no mundo. O Jumper Brasil teve a oportunidade de falar com Isaac Gonçalves, ex-jogador do Pinheiros. O ala falou sobre racismo, sobre as manifestações ao redor do mundo, coronavírus e muito mais.

“Nós negros temos que continuar lutando por igualdade. Pessoas brancas, que nunca saberão o que é isso, falam que o racismo não existe, mas ainda bem que hoje temos um celular em mãos para gravarmos tudo que acontece. Agora, imagine nossos ancestrais que foram arrancados de seus países, separados de seus irmãos, pais e filhos”, comenta Isaac.

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As manifestações têm recebido diversas críticas devido à depredação de patrimônio público e privado. Isaac também comentou o assunto: “Eu acredito que o uso da força não é a melhor opção, mas as pessoas precisam entender, de uma vez por todas, que somos todos iguais e vamos todos para o mesmo lugar”, completa.

Confira na íntegra a entrevista do Jumper Brasil com Isaac:

Mesmo após a instrução da FIBA para paralisar todos os campeonatos de basquete ao redor do mundo, o NBB ainda teve alguns jogos sem torcida antes do cancelamento da atual temporada. Qual a sua opinião sobre a maneira que a Liga Nacional de Basquete abordou o surto de Covid-19 no país?

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“Assim como nós jogadores, a Liga também não sabia o quão sério era tudo isso. Foi difícil aceitar, já que o basquete é o pão de cada dia de todos, mas com a situação se tornando mais séria a cada dia, a Liga, junto com as equipes e os atletas, tomaram a melhor decisão para preservar vidas”.

A Federação Paulista de Basquete divulgou um protocolo por meio de seu site oficial no qual estimam o início das competições regionais em meados de Agosto. Um dos pontos do protocolo obriga o uso de máscaras por atletas durante a prática da atividade. Você foi questionado a respeito ou tem ciência de algum colega de quadra que foi contatado pela Federação? Você apoia o retorno às atividades nos moldes deste protocolo pré-estabelecido?

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“Uma coisa posso responder por mim: eu não fui contatado, mas acredito que seria muito difícil jogar de máscara. Digo pela dificuldade de falar, correr, respirar, etc. Nessa questão de apoiar, acho que, se não tiver melhores opções, precisamos voltar a jogar. Como disse: esse é o pão nosso de cada dia”.

Já nessa pré-temporada, alguns clubes anunciaram que não darão continuidade no NBB da temporada que vem e mais alguns outros, tem o seu futuro incerto quanto ao time profissional de basquete masculino. Diante do caos provocado pelo coronavírus, o que você vê para a modalidade daqui para a frente? Você acha que algo vai mudar para os jogadores dentro e fora de quadra diante da pandemia?

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“Isso é muito triste. Essa situação veio para atrapalhar algo que estava dando muito certo. Espero que tudo volte aos trilhos, mas sei que iremos passar por momentos difíceis, não só no esporte, mas também em toda a economia do país. Não podemos prever nada ainda, temos apenas que ter fé e pensar positivo. Vamos passar por isso e temos que estar de pé, firmes e fortes”.

O Governo Federal (alguns estaduais também, como o de São Paulo) vem tratando com total negligência o avanço da COVID-19 no país. Os casos de coronavírus no Brasil aumentam dia após dia e as medidas impostas pelos governantes escancaram o descaso com a população, que é quem sofre com as consequências. O presidente da República tratou, e segue tratando, a doença com desdém, vide o “e daí” perante a mais de 30 mil mortes e a tentativa insaciável de implantar uma guerra de viés ideológico e partidária com jornalistas e outras figuras. Qual sua opinião sobre as políticas de tratamento dos nossos governantes? Estão agindo corretamente?

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“Cara, os nossos políticos estão se aproveitando de toda essa situação, chega a me dar tristeza ver que estão fazendo superfaturamentos e desvios de verba pública nesta época onde o povo está perecendo. Eu cheguei ao ponto de não assistir mais jornais, isso estava me fazendo muito mal. Estou tentando reter o que é bom, até porque quem sempre vai ter que lutar por dias melhores é o nosso povo”.

Vimos há poucos dias, as mortes trágicas e cruéis de João Pedro e George Floyd, assassinados de formas diferentes, mas pelo mesmo sistema racista. Ambos são apenas alguns exemplos de casos que, infelizmente, não são raros e acontecem diariamente no Brasil e em qualquer outro lugar do mundo. Os sentimentos genuínos de revolta com esses acontecimentos geraram diversas manifestações (pacíficas ou não) nos EUA e no mundo. Você pensa que esta é a melhor forma de lutar contra as injustiças sociais? É necessário forças como depredação de patrimônios públicos e privados para buscar uma mudança? Qual a sua visão sobre os movimentos?

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“Nós negros temos que continuar lutando por igualdade. Pessoas brancas que nunca saberão o que é isso, falam que o racismo não existe, mas ainda bem que hoje temos um celular em mãos para gravar tudo que acontece. Agora imagine nossos ancestrais que foram arrancados de seus países, separados de seus irmãos, pais e filhos. Eu acredito que o uso da força não seja a melhor opção, mas as pessoas precisam entender de uma vez por todas que somos todos iguais e no fim, vamos todos para o mesmo lugar”.

Uma das febres atuais das redes sociais é cobrar posicionamento de alguém sobre certo tópico ou acontecimento. Muitas figuras públicas, principalmente atletas, “sofrem” com essa cobrança excessiva por participações em questões políticas e sociais. Como você julga esse tipo de cobrança? É necessária? E qual a importância do posicionamento nestes casos? Gera influência?

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“A rede social deu voz a todos, felizmente somos um país com liberdade de expressão. Sobre um atleta se posicionar sobre determinado ponto, penso que é válido, desde que seja algo em que ele realmente acredite. Em alguns casos, acredito que gera influência sim”.

Após uma boa campanha na última edição do NBB, o Pinheiros terminou a fase de classificação no sexto lugar e assegurou uma vaga nos playoffs, onde enfrentaria o Paulistano. Porém, devido ao agravamento da pandemia, a temporada foi cancelada e o Pinheiros decidiu não assinar com muitos atletas que compunham o elenco do basquete profissional, incluindo você. Aproveitando que está livre no mercado, quais os planos para o futuro?

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“Agora estou focado em ficar bem de saúde e psicologicamente devido a essa fase que estamos passando, e após isso, esperar o que pode acontecer. Torço para que nosso basquete possa passar por isso e que todos nós fiquemos bem.”

O ex-jogador do Pinheiros passou grande parte da última temporada lesionado e, por isso, atuou em apenas nove partidas do NBB. Isaac teve números sólidos no período: 8.1 pontos, 2.6 rebotes, 8.6 de eficiência, 44% de aproveitamento nos arremessos de três pontos e 50% nos de dois pontos.

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