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O Portland Trail Blazers talvez seja a maior surpresa desta temporada. Se nas previsões, inclusive do Jumper Brasil, a equipe do Oregon era considerada carta fora do baralho por causa da reconstrução do elenco, na prática estamos vendo um time aguerrido e que vai brigar até o fim para chegar aos playoffs. Se a temporada regular terminasse hoje, o Blazers iria para a pós-temporada com a oitava melhor campanha da conferência Oeste (22 vitórias e 26 derrotas).
Saíram peças importantes como LaMarcus Aldridge, Wesley Matthews, Nicolas Batum e Robin Lopez. Todos titulares e jogadores consolidados da NBA. Só restou Damian Lillard do quinteto inicial das últimas temporadas. E o técnico Terry Stotts, que levou a equipe à pós-temporada nos últimos dois anos, foi mantido para o projeto de reformulação.
Admito que fui um daqueles que acharam que o Blazers brigaria pelas últimas posições do chamado “Oeste selvagem” e que “tankaria” ferozmente. Também pudera. Perder quatro titulares e suprir essas ausências com jogadores considerados de segunda e terceiro escalões não motivou muita gente a acreditar no time de Portland. Mas uma das graças do esporte é quando ocorre a surpresa, quando prognósticos são derrubados. É o que o esse Blazers, time com a folha salarial mais baixa da NBA (US$ 45,6 milhões), está fazendo. Em 2015/16, o time já angariou vitórias contundentes contra Cleveland Cavaliers, Oklahoma City Thunder e Los Angeles Clippers, equipes consideradas postulantes ao título.
Lillard, aos 25 anos, é o patrão do time de Portland em quadra. Ele assumiu o protagonismo com a saída de Aldridge e não decepcionou até o momento. O armador é o líder da equipe em pontos (24.3), assistências (7.0) e bolas de três pontos convertidas (123). Aliás, as médias dele em pontos e assistências são as melhores da carreira. Lillard é o sexto maior pontuador da temporada e o oitavo em passes decisivos na liga, o que comprova que ele não é um armador limitado a ser cestinha.
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E o companheiro de Lillard no backcourt é, na minha humilde opinião, o mais forte candidato a MIP (Jogador que Mais Evoluiu). C.J. McCollum, de 24 anos, desabrochou na liga, após duas temporadas amargando a reserva. Habilidoso e com repertório ofensivo de dar inveja, ele é o segundo cestinha do time (20.7 pontos) e o líder em aproveitamento nas bolas de três pontos (39.2%) e roubadas de bola (1.1), além de ser o 16o maior pontuador da liga. Sua média de minutos em quadra subiu de 15:41 para 35:07, o que já faz dele um jogador indispensável ao time. McCollum está mostrando consistência nos jogos e que não sente o peso de ser a segunda arma ofensiva de uma equipe em reconstrução.
Lillard e McCollum formam o segundo backcourt mais pontuador da temporada (45.0 pontos), atrás apenas dos “Splash Brothers” Stephen Curry e Klay Thompson (50.8 pontos). A dupla funciona muito bem porque ambos são capazes de criar o próprio arremesso e distribuir a bola. Quando Lillard descansa, McCollum permanece em quadra. E vice-versa. Ou seja, o Blazers sempre tem ao menos um deles em quadra para comandar o ataque.
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Quanto aos outros titulares, vale dizer que Al-Farouq Aminu, de 25 anos, foi contratado justamente por sua energia e disposição defensiva. Com Lillard e McCollum incumbidos de serem as principais peças ofensivas, era preciso trazer um ala que fosse um bom marcador. E Aminu está cumprindo bem o papel que lhe foi proposto. Você sabia que ele é dono do maior salário do time na temporada (USS8 milhões)? Os outros dois titulares do Blazers – Noah Vonleh e Mason Plumlee – formam um garrafão improvável e limitado ofensivamente. O primeiro ainda é muito cru e está crescendo de produção aos poucos. Mas temos que dar um desconto a Vonleh, afinal ele tem apenas 20 anos. Já Plumlee (25 anos), campeão mundial pela seleção norte-americana, em 2014, (sempre bom lembrar disso) é um pivô que não é especialista em proteger o aro, mas também não é uma negação nesse quesito. Ele vem sendo importante nos rebotes (líder do time nessa estatística, com média de 7.9) e nos passes (terceiro melhor do time em assistências, com média de 2.8), além de mostrar muita entrega quando está em quadra. Plumlee é um ótimo passador para um cara de 2,11m de altura, e só precisa aprimorar seu jogo de costas para a cesta para se tornar mais efetivo no ataque.
Complementando a rotação do time de Portland, temos o ala-armador Allen Crabbe, os alas Gerald Henderson e Moe Harkless, o ala-pivô Meyers Leonard e o pivô Ed Davis. Crabbe (23 anos) é o terceiro cestinha da equipe (11.3 pontos) e peça importante vinda do banco para ajudar o setor ofensivo. A temporada dele realmente está acima da expectativa. Henderson e Harkless brigam por minutos, mas nenhum deles chamou a atenção em Portland até agora, tanto que, provavelmente, devem deixar a equipe ao final da temporada (ambos têm contratos expirantes). Já Leonard (23 anos), que começou a temporada como titular na posição 4, é um big man que espaça a quadra com seus chutes de média e longa distância, e também tem bom passe. A mudança de Stotts foi acertada, pois Leonard rende mais vindo do banco. Mas é bom dizer que ele ainda mostra inconsistência. Fechando o time, Davis (26 anos) é o cara para fazer o trabalho sujo no garrafão. Ele é o segundo reboteiro do time (7.2) e, assim como Plumlee, atua sempre com muita garra.
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Vale ressaltar o grande trabalho de Terry Stotts à frente da equipe de Portland. Mesmo com um elenco muito pior que o dos anos anteriores, e com um time titular com média de idade de apenas 23.8 anos, ele está levando o Blazers a uma improvável pós-temporada. Perder uma estrela (Aldridge) e três titulares de bom nível (Matthews, Batum e Lopez), não trazer nenhuma peça de reposição confiável e ainda deixar o time na zona de classificação para a pós-temporada é para aplaudir o trabalho de Stotts, que comanda o Blazers desde 2012. Arrisco-me a dizer que ele merece uma menção honrosa no prêmio de técnico do ano. No time de Portland, todos têm os papéis bem definidos. Times bem treinados são assim. E Stotts ainda dá confiança aos seus comandados. Nas mãos dele, McCollum, Aminu, Crabbe e Leonard melhoram seus desempenhos. Vonleh, por ser o mais novo da turma, está demorando mais a se desenvolver, mas a tendência é que siga o mesmo caminho dos companheiros.
O jovem e reformulado Blazers tem o décimo melhor ataque da liga (média de 102.2 pontos), e ainda é o quarto em bolas de três convertidas por jogo (10.1), o quinto em rebotes (46.1) e o sétimo em eficiência ofensiva (107.1 pontos por 100 posses de bola). Nada mal, nada mal. Ah, e esse time está surpreendo tanto nesta temporada que o fantasma das lesões parece que não ronda mais a cidade de Portland. Que continue assim. Não quero nem pensar no que o Blazers poderia ter conquistado se tivesse Greg Oden e Brandon Roy saudáveis…
Mesmo que, no fim das contas, o time não consiga a classificação para os playoffs (a batalha contra Utah Jazz, Sacramento Kings e New Orleans Pelicans pela oitava vaga no Oeste promete ser feroz até o fim da temporada regular), o torcedor do Blazers deve ficar orgulhoso de sua equipe. Na primeira temporada após a saída de quatro titulares, o time está demonstrando que tem valor e que a base jovem pode trazer resultados ainda melhores em um curto espaço de tempo.
Na próxima temporada, o Blazers terá cerca de US$ 40 milhões de espaço na folha salarial para utilizar no mercado de agentes livres. Essa equipe com mais dois, três reforços de bom nível pode fazer barulho em 16/17. Que o bom trabalho da franquia de Portland possa servir de exemplo a algumas equipes como Philadelphia 76ers e Minnesota Timberwolves, que parecem que estão num rebuild eterno.