Uma das histórias mais comuns do esporte, em todos os níveis e modalidades, é o jogador talentoso que nunca alcança seu verdadeiro potencial. O fato é que, para tornar-se um atleta de sucesso, é preciso muito mais do que talento ou habilidade natural. É necessário querer, e muito, ser um vencedor. No entanto, para alguns jogadores de ponta, profissionalizar-se e ganhar grandes quantias de dinheiro já parece o bastante. Em sua 12ª temporada de carreira, finalmente chegou a hora de desistirmos de Carmelo Anthony enquanto um vencedor.
O ala chegou ao Denver Nuggets no draft de 2003, que também trouxe nomes como LeBron James, Dwyane Wade, Chris Bosh, David West. Foi muito bem em seu primeiro ano, liderando uma equipe que havia conquistado 17 vitórias na campanha anterior aos playoffs. Evoluiu nos anos seguintes e a franquia qualificou seu elenco. O sucesso parecia questão de tempo, com recordes melhores a cada temporada. O melhor resultado viria em 2009: o time chegou à final do Oeste e perdeu para o Los Angeles Lakers (que seria campeão) em série de seis jogos bem competitivos.
Após esta boa temporada, o desempenho do Nuggets caiu e sofreu eliminação para o Utah Jazz ainda na primeira rodada. A derrota não refletiu o momento de Carmelo, que jogava seu melhor basquete até então e teve média superior a 30 pontos nos playoffs. Isso fez com que, a partir de 2010, surgissem especulações sobre a saída do astro de Denver. Iniciou um desgaste e tudo culminou com uma troca com o New York Knicks – há muitos anos em busca de uma estrela que pudesse colocar a histórica franquia de volta aos eixos.
O começo no Knicks não foi fácil. O craque lutou contra lesões, um técnico medíocre (Mike D’Antoni) e elenco de qualidade questionável. Mesmo assim, o time classificou-se aos playoffs nos dois primeiros anos. Na temporada 2012-13, parecia que finalmente veríamos Carmelo tornar-se o superastro que todos esperavam: liderou a NBA em pontuação, foi sério candidato a MVP e os nova-iorquinos venceram 54 partidas (segunda melhor campanha do Leste). Tudo acabou nas semifinais de conferência, ao ser batido pelo Indiana Pacers.
Apesar da derrota nos playoffs, o saldo era bem positivo. O ala parecia ter atingido a maturidade como jogador e finalmente estava pronto para conduzir o Knicks à glória. Parecia, porque o que veio a seguir foi deplorável. O Knicks fez um ano muito abaixo das expectativas e terminou com apenas 37 vitórias, fora da pós-temporada. Carmelo não repetiu o rendimento anterior e recebeu muitas críticas por isso. Perto do fim da campanha, a alta cúpula da franquia resolveu contratar Phil Jackson – técnico mais vencedor da história – para ser seu presidente de operações. Ele ficaria encarregado da montagem do elenco e da contratação de um novo treinador, sob sua filosofia. O ex-armador Derek Fisher foi o escolhido e Carmelo Anthony era a peça central dessa equipe. Muitos esperavam que o Knicks fosse ter uma evolução nesta temporada e pudesse se solidificar como potência do Leste posteriormente, sob o comando de um já veterano Anthony e com a filosofia vencedora de Jackson.
Mais uma vez, Carmelo não vem correspondendo e sucumbiu diante da pressão. O Knicks tem uma campanha ridícula (cinco vitórias em 25 jogos) e suas chances de chegar aos playoffs são puramente matemáticas. Ninguém acredita que a equipe possa reverter o cenário. E o que teria feito o ala? Pede e, em seguida, retira o pedido para ser trocado. No momento em que o time mais precisa dele, o astro da franquia mais famosa de uma das maiores cidades do mundo teria decidido sair.
Carmelo vem nos enganando há mais de uma década. Ele é um jogador sensacional. Possui um arsenal técnico ofensivo que pouquíssimos jogadores na história demonstraram, mas falta algo maior do que habilidade ou talento. Ele simplesmente parece não querer vencer. Não faz os sacrifícios que a equipe precisa faça em prol de um projeto maior. Por algumas vezes, ficou a impressão de que ele poderia ter amadurecido. No entanto, agora, quase em 2015 e com 11 anos de carreira, o ala parece mostrar uma vez mais que ainda é o menino imaturo que entrou na NBA em 2003.
É difícil acreditar que ele possa reverter esse cenário e tornar-se um campeão. Ocorre que a NBA já nos mostrou de tudo e o fator surpresa é somente mais um daqueles que compõem uma das ligas esportivas mais fascinantes do mundo. Se me perguntassem hoje se acredito que Carmelo ainda pode se tornar um vencedor, porém, minha resposta seria fácil: não. Ele já é um perdedor comprovado.