Após 17 temporadas na NBA, Kobe Bryant sofreu nessa sexta-feira, na partida contra o Golden State Warriors, a sua pior lesão: ruptura do tendão de Aquiles, um temor para quem é esportista. Aos 34 anos, Kobe enfrenta, a partir de hoje, a maior batalha de sua carreira.
Mesmo não sendo torcedor do Los Angeles Lakers (sou adepto do Phoenix Suns), confesso que fiquei muito triste com a notícia. Acima de tudo, sou fã do basquete. Quero ver todos os grandes jogadores em quadra. E Kobe é um dos maiores da história, um dos gênios do basquete. Um atleta que honra o esporte, que sempre deu o máximo em quadra. Cinco vezes campeão, quarto maior cestinha da história da NBA, além de diversos outros prêmios. Ninguém é obrigado a gostar de Kobe. Ou a odiá-lo. Mas todos devem respeitar o que ele já fez em uma quadra de basquete.
A reação de companheiros, adversários e fãs, nas redes sociais, demonstra o quão importante Kobe é para o esporte. O ala LeBron James, do Miami Heat, escreveu em sua conta no Twitter: “Cara, me sinto mal por Kobe Bryant. Se há alguém capaz de voltar de uma lesão como essa é ele. Tudo de bom, Kobe”!
O armador Chris Paul, do rival Los Angeles Clippers, também deu força a Bryant pelo Twitter. “Orações para meu amigo Kobe. Na esperança de que ele se recupere rapidamente. Não tenho nenhuma dúvida de que ele voltará forte”!
Não culpem D’Antoni
Bryant é a alma do time angelino e vinha fazendo de tudo para ajudar seu time a chegar aos playoffs. Nos últimos sete jogos da equipe, ele teve médias de 45 minutos em quadra. O Lakers venceu seis dessas partidas e Kobe foi o principal nome em todas elas. Suas médias nesses jogos? 28.8 pontos, 7.3 rebotes, 8.4 assistências e 2.1 roubadas de bola.
Muitos já devem estar culpando o técnico Mike D’Antoni pela lesão de Bryant e dizendo: como pode um treinador deixar em quadra por tantos minutos um jogador de 34 anos? Não façam isso. Kobe vinha tendo esse tempo de quadra porque era a sua vontade, não a do treinador. Ele sabia dos riscos e angariou uma grave lesão em um lance ‘bobo’. Foi uma fatalidade. Não se esqueçam que a disputa com o Utah Jazz pela oitava vaga da conferência Oeste continua em aberto graças ao que Bryant fez nas últimas partidas.
E que temporada atribulada a do Lakers… Demissão de técnico, várias lesões, disputas internas no elenco, derrotas e mais derrotas para um time tão bom no papel. O golpe final foi a lesão de seu melhor jogador. Como será a reação do time a dois jogos do fim da temporada regular?
Vale lembrar que, na próxima offseason, Kobe vai entrar no último ano de contrato com o Lakers. Vai receber 30,5 milhões de dólares, valor que é superado apenas pelos 33,1 milhões de dólares que Michael Jordan recebeu na temporada 1997/1998. Alguns analistas da NBA já estão falando que o time angelino deve anistiar Bryant, já que, dificilmente, ele jogará a próxima temporada. Será? Ainda é cedo para falar sobre isso…
A força de Kobe
Desde a temporada de estreia na Liga (1996/1997), o camisa 24 do Lakers deixou de atuar apenas em 107 dos 1.346 jogos de sua equipe. Quantas vezes vimos o Black Mamba entrar em quadra com uma lesão e, mesmo assim, fazer a diferença a favor do Lakers?
Kobe já sofreu diversas lesões no pulso, no tornozelo e já passou até por cirurgia no joelho direito. Em 2011, foi revelado que o jogador tinha um problema irreversível na cartilagem articular do joelho. Ele foi até a Alemanha e se submeteu a um procedimento inovador para acabar com as dores no joelho, que o perseguiam desde 2003.
“Kobe é o jogador mais forte com quem já trabalhei em qualquer esporte. Não importa o que aconteça com ele, Kobe sempre vai encontrar uma forma de jogar”. As palavras são de Gary Vitti, que lidera a junta médica do Lakers há quase 30 anos.
O tendão de Aquiles…
A recuperação de uma ruptura no tendão de Aquiles é lenta. Pode levar de seis a nove meses. Pode levar mais tempo. E pode até encerrar a carreira de um atleta. Vamos relembrar alguns casos de jogadores que já sofreram essa grave lesão.
O ex-armador do Detroit Pistons, Isiah Thomas, parou de jogar, aos 32 anos, depois de romper o tendão de Aquiles. Em fevereiro do ano passado, o já veterano armador Chauncey Billups, do Los Angeles Clippers, também sofreu a temida lesão. Nove meses depois, ele voltou a jogar, mas ainda sofre para ficar saudável. Billups, de 36 anos, atuou em apenas 20 jogos nesta temporada.
Já o ex-ala Dominique Wilkins, lendário jogador do Atlanta Hawks, protagonizou um dos maiores retornos da história da NBA. Ele sofreu a lesão em janeiro de 1992. Wilkins, na época, tinha 32 anos. Muitos pensaram que a carreira dele estava acabada. Que nada. Oito meses depois, ele voltou a jogar. E de forma espetacular. Com médias de 29.9 pontos, 6.8 rebotes e 3.2 assistências, Wilkins ajudou o Hawks a se classificar para os playoffs da temporada 1992/1993. Outro detalhe: após a lesão, Dominique ainda foi selecionado para mais duas edições do All-Star Game e jogou até os 39 anos.
Ferido, Black Mamba desabafa e promete voltar
Torço para que Kobe repita a façanha de Wilkins. É muito triste pensar que a partida de ontem tenha sido a última dele na NBA. Na entrevista pós-jogo, o Black Mamba, amparado por um par de muletas e com lágrimas nos olhos, refutou a ideia de parar. E, como era esperado, prometeu lutar para voltar a jogar.
“Essa é disparadamente a pior lesão da minha carreira. Não consigo nem andar. Não será fácil, mas eu vou me recuperar. É um sentimento terrível, terrível. Estou me sentindo devastado, destroçado. É uma experiência nova para mim. Obviamente, um monte de jogadores já tiveram a mesma lesão. Tudo o que posso fazer é ver o que eles fizeram para voltar. E eu vou voltar. É simples o que vai acontecer aqui: exame, operação, recuperação e quadra”, afirmou o astro do Lakers.
Algumas horas depois do final da partida, Kobe fez um desabafo emocionante em seu perfil no Facebook. O post dele já tem quase 350 mil curtidas. Confira, abaixo, na íntegra, o depoimento do Black Mamba.
“Todo o treinamento e sacrifício acaba de ser jogado pela janela por conta de um movimento que eu já fiz milhões de vezes em quadra. A frustração é insuportável. A raiva é furiosa. Por que diabos isso aconteceu?!? Não faz sentido algum. Agora eu tenho que voltar disso e ser o mesmo jogador ou melhor aos 35 anos?!? Como é que eu vou fazer isso? Eu não tenho ideia. Será que tenho mesmo vontade suficiente para superar isso? Talvez eu deva sentar numa cadeira de balanço e lembrar como era a minha carreira. Talvez seja assim o fim da minha história. Talvez o Pai Tempo tenha me derrotado. Ou talvez não. São 3h30 da madrugada, meus pés parecem um peso morto, minha cabeça está girando por causa dos analgésicos e eu estou acordado. Perdoem o meu desabafo, mas para que servem as mídias sociais se não levarem para vocês a real imagem do que está acontecendo? É bom desabafar, colocar para fora. Sentir como se isso fosse a pior coisa do mundo, de todos os tempos. Depois de todo desabafo, a realidade sempre vem à tona. Há problemas muito maiores no mundo do que um tendão de Aquiles rompido. Pare de sentir pena de si mesmo e comece a trabalhar com a mesma crença, a mesma direção e a convicção de sempre. Um dia, o início da jornada de uma nova carreira terá início. Hoje não é esse dia. Se você me vir brigar com um urso, reze pelo urso. Sempre gostei dessa citação. Essa é a mentalidade ‘mamba’ de não desistir, de não se acovardar, de não correr. Nós resistimos e conquistamos. Talvez agora eu possa realmente dormir um pouco e estar animado para a cirurgia amanhã. É o primeiro passo de um novo desafio. Acho que vou ser o Coach Vino pelo restante desta temporada. Eu tenho fé nos meus companheiros de time. Eles vão passar por isso. Obrigado a todos pelas orações e pelo apoio. Muito amor, sempre”.
Alguém duvida da capacidade de recuperação de Kobe? Eu não. Não desista, Black Mamba! Os fãs do basquete já esperam ansiosos pelo seu retorno. A sua história na NBA não pode acabar desse jeito. A maior batalha de sua carreira está apenas começando.