Por Cainã Lima e Renan Ronchi
O Draft da WNBA, transmitido pela ESPN no dia 17 de abril, foi o recrutamento com a maior audiência da história, nos últimos 16 anos. Inegavelmente, a estrela em ascensão Sabrina Ionescu possui a sua parcela de “culpa”nisso.
Entretanto, outras ótimas jogadoras e possíveis nomes bem cotados para a próxima temporada foram selecionados em outras escolhas, ofertando boas opções aos elencos e atletas que valem a pena ficarmos de olho.
Portanto, compilamos todas as escolhas e analisamos time a time, levando em consideração a montagem do elenco e outros fatores, classificando-os de acordo com o seu desempenho através de imagens divertidas de Diana Taurasi, armadora do Phoenix Mercury e uma das maiores jogadoras de todos os tempos.
Notas: Perfeito / Bom / Podia melhorar / Tragédia
New York Liberty
Escolhas: Sabrina Ionescu (PG), Megan Walker (SG/SF), Jocelyn Willoughby (SF), Jazmine Jones (PG/SG), Kylee Shook (PF), Leaonna Odom (SF/PF), Erica Ogwumike (SG)
Renan: Perfeito. Não havia muito como errar para o Liberty. Ionescu é uma das atletas mais completas e transcendentais da história do basquete colegial e sequer cabia debate para outro nome com a primeira escolha. De quebra, o Liberty conseguiu uma pontuadora prolífica em Walker, cotada por todos os especialistas como uma escolha top-6 do draft, que tem bom encaixe com as demais peças do time. Essas duas escolhas permitiram que o time pudesse ser mais ousado nas escolhas seguintes. Nomes como Shook e Ogwumike são considerados crus e apostas de alto risco para jogar na liga – isso se, é claro, conseguirem uma vaga no elenco – mas diante das primeiras escolhas, a equipe tinha margem para arriscar. Um possível draft histórico para a equipe de Nova York.
Cainã: Perfeito. Ionescu é a adição perfeita, a atleta que a franquia precisa em quadra e fora dela. Com Brittany Boyd dispensada, eu apostaria que outras atletas estariam com os dias contados para acomodar as escolhas do Draft. Não é incomum que vejamos muitas escolhas a partir da segunda rodada sequer pisarem em quadra na WNBA. Mas apostaria que a dupla de Louisville estará devido ao seu valor defensivo e que Leoanna Odom não. De modo geral, o Liberty conseguiu bons talentos e um steal em Walker com um fit maravilhoso ao lado de Ionescu.
Dallas Wings
Escolhas: Satou Sabally (SF/PF), Bella Alarie (SF/PF), Tyasha Harris (PG), Luisa Geiselsoder (C)
Renan: Perfeito. A meu ver, o Wings foi o time que mais acertou a mão no draft de 2020. Sabally seria uma primeira escolha muito mais comentada se não fosse o talento estelar de Ionescu. Uma ala completa capaz de pontuar, pegar rebotes e passar a bola acima da posição – e com encaixe excelente com a jovem estrela do time Arike Ogunbowale. Alarie tem a mesma versatilidade para a posição, mas em uma escala menor. Tyasha Harris é a melhor criadora da safra depois de Sabrina e com um jogo sem bola que também a torna um complemento excelente ao elenco atual do Wings. De quebra, a equipe texana escolheu outra promessa alemã que tem relativo destaque nas seleções de base (Geiselsoder). Enfim, o Wings acertou em todas as escolhas.
Cainã: Perfeito. Satou Sabally seria, sem dúvida, a primeira escolha em outros anos e alguns a colocam à frente de Ionescu devido ao seu teto e versatilidade – opinião da qual eu discordo -, com possibilidades de estar na 3 ou 4. Allarie é uma das escolhas mais intrigantes do Draft devido às suas habilidades de big munidas ao drible de guard e à capacidade de espaçar a quadra. Imaginar a infinidade de formações possíveis com ambas acrescidas de uma das melhores playmakers da classe (Tyasha Harris) e o seu ótimo encaixe com Ogunbowale é uma tarefa muito divertida.
Indiana Fever
Escolhas: Lauren Cox (PF), Kathleen Doyle (PG), Kamiah Smalls (SG)
Renan: Podia melhorar. Cox é o encaixe perfeito para o Fever. Ela é uma pivô com um bom chute de três pontos e excepcionalmente ágil para defender jogadoras mais baixas, o que torna a combinação com Kelsey Mitchell e Teaira McCowan uma das histórias mais interessantes da próxima temporada. Nas outras escolhas, o Fever podia ter ido melhor. Doyle e Smalls são jogadoras sólidas em conferências fracas – e o fato que essas escolhas poderiam ter sido Dangerfield e Gillespie, duas atletas de potencial similar, mas testadas em um nível de competitividade muito maior, tornam essas decisões bastante questionáveis por parte da franquia.
Cainã: Podia melhorar. Mesmo que Cox não fosse selecionada, eu compreenderia o ponto de vista da equipe. Com Erica Wheeler e Kelsey Mitchell como as “únicas” alternativas, fica claro que a equipe possui uma alternativa mais confiável a longo prazo na armação. Mas Cox consegue aliviar o peso da criação de jogadas devido ao ótimo playmaking, o melhor entre bigs da classe. Essa é uma característica pouco ressaltada sobre ela, dado ao seu destaque na área pintada e como protetora de aro. Além disso, abrir mão de uma dupla formada por McCowan e Cox no garrafão me parece um desperdicío de escolha. Doyle, escolhida na segunda rodada, com Dangerfield disponível, é o que me motivou a descer duas pontuações da máxima. Gillespie também estava disponível e seria uma ótima alternativa para uma equipe que carece de playmakers que sejam constantes.
Atlanta Dream
Escolhas: Chennedy Carter (PG/SG), Brittany Brewer (C), Mikayla Pivec (SG), Kobi Thornton (PF)
Renan: Bom. Carter tem um teto questionável pelos problemas básicos em seu jogo, mas era um talento grande demais e com bom encaixe para o Dream. Escolher Pivec na terceira rodada foi um acerto enorme – uma ala-armadora versátil, eficiente e altruísta que foi bastante subestimada pelos scouts. Foi na segunda rodada que o Fever poderia ter selecionado apostas mais condizentes. Brewer teve um bom ano de senior, mas tem arsenal ofensivo bem limitado e joga em uma posição cuja adaptação é dificílima na WNBA. Poderiam ter feito apostas melhores em Kiah Gillespie e Beatrice Mompremier. Não fossem isso, a franquia teria acertado em todas as decisões.
Cainã: Podia melhorar. Carter era a melhor opção disponível na quarta escolha. Independente da posição dela na equipe, acredito que não selecioná-la seria um desperdício, mesmo que ela falhe em ser quem esperam que ela seja. Não apostar em Carter seria, possivelmente, deixar passar uma jogadora que tranquilamente poderia ser o rosto principal de outras equipes em breve. Atlanta tem um bom frontcourt com Elizabeth Williams e Monique Billings, mas dar uma oportunidade para Mompremier se desenvolver, sem urgência, provavelmente faria mais sentido. Seria mais lógico se escolhesse Te’a Cooper, por exemplo, uma playmaker que teria bom encaixe com Williams, Stricklen e as outras pivôs. Ao menos, a franquia apostou em Pivec na terceira rodada.
Minnesota Lynx
Escolhas: Mikiah Herbert-Harrigan (SF), Crystal Dangerfield (PG)
Renan: Bom. Talvez a análise mais difícil de ser feita seja sobre as decisões do Lynx nesse draft. Mikiah é uma especialista defensiva, considerada por muitos a melhor da safra no lockdown d, mas com diversas limitações no ataque que a colocaram como cotada para ser selecionada no fim da primeira rodada ou no começo da segunda. Existia a chance da equipe de Minnesota conseguir selecioná-la com sua escolha na segunda rodada, mas o medo de perdê-la fez a franquia usar uma escolha alta de primeiro round para selecioná-la. É uma boa aposta, mas que não soluciona a falta de profundidade na posição de armação da equipe. Para isso foi selecionada Dangerfield, armadora de UConn, com alguns problemas defensivos, mas que tem boa capacidade de criação. No geral foi um bom draft para o time. O que torna difícil a avaliação é que o ônus dessas escolhas foi perder a chance de escolher Tyasha Harris, uma armadora cujas principais qualidades encaixavam como uma luva no time do Lynx. Diria que se eu pudesse daria uma nota entre o ‘bom’ e o ‘podia melhorar’, mas como questionar o time que selecionou a caloura do ano na temporada passada com uma escolha de meio de primeira rodada? Por isso, fico no bom. Há crédito o suficiente para dizer que foi uma boa decisão de Cheryl Reeve e equipe.
Cainã: Podia melhorar. Me surpreendi com a seleção de Mikiah Hebert-Harrigan. Minnesota tinha a opção de resolver o problema da armação com uma das melhores playmakers do país (Tyasha Harris), mas sanou a necessidade com a amiga de Collier nos tempos de UConn (Crystal Dangerfield), e me aparenta ser sensato agradar a sua jovem estrela. Entretanto, Harris era obviamente a escolha que fazia mais sentido no momento. Dangerfield é acompanhada de alguns questionamentos sobre seu jogo que Harris não possui. Contudo, Harrigan não é ruim. Ela é uma das melhores defensoras da classe e é muito efetiva do perímetro, o que me impede de assinalar uma nota negativa. Além disso, a franquia “achou” a sua armadora, ainda que não seja a que todos esperavam. Tenho a sensação de que essas escolhas podem parecer piores dependendo do desenrolar da temporada e do contraste com as demais jogadoras que Cheryl Reeve optou por não selecionar, mas até lá são apenas especulações.
Chicago Sky
Escolhas: Ruthy Hebard (PF/C), Japreece Dean (PG), Kiah Gillespie (SF/PF)
Renan: Perfeito. O Sky foi bem demais nesse draft. Hebard provou-se no College ser uma ala-pivô perfeita para jogar com armadoras inteligentes, excelente em se posicionar para as sobras na dobra de marcação e nos rebotes ofensivos. Calhou do Sky ter talvez a armadora mais inteligente em atividade do planeta (Courtney Vandersloot). Dean é considerada uma jogadora muito eficiente em UCLA, tendo um recorde pessoal particular da universidade em aproveitamento nos lances-livres. De quebra, o Sky conseguiu um steal gigantesco ao selecionar Gillespie no terceiro round, uma ala que compensa a ausência de capacidade atlética com um arsenal ofensivo refinadíssimo e ótimo para a transição para o profissional. Enfim, o Sky selecionou um grupo de jogadoras que complementam bem o time, especialmente com a saída da espanhola Astou Ndour.
Cainã: Perfeito. De maneira geral, a liga dispersou seu talento e o aumentou bastante através do Draft. Caso nenhuma melhoria fosse apresentada em relação ao último ano, o recorde do Sky correria o risco de cair em “queda livre”, dado que não fez nenhum upgrade significativo na offseason – e sim removeu peças importantes. Dito isso, Hebard preenche essa lacuna e acrescenta ótimos ingredientes à receita do sucesso para o time de Chicago. Sem a ala-pivô Astou Ndour, Dolson teria menos flexibilidade e sofreria mais com faltas. Hebard resolve isso, e é uma ótima companheira de pick-and-roll para Vandersloot. Kiah Gillespie é um steal absoluto aqui, e eu não consigo lidar com a idéia de não tê-la no roster final. Japreece Dean não deve estar entre as 12 do elenco, a menos que o Sky queira dispensar Sydney Colson.
Phoenix Mercury
Escolhas: Te’a Cooper (PG/SG), Stella Johnson (PG)
Renan: Tragédia. O time fez uma boa escolha no primeiro round ao selecionar Jocelyn Willoughby, uma ala versátil de excelente encaixe com as estrelas do time, mas a trocou por uma jogadora extremamente limitada, com três anos de experiência na WNBA e pouca produtividade (Shatori Walker-Kimbrough). De quebra, o Mercury selecionou uma armadora interessante, mas que terá pouquíssimo espaço com a chegada de Skylar Diggins-Smith. Inexplicáveis as decisões tomadas pela franquia de Phoenix.
Cainã: Podia melhorar. Mikia Hebert-Harrigan faria bastante sentido aqui, mas o Lynx quis estragar meu Mock Draft. Ok. DeWanna Bonner ter feito as malas para o Connecticut Sun ofertou ao Mercury a chance de dar mais profundidade à equipe. Isso é bom. Entretanto, talvez não sobre espaço para a boa Te’a Cooper. Ela não é exepcional, tem seus problemas quanto à tomada de decisões, mas é regular do perímetro e tem boa visão de jogo. Infelizmente, ela pode ser descartada em um training camp fortíssimo com muitas jogadoras na posição. Diria o mesmo para Stella Johnson. Trocar Willoughby por Shatori Walker-Kimbroughy é, no mínimo, esquisito. Shatori é nova, mas produziu muito pouco em três anos, e Willoughby poderia ocupar espaços que Shatori não provou ser capaz. Um erro que estraga a avaliação. Apesar disso, acredito que Te’a Cooper possa se desenvolver como um ótimo backup.
Seattle Storm
Escolhas: Kitija Laksa (SF), Joyner Holmes (SF/PF), Haley Gorecki (SG)
Renan: Bom. Storm repete a fórmula que seguiu no draft anterior, selecionando um prospecto que já joga no basquete profissional fora do continente americano e que pode ser uma parte importante do futuro do time (Laksa). O Storm já é uma das equipes mais carregadas de talento da liga e não há pressa para trazer para o time nenhuma das escolhidas. Estratégia adequada para o momento que a equipe vive.
Cainã: Bom. Kitija Laksa é uma letã que se lesionou na sua última temporada da universidade e seguiu para o seu país-natal jogar profissionalmente pelo TTT Riga. Jogando na Europa, ela decepcionou com médias ruins. Entretanto, sua equipe estava ranqueada dentre as piores da última EuroLiga. Independente de não empolgar na forma recente, Laksa era fenomenal enquanto universitária, extremamente eficiente do perímetro e com arremesso surpreendentemente rápido. Contudo, a folha salarial do Storm está preenchida e os planos para ela são de permanecer na Europa mais uma ou duas temporadas.
Los Angeles Sparks
Escolhas: Beatrice Mompremier (PF/C), Leonie Fiebich (SG), Tynice Martin (SG/SF)
Renan: Bom. Sem escolhas no primeiro round, o Sparks conseguiu selecionar Mompremier, uma das pivôs de maior potencial nesse draft, mas cujas lesões no pé a colocam como uma aposta de alto risco. De qualquer forma, era o melhor talento disponível e a equipe angelina acertou na decisão. As demais jogadoras são consideradas cruas pra WNBA e devem não compor o elenco, mas ambas são reconhecidas pela sua defesa cima da média. Um bom draft para uma equipe que não buscava muitas coisas nessa safra.
Cainã: Bom. Quem diria? Mompremier selecionada aqui. Uma pivô que foi extremamente empolgante até lesionar o pé e que com certeza sairia bem mais alto não fosse a lesão. Apesar disso, ela caiu demais. Talvez por causa do receio com a lesão ou algo no exame que não saibamos? Talvez. Mas o Sparks não precisa dela agora. Está tudo bem. Acho que Mompremier terminará trocada se Vadeeva e Gulich conseguiram jogar a hipotética temporada atual. Leonie Fiebich e Tynice Martin não devem estar na equipe final. Se não conseguir utilizar Mompremier, ao menos é uma boa moeda de troca para o Sparks.
Connecticut Sun
Escolhas: Kaila Charles (SG), Juicy Landrum (PG/SG)
Renan: Podia melhorar. O Sun tem uma vaga no elenco e deseja ganhar profundidade entre as guards do time. Escolheu duas pontuadoras na posição com estilos muito diferentes – Charles é uma slasher de elite, muito boa pontuando na infiltração contra pivôs mais altas, enquanto Landrum é uma especialista no chute de três pontos. A questão é que o Sun teve a oportunidade de selecionar uma guard que, a meu ver, era mais pronta pro desafio que as duas. Falo de Mikayla Pivec, ala-armadora versátil que cumpre múltiplas funções em quadra e é tão consistente quanto às outras opções no volume de arremessos. Seria uma escolha mais condizente para as necessidades do time.
Cainã: Podia melhorar. O Sun terá um training camp recheado de convidadas. Por isso, fica difícil que as novatas estejam no roster final, dito que apenas uma vaga deve estar disponível e outras jogadoras com experiências anteriores na liga e na Europa também estarão no training camp. Lembrando que, por incompetência da franquia ou algo que não saibamos, Pivec e Gillespie caíram absurdamente e não foram selecionadas pelo Sun, o que prejudica as notas de maneira geral.
Washington Mystics
Escolhas: Jaylyn Agnew (SG), Sug Sutton (PG)
Renan: Bom. O Mystics não estava tão interessado nesse draft, usando sua escolha de primeira rodada na troca que recebeu a pivô Tina Charles. Fez duas apostas interessantes nas rodadas seguintes. Sutton é uma playmaker alta, com bom encaixe na equipe e experiência nas seleções de base nos Estados Unidos. Agnew é uma pontuadora com um arremesso muito consistente na sua conferência. É muito improvável que alguma das duas consiga uma posição no elenco, mas são boas jogadoras.
Cainã: Bom. Concordo com Renan, mas Agnew e Sutton provavelmente não estarão na liga. Mystics era uma equipe bem definida antes do Draft, e, com a chegada da pivô Tina Charles, a folha salarial só engessou mais e reduziu a zero a chance de ambas as novatas estarem no roster final.
Las Vegas Aces
Escolha: Lauren Manis (SF)
Renan: Bom. O Aces tinha apenas uma escolha no terceiro round, onde inevitavelmente escolheria uma aposta. Manis tem uma carreira colegial sólida como uma ala versátil em um nível de competição baixo. Vai ganhar uma oportunidade de compor o elenco e se provar na elite do basquete.
Cainã: Bom. Manis foi uma escolha interessante e exótica que pode estar na equipe final. O Aces tem nove contratos regulares (garantidos ou não) e possuem a ala-pivô russa Raisa Musina – que eu rezo que finalmente tenha sua oportunidade – , e as pivôs Avery Warley e Park Ji-Su. Lauren jogou em uma liga menor, mas foi uma arremessadora excepcionalmente consistente e boa defensora. Mesmo que seu jogo no garrafão não se traduza para a WNBA já seria uma aposta bem sucedida se ela conseguisse ter seus minutos como 3&D. Acredito que Manis terá sua oportunidade porque ela foi precisamente escolhida pelo Aces, e se a aposta der certo, dada as necessidades da equipe, poderia considerar um Draft perfeito.