A pátria sem chuteiras

Começo o texto parabenizando o site Netshoes pela bela e infrequente iniciativa de conhecer o basquete em nosso país através da promoção “Loucos por Basquete”, realizada há alguns meses através do site da empresa e difundida por outros diversos sites especializados no esporte. O grande motivador destas palavras, entretanto, é justamente o resultado de uma ação que […]

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Começo o texto parabenizando o site Netshoes pela bela e infrequente iniciativa de conhecer o basquete em nosso país através da promoção “Loucos por Basquete”, realizada há alguns meses através do site da empresa e difundida por outros diversos sites especializados no esporte.

O grande motivador destas palavras, entretanto, é justamente o resultado de uma ação que penso ser bastante válida para a difusão da bola laranja. Eis que recebo um e-mail da Netshoes divulgando o resultado da promoção, que oferecia uma camisa da NBA a quem melhor respondesse a pergunta “por que você é louco por basquete?”.

“O grande ganhador do concurso foi Pedro Luciano Sorgato com a seguinte frase: ‘porque torcemos para a seleção que não veste chuteiras’”, dizia a mensagem.

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Méritos ao ganhador pela iniciativa e criatividade. Porém, para quem quer ver a solidificação do basquete no país, nada mais triste do que ver uma promoção de basquete terminar com a palavra “chuteiras”.

Sim, as mesmas chuteiras que tomam todo o espaço na mídia. Tudo neste país, quando o assunto é esporte, acaba em chuteiras. Inventaram o “SporTv 3”  que mostra jogo de basquete para quase ninguém enquanto garotos de 17 anos, de quem nunca ouvimos falar, estão no canal principal. Têm 17 anos, mas usam chuteiras nos pés. Logo, têm a prioridade.

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Nosso importado Rubén Magnano disse recentemente que a cultura do futebol era um empecilho para o basquete em nosso país. Chegou a citar programas esportivos dos quais participou antes das Olimpíadas, aonde a conversa invariavelmente terminava em futebol.

“Eu gostaria de ir a um programa em que o papo não acabasse em futebol, perguntando para qual time eu torço ou quem eu gostaria de ver ganhar determinado jogo”, são as palavras do técnico. Lamentável. Tão lamentável quanto aquele comentarista da TV – aquele que só sabe falar de vaca e pegar o microfone para cornetar os jogadores da NBA – defender o clássico Palmeiras x Flamengo ou de outros times de futebol no NBB, pois, segundo ele, precisamos desse apoio dos chuteirados para divulgar o nosso esporte. Peguemos carona, pois somos incompetentes.

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Claro que a culpa da pindaíba do basquete nacional não é do futebol. Longe disso. São décadas de erros que afastaram talentos e torcida. Mas enquanto aceitarmos que somos o “país do futebol”, pouco seremos nas outras modalidades.

O autor Jonathan Lockwood Huie certa vez disse que “pra mudar quem você é, mude quem você pensa que é”. E que você nunca mais seja – ou pense que é – o torcedor da pátria sem chuteiras.

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