O Los Angeles Lakers precisou perder 25 das primeiras 42 partidas para o astro Kobe Bryant entender que é necessário ser mais solidário para o time vencer. Não deu outra: o Lakers derrotou os seus últimos três adversários e jogando bem, com Kobe contribuindo muito mais com os seus colegas do que tentando arremessos, muitos deles forçados, o tempo todo.
OK, não é possível fazer milagre. No início da temporada 2012-13, Bryant buscava o passe para os seus companheiros, especialmente depois que Steve Nash se machucou, mas havia uma certeza tão grande de que o time venceria de qualquer forma, que a soberba acabou atrapalhando.
Mas como não entrar de salto alto se o time, que já era competitivo, contrata um armador do calibre de Nash e o melhor pivô da NBA, Dwight Howard? Aí olhamos para o banco e lá estão Antawn Jamison e Jodie Meeks, dois jogadores capazes de contribuir ofensivamente.
As coisas não foram exatamente como o esperado e o Lakers passou a ficar cada vez mais longe da zona de classificação para os playoffs. O time chegou a perder dez jogos em 12 disputados em janeiro e tudo estava ameaçado: Dwight Howard não renovaria, Pau Gasol seria trocado imediatamente, Mike D’Antoni não prestava, Jamison estava ultrapassado, o banco era um lixo, e Kobe, em fim de carreira, só queria ultrapassar os números de Jordan. Nesse meio tempo, quem foi o principal jogador do time? Metta World Peace, que faz sua melhor temporada desde que chegou ao Lakers, sempre com muita garra, não se importando se é como titular, se é de ala-pivô.
Pois bem, tudo mudou depois de uma conversa, muito mais uma lavagem de roupa suja entre jogadores e comissão técnica. Em princípio, parecia que não daria certo, até porque o time perdeu para o Memphis Grizzlies no mesmo dia por 13 pontos de diferença. Só que quando voltaram para Los Angeles, a forma de jogar foi outra.
Kobe passou a bola. Sim, é verdade. Se você não acompanhou as últimas três partidas do Lakers, o camisa 24 mudou da água para o vinho. O time venceu o Utah Jazz, com 14 pontos, 14 passes decisivos e nove rebotes de Bryant, e em seguida pegou o fortíssimo Oklahoma City Thunder. Para quem aguardava mais uma derrota da equipe californiana para um concorrente ao título, o que se viu foi o melhor jogo do Lakers na temporada. Kobe terminou com 21 pontos, 14 assistências e nove rebotes.
Ontem, o Lakers derrotou o New Orleans Hornets. Por mais que o Hornets não assuste muita gente nesse ano, Bryant foi sensacional, mais uma vez. Buscando ajudar seus colegas, ele obteve novamente 11 passes decisivos. O time venceu a terceira seguida.
Nesse período, os números do astro foram absurdos: médias de 16.3 pontos, 13.0 assistências e 8.7 rebotes, convertendo incríveis 58.8% de seus arremessos.
Sabe quando foi a última vez em que Kobe distribuiu dez passes decisivos ou mais em pelo menos três jogos consecutivos em temporada regular? Em janeiro de 2009. Ou seja, há quatro anos ele não fazia isso.
A culpa toda não é de Kobe, todos sabemos disso. Mas também é impossível isentá-lo de boa parte da má campanha atual.
Também não estou dizendo que ele é obrigado a passar a bola para o time vencer todas. Ele não é armador principal. Mas ao fazê-lo, quebra um pouco da marcação do adversário. O que é que um time pensa ao enfrentar Bryant? Que tem que marcar de perto porque ele vai tentar arremessar todas. Claro que quando você passa a distribuir a bola, envolver seus companheiros, o plano de jogo do oponente vai por água abaixo.
Tendo a possibilidade de passar mais, o marcador de Kobe nunca vai ter certeza do que ele poderá fazer. Será que ele vai para cima? Será que ele vai arremessar? E se ele passar para um cara livre? Assim, Bryant torna-se um jogador muito mais completo e difícil de ser parado.
Kobe fazendo o que fez nos últimos jogos, levará seu time aos playoffs e brigará pelo título. Disso, eu não tenho a menor dúvida. Ele ainda terá partidas de 30, 35 pontos na temporada, mas isso precisa surgir naturalmente, sem forçar arremessos antes de procurar seus colegas. Capacidade para isso, todos sabem que ele possui.