O pivô da NBA não é mais o mesmo e, quem viu caras como Shaquille O’Neal, Kareem Abdul-Jabbar e Hakeem Olajuwon, nunca mais vai ver algo parecido. O mais próximo disso será um jogador grande, que saiba jogar de costas para a cesta, mas que faz muitas outras coisas. O arremesso de longa distância está entre as exigências do novo pivô e isso está apenas começando.
É natural que a gente sinta saudades de como o jogo era realizado. Super normal. Só que as mudanças de estilo fizeram com que as análises estatísticas fossem buscar o óbvio: não tem como um time vencer mais sem arremessar de três pontos. Aquele negócio de cercar pivôs de arremessadores, como o Los Angeles Lakers fez com Shaq ou o Houston Rockets tinha com Olajuwon, só funciona se o pivô souber passar.
Então, você consegue notar algumas diferenças entre o pivô da NBA até o momento em que Dwight Howard tem queda de produção e hoje. Enquanto Howard brilhava no Orlando Magic, ainda havia alguma esperança de que pivôs voltassem a dominar a liga. No entanto, desde quando isso aconteceu, não apareceu nenhum outro com as mesmas características: defender o aro, pegar rebotes e pontuar.
Podemos até começar o debate sobre Joel Embiid, mas você tem certeza que o camaronês se parece com aqueles pivôs de antigamente?
Começamos pelo fato de que Embiid joga boa parte do tempo de frente para a cesta, encarando o adversário. Além disso, ele arremessa de três. Apesar de ele defender bem o garrafão, pegar rebotes e tudo mais, o jogador do Philadelphia 76ers faz coisas que pivôs dos anos 90 não faziam.
Mudança da NBA
O basquete é um dos esportes que muda as suas regras com mais frequência. Muito mais que futebol, vôlei ou seja lá qual for. A todo momento, tem uma novidade. E isso acontece para deixar o jogo mais dinâmico, mais interessante para o público, mas sem se esquecer de suas raízes. Afinal, o objetivo do time com a bola é fazer cesta e o outro, defender.
Mas a linha de três passou por alguns ajustes em sua história na NBA até chegar ao que é hoje. Um semicírculo foi implantado dentro do garrafão, os 24 segundos de posse, os dez segundos para avançar até a quadra de ataque, tudo isso foi criado aos poucos. De acordo com o que o estilo de jogo pedia no momento, as coisas mudaram.
Sim, o saudosismo pode te pegar nessa, mas a NBA de hoje é melhor do que há cinco anos, que era melhor antes disso e tudo mais. O que os jogadores correm na atualidade é bem mais que nos anos 2000, por exemplo. Se antes havia a ideia de posse de bola e arremessar no estouro do cronômetro, hoje você tem uma liga que prima pela quantidade de arremessos.
Analiticamente, foi confirmado que o arremesso de três é o caminho mais curto para as vitórias. Embora não seja vistoso para quem começou a acompanhar NBA nos anos 80, 90, é preciso entender que o jogo está mais fluído, mais dinâmico. E, claro, menos travado.
Ganha o jogo aquele que tiver um melhor aproveitamento no arremesso de três, mas que cuide da bola para não cometer erros de ataque, que saiba defender e que anule as segundas chances adversárias. Se seu time tem isso, é meio passo para triunfar. Ter talento ajuda, também.
Pivô arremessando de três não é novidade
Para quem acha que o novo pivô da NBA só arremessa, é preciso voltar alguns anos e lembrar que outros o fizeram, também. Aquele estereótipo de que jogadores grandes não sabem efetuar o arremesso acabou. Ao menos, precisa acabar.
Arvydas Sabonis, pai de Domantas, foi o melhor pivô que existiu na Europa até então. Ele demorou muito para chegar na NBA, mas aos 31 anos, Sabonis fez parte do time ideal de calouros. Embora ele tivesse um joelho relativamente bom, veterano, pesado, Sabonis mostrou que era possível um jogador da liga arremessar com volume (para a época). Em seus dois primeiros anos, foram 88 acertos em 236 tentativas (37.3% de aproveitamento).
Depois, com mais tempo de quadra, Sabonis fez 16.0 pontos, 10.0 rebotes e 3.0 assistências em sua terceira temporada. Ou seja, ele ainda sabia passar a bola.
Tantas características diferentes para um pivô chamaram a atenção da NBA. O resultado disso, a gente vê décadas depois.
De novo, Joel Embiid é um cara que apresenta muita ameaça ao adversário. Ele, quando está na linha de três, faz com que seu oponente pense muito antes de tentar algo. Por exemplo, se o defensor tentar o bote (uma roubada de bola ou se aproximar demais), Embiid vai fazer o drible e parar na cesta. Se der muito espaço, o pivô vai arremessar. Se ele está no low post (de castas para a cesta), ele pode girar, fazer o trabalho de pés e criar o seu lance. Além disso, Embiid pode passar (bem). Então, sempre vai existir a dúvida sobre como marcar um cara desses.
Nova onda já rendeu MVP
O MVP da temporada passada, Nikola Jokic, é o melhor pivô passador que existe na NBA. Ele vai jogar no low post, mas vai ficar atrás da linha de três, também. Tudo para dificultar a ação defensiva de seu oponente. E tem gente que torce o nariz para isso.
Esqueça a origem do pivô. Preocupe-se com o que ele entrega, com o seu impacto e sua presença. Ele faz seus companheiros de Denver Nuggets melhores e que joguem em conjunto. Mesmo sem Jamal Murray e Michael Porter, Jokic comanda sua equipe o suficiente para estar na zona dos playoffs, enquanto esperavam pela queda na tabela de classificação.
E não é só Jokic ou Embiid. Eles são os que brigam por MVP, mas ainda tem Karl-Anthony Towns no Minnesota Timberwolves entre os melhores da posição. Aliás, Towns venceu o Torneio de Três Pontos. Um pivô!
Em comum, a representação do pivô atual da NBA tem a capacidade de arremessar e passar a bola. Assim como Sabonis fazia.
Podemos até incluir Bam Adebayo nessa. Embora o jogador do Miami Heat não seja um arremessador de três pontos, ele o faz de média distância e, nas últimas três temporadas, teve, pelo menos, um jogo com 11 assistências.
O espaçamento de quadra se faz necessário. Quanto menos povoado o garrafão, melhor para todos aqueles que queiram bater para dentro.
Intimidadores e reboteiros perderam espaço
Jon Koncak, Joel Przybilla, Theo Ratliff, Jim McIlvaine e outros do tipo não existem mais na NBA. Aquele pivô intimidador, que morava dentro do garrafão só para destruir perdeu espaço. Basta ver nos elencos quantos assim restam. Podemos contar nos dedos.
O sujeito que estava ali com apenas um propósito já não existe. Se o pivô vai para a NBA, é porque ele precisa fazer mais do que uma ou duas de suas obrigações.
É só observar o que aconteceu com a carreira de Andre Drummond, por exemplo.
Não que Drummond seja algo minimamente próximo de intimidador. Não é. Mas ele é um cara realmente bom em só uma coisa. Ele só sabe pegar rebote. Vai pontuar, vai dar um ou outro toco, roubar bola e tal, mas não vai passar disso. É um pivô de péssimo posicionamento defensivo (observe agora) que terá números ocasionais. Ele comete 3.1 faltas na carreira, quase sempre porque errou na hora de marcar.
Quando o Detroit Pistons o trocou para o Cleveland Cavaliers, lembra o que rendeu, em 2020? John Henson, Brandon Knight e uma escolha de segunda rodada do draft de 2023. No Cavs, a diretoria acertou em cheio ao escolher Jarrett Allen. Vale ressaltar que os dois estavam por lá, mas Drummond foi dispensado, após não encontrar uma troca de segunda rodada sequer por ele. Então, veio o Los Angeles Lakers e o resultado, todo mundo sabe.
Sem espaço na rotação, Drummond ficou de fora de jogos decisivos por opção técnica. O Lakers sequer abriu conversa para estender contrato e ele foi para o Philadelphia 76ers. Agora, o pivô está no Brooklyn Nets. Começou como titular, mas é bom aguardar, pois ali estão LaMarcus Aldridge, Nic Claxton e Blake Griffin.
A resistência
Se incluirmos todos os melhores pivôs da atualidade, é necessário falar de Rudy Gobert.
Aí está a diferença para os outros. O francês não é passador, não arremessa de três e procura fazer seu jogo o mais próximo do garrafão. Ele foi moldado assim, mas pergunte ao torcedor do Utah Jazz se ele não gostaria que Gobert tivesse capacidade de arremessar.
Isso fica claro quando os técnicos precisam deixar seus times baixos durante determinados momentos. Gobert fica sem função e se torna um problema para Quin Snyder. Como ficar sem um dos melhores defensores da NBA? A decisão passa por diversos aspectos e, por vezes, ele fica perdido quando é dobrado. Por não ser um bom passador (1.3 é a média na carreira), o atleta praticamente não recebe bolas no post.
Para quem acha que a tendência atual é esquecer o post up, Embiid é o pivô que mais vezes faz isso na NBA (8.0 por jogo), enquanto Jokic é o segundo (4.9). Gobert, por exemplo, aparece com 0.6 por partida.
Seguindo a linha do francês estão Clint Capela, Andre Drummond, Isaiah Stewart, Jarrett Allen, entre outros. Nikola Vucevic e Brook Lopez, por exemplo, se adaptaram e mudaram seus estilos de jogo.
A tendência é que outros façam o mesmo.
Há alguns anos, Drew Gooden, hoje comentarista nos jogos do Washington Wizards, disse que se ele não se adaptasse, ele teria encerrado a carreira em 2012. No entanto, ele adicionou o arremesso de três ao seu repertório e só parou de jogar em 2016, aos 35 anos.
E o futuro?
De acordo com o Mock 3.0 do Jumper Brasil, os melhores prospectos do próximo Draft são jogadores de garrafão. A NBA já entendeu que os pivôs de antigamente não são mais a solução, então a aposta é em caras altos, que saibam fazer várias coisas em quadra.
Não por menos, o preferido do basquete universitário é Chet Holmgren, de Gonzaga. Holmgren é alto (2,13 metros), arremessa bem de três (44.6% de aproveitamento), pega rebotes (9.6), dá tocos (3.4), sabe pontuar (14.4) e é muito eficiente dos dois lados da quadra. Ou seja, esse é o padrão que a liga quer.
Em sua cola estão Paolo Banchero e Jabari Smith. Embora eles sejam mais alas-pivôs, são jogadores de 2,08 metros, que terão muitos minutos como pivôs na NBA. Apesar de o primeiro ainda não ter um arremesso de três polido, isso deve mudar no ano que vem, quando treinar o fundamento na liga.
Hoje, definitivamente, quem fica parado é poste.
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