Chaves da Formação #2: David Pelosini, do Pinheiros, aponta lacunas estruturais do basquete nacional

Lucas Torres entrevista técnico de base, que considera que modalidade no país precisa de gestão para ter melhora geral

Fonte: Lucas Torres entrevista técnico de base, que considera que modalidade no país precisa de gestão para ter melhora geral

Um dos principais centros de desenvolvimento de jovens jogadores de basquete do cenário nacional, o Esporte Clube Pinheiros se notabilizou, na última década, pela projeção de nomes como Bruno Caboclo (Houston Rockets) e Lucas Dias (Franca) — atletas que, hoje, figuram como nomes relevantes para a renovação da seleção brasileira.

Como sustentação desse trabalho de garimpo e aperfeiçoamento, profissionais como o atual treinador da categoria juvenil, bem como comandante principal da equipe do Pinheiros na Liga de Desenvolvimento Basquete (LDB) — David Pelosini, transcendem os muros do clube da capital paulista e frequentemente tem suas expertises aproveitadas pela Confederação Brasileira de Basquete (CBB).

Professor de Educação Física e mestre em Psicologia da Saúde, Pelosini — que há duas décadas é treinador de categorias de base, foi técnico da seleção brasileira na Copa América sub-18, em 2017, e — de lá para cá — tem comandado o Pinheiros ao status de ‘bicho papão’ das principais competições nacionais.

Publicidade

Foi ele o treinador do Pinheiros no bi-campeonato da LDB, em 2018 e 2019, bem como de competições como o Campeonato Brasileiro Sub-21 e Campeonato Paulista sub-19, ambos em 2019.

Além do trabalho dentro da quadra de basquete, Pelosini tem se disposto a agir como uma força aglutinadora dos profissionais da modalidade.

No ano passado, ele foi um dos fundadores do UOUS Basketball, iniciativa que reúne treinadores para um intercâmbio contínuo de conhecimento e para a produção de conteúdo relevante para a comunidade do basquete.

Publicidade

A fim de conhecer a visão do treinador do Pinheiros sobre os pilares da formação de jogadores de basquete na atualidade, o convidamos para esta segunda edição da série ‘Chaves da Formação’.
Confira abaixo a íntegra da entrevista:

Central do Draft – Como alguém que já comandou a seleção brasileira em torneios de base, quais são as principais dificuldades que a comissão técnica de seleção têm pra montar seu elenco hoje?

David Pelosini – Posso falar da minha experiência, e sem dúvidas , a falta de estatística e divulgação dos campeonatos regionais dificulta o trabalho da Comissão Técnica na hora de convocar. Precisaríamos de uma rede mais alinhada com o intermédio das federações para informar aos técnicos responsáveis da CBB  quem são os principais nomes de cada região para, assim, conseguir fazer a seleção do que temos de melhor em cada geração. Mas acredito que avançaremos nessa questão em breve.

Publicidade

Central do Draft – Na primeira edição da série, o treinador do Coritiba/Sociedade Thalia – Fabio Pellanda, comentou sobre o prejuízo pra formação causado pela falta de divisões inferiores do basquete profissional que propiciem que os garotos recém saídos das categorias de base possam ganhar experiência atuando minutos relevantes contra outros jogadores adultos.

Nesse sentido, gostaria de te perguntar sobre as oportunidades dos garotos que – em um primeiro momento – não serão aproveitados pela equipe adulta do Pinheiros, clube que forma atletas em grande quantidade e que nem sempre possui espaço para aproveitar todos eles de imediato no elenco profissional.

Publicidade

Existe uma espécie de ‘rede integrada’ com os outros clubes para permitir que esses jovens ganhem experiência no basquete profissional?

David Pelosini – Realmente, o Esporte Clube Pinheiros faz um excelente trabalho de formação e a prova disso são os inúmeros atletas que tiveram sua passagem na base por aqui e hoje são profissionais do NBB e em outras ligas.

Publicidade

Quando o técnico da equipe principal sinaliza que não deve contar com o atleta, já avisamos os clubes que possivelmente tenham interesse. É comum, durante a LDB, por exemplo, os técnicos perguntarem quais não ficariam no clube para, após o campeonato, fazerem o convite aos atletas que acreditam ter potenciais.

David Pelosini comandou o Pinheiros para conquistas consecutivas da LDB em 2018 e 2019

Normalmente o atleta que sai do clube no último ano de juvenil se coloca rapidamente no mercado, casos como Nicolas Oliveira, Lucas Augusto, Jonathan Oliveira, dentre outros — para citar a geração passada.

Publicidade

Este ano, a geração 2000 ficou toda no clube, com a nossa intenção de jogar o Brasileirão da CBB, que ,infelizmente, ainda não ocorreu. A ideia da nossa participação nesse campeonato é justamente encontrar uma forma de continuar investindo nesse desenvolvimento e aumentar as chances dos atletas de jogar futuramente no clube.

Central do Draft – Descreva algumas das principais características que te chamam a atenção nos jovens jogadores de cada uma das posições.

David Pelosini – Armadores: visão de jogo, interpretação de contexto e condução do ritmo a favor das características do seu time. Sua habilidade com a bola e liderança com seus companheiros

Publicidade

Alas Armadores: precisão nos arremessos e finalizações variadas, sua velocidade de deslocamento e técnica defensiva geral.

Alas / Laterais: observo o atleticismo, se briga bem nos rebotes e se possui volume de jogo dos dois lados da quadra. É importante ter voluntariedade e versatilidade.

Ala-pivô: assim como no que diz respeito aos alas, observo o atleticismo, se briga bem nos rebotes e se volume de jogo dos dois lados da quadra. Além disso, para essa função, é importante ter uma boa técnica de corta luz. No basquete de hoje, ser um bom arremessador de longa distância também é um diferencial.

Publicidade

Pivô: Voluntariedade e força geral. É fundamental também ser um ótimo ‘reboteador’ e defender bem a área restritiva.

Central do Draft – Não são raros os casos em que um jogador de destaque na categoria de base acaba não repetindo a mesma trajetória entre os profissionais. Quais são os sinais que você observa para identificar que determinado jovem atleta não irá traduzir seu jogo de maneira tão efetiva para o jogo adulto?

Publicidade

David Pelosini – A questão do aspecto físico é normalmente determinante na base. Um jogador muito forte fisicamente acaba destoando dos demais e, se não for bem orientado para desenvolver muito sua técnica aliada ao físico, pode ficar no caminho – infelizmente.

Tem também a questão da estrutura emocional. É preciso ter muita resiliência, pois início de carreira profissional é difícil e nem sempre um bom jogador na base percebe bem o impacto de não jogar o tempo que estava acostumado. Se ele entra poucas vezes e em momentos não tão determinantes, isso pode desmotivar.

Publicidade

Central do Draft – Pra você, quais são as principais lacunas dos jogadores formados no Brasil — que deveriam receber mais atenção dos responsáveis pelo desenvolvimento dos jovens atletas do país? Cite alguns pontos de carência que você observa em cada uma das posições do jogo.

David Pelosini – Armador: jogo de pick e jogo solidário (organização);

Ala-Armador: eficácia nas bolas de três pontos e domínio do drible;

Alas: vejo, em geral, uma parte física deficiente para a posição;

Publicidade

Alas-Pivôs: arremesso de três pontos e versatilidade defensiva;

Pivôs: a questão do entendimento do jogo.

Central do Draft – E se observarmos de uma ótima mais ampla na formação do atleta. Nas questões estruturais. O que o basquete brasileiro carece para retornar aos seus melhores dias de protagonismo no cenário internacional?

Publicidade

David Pelosini – Nosso basquete precisa ser massificado e, principalmente, melhor cuidado. Começamos a praticar muito tarde no país, nossa educação física deveria ser o alicerce desse trabalho e sabemos com quais condições nossos professores trabalham hoje, na grande parte do país.

Não acho justo depositar as lacunas de desenvolvimento somente em nossos coaches ou na cultura de nosso povo. Precisamos de gestão para que possamos melhorar como um todo.
Os pequenos polos são descobridores de talentos e os grandes polos desenvolvem os mesmos. Mas essa organização, pensando em começo, meio e fim, precisa ser melhor organizada e estimulada.

Publicidade

As escolas têm um papel fundamental nesse processo de iniciação desportiva.

O país precisa entender o papel do esporte na vida dos brasileiros e, assim, gerir políticas de esporte que beneficiem a prática de nossa modalidade e, dessa forma, oportunizar também o desenvolvimento humano.

Últimas Notícias

Comentários