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Há alguns dias, exaltei na conta do Jumper Brasil no Twitter a excelente fase que vive o Utah Jazz, sensação da temporada pós-All-Star Game. Disse, inclusive, que o time de Salt Lake City merecia ser assunto de artigo no site.
Pois bem, chegou o momento de falar do Jazz e analisar uma reconstrução de elenco que deveria servir de exemplo para alguns times da liga. A equipe treinada por Quin Snyder, cujo quinteto titular tem uma média de 22 anos de idade e 2,06m de altura, venceu 11 dos últimos 14 jogos disputados e é dona da melhor defesa da NBA, ultrapassando Memphis Grizzlies e Indiana Pacers, dois dos melhores times defensivos dos tempos recentes.
A chegada de Snyder
A reconstrução de elenco do Jazz começou em 2011, com as saídas de Deron Williams e do veterano técnico Jerry Sloan. Dois anos depois, Mo Williams, Randy Foye, Paul Millsap e Al Jefferson deixaram o time. Na última temporada, a equipe amargou a pior campanha da conferência Oeste sob o comando de Tyrone Corbin, muito em parte pela falta de maturidade do elenco e de um técnico mais qualificado.
Em um passo decisivo para o sucesso do rebuild, o Jazz mudou o comando da equipe na última offseason. Após ficar mais tempo que o necessário com Corbin (quase três anos e meio), a franquia buscou Snyder, que tem uma longa e respeitada carreira como assistente na liga – foi auxiliar de Mike Budenholzer no Atlanta Hawks -, e na NCAA trabalhou com Mike Krzyzewski. Ele está mostrando que era mesmo o cara certo para o cargo, pois vem sendo importante para o desenvolvimento de seus jovens comandados.
Snyder, que tem contrato até 2017, abraçou a filosofia de remontar o time com calma. Como era de se esperar, muitas dificuldades foram enfrentadas no começo do trabalho, já que o novo treinador foi aos poucos conhecendo o elenco. Com um sistema de jogo mais cadenciado, em que o time valoriza cada posse de bola, uma consistência defensiva de dar inveja, e algumas mudanças de peças ao longo da temporada, o Jazz embalou após o All-Star Game. Pelo ótimo trabalho mostrado em 2014/15, Snyder merece uma menção honrosa ao prêmio de técnico do ano.
O elenco
A equipe de Salt Lake City moldou seu elenco com várias escolhas de draft (Trey Burke, Dante Exum, Alec Burks, Rodney Hood e Gordon Hayward) e jovens jogadores obtidos em trocas (Derrick Favors e Rudy Gobert).
O detalhe é que os sete atletas citados, que formam a base da equipe, têm idades que variam entre 19 e 25 anos, ou seja, ainda há muito o que evoluir. Como Burks está fora da temporada já há algum tempo por motivo de lesão, vou centrar minha análise nos outros jogadores.
Burke começou a temporada como o armador titular, mas perdeu essa condição há dois meses. É notório que ele ainda precisa melhorar a seleção de arremessos (está chutando pior que em sua temporada de estreia – 36.8% contra 38%). O treinador Snyder percebeu que Burke poderia render mais vindo do banco, que penava para pontuar.
O novato Exum, que tem um QI de basquete superior a Burke, é mais alto e melhor defensor, virou o titular na posição 1. O jovem australiano ainda carece de um arremesso mais consistente, mas você percebe que o talento está lá, que ele é um diamante a ser lapidado. Ponto para Snyder.
Ainda no perímetro, percebemos que Hayward continua sendo o líder da equipe em quadra. Ele é um jogador que faz de tudo um pouco, o chamado all-around, que contribui na construção das jogadas, na defesa e nos arremessos. Na última offseason, Hayward renovou seu vínculo com o time por mais quatro anos. Nesse período, ele irá receber US$ 63 milhões.
Além de Hayward, o Jazz tem o novato Hood, outra bola dentro da franquia no último draft. Depois de um começo tímido, com pouco tempo de quadra, e atrapalhado por lesões, o ex-companheiro de Jabari Parker na Universidade de Duke, começou a render naquilo que é sua especialidade – os arremessos de longa distância. Desde que virou titular, há quatro jogos, Hood acertou 50% das tentativas de bolas de três pontos (10-20) e teve uma média de 16 pontos. E vale dizer que ele também vem ajudando na defesa, algo que não fazia muito na NCAA.
Desde as publicações pré-draft de 2014, já mencionava que o time de Utah precisava de um jogador com essas características. Em 2013/14, o Jazz teve o sexto pior aproveitamento nas bolas de três pontos. Já nesta temporada, o time é o 16o nesse quesito.
É no garrafão que reside a grande mudança para a melhora absurda do Jazz na defesa. Após a saída de Enes Kanter, sempre criticado pela preguiça defensiva, Gobert virou o pivô titular, passou a ter mais minutos em quadra e o time passou a contar com um especialista em proteção do aro.
É sempre bom lembrar que Gobert foi selecionado pelo Denver Nuggets no draft de 2013 (pick 27) e trocado pela escolha 46 do time de Utah (Erick Green), mais considerações em dinheiro. Ponto para o GM do Jazz, Dennis Lindsey, no cargo desde 2012.
O francês forma uma grande dupla com Derrick Favors, outro bom defensor de garrafão. Favors, que veio para o Jazz na troca que culminou na saída de Deron Williams, pode atuar nas posições 4 e 5 e, além da contribuição defensiva, ajuda no ataque. É nítida sua melhora nos arremessos de média distância, sobretudo os da cabeça do garrafão (51.9% nesta temporada contra 28.1% em 2013/14). Favors tem contrato com o Jazz até 2018.
No quesito proteção do aro, Gobert é o primeiro da liga. Ele limita os adversários a um aproveitamento de apenas 38.9%. Seria exagero mencionar o francês no prêmio de melhor defensor da temporada? Favors não fica muito atrás. Ele é o quinto nessa estatística, com os adversários acertando 44.1% dos arremessos. Isso que é garrafão trancado!
Números de Gobert na temporada (67 jogos): 7.6 pontos, 8.8 rebotes, 2.3 tocos, 61.4% de aproveitamento nos arremessos de quadra, 24 minutos em quadra
Números de Gobert após virar titular (últimos 14 jogos): 10.3 pontos, 14.8 rebotes, 2.8 tocos, 59.6% de aproveitamento nos arremessos de quadra, 34 minutos em quadra
O Jazz levou, em média, 102.2 pontos na última temporada, 13o pior da liga. Já em 2014/15, o time sofre, em média, 95.0 pontos, e passou a ter a melhor defesa da NBA. A equipe lidera a liga em defensive rating – número de pontos permitidos por 100 posses de bola (89.7), net rating – diferença entre o número de pontos anotados e sofridos por 100 posses de bola (+12.1) e no percentual de rebotes coletados (55.8%). Além disso, desde o Jogo das Estrelas, o Jazz vem limitando seus adversários a apenas 82.8 pontos. Uau!
Futuro
Para o draft deste ano, em que deverá ter uma escolha de final de loteria (provavelmente entre 9 e 13), acredito que o Jazz vá buscar um bom arremessador, já que a defesa da equipe está sólida e o ataque ainda deixa a desejar – quinto pior da temporada, com média de 95 pontos anotados. Mario Hezonja, Kelly Oubre Jr. e Devin Booker seriam os mais indicados.
Outra opção seria selecionar um big man para ser trabalhado vindo do banco de reservas e que tenha características diferentes de Favors e Gobert. Myles Turner e Frank Kaminsky, que têm a capacidade de pontuar do perímetro, seriam boas adições. Aí, no caso, o time buscaria um especialista em bolas de três pontos no mercado de agentes livres.
O detalhe é que os principais jogadores têm contratos longos com a franquia, o que garante pelo menos mais dois anos com todos atuando juntos, e sob o comando de Snyder. Na próxima offseason, o Jazz terá quase US$ 15 milhões à disposição para reforçar o elenco.
Dados sobre os principais jogadores do Jazz
Dante Exum: 1,98m – 19 anos – contrato até 2018
Trey Burke: 1,85m – 22 anos – contrato até 2017
Rodney Hood: 2,03m – 22 anos – contrato até 2018
Alec Burks: 1,98m – 23 anos – contrato até 2019
Gordon Hayward: 2,03m – 25 anos – contrato até 2018
Derrick Favors: 2,08m – 23 anos – contrato até 2018
Rudy Gobert: 2,18m – 22 anos – contrato até 2017
Como a reação foi tardia (foram 19 derrotas nos primeiros 25 jogos da temporada), o Jazz dificilmente conseguirá a classificação para os playoffs. O time tem 30 vitórias e 37 derrotas, enquanto que Oklahoma City Thunder e New Orleans Pelicans, postulantes pela última vaga no Oeste, têm campanhas de 38-30 e 37-30, respectivamente.
Por tudo o que foi dito acima, só posso concluir que a reconstrução de elenco do Jazz está no caminho certo. A semente foi plantada, a mentalidade vencedora está ganhando forma e a recompensa promete ser grande em breve, talvez já na próxima temporada.