Quando um time está perdendo por 3 a 1 em uma final de NBA, é óbvio que você acredita que está acabado. O Golden State Warriors tinha a série nas mãos e precisava de apenas um triunfo para concretizar o seu bicampeonato. Dois desses jogos seriam em casa, e além disso, não havia perdido três partidas seguidas em toda a temporada. Mais que isso, jamais alguém virou esse placar em uma série que valia o título.
Lógico, o Warriors era o favorito. E de longe. O Cleveland Cavaliers estava abatido por conta de uma derrota em casa na quarta partida. Era o fim.
É claro que o Warriors tinha um time mais equilibrado. Os dois primeiros jogos da final mostraram isso. A vantagem era enorme. A equipe de Oakland tinha o técnico que havia sido campeão em seu primeiro ano de carreira. E tinha também os dois melhores arremessadores da liga. Como superar isso?
Porém, o que não contavam é que há oito anos, um certo LeBron James não perdia em um jogo 7 nos playoffs. Não contavam com Draymond Green cometer besteiras atrás de besteiras na pós-temporada. Não contavam com uma equipe virar uma final dessas. Ninguém contava com isso.
Sim, eu achei errado o Cavaliers demitir David Blatt quando o time era o líder da conferência Leste. Aquilo foi patético. Não sei se o resultado seria o mesmo se ele estivesse lá ainda, no entanto. Ninguém sabe.
Kevin Love, outrora um astro, teve uma final bem questionável, tanto que chegou a ir para o banco de reservas em dois jogos. Tyronn Lue optou pelo veterano Richard Jefferson. Teve coragem de colocar um jogador com um dos maiores salários no banco em uma final. Isso requer comprometimento.
O Cavs superou todas as adversidades para conquistar seu primeiro título. Podem, claro, usar a interferência da liga ao suspender Green da quinta partida como desculpa. Ou dizer ainda que aquilo foi feito para que a NBA tivesse um hipotético sétimo e decisivo jogo. Podem. Mas vou tentar ilustrar algo importante: Green mereceu ser suspenso. Simples assim. Ele merecia isso já na série contra o Oklahoma City Thunder. E aquela pontuação ridícula, que jamais vi para creditar faltas flagrantes a um jogador? Seria punido por ter sido sujo e assim aconteceu.
Mas essa quinta partida aconteceu onde mesmo? Em Oakland, casa do Warriors. Kyrie Irving e LeBron fizeram 41 pontos cada. Então, vi muita gente dizendo que o camisa 23 jamais repetiria isso com Green em quadra. E repetiu. Por fim, o último jogo. Novamente na Califórnia.
O momento já tinha ido. Era do Cavs, mas como ignorar o time que jogava em seus domínios, que havia quebrado o recorde de vitórias em uma temporada e que tinha Stephen Curry, Klay Thompson e Green? Impossível. Tinha de ser definido somente no fim.
Para chegar ao sétimo jogo, os dois times tinham a mesma pontuação. Cavs e Warriors anotaram 610 pontos cada nos seis primeiros embates.
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No entanto, mais uma vez, LeBron decidiu. Aquele que “pipoca”, aquele que se esconde no último quarto, o “amarelão”. O mesmo que só venceu quando precisou montar uma “panela” em Miami e que jamais seria campeão em Cleveland.
Aquele toco em cima de Andre Iguodala — o MVP das finais do ano passado — no fim, matou qualquer chance do Warriors. Depois do bloqueio, o então campeão jamais pontuou.
Irving ainda fez a cesta mais importante de sua vida, de três, que deixou o Cavs na frente por três pontos. Coube a James o último ponto da temporada. Em lance livre, pressionado após perder a primeira tentativa e depois de levar uma sarrafada de Green. Foi o que aconteceu.
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Faltou ao Warriors aquela sorte que o Cavs não teve no ano passado. Andrew Bogut se machucou gravemente, Green foi suspenso, Iguodala sofreu com dores nas costas, Harrison Barnes entortou o aro. Os arremessos de três não caíram quando mais precisava. Steve Kerr não tinha muito a fazer dessa vez. Vale lembrar que Bogut pouco atuou nos últimos jogos da final de 2014-15. Aqueles ajustes não funcionaram desta vez.
O Warriors perdeu o mesmo número de partidas nos playoffs que na fase regular. O time, até então imbatível, das 73 vitórias em 82 jogos, sai com 15 triunfos e nove derrotas na pós-temporada.
Lue fez o mesmo que Kerr no ano passado e foi campeão em seu primeiro ano como treinador. Não seria, se o time estivesse sem Irving e James. Não seria, se não tivesse mudado seu quinteto titular.
LeBron liderou a série em pontos, rebotes, assistências, roubadas e bloqueios. Conquistou o que prometera e deu ao Cavs o seu primeiro título com um triplo duplo. Incontestável!
Você pode odiar LeBron. Pode achar que ele é arrogante, babaca, imbecil, traidor, ou seja lá o que for. Mas ignorar o fato de ele ser um dos melhores jogadores de todos os tempos, e a forma com que ele conduziu o Cavs ao título, é sinal de que você precisa rever seus conceitos. Tem algum probleminha aí.
O Cavaliers venceu. O carinha que “pipoca”, também.