Por Ricardo Romanelli
Nessa semana, se tornaram públicos detalhes sobre a auditoria conduzida nos atos da diretoria executiva da NBA Players Association – NBAPA (Associação dos jogadores da NBA), órgão ao qual os jogadores são filiados e que, sob o comando do Diretor Executivo Billy Hunter, tem o dever de representar os interesses dos jogadores perante a liga.
A investigação independente foi conduzida pelo escritório de advogados Paul, Weiss, Rikfind, Wharton & Garrison, e disso foi produzido um relatório de mais de 500 páginas, enviado aos jogadores na última quinta-feira.
Dentre os fatos constatados pelos procedimentos investigatórios, observa-se que Hunter tentou investir milhões de dólares em um banco de New Jersey que estava experimentando dificuldades financeiras, próximo à falência. Ocorre que o filho de Hunter, Todd, era um dos diretores deste banco.
Além disso, o relatório traz acusações que, apesar de um tanto vagas, se revelam graves atitudes caso comprovadas. Diz que Hunter criou uma atmosfera onde os jogadores e membros do Comitê Executivo eram desencorajados a desafiar sua autoridade, impedindo que fossem analisadas condutas escusas onde ele tomava decisões com claros conflitos de interesse, favorecendo a parentes e amigos de Hunter, em detrimento dos jogadores.
Durante o locaute de 2011-12, Hunter foi, assim como em 1999, figura central nas negociações. Por vezes, teve uma postura irredutível, e acabou fechando um acordo pior do que muitos acreditavam ser possível meses antes.
Trocando em miúdos, ele teria demorado muito tempo para fechar um acordo que estaria disponível meses antes, por qualquer motivo que ainda não estaria claro.
O relatório conclui que, apesar de não haverem evidências de que Hunter tenha tido conduta criminosa, os jogadores deveriam repensar sobre a manutenção dele como Diretor Executivo, pelas condutas conflitantes e aumentos salariais que, em tese, não teriam aprovação dos jogadores.
Hunter, ao comentar o relatório, disse que apesar de discordar de muito do que estava escrito ali, ao menos estava satisfeito pelos auditores terem afirmado que ele não teve nenhuma conduta criminosa. Declarou ainda que os aumentos em sua remuneração foram aprovados pelos representantes dos jogadores.
Este assunto ainda deve ser levado a frente, até porque o Procurador-Geral dos Estados Unidos continua coletando provas e ouvindo testemunhas em sua própria investigação sobre o tema.
No entanto, a partir de já podemos tirar algumas conclusões.
A primeira delas é que esta não é a primeira crise institucional que vemos na NBA em suas várias instâncias. Ingerências de donos de time perante a liga, abusos de poder do Comissário, escândalos de arbitragem e, agora, condutas no mínimo duvidosas nos assuntos da Associação de Jogadores.
O importante é que todas estas questões venham a luz, para que seja possível investiga-las e conduzir os assuntos com maior transparência.
Numa liga onde já se viu de tudo, de trapaças no draft a negociações de salário “por fora” com agentes livres, de resultados influenciados pela arbitragem a mudanças de regra para favorecer estilo de certos jogadores e, até mesmo, o absurdo veto do Comissário a uma troca por até hoje não esclarecidas “razões de basquete”, a NBA tem que tomar cuidado para não chegar ao ponto do descrédito popular.
O basquete, e por consequência a NBA, nunca foi o esporte mais popular nos EUA. Em algumas regiões do país chega a ser o quarto esporte apenas na preferência da população. Até por isso acompanhamos o esforço pela internacionalização da liga na última década.
Justamente por isso, a NBA deve ter um sistema transparente e vinculado a princípios e diretrizes bastante sólidos. Se um esporte ganha fama de “corrupto”, “arranjado” e “encenado”, vai perder audiência e vai encolher, o que não é interessante para ninguém.
O Boxe, por exemplo, que é um esporte maior do que o Basquete nos EUA, perdeu grandes níveis de audiência justamente pelas constantes trapaças nos resultados e corrupção dos promotores do evento. O resultado disso na relação causa/efeito foi o fortalecimento do MMA, esporte de combate que cativou os fãs de luta.
A NBA é uma liga grande, forte, muito bem organizada e com uma marca muito sólida. No entanto, existe um limite para os arranhões que essa marca consegue sofrer antes que fique para sempre estigmatizada.
A quantidade de escândalos já se aproxima de seu limite e, se em todas as instâncias não forem feitas mudanças, podemos ver um encolhimento da liga que resultará em pior qualidade do esporte.
O armador Deron Williams, que se destaca por sempre descer do muro e ter um posicionamento claro sobre as coisas, disse defender uma mudança “de cima a baixo” no comando da NBAPA, no que ele tem razão. Em um momento de crise como esse, não há oportunidade melhor para defenestrar tudo aquilo que há de ruim na organização e instituir novas e melhores práticas.