Das ruas para o estrelato: a incrível jornada de Jimmy Butler

Conheça, em detalhes, a história de provações e superação do astro até o sucesso na NBA

Fonte: Conheça, em detalhes, a história de provações e superação do astro até o sucesso na NBA

Ser um astro da NBA é privilégio para pouquíssimos. Talento é necessário, mas só constitui uma pequena peça de um quebra-cabeça muito maior. Afinal, tantos têm talento. É preciso possuir empenho, dedicação, comprometimento, vontade, ética de trabalho, resiliência, competitividade e muito mais para chegar ao topo do melhor basquete do planeta.

Essa é uma história de talento e todos os atributos citados – como a trajetória de qualquer astro –, mas diferente de todas que você já viu. Essa é a história de Jimmy Butler.

Publicidade

“A história de Jimmy é uma das mais memoráveis que vi em todos os meus anos no basquete. Houve vários momentos em sua vida em que ele estava fadado ao fracasso e superou adversidades enormes. Sabe, você simplesmente tem aquela sensação de que o garoto possui grandeza dentro dele”

(GM anônimo da NBA, antes do draft de 2011)

 

Butler nasceu em uma família pobre de Tomball, cidade com pouco mais de 10 mil habitantes na região metropolitana de Houston. Ele era um fã confesso de futebol americano e baseball antes do basquete, mas o calor texano acabou forçando-o a fazer a escolha de sua vida quando procurou um esporte que pudesse praticar em um local coberto, procurando uma sombra para “fugir” do sol forte.

Publicidade

Como em muitas histórias, o pai abandonou a família quando o ala-armador ainda era uma criança e deixou todos desamparados. E agora? Esse é o momento em que, na maioria das vezes, uma mãe atenciosa acolhe o futuro astro e enfrenta as dificuldades de criar um filho sozinha para que ele possa realizar seus maiores sonhos. Mas, como já disse, essa é uma história diferente.

“Eu não gosto da sua aparência. Você tem que ir embora”. Foi com essas palavras que sua mãe deu uma notícia cruel, devastadora, até impensável: aos 13 anos de idade, Butler estava sendo expulso de casa. Ele virava uma criança sem-teto, por opção da mãe e com motivação banal. Ele começa, a partir de então, a depender da bondade de amigos e de sua própria perseverança para sobreviver.

Publicidade

Por anos, a vida do futuro ídolo do Chicago Bulls pareceu-se mais com a de um experiente andarilho: pedindo um abrigo aos colegas de escola e amigos na rua, passando de casa em casa, visto como um garoto-problema por várias pessoas. Enquanto a maioria dos jovens de sua idade pensava em notas e namoradinhas, ele tinha que preocupar-se com o que comer e onde dormir.

Sem casa fixa, dinheiro e família, Butler estava esperando por alguém que pudesse adotá-lo e dar um pouco de equilíbrio para um garoto à deriva. Enquanto a chance não aparecia, com tempo de sobra e sem escolhas, ele adotou com força o único aspecto estável com que sua vida podia contar: o basquete.

Publicidade

“Acho que meu esforço e comprometimento vêm do fato de não ter tido muita coisa na vida. Quando se tem que lutar por tudo o que possui, cada pequena coisinha, você não fica satisfeito com menos do que o máximo empenho”

Publicidade

(Jimmy Butler, em entrevista concedida em 2015)

 

A sorte de Butler começou a mudar no verão norte-americano de 2006, quando, às vésperas de entrar no último ano do ensino médio, ele iniciou amizade com outro estudante-atleta promissor de Tomball. Após uma partida de rua, o jovem Jordan Leslie desafiou o futuro jogador da NBA para um concurso de arremessos de três pontos. O ala-armador, então, foi convidado por Leslie para jogar videogame em sua casa e passar a noite. Nada seria mais como antes.

Publicidade

A família de Michael e Michelle Lambert (foto abaixo) já tinha sete crianças – ambos trouxeram filhos de casamentos anteriores – e não havia luxo. Ambos concordaram em deixar Butler dormir em sua casa, mas apenas uma ou duas noites. Mas, quando acabava o período, outro dos filhos pedia para trazer um amigo para dormir – e sempre era Butler quem entrava pela porta. Todos o adoravam, desmitificando a (injusta) fama de “garoto-problema”.

Os Lamberts, enfim, não tiveram escolha: depois de alguns meses de vai-e-vem, o adolescente ganhou uma casa e uma família adotiva. “Eu disse para Jimmy que os meus filhos tinham-no como um exemplo. Ele precisava ficar longe de problema e estudar duro. E quer saber? Jimmy fez tudo o que pedi, sem hesitar e questionar. Ele queria tanto aquilo”, lembra Michelle.

Publicidade

Àquela altura, Butler já era um astro do time de basquete da escola de Tomball. A coisa mais importante de sua vida naquele momento, porém, foi entender que os Lamberts tinham interesse na pessoa, não no atleta: “Eles me aceitaram em sua família e não tinha nada a ver com o basquete. Michelle era simplesmente muito amorosa e fazia essas boas ações. Mal podia acreditar”.

Publicidade

“Jimmy era ranqueado como o 73º melhor prospecto do estado do Texas saindo do basquete colegial. Do estado. Ele não foi para uma faculdade comunitária porque um programa maior queria prepará-lo, mas sim porque não tinha outras opções”

(Buzz Williams, ex-técnico da Universidade de Marquette)

 

Butler terminou sua carreira colegial como capitão e astro na Tomball High School, com médias de 19.9 pontos e 8.7 rebotes. Mas, embora seu nome fosse conhecido em âmbito local, ele estava longe da atenção dos programas universitários de elite. Mississippi State até se interessou em recrutá-lo e assistiu a alguns de seus jogos in loco, mas preferiu dar suas bolsas de estudos a outros prospectos.

Publicidade

A falta de atenção tinha justificativa. Tomball era minúscula e estava fora do mapa da primeira divisão da NCAA. Nenhum dos principais serviços de recrutamento do basquete colegial norte-americano tinham Butler em suas listas dos 100 melhores prospectos do país. Rankings amadores locais sequer o apontavam como um dos melhores prospectos colegiais texanos. Ele precisava aparecer.

Sem nenhuma oferta de bolsa de estudos, o ala-armador matriculou-se para iniciar os estudos superiores na Tyler Junior College em 2007. Uma faculdade comunitária era sua única opção àquela altura. No entanto, o basquete não demorou a mostrar que aquela não seria uma casa por muito tempo: logo na primeira partida oficial como universitário, ele liderou o time à vitória anotando 34 pontos.

Publicidade

“Tyler foi um dos momentos mais difíceis de minha carreira, pois a mentalidade dos jogadores nas faculdades comunitárias é diferente. Todos só querem mostrar o seu talento e serem notados. Mas, após algumas boas atuações, eu adquiri a confiança de que precisava”, lembrou Butler. O menino de Tomball conseguiu, como calouro, ser indicado a menção honrosa no quinteto ideal da temporada da terceira divisão da NCAA. E, de repente, grandes universidades notaram a sua existência.

Em abril de 2008, Kentucky, Clemson, Iowa State e a mesma Mississippi State que havia decidido não lhe dar chance no ano anterior tentavam recrutá-lo. A grande oportunidade veio. Mas sua “nova mãe”, Michelle, teve a atenção captada por uma oferta em especial. “Jimmy tinha muitas alternativas, mas Marquette impressionou-me pelas questões acadêmicas. Eu disse para escolhê-la porque o basquete podia não ser seu futuro. O que ele realmente precisava era boa educação”, contou.

Publicidade

“Eu nunca fui tão rigoroso treinando um jogador quanto fui com Jimmy. Era quase desumano”

(Buzz Williams)

 

Publicidade

O processo de recrutamento de Butler por Marquette não foi tão convencional: Buzz Williams havia acabado de ser promovido ao cargo de técnico da instituição e o ala-armador de Tomball era o primeiro atleta que tentaria trazer. Reza a lenda que, no primeiro encontro entre ambos, o treinador recém-efetivado disparou que o jovem “não jogava nada”, em uma evidente estratégia para chamar-lhe a atenção.

“Eu era implacável com Jimmy porque ele não tinha ideia do quão bom poderia ser. Era um garoto que ouviu de todos que não era bom o bastante na vida, mas eu via alguém capaz de impactar nosso time de tantas formas diferentes. Fui brutal, pois queria seu sucesso. E ele nunca desistiu”, contou Williams, em uma matéria publicada pela ESPN em 2011.

Publicidade

Butler não foi um sucesso imediato em Marquette, mas ganhou um novo lugar para chamar de casa pelos três anos seguintes. Até hoje, o astro admite sentir falta dos tempos da faculdade – quando só se preocupava em ir “do quarto para as aulas e, então, para o ginásio”. Sente falta do primeiro ano “escondido” no fundo do banco de reservas e, em especial, das duas temporadas que vieram depois.

Com as saídas dos prospectos Lazar Hayward e Wesley Matthews para a NBA, no segundo semestre de 2009, o então jogador de 20 anos saiu do banco para ser a grande aposta de Marquette. E o talento de elite que o técnico achava ter em mãos provou-se em quadra: foram 71 jogos nas últimas duas temporadas no basquete universitário, comandando a equipe com médias de 15.2 pontos, 6.2 rebotes, 1.4 roubos de bola e 50.7% de conversão nos arremessos tentados. 

Publicidade

Mas, muito maior do que os números, Butler viu o efeito prático da importância do esforço e exigência para seu sucesso dentro e fora das quadras com Williams. “Eu aprendi que, se trabalhar com tudo o que tenho, não preciso me preocupar. Nunca fico nervoso e não sinto pressão porque trabalho muito duro. Não acho que existe alguém que trabalhe mais do que eu. Isso é o que Buzz sempre me ensinou e não sai da minha cabeça. Ele ajudou-me a ser o jogador e homem que sou”, reconhece.

Publicidade

“Jimmy recebeu elogios de todos os olheiros e gerentes-gerais para quem realizou treinos. Mas são as suas entrevistas que causaram mais barulho. Representantes de vários times disseram-me que ele é um dos jovens mais impressionantes que já conheceram”

(Chad Ford, ex-analista de draft da ESPN, em 2011)

 

As voltas que a vida dá são incríveis. A família Lambert tirou a criança da rua para dar-lhe uma casa. Buzz Williams tirou o prospecto do anonimato de Tomball para brilhar em um grande palco nacional. E, no verão de 2011, a NBA poderia tirar o aspirante a atleta de 21 anos de uma trajetória de luta e pobreza para colocá-lo nas televisões do mundo inteiro com um contrato milionário, por meio do draft. Quem poderia imaginar?

Publicidade

Mas, antes de tudo, existia uma pergunta: será que Jimmy Butler realmente seria selecionado? Pode parecer uma pergunta estranha hoje, mas a dúvida chegou a existir. “Espero que alguém escolha Jimmy. Ninguém nunca havia dado-lhe uma chance, nós demos e olha o que aconteceu. Se um time apostar em seu talento, ele retribuirá com tudo o que tem”, disse Michelle Lambert, antes do recrutamento.

As dúvidas, porém, começaram a cessar com poucas semanas para o draft. Ele foi convidado e participou do Portsmouth Invitational, evento que reúne os melhores seniors do país, e acabou sendo eleito o MVP do torneio diante de várias franquias. O olheiro Matt Kamalsky, do site DraftExpress, apontou o ala-armador como atleta mais consistente e que mais ajudou sua projeção no PIT de 2011.

Publicidade

“Jimmy é um jogador empolgante que atua dentro dos conceitos do time. Defende, passa a bola, ataca a tábua por rebotes, possui alta inteligência em quadra e sua atitude é o sonho de qualquer técnico. Ele simplesmente joga basquete vencedor com incríveis intangíveis e faz tudo o que é possível para ajudar sua equipe a vencer”, escreveu Kamalsky.

Buzz Williams conviveu com vários prospectos ao longo da carreira e diagnosticou que a virtude mais forte de Butler para qualquer franquia da liga estava em seu background. “A diferença para todos é que Jimmy nunca se viu como um jogador com nível para atuar na NBA. Ele vê a si mesmo como alguém que precisa melhorar a cada dia para ter o que comer à noite”, afirmou.

Publicidade

“Com a 30a escolha do draft de 2011, o Chicago Bulls seleciona Jimmy Butler, da Universidade de Marquette”

(David Stern, ex-comissário da NBA)

Publicidade

 

O sonho de jogar na NBA exigiu tempo de Butler. E, assim, foi até o dia do draft. O ala-armador, que vivia a incerteza de ser escolhido, ouviu seu nome ser chamado na última posição da primeira rodada. A 30ª seleção pode ser encarada como uma ofensa por muitos prospectos, mas foi uma vitória: garantiu um contrato garantido ao jovem, a segurança de uma fonte de renda e um local para seguir carreira.

Publicidade

Ele chegou mostrando a que veio e foi o destaque do Bulls na Liga de Verão de Las Vegas. Mas, como aconteceu na maior parte da carreira, precisou esperar para que a grande oportunidade surgisse. Butler disputou só 42 partidas como calouro, com apenas 8.5 minutos por noite. Precisou ganhar seu espaço aos poucos, mostrando ser o atleta ideal para a mentalidade do exigente técnico Tom Thibodeau.

“Eu só preciso continuar trabalhando, não importa a situação. Não paro e não sou de descansar. Só quero seguir melhorando mais e mais, a cada treino, dia e ano. Então, diariamente, eu venho aqui e trabalho mais do que antes porque sei que posso mais e há alguém aí fora tentando ter o que tenho, ser melhor do que eu”, afirmou o jogador, após sua temporada de estreia na liga.

Publicidade

Ano a ano, o tempo de quadra do futuro astro aumentou. E isso levou-o até 2015: com as saídas de Luol Deng e Carlos Boozer, Thibodeau disse-lhe que a franquia precisaria de um salto de produção da sua parte. “Eu estou muito empolgado. É o momento pelo qual estou esperando e trabalhando há muito tempo. Agora, eu poderei mostrar o resultado de todos os treinos”, celebrou Butler, na época.

Aquele seria o pedido que mudaria sua carreira novamente – na verdade, elevando-a a um patamar que chegaria até a incomodá-lo nos anos que viriam.

Publicidade

“Eu não sou um astro. Sou apenas um bom coadjuvante, que assume o que meu time precisa como função – pontuar, passar ou defender. Gosto dos role players. ‘Astro’ é uma palavra que nunca esteve, está ou estará ao lado do meu nome”

(Jimmy Butler, em entrevista concedida em 2014)

 

Butler nunca se viu como um astro. Ou, pelo menos, nunca quis se ver. No entanto, encarar-se assim virou tarefa impossível a partir de 2015. Com médias de 20.0 pontos, 5.8 rebotes e 3.3 assistências, o ala-armador seria eleito para o Jogo das Estrelas pela primeira vez na carreira, liderou o Bulls até as semifinais do Leste e ganhou o prêmio de jogador que mais evoluiu naquela temporada.

Publicidade

“Jimmy é incrível. É um astro e decide jogos nos dois lados da quadra. Um jogador fantástico. Ele simplesmente entra em quadra e joga em qualquer posição, algumas em que nem tivemos a chance de treinar. É um cara inteligente e trabalhador duro, que faz o que seu time precisa e encontra formas de comandar-nos até termos uma chance de vencer”, exaltou o técnico Tom Thibodeau, em novembro de 2014.

Era uma situação estranha: ele chegou onde queria, mas tornou-se algo que nunca quis. Algo totalmente oposto ao seu perfil e história de vida: a estrela, o destaque. “Eu não sou um astro. Não sou. Nunca fui o melhor jogador do meu time e nunca vou ser, provavelmente. Mas não quero isso mesmo. O que eu sempre fui é o cara mais trabalhador, confiante e resiliente”, desabafou, “respondendo” o treinador.

Publicidade

Não adiantou essa resistência. Nas duas temporadas posteriores, Butler manteve o ritmo e subiu progressivamente as médias de pontuação para consolidar-se como referência técnica do Bulls. Era o rosto e aposta de um novo momento do time. O outrora menino sem teto conseguiria uma extensão contratual de US$95 milhões com a franquia, foi eleito para três quintetos ideais de defesa e ganhou a projeção que nunca sonhou ter.

Ele comprou uma mansão em área nobre da cidade, mas, acima de tudo, encontrou uma casa em Chicago. “Eu amo tanto Chicago. Eles me abraçaram e deram uma chance para mim em 2011, com a 30ª escolha do draft. Serei eternamente grato por isso, pela forma como todos me acolheram em um novo lar”, agradeceu o craque, em entrevista recente ao talk show de Jimmy Kimmel.

Publicidade

“Funcionou. Nós simplesmente nos demos bem”

(Mark Wahlberg, ator)

 

O estrelato nunca foi algo bem-vindo para o menino de Tomball, mas trouxe alguns benefícios inimagináveis. Um deles aconteceu no outono de 2013, quando o ator Mark Wahlberg decidiu tirar um descanso das filmagens de “Transformers – A Era da Extinção”, em Illinois, e apareceu no centro de treinamento do Bulls buscando alguém para jogar basquete. Butler, para variar, estava treinando lá.

Publicidade

“Mark chegou lá e simplesmente disse que estava a fim de jogar. Eu fiquei olhando, paralisado, pensando: ‘Cacete, esse é o primeiro famoso que conheço’”, relembrou o atleta, então com só 24 anos. Ambos jogaram, trocaram telefones e saíram para assistir a uma luta de boxe na noite seguinte, acompanhados da famosa entourage do ator. Foram dois dos dias mais divertidos da vida do jovem, mas ele admite que não soube como reagir depois.

“Eu fiquei receoso em enviar uma mensagem. Achei que seria estranho. Mark era um cara legal e gostaria de agradecê-lo, mas não queria incomodar. Deixei passar semanas e mandei algo como ‘só checando se está tudo bem’. Ele respondeu para que eu passasse em sua casa para conhecer a família quando o Bulls estivesse em Los Angeles. Fui. Desde então, viramos grandes amigos”, contou o ala-armador, em entrevista à revista Chicago Magazine.

Publicidade

Para Wahlberg, a admiração pela postura e história de vida do atleta sacramentou a decisão de apostar na amizade. “É empolgante ver um garoto de 20 e poucos anos que tem o mundo nas mãos, mas controla seu destino com brilho nos olhos e muito equilíbrio na cabeça. Tantos se aproximam de nós querendo algo e Jimmy sabe que essa relação não é por interesse. Só quero indicar-lhe o caminho certo”, explicou.

Mas o ator identifica-se em um nível ainda maior Butler: ele vê um jovem maduro, o que gostaria de ter sido aos 20 anos. “Quando eu tinha a idade de Jimmy, não tinha disciplina. Poderia ter ido muito mais longe. Você vai se arrepender se não der o máximo agora: olha para trás e verá que desperdiçou parte da vida pelas farras. Acho que ele entende muito bem esse sentimento”, completou.

Publicidade

Butler e Wahlberg tornaram-se tão amigos que, por três vezes, já fizeram viagens juntos para Paris nas férias da NBA usando o jato particular do ator de Hollywood. E o melhor de tudo: ele não se sente o astro, o destaque, com o indicado ao Oscar. “Esqueça o jogador de basquete: Mark sempre me liga e pergunta se o Jimmy está bem. Eu adoro esse cara!”, cravou.

Publicidade

“Chicago, o que eu posso dizer? Você foi mais do que minha casa nos últimos seis anos. Você foi minha vida!”

(Jimmy Butler, em postagem no Instagram)

 

O garoto sem-teto encontrou uma casa e ponto seguro em Chicago, mas todos já sabem que, antes de qualquer coisa, a NBA é um negócio. O Bulls chegou ao final da última temporada precisando de um recomeço e, no auge da carreira, Butler não podia parar. Ele não queria sair e disse várias vezes que não queria ser negociado, mas as linhas do tempo eram incompatíveis. Foi inevitável.

Publicidade

No draft deste ano, o ala-armador foi trocado com o Minnesota Timberwolves por uma proposta composta pelo armador Kris Dunn, o ala Zach LaVine e a escolha de recrutamento que rendeu o ala-pivô Lauri Markkanen. “Essa é uma decisão dura de ser tomada, pois trocamos um jogador de quem realmente gostamos. Mas, hoje, nós resolvemos mudar a direção da equipe porque precisávamos definir qual seria o nosso caminho”, disse o vice-presidente da franquia, John Paxson.

A troca parecia uma decisão óbvia, o caminho certo para todos os envolvidos, mas foi recebida com choque por Butler. Ele assegura que, semanas antes do draft, o próprio Paxson que defendia a transação havia garantido-lhe em uma reunião de que não seria negociado. Em sua mensagem de despedida, porém, preferiu fazer uma carta de amor ao seu lar adotivo do que críticas a qualquer um da franquia.

Publicidade

“Eu devo muito da pessoa que sou hoje e o jogador que tornei-me a Chicago. Você sempre me inspirou a dar nada menos do que meu melhor, pois é o que merecia. Espero que você saiba que dediquei minha vida todas as vezes em que entrei no United Center. Obrigado por acolher um menino de Tomball como se fosse um dos seus filhos. Chicago, eu te amo”, desabafou em sua conta no Instagram.

Mas, mesmo no ato final, a cidade e o Bulls tiveram participação em seu destino. Butler chegaria ao Twolves por indicação e influência direta do seu ex-técnico em Illinois, Tom Thibodeau. O treinador tinha problemas para implantar sua visão de jogo e dedicação junto ao jovem elenco de Minnesota e trouxe um de seus mais bem-sucedidos comandados para servir como um exemplo.

Publicidade

“Quanto mais se está com alguém, mais confiança existe entre vocês. Eu acho que conheço Jimmy muito bem. Sei o que valoriza e que, mais do que qualquer coisa, quer vencer. Para mim, o mais importante que trará é o que ele faz todos os dias. Como treina, prepara-se para os jogos, recupera-se. Ele vai mostrar aos nossos jogadores mais jovens o que aprendeu com a NBA”, justificou Thibodeau.

Por trás de uma atuação “abaixo do esperado” até agora, Butler vem justificando a aposta do técnico fazendo pequenos sacrifícios para que tudo dê certo. Seu usage (porcentagem de uso de posses de bola) é somente o quarto maior do time e seu menor desde 2015. Ele tem o segundo melhor net rating (saldo de pontos por 100 posses de bola) da equipe e o terceiro melhor índice de eficiência defensiva do elenco (105.1 pontos cedidos). Esse é o exemplo que o treinador buscava.

Publicidade

“Eu não gosto de falar do meu passado porque não quero que ele defina-me. Sou um grande jogador de basquete por conta do meu trabalho e pelas pessoas que estão ao meu lado. Se ficar preso a essas histórias, não vou mudar e melhorar. Serei eternamente aquele garoto – e isso não é o que sou hoje”

Publicidade

(Jimmy Butler, em entrevista em 2015)

 

Impulsionadas por sua incrível jornada até o estrelato na NBA, há “lendas urbanas” relacionadas a Butler que circulam por aí. É só procurar. Dizem, por exemplo, que ele retirou os retrovisores de todos os seus automóveis de uso regular como uma metáfora para nunca olhar para trás. Com ou sem retrovisor, o fato é que o astro aprendeu a deixar o passado onde deve – no passado.

Publicidade

“Eu não guardo rancor de ninguém. Já superei tudo isso há muito tempo. Ainda falo com meus familiares. Amo minha mãe e amo meu pai. Isso nunca vai mudar e não importa o que tenha acontecido”, explicou o ala-armador, em entrevista recente. Sua abordagem é muito simples: se renegar alguém nada vai acrescentar à sua vida, então não renegue.

Da infância pobre e “expulsão” de casa até as cobranças do estrelato no basquete universitário e da NBA, Butler trilhou uma daquelas trajetórias sensacionais que o cinema e os livros costumam contar. Trata-se de uma história que envolve várias das qualidades ditas lá no começo: o talento, empenho, vontade, resiliência, competitividade. Uma jornada para inspirar, não lamentar.

Publicidade

“Eu só peço que não escrevam sobre mim de uma forma que gere pena. Odeio isso. Não há nenhum motivo para sentirem pena em minha trajetória. No fim das contas, eu adoro o que aconteceu comigo e sou agradecido pelos desafios que já enfrentei. São eles que fizeram-me quem sou hoje”, concluiu o ala-armador, que conheceu a força que possuía nas adversidades de uma incrível jornada.

Publicidade

Esse texto marca o início da série “Grandes Histórias” do Jumper Brasil. Na primeira segunda-feira de cada mês, o site vai trazer uma grande matéria sobre atletas atuais e grandes ídolos da história da NBA. É uma abordagem diferente, abrangente, sobre as trajetórias de sucesso que formaram e formam a liga como conhecemos. Se você tem sugestões de pauta, por favor, deixe nos comentários!

Últimas Notícias

Comentários