As expansões que deram certo

Vinte anos depois da fundação, Raptors e Grizzlies brilham e lideram a NBA em suas conferências

Fonte: Vinte anos depois da fundação, Raptors e Grizzlies brilham e lideram a NBA em suas conferências

Duas cidades canadenses ganharam o direito de formar equipes para a temporada 1995-96: Toronto Raptors e Vancouver Grizzlies. Pela primeira vez, desde a década de 40, o país teve a chance de receber jogos da NBA como mandantes e a partir de agora, você poderá entender um pouco mais sobre como os melhores colocados de cada conferência em 2014-15 foram criados.

No dia 30 de setembro de 1993, a NBA deu a Toronto a garantia de que poderia formar um time para disputar a liga pelo Leste pelo valor de US$ 125 milhões, um recorde até aquele momento. Entretanto, ainda não havia um nome para aquela franquia. Mais de dois mil nomes foram sugeridos no Canadá, entre eles Beavers, Bobcats, Dragons, Grizzlies, Hogs, Raptors, e T-Rex. A decisão foi feita a partir da enorme popularidade do filme Jurassic Park e ali nascia o Toronto Raptors.

Aposentado das quadras dois anos antes, Isiah Thomas, campeão pelo Detroit Pistons em duas ocasiões, foi selecionado como o gerente geral. Como parte do acordo, Thomas tornou-se ainda sócio minoritário da equipe.

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Até então, a NBA teria 28 times e procurava mais uma cidade para fechar a expansão com 29. Em abril de 1994, foi divulgado que Vancouver seria o representante canadense no Oeste. Ficou decidido que Raptors e Grizzlies fariam parte da temporada 1995-96.

O que vamos analisar hoje é a trajetória das duas franquias nas últimas 20 temporadas. Outras expansões deram certo, claro, e até foram campeãs. Mas a ideia é discutir muito do passado, o presente e o futuro apenas das duas.

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Formação dos elencos

Antes do draft convencional, a NBA avisou aos outros 27 times que teriam de proteger oito de seus jogadores. Os outros, poderiam ser escolhidos na seleção de expansão, no dia 24 de junho de 1995.

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O Raptors teve a primeira escolha e optou pelo armador B.J. Armstrong, ex-Chicago Bulls. Apesar disso, Armstrong foi trocado com o Golden State Warriors por Victor Alexander, Carlos Rogers, e os direitos de outros três jogadores em setembro. Entre os mais conhecidos, o time selecionou Jerome Kersey, ex-Portland Trail Blazes, Willie Anderson, irmão mais velho de Shandon Anderson, Oliver Miller, ex-Phoenix Suns, e John Salley, colega de Thomas nos tempos de Pistons.

Já o Grizzlies, foi em figuras muito faladas hoje em dia, como o atual comentarista Greg Anthony, ex-Portland Trail Blazes, e o técnico do Los Angeles Lakers, Byron Scott. Gerald Wilkins, irmão de Dominique e pai de Damien, que há dois anos teve sua última passagem na liga pelo Philadelphia 76ers, também foi escolhido.

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Damon Stoudamire

Quatro dias depois, o Vancouver teve o direito de escolher na frente de Toronto e selecionou o pivô Bryant Reeves, o Big Country, na sexta posição. Logo depois, veio o Raptors, com o armador Damon Stoudamire. As duas franquias tiveram apenas uma pick de primeira rodada.

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Primeira temporada

O primeiro jogo do Raptors teve direito a um ovo de dinossauro e de lá saiu o mascote. Neste vídeo, você pode acompanhar isso e o anúncio do quinteto titular.

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Os dois times eram muito frágeis, com jogadores obscuros, além de veteranos em fim de carreira. Mas foram justamente os jovens Stoudamire e Reeves que se destacaram. No dia 10 de dezembro daquele ano, o primeiro confronto entre as recentes equipes aconteceu em Vancouver, mas foi o Raptors que saiu com a vitória por 93 a 81.

Quando eu falo que o Grizzlies era frágil, você pode pensar ainda na palavra sofrível. Aquele resultado deixou o time com duas vitórias nas primeiras 20 partidas, enquanto o Raptors não era muito melhor, com sete triunfos e 14 derrotas. Stoudamire foi o destaque, com 24 pontos, oito assistências e sete rebotes. Reeves fez 18 pontos e apanhou nove rebotes.

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Longe, bem longe dos playoffs, o Raptors finalizou a fase regular com apenas 24 vitórias. Já o Grizzlies, venceu 15 jogos.

Os anos seguintes e  a mudança para Memphis

O Grizzlies mudou quase todo o seu elenco para 1996-97, mas resultado, que é bom, não teve nada. Consegui ser ainda pior, com 14 vitórias em 82 jogos disputados. Ao menos, chegava ali o talentoso Shareef Abdur-Rahim. O jogador era cotado para elevar a franquia a um novo patamar e ele atuava tanto como ala ou ala-pivô. 

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Ao lado de Reeves, Abdur-Rahim não teve tanto sucesso, entretanto. O Vancouver seguia com um grupo muito fraco de jogadores e vivia dando prejuízo aos seus donos por conta da mirrada bilheteria. 

Em 1998-99, a situação se agravou sensivelmente. Era ano de greve na NBA e a temporada esteve bastante ameaçada. A fase regular teve somente 50 partidas e nem mesmo o novato Mike Bibby atraía o público. Em média, pouco mais de dez mil torcedores acompanhavam aquele elenco, que teve oito vitórias.

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Vancouver Grizzlies

Para piorar a situação, o armador Steve Francis foi selecionado no draft de 1999, mas rejeitou jogar pelo time e foi trocado imediatamente para o Houston Rockets por jogadores que não deram resultado algum, exceto o ala-armador Michael Dickerson. Reeves se arrastava pelas quadras com o seu enorme corpanzil e pouco produzia.

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A baixa cotação do dólar canadense, aliada ao péssimo rendimento dentro e fora de quadra, o Grizzlies sucumbiu. 

Michael Heisley venceu a disputa pela franquia, a comprou, e moveu-se para Memphis, no Tennessee.

De camarote, Vancouver viu seu time indo embora e aquele que poderia ser o primeiro e único jogador a participar de um Jogo das Estrelas pela equipe, foi para o Atlanta Hawks. Ah, e ele foi para o All Star game no ano seguinte.

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A era Vince Carter

Enquanto o Grizzlies ia mal das pernas, o Raptors alcançou os playoffs logo em sua quinta temporada. Um dos principais responsáveis pelo êxito foi o ala-armador Vince Carter. No dia do draft de 1998-99, Carter foi trocado pelo Golden State Warriors pelo ala Antawn Jamison. Seu sucesso foi imediato.

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O astro foi eleito o Calouro do ano, era manchete de jornais e revistas especializadas, e tornou-se instantaneamente o queridinho de Toronto após as saídas de Damon Stoudamire e Marcus Camby.

Carter liderou o Raptors nos anos seguintes e, ao lado de seu primo, Tracy McGrady, fez uma das duplas mais intrigantes da NBA. No entanto, essa parceria durou apenas duas temporadas e McGrady rumou para o Orlando Magic para se tornar um dos melhores jogadores da década passada.

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http://www.youtube.com/watch?v=ImAMVqA6mug

A performance no Torneio de Enterradas, colocou Carter em inevitáveis comparações com Michael Jordan. Um cestinha, ala-armador, que ficava no ar o máximo de tempo possível, eram as receitas para tal. Mas paravam por ali. Peço para que vejam a sua terceira cravada e notem o quanto sua cabeça passou perto do aro. Na seguinte, ele vai com o cotovelo. Um absurdo.

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Carter era muito mais do que só enterradas, mas isso fazia parte de seu repertório. Os anos se passaram e o Raptors foi para três playoffs consecutivos. Mas duas temporadas ruins e o início de uma terceira que ia para o mesmo rumo, fizeram com que ele perdesse o estímulo de jogar. Era outro jogador em 2004-05. Desmotivado, chegou a dizer que não iria enterrar mais e após 20 jogos, foi trocado para o New Jersey Nets, hoje Brooklyn.

Grizzlies chega ao Tennessee

Por conta de constantes lesões, Reeves foi obrigado a se aposentar após somente sete anos. Abdur-Rahim já estava em Atlanta, e o Grizzlies precisava de novos ídolos com uma certa urgência. Um pivô espanhol magricela, mas muito habilidoso e um armador que presava mais o espetáculo do que as vitórias em si, foram as respostas.

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Pau Gasol

Pau Gasol chegava ao time com experiência no basquete internacional e com a fama de cestinha. Já Jason Williams, veio após uma troca com o Sacramento Kings por Bibby. Dickerson poderia ser a terceira força do elenco, mas uma sequência interminável de contusões o deixou de fora das quadras por muito tempo. Ele eventualmente retornou no ano seguinte, porém sem a menor chance de seguir jogando basquete e também parou de jogar, aos 27 anos. Nick Anderson, ex-Orlando Magic, chegou ao time, mas já veterano e era melhor ele se esquecer dessa passagem.

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Lorezen Wright, morto em 2010, e em 2011, também fez parte daquele elenco. 

Neste momento, você deve estar pensando: “Masto, você ficou louco? Ninguém morre duas vezes, sua anta”.

Eu sei. Acontece que quando fez um ano de seu falecimento, fiz uma matéria no meio de uma madrugada como se fosse novidade. Na verdade, eu acordei lá pelas 3h, abri o notebook e vi algo sobre sua morte. Não tive dúvidas e publiquei, postei no também finado Orkut, na minha antiga comunidade NBA Brasil,  e voltei a dormir. Por sorte, o xará Gustavo Lima viu e apagou. O problema é que outras pessoas viram e virou motivo de chacota. OK, merecido.

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Mas voltando ao Grizzlies, as vitórias ainda vinham de forma regrada, até que finalmente, em 2003-04, o time foi aos playoffs sob o comando de Hubie Brown, com figuras como Shane Battier, Mike Miller, Wesley Person, James Posey, Earl Watson, e o mito Bo Outlaw, além de Gasol e Williams.

Ir aos playoffs estava tornando-se uma rotina. Em três anos, o time sempre se classificou. O problema é que até então, jamais havia vencido uma partida na fase de mata-matas. Perdeu as três vezes por 4 a 0 na primeira rodada.

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A vida pós-Carter

Perder o melhor jogador da história da franquia por má vontade deixou o Toronto Raptors em uma situação delicada. Chris Bosh, em seu segundo ano na liga, e Mike James, tomaram conta do time. Oitava escolha no draft, o brasileiro Rafael Araújo chegou com pompas de bom pivô após ótimo desempenho em BYU. Acontece que foi um desastre do início ao fim. Sem condições técnicas, Araújo pouco atuava. Eventualmente, foi trocado para o Utah Jazz em 2006. O primeiro ano sem Vince Carter, o único time canadense remanescente, não obteve sucesso. 

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Rafael Araujo

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Bosh cresceu de produção na temporada seguinte e conduziu o Raptors aos playoffs nos dois anos seguintes. Bryan Collangelo, então presidente da equipe, primava por formar um elenco com estrangeiros, como o italiano Andrea Bargnani, os espanhóis Jose Calderon e Jorge Garbajosa, o argentino Carlos Delfino, além do outro mito, o esloveno Primoz Brezec, devidamente homenageado no meu fantasy

Mas Collangelo perdeu o rumo nas temporadas que vieram a seguir e o time ficou fora da zona de classificação pelos próximos cinco anos. 

A troca

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O promissor Mike Conley fora escolhido na quarta posição do draft de 2007. A equipe tinha em seu elenco Kyle Lowry, Darko Milicic, Damon Stoudamire, além de Pau Gasol e do queridíssimo Bobby Brown. Ninguém no mundo pode jogar por seis times em dois anos se não for muito querido e bom de vestiário, ora.

No entanto, em fevereiro de 2008, o Grizzlies fez uma das trocas até então mais estranhas de todos os tempos.

Marc Gasol Pau Gasol

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Mandou Gasol, seu único jogador a disputar um jogo do ASG até então, para o Los Angeles Lakers por  Kwame Brown, Javaris Crittenton, Marc Gasol, Aaron McKie, e duas escolhas futuras de primeira rodada. Todo mundo sabia que Brown já era um bust — um erro crasso de Michael Jordan na presidência do Washington Wizards. McKie era um veterano e já estava aposentado. Mas quem era Crittenton? E esse Gasol mais novo, era o que?

Bem, Crittenton é mais conhecido nas páginas policiais e pela polêmica que se envolveu com Gilbert Arenas. Não deu em nada. Já Marc…

Bosh levou seus talentos para a Flórida

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Em 2010, Bosh já era um jogador de nível All Star. Então, ele viu uma oportunidade única que o Raptors não poderia lhe dar naquela época, a de ser campeão. Ele se juntou aos astros LeBron James e Dwyane Wade no Miami Heat, onde conquistou dois títulos em quatro temporadas.

Sua saída deixou uma enorme lacuna no elenco canadense e Andrea Bargnani, Jose Calderon, e DeMar DeRozan, eram nomes sem grande impacto na época. Com Collangelo de saída, o time estava completamente perdido.

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Os últimos anos

Tanto Raptors, quanto Grizzlies, estavam em busca de uma identidade. Ir aos playoffs não era novidade, apesar de que o primeiro sofria com as saídas de seus ídolos. O time de Memphis já era uma realidade e em 2010-11, finalmente ganhou sua primeira partida em mata-matas e foi logo contra o San Antonio Spurs. Como se isso não bastasse, a equipe superou o Spurs na série e aos poucos mostrava-se competente.

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Marc Gasol, aquele questionado na troca, tornou-se peça fundamental no elenco e ganhou o prêmio de defensor de 2012-13.

Marc Gasol

Sim, trata-se da mesma pessoa

Mas havia algo que incomodava no Grizzlies. O time era extremamente previsível.

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Zach Randolph e Gasol eram as primeiras opções ofensivas, enquanto Conley coordenava o grupo dentro de quadra. Sem arremessos de longa distância, a marcação adversária dobrava em cima dos caras de garrafão, e sem grandes problemas, foram muito bem marcados por Tim Duncan e pelo brasileiro Tiago Splitter em 2012-13.

Dave Joerger herdou um grupo excepcional na defesa, mas que pecava muito no ataque. A eliminação na primeira rodada para o Oklahoma City Thunder em sete jogos, fez com que o time fosse atrás de jogadores de perímetro.

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Já o Raptors, contratou Masai Ujiri para o lugar de Collangelo. A ideia inicial era trocar Gay e Lowry, reformular o elenco, e sim, utilizar o ruim e velho tank

A primeira parte do projeto foi completada. Ujiri negociou Gay com o Sacramento Kings, todavia, para a surpresa geral, o time do técnico Dwane Casey deu liga. Lowry e DeRozan brilharam em 2013-14. A equipe encaixou, mas foi eliminada pelo Brooklyn Nets em sete partidas nos playoffs.

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Líderes das duas conferências

Vinte temporadas depois de serem fundadas, as duas franquias lideram neste momento a temporada 2014-15 em suas respectivas conferências. Não por sorte ou tabela fácil, mas sim, por conta de um planejamento, ainda que o Raptors tenha contado com a sorte.

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O Grizzlies deixou de ser unidimensional e o que aconteceu? O jogo de Gasol fluiu ainda mais. Faz sua melhor temporada da carreira e já é um dos grandes favoritos ao prêmio de MVP.

A volta de Quincy Pondexter — lesionado na temporada passada — é tida como parte importante do processo. Mas teve algo além.

O veterano Tayshaun Prince foi para o banco de reservas. Sem a menor condição de atuar como nos tempos de Detroit Pistons, Prince estava atrasando o Grizzlies. Tony Allen, um dos melhores defensores da NBA, agora tem ao seu lado o bom Courtney Lee. Não que Lee seja a resposta ideal, mas também defende com qualidade e não fica apenas esperando a bola chegar no canto da quadra. Ele ataca a cesta, arremessa, e inicia contra-ataques com Conley.

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Vince Carter chegou do Dallas Mavericks, mas nem de longe é o mesmo do Raptors. Bem mais maduro, ele se especializou nos tiros de longa distância e quase metade de seus arremessos saem dali desde 2011-12. Ainda não engrenou em Memphis, mas ainda pode contribuir, próximo de completar 38 anos.

Em Toronto, a vinda de Lou Williams tornou o banco ainda mais eficiente. James Johnson voltou após passagem pelo mesmo Grizzlies e trouxe uma defesa sólida.

Toronto Raptors

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Jonas Valanciunas parece que finalmente vai explodir. Não nos números, pois atua apenas por 24 minutos por jogo, mas como uma presença intimidadora dentro do garrafão e está ainda mais confiante nos arremessos.

DeRozan e Lowry possuem chances reais de All Star game. O primeiro já foi no ano passado. O outro está batendo na trave. Uma hora vai. 

Como disse Ricardo Stabolito em alguns de nossos programas, o Raptors consegue vencer partidas anotando 80 ou 120 pontos. É muito bom dos dois lados da quadra e consegue controlar o placar, adaptando-se a qualquer adversário.

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Duas décadas separam times que iniciaram o sonho da NBA das lideranças de hoje. Claro que é muito cedo e tem bastante água para passar debaixo da ponte. Mas seria um absurdo pensar nos dois como finalistas? 

Eu sei que o Oklahoma City Thunder ainda vai evoluir com os retornos de Kevin Durant e Russell Westbrook, que o Cleveland Cavaliers pode encorpar e brigar pelas primeiras posições do Leste, e que o San Antonio Spurs é sempre candidato. Porém, pela forma das duas equipes neste início, eu confesso que gostaria de ver isso acontecendo. Tenho minhas birras com o fato de o Grizzlies ser um time “pão duro”, mas é inegável que é legal assistir aos seus jogos.

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