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Final dos anos 90: Jordan volta e nasce a nova NBA
Depois de dois anos jogando baseball, Michael Jordan decidiu voltar ao basquete. Ele anunciou o retorno em uma entrevista, com poucas palavras: “I’m back” (eu voltei). Jordan entrou em quadra novamente nos meses finais da temporada 1994-95. Como sua camisa (#23) havia sido aposentada pelo Bulls, ele teve que vestir inicialmente outro número: a rara camisa #45, que hoje é item de colecionadores.
No quarto jogo pós-retorno, o craque já converteu um arremesso no estouro do cronômetro, diante do Atlanta Hawks, para dar a vitória ao Bulls. Logo em seguida, ele anotou 55 pontos contra o New York Knicks, no Madison Square Garden. Era tarde para salvar essa temporada, mas estava claro que os reis da NBA estavam de volta para retomar o trono. Chicago ganharia os três próximos títulos da NBA. Foi a consolidação do segundo tricampeonato da franquia.
Obviamente, o elenco de apoio a Jordan e Pippen mudou em relação ao primeiro “Three-Peat”. No garrafão, o instável Dennis Rodman chegou para ser mais um ídolo da torcida. Ron Harper e Steve Kerr davam conta da armação, enquanto o versátil Toni Kukoc assumia o papel de sexto homem.
Em 1995-96, o Bulls chegou à decisão após uma campanha sem precedentes na história da NBA. Com um começo de 41 vitórias em 44 jogos, o time estabeleceu um ritmo e sucesso nunca antes ou depois alcançado para terminar com recorde de 72 triunfos e apenas dez derrotas. Jordan, como previsível, foi eleito MVP pela quarta vez. A equipe de Chicago continuou avassaladora nos playoffs e perdeu só três partidas para chegar a mais um campeonato. Na decisão, os comandados de Phil Jackson encontraram um dos grandes times da década que acabaram um pouco “reduzidos” pelo sucesso do oponente: o Seattle Supersonics, liderados por Gary Payton e Shawn Kemp. Completavam aquele elenco finalista ainda atletas como Detlef Schrempf, Sam Perkins e Hersey Hawkins.
Na offseason de 1996, a NBA viveu um dos melhores drafts da história, com as chegadas de craques como Kobe Bryant, Allen Iverson, Steve Nash, Ray Allen, Stephon Marbury, Antoine Walker, Marcus Camby, Peja Stojakovic, Jermaine O’neal, entre outros menos conhecidos. Uma classe que ficou eternizada e que já teve alguns de seus principais integrantes anunciando aposentadoria recentemente.
A nova geração era excelente, mas ainda não era páreo para Jordan. Nos dois anos seguintes, o Bulls defenderia o troféu Larry O’Brien em duas vitórias contra o Utah Jazz. A forte equipe, treinada por Jerry Sloan, ficou eternizada por editar uma das duplas mais entrosadas e conhecidas da história do basquete: John Stockton e Karl Malone.
Em 1997, o Bulls chegou perto de repetir a lendária campanha das 72 vitórias: fechou o ano com 69 triunfos e 13 derrotas. Malone foi eleito MVP no lugar de Jordan, ajudado pelo Jazz ser a grande sensação da NBA. No entanto, Jordan protagonizou dois dos principais momentos da carreira nas finais para superar a novidade que vinha de Utah. Na primeira partida, Chicago venceu graças a um arremesso no último segundo convertido pelo ala-armador. O famoso “Jogo da gripe” viria dias depois, quando o craque enfrentou um vírus estomacal e sintomas de gripe para marcar 38 pontos – incluindo uma cesta de três com 25 segundos no cronômetro que selou o placar. Ao fim do duelo, ele caiu nos braços de Pippen, exausto, registrando uma das imagens mais famosas de sua carreira.
O Jazz teria a chance de revanche no ano seguinte, mas, como o Sonics, acabou como mais uma equipe ofuscada pelo legado da dinastia Bulls. Além de Stockton e Malone, o plantel tinha nomes como Jeff Hornacek e Greg Ostertag. Jordan ganhou seu quinto prêmio de MVP em 1998 e o time chegava aos playoffs com aura de campeão de novo, mas eles tiveram sua prova de fogo: na decisão do Leste, o Indiana Pacers, de Reggie Miller, forçou uma série de sete partidas. Na final, o Bulls venceu em seis jogos e MJ converteu aquele que talvez seja seu arremesso mais famoso até hoje. Com poucos segundos para acabar o sexto confronto, ele tinha a bola no topo do garrafão, conduziu para a direita e fez um drible para a esquerda, deixando o marcador (Bryon Russell) sem reação e criando separação para o chute vencedor. Até hoje, muitos dizem que Russell foi empurrado no lance. A arbitragem não entendeu dessa forma e o sexto título em oito anos seguiu para Illinois.
Após o sexto anel, Jordan anunciou sua segunda aposentadoria do basquete. Ele ainda voltaria nos anos 2000, para jogar pelo Washington Wizards, mas isso não adicionou nada a seu legado. Jordan era hexacampeão da NBA, cinco vezes MVP, hexa-MVP das finais, 14 vezes convocado para o Jogo das Estrelas (com três MVPs da partida festiva), duas vezes campeão do Concurso de Enterradas e muito mais. Foi, indo mais além, o jogador mais popular da história do esporte. As finais de 1998 continuam como a série de playoffs mais assistida da história.
A década de encerraria com o nascimento de outro grande campeão, em meio a uma circunstancia curiosa. O primeiro ano em que ocorreu um locaute expressivo na NBA foi 1999, quando liga e jogadores demoraram meses para decidir o novo acordo coletivo de trabalho. A temporada ficou parcialmente comprometida e os times disputaram apenas 50 jogos. A decisão envolveu o New York Knicks, de Patrick Ewing, e o San Antonio Spurs, equipe de pouca expressão que ascendeu com a chegada do ala-pivô Tim Duncan em 1997. Apenas dois anos depois de recrutado, ele faria dupla com David Robinson no garrafão para dar o primeiro título aos texanos.
Muitas outras equipes não receberam citação aqui e marcaram época no período, mesmo sem terem conquistado títulos. Uma delas, por exemplo, foi o “Run TMC” do Golden State Warriors, que recebeu o nome graças ao estilo rápido implantado por Don Nelson e as iniciais dos seus três atletas-pilares – Tim Hardaway, Mitch Richmond e Chris Mullins. O apelido era uma brincadeira com o grupo de hip hop Run DMC.
Esta também foi a década em que o basquete entrou de vez na grande mídia, com o crescimento de sua popularidade nos grandes centros dos EUA, especialmente entre o público afro-descendente. O impulso serviu para os anos 1990 produzirem vários fatos culturais importantes para o basquete – como, por exemplo, o advento dos tênis de grandes companhias incorporados ao vestuário de atores e cantores de hip hop. Videogames, como NBA Jam, ajudaram a popularizar o estilo livre de jogo e o streetball, basquete de rua e sem regras, ganhou maior popularidade.
O basquete tomou de vez seu lugar entre os grandes esportes a nível mundial na década de 1990. Estabeleceu-se toda uma cultura acessória e a modalidade agora tinha um rei a ser desbancado. Nos anos seguintes, próximo capítulo de nossa série, acompanharemos como a NBA aproveitou o salto de popularidade para criar um novo equilíbrio entre suas franquias e expandir-se em nível global. Além, é claro, do surgimento de novos ídolos que estão até hoje no topo da NBA.