O ano de 2019 foi, certamente, marcante para a história contemporânea. Podemos dizer que foi o último período vivido antes do mundo parar. Ou quando vimos o mundo parar, de fato. Tivemos a volta triunfal – e breve demais – do ícone João Kléber ao “Teste de Fidelidade”. E, por fim, vivemos uma offseason de grandes acontecimentos. Sim, pois a agência livre da NBA em 2019 foi daquelas, loucura mesmo.
E, aliás, você lembra de tudo o que aconteceu? Eu não lembrava, para ser sincero, então separei algumas coisas que marcaram essa agência livre que deu o que falar!
1. Durant e Irving juntos
O que aparentava ser a grande decisão da agência livre, na verdade, foi resolvida antes mesmo do mercado reabrir. Todos os sinais apontavam que Kyrie Irving e Kevin Durant queriam jogar juntos e, por isso, as franquias criavam flexibilidade para assinar dois contratos máximos. Esperava-se uma grande concorrência, com aquelas turnês de visitas para vários times, mas não aconteceu.
Antes do início oficial da offseason, a notícia de que o Brooklyn Nets era a escolha da dupla já foi veiculada. Vínculos máximos para ambos e, além disso, levaram a tiracolo o amigo DeAndre Jordan com um contrato “bondoso” (US$40 milhões por quatro anos). Foram, no total, quase US$350 milhões em quatro temporadas comprometidos com esse trio.
Todos esperavam uma novela global dessa dupla. No entanto, no fim das contas, a agência livre dos astros foi um daqueles filmes biográficos editados em minissérie.
Vale lembrar, para concluir, que os dois craques renunciaram a muitas coisas para jogarem juntos. Irving, antes de tudo, gerou controvérsia (para variar) ao voltar atrás em uma afirmação de que renovaria com o Boston Celtics. Saiu, assim, pela porta dos fundos da franquia. Durant, por sua vez, deixou aquele Golden State Warriors pentacampeão do Oeste naquele momento.
2. Dando tchau a um ídolo
Kemba Walker, em síntese, era uma marca no Charlotte Hornets. Por isso, ninguém questionava se a equipe ofereceria um contrato máximo ao armador. Afinal, ele é o maior pontuador da história da franquia e bastante comprometido com um mercado pouco atrativo. Então, a offseason veio e jogou convicções por terra.
Primeiramente, o time ofereceu um contrato muito abaixo do máximo ao armador. Isso foi interpretado como um convite de saída para, talvez, o maior jogador da história do Hornets. O Boston Celtics, por sua vez, conseguiu contratá-lo para ser substituto de Kyrie Irving. E a estratégia de substituição de Charlotte, no fim das contas, foi dar quase US$20 milhões anuais para Terry Rozier.
A franquia da Carolina do Norte foi considerada, antes de tudo, louca na época. O tempo, no entanto, tratou de fazê-la parecer apenas desrespeitosa com um ídolo.
Kemba, em particular, passou a sofrer com mais lesões na carreira e nunca voltou a ser aquele astro do Hornets consistentemente. Rozier tem um bom rendimento pelo time, mas, ao mesmo tempo, nunca foi o futuro da armação. Hoje, a equipe está presa novamente ao nível de mediocridade de antes de 2019, mas, pelo menos, com uma base jovem e viés de crescimento.
3. Uma questão de grana
A NBA é um negócio acima de esporte, então todos estão jogando com uma mão na bola e outra no bolso. Ninguém mostrou isso com mais clareza, aliás, do que o ala Marcus Morris na offseason de 2019. De uma maneira, inclusive, até deselegante. O jogador, primeiramente, acertou contrato de duas temporadas e US$20 milhões com o San Antonio Spurs. Mas sua agência livre não acabou ali.
Em seguida, ele simplesmente não compareceu para realizar exames médicos para os texanos. Isso foi um sinal claro de que o negócio não estava tão fechado assim. O que aconteceu, então? É que Morris recebeu proposta de US$15 milhões por um ano do New York Knicks. Ele disse que comprometeu-se cedo demais, estaria mais perto da família em Nova Iorque e, por fim, “deu para trás”.
A direção do Spurs ficou furiosa com a situação, certamente. Afinal, o time trocou um atleta (Davis Bertans) só para abrir espaço na folha salarial e contratá-lo.
“Perder Davis, antes de tudo, foi muito mais difícil do que imaginam. Isso foi uma situação infeliz, pois acabou conduzida de maneira amadora em vários níveis. Nós trocamos um jogador especial para fazer esse negócio e, enfim, fomos totalmente sacaneados”, reclamou Gregg Popovich. Sete meses mais tarde, o Knicks trocaria Morris para o Los Angeles Clippers – ou seja, para jogar do outro lado do país.
4. Quando dois querem…
O Philadelphia 76ers tomou, certamente, uma das decisões mais decisivas para sua situação atual em 2019. A franquia resolveu não ter a renovação com Jimmy Butler como prioridade para trazer o experiente Al Horford. E, por isso, o ala-armador não facilitou as coisas para o Sixers. Ele queria que dessem um jeito de fazê-lo assinar com o Miami Heat, dono de uma das folhas salariais mais engessadas da NBA.
O que aconteceu a seguir, em suma, foi a prova de que se dá um jeito quando time e jogador querem fazer acontecer na NBA.
Os especialistas do Heat, então, orquestraram uma das mais intricadas sign-and-trades já vistas. A engenharia financeira para trazer Butler envolveu, a princípio, quatro equipes. Cederam Josh Richardson para uma delas. Empacotaram escolha de primeira rodada de draft com Hassan Whiteside para outra. E assumiram, por fim, o péssimo contrato de Meyers Leonard com uma última.
Miami estaria nas finais da NBA, na bolha, depois de pouco mais de um ano. O que comprova, portanto, que o ousado exercício financeiro valeu a pena. O Sixers, por sua vez, estava louco para negociar o vínculo de Horford na mesma época. Todos conseguiram o que queriam inicialmente, mas o resultado lá na frente acabou sendo bem diferente.
5. A verdadeira novela
Durant e Irving não entregaram a novela que se esperava, mas Kawhi Leonard veio ao resgate com uma agência livre dramática. Teve idas e vindas, muitas especulações e, enfim, uma reviravolta doida no final. O então campeão e MVP das finais, com a expressividade do Steven Seagal, entregou entretenimento. E o que esperamos de uma agência livre, no fim das contas, além de surpresas e entretenimento?
O então ala do Toronto Raptors teve reuniões com todos os interessados no fim de semana inicial da offseason. Então, ele retirou-se dos holofotes por uns dois dias e deixou os rumores aumentarem sozinhos. O gerente-geral da franquia canadense, Masai Ujiri, criticou o que chamou de “play-by-play” da agência livre do veterano. Enquanto não havia notícias diretas, todos começaram a “especular no vazio”.
Houve, por exemplo, quem falasse que Leonard “cozinhava” a própria situação para criar condições de ser contratado pelo Los Angeles Lakers. Horas antes da decisão, do nada, o Raptors ganhou força nas casas de apostas para mantê-lo. Aquele dia, certamente, foi louco.
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Quando volta a comunicar-se com os interessados, Leonard simplesmente provoca uma corrida maluca nos bastidores. O craque diz que quer atuar com Paul George e, por isso, assinará com a equipe que adquirir o então jogador do Oklahoma City Thunder. Ou seja, ele transforma sua própria agência livre em um tipo de gincana mediada por Sam Presti. Só imagine como foi essa tarde e noite!
Esse encaminhamento, antes de tudo, quase eliminou o Lakers como destino. Os angelinos, afinal, haviam “queimado” inúmeros ativos para trazer Anthony Davis meses antes. Enquanto isso, o Thunder tinha ideias sólidas sobre o que queria de Los Angeles Clippers e Raptors. Toronto não quis “vender” seu futuro por quatro anos da dupla de astros. O Clippers quis, mas pagou historicamente caro.
Foram o robusto contrato expirante de Danilo Gallinari, o talentoso Shai Gilgeous-Alexander e, além disso, sete futuras escolhas de primeira rodada. Cinco delas foram entregues inteiramente, enquanto duas foram trocas de posição. O preço, em síntese, foi praticamente de dois astros mesmo.
O anúncio, em uma madrugada no Brasil, foi uma bomba. Não só Kawhi Leonard seria jogador do Clippers, mas, do nada, Paul George também estava chegando ao “primo pobre” de Los Angeles.
6. Montando o campeão
O Golden State Warriors chegou às finais de 2019, mas acabou derrotado e sofreu várias baixas no elenco. A equipe passou dois anos sem chegar aos playoffs para, finalmente, conquistar o título mais uma vez em 2022. As bases do time campeão agora foram lançadas naquela offseason, embora não pela negociação que muitos imaginavam. Afinal, exceto Durant, Klay Thompson era a bola da vez.
O Warriors, de fato, tomou uma grande decisão ao dar uma extensão máxima para Thompson mesmo com grave lesão no joelho. No entanto, eu acho que outros dois negócios foram tão ou mais importantes nesse processo. Para não perder Durant de graça, por exemplo, Golden State conseguiu trazer D’Angelo Russell junto ao Nets. Além disso, venceu batalha com o Houston Rockets para manter Kevon Looney.
Looney assinou contrato de US$5 milhões por ano para revelar-se um dos melhores pivôs dos playoffs desse ano. Enquanto isso, Russell renderia Andrew Wiggins e escolhas de draft em uma negociação subsequente. O ala canadense tornou-se o improvável “3-and¬-D” tão difícil de ser encontrado para suprir vaga de Durant e, antes, Harrison Barnes. E Jonathan Kuminga, aliás, foi um dos draftados.
Nem o próprio Warriors, certamente, poderiam imaginar que Wiggins e Looney seriam mais importantes do que Thompson ao longo dos playoffs.
7. O conto de dois “contratos ruins”
A internet veio abaixo com a possibilidade confirmada de Khris Middleton e Tobias Harris assinarem contratos máximos em 2019. Afinal, as pessoas diziam que seus times pagariam US$180 milhões por jogadores que não são as “segundas opções ofensivas de times campeões”. O Milwaukee Bucks e Philadelphia 76ers, por isso, foram duramente criticados pela opinião pública por manterem ambos.
O torcedor, certamente, não entende que existem muito mais variantes do que o puro valor em negociações assim. Bucks e Sixers, em suma, precisavam manter ambos a todo custo. Caso não fizessem, perderiam um ativo importante sem ter flexibilidade para contratar substituto minimamente a altura. Então, não havia muita escolha. Era renovar ou renovar e, por fim, o mercado dita o valor.
Hoje, a maior parte das redes sociais segue criticando o contrato de Harris. E faz isso porque, no fim das contas, errou retumbantemente sobre o outro.
Middleton nem precisava ser a tal “segunda opção ofensiva de time campeão” se o Bucks fosse simplesmente campeão, mas foi. Revelou-se a versátil combinação de criação no perímetro para complementar a força Giannis Antetokounmpo, acima de tudo. No entanto, sempre é preciso lembrar que sua renovação foi colocada no mesmo balaio de Tobias Harris apenas três anos atrás.
8. E o Knicks, hein?
Todas as offseasons tem vencedores e derrotados, para resumir. E o derrotado-mor de 2019 foi, certamente, o New York Knicks. A franquia negociou Kristaps Porzingis pela ilusão de ser protagonista no mercado de agentes livres, podendo ofertar dois contratos máximos. Mas, simplesmente, nenhum dos grandes nomes manifestou interesse. Muitos deles, aliás, sequer conversaram com a equipe.
O fracasso, no entanto, não para por aí. Durant e Irving, seus principais alvos, não só esnobaram o Knicks, mas assinaram com o “primo pobre” da cidade: o Nets.
Excluído da “festa”, então, os nova-iorquinos fizeram o que só esperamos de uma equipe sem rumo. Disparou o dinheiro no mercado pelos atletas ainda disponíveis, bem como um Tony Montana, apenas para dar uma satisfação ao torcedor. Quase todos foram contratos curtos, que não comprometeram em longo prazo, mas a mensagem foi dada. Ninguém assinará com o Knicks só por ser o Knicks.
A equipe acertou um tiro previsível em Julius Randle, primeiramente. Em seguida, vieram negócios que a torcida gostaria de esquecer. O “pacotão” de reforços do Knicks naquela offseason lembrou o futebol brasileiro do início dos anos 2000. Contrataram, por exemplo, Taj Gibson, Elfrid Payton, Reggie Bullock e Wayne Ellington. Para dar uma aliviada, ao mesmo tempo, o novato RJ Barrett estreou.
9. Você lembra desses contratos?
Qualquer agência livre ainda tem, por fim, aqueles contratos que a gente apaga da memória de tão aleatórios. Ou a gente até lembra, mas nunca acreditou muito que tenha realmente acontecido. Então, lá vai dez “casamentos” que ocorreram há três anos apenas e mal lembramos…
– Markieff Morris assinou com o Detroit Pistons (dois anos, US$7,4 milhões)
– Al-Farouq Aminu assinou com o Orlando Magic (três anos, US$29 milhões)
– Ricky Rubio assinou com o Phoenix Suns (três anos, US$51 milhões)
– Trevor Ariza assinou com o Sacramento Kings (dois anos, US$25 milhões)
– DeMarre Carroll assinou com o San Antonio Spurs (três anos, US$21 milhões)
– Bobby Portis assinou com o New York Knicks (dois anos, US$31 milhões)
– Jabari Parker assinou com o Atlanta Hawks (dois anos, US$13 milhões)
– Stanley Johnson assinou com o Toronto Raptors (dois anos, US$7,4 milhões)
– Jeff Green assinou com o Utah Jazz (um ano, US$2,1 milhões)
– Willie Cauley-Stein assinou com o Golden State Warriors (um ano, US$2 milhões)
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