Seis vitórias em 13 jogos não pode ser considerado um bom início de temporada regular para nenhum time que pretenda chegar aos playoffs. O que dizer, então, de um candidato ao título em potencial? É, foi assim que começou a primeira campanha do Cleveland Cavaliers com o trio LeBron James, Kyrie Irving e Kevin Love. A equipe vinha de quatro derrotas seguidas até vencer o Orlando Magic, nesta segunda-feira, em casa. As primeiras partidas do supertime decepcionaram até os analistas mais comedidos.
Por isso, nesta semana, o Jumper Brasil reuniu quatro de seus integrantes e o convidado especial Vitor Camargo, do blog Two-Minute Warning, para analisar o início errante do novo Cavs. Quem ainda está fora de sintonia? Quais problemas são realmente preocupantes? O que esperar daqui para frente? Nossa equipe opina…
1. Quem parece mais “perdido” nos primeiros jogos do Cavs: LeBron James, Kevin Love, Kyrie Irving ou Dion Waiters?
Ricardo Stabolito Jr.: Love. O próprio já admitiu estar perdido. Ele realmente parece alguém que não sabe ou não aceita sua função em várias partidas. Soa como um jogador comum em muitas noites, que passaria despercebido se nós não soubéssemos quem é. Não existe nada pior a ser dito sobre um astro do que isso.
Gustavo Lima: Love. Ele está quase totalmente deixado de lado no ataque, pega pouco na bola e fica muito exposto na defesa. Começo terrível para o ala-pivô em Cleveland.
Gustavo Freitas: Irving. Ele não sabe jogar sem a bola nas mãos e sua movimentação é bem fraca nestas situações. Não é um jogador que se posiciona para receber. Precisa procurar e dar mais opção aos companheiros. Fazendo isso, meio caminho andado.
Ricardo Romanelli: Love, mas todos estão perdidos e o time simplesmente não se encontrou como um todo. De uma forma geral, eu esperava muito mais do ala-pivô. Irving e Waiters têm pouca idade, enquanto LeBron parece estar se sacrificando em prol do coletivo – apesar de cometer alguns erros primários também.
Vitor Camargo: Love. Waiters tem sido o pior deles, mas também de quem menos se espera. Já o ala-pivô caminha para suas piores marcas da carreira em pontos e rebotes por minuto, só converte 40% dos seus arremessos e a defesa está pior do que nunca. Não parece saber seu papel e deixa demais a desejar para alguém que custou tanto – duas primeiras escolhas de draft.
2. O início de trabalho de David Blatt tem sido uma decepção para você?
Ricardo Stabolito Jr.: Não. Ter astros no elenco sempre será um ponto positivo, mas iniciar um trabalho com a expectativa e pressão que Blatt enfrenta não é fácil. A verdade é que não existe fórmula pronta para fazer algo tão grande e novo funcionar em 13 jogos, em especial quando não se tem experiência na NBA.
Gustavo Lima: Sim. Embora tenha chegado com ótimas ideias (jogo coletivo, rodar a bola), eu esperava que ele fosse encontrar dificuldades pela transição para a NBA. Na prática, isso não está ocorrendo e o Cavs é um desastre na parte defensiva. Mas, pelo currículo, Blatt merece um voto de confiança.
Gustavo Freitas: Não. Blatt é pouco experimentando na NBA, mas o elenco ainda precisa de tempo de maturação. Não adianta simplesmente colocar três astros em quadra se o time não possui boas opções no banco e defensores apenas medianos. A marcação de perímetro fica comprometida com Irving, enquanto Love e Varejão deixam a desejar no garrafão.
Ricardo Romanelli: Não. Isso porque não esperava que Blatt fosse bem. Técnicos de sucesso na Europa tem péssimo retrospecto na NBA, mas confesso que acreditava que o talento de LeBron pudesse superar a situação – como superou a mediocridade de Mike Brown na primeira passagem pelo Cavs.
Vitor Camargo: Um pouco. Era de se esperar alguma dificuldade no início, mas tudo deveria estar melhor com tanto talento à disposição. Não sei o que Blatt pode fazer para melhorar, especialmente com as limitações de elenco, mas nada que tentou surtiu efeito até agora. Não vimos nada que justifique sua fama ainda.
3. Se você pudesse trazer apenas um reforço para o time agora, o que seria: um protetor de aro ou um atlético ala defensivo?
Ricardo Stabolito Jr.: Protetor de aro. O Cavs precisa de ambos com urgência. Só acho que a NBA vem provando nos últimos anos que alguém capaz de defender a cesta ajuda a mascarar melhor todas as limitações de um time na marcação do que um ala atlético.
Gustavo Lima: Protetor de aro. Evidente que o Cavs precisa de mais um ala defensivo, mas a necessidade mais urgente parece ser um pivô que faça o trabalho sujo em torno da cesta. O time de Cleveland é o segundo pior da temporada no quesito proteção de aro, para se ter uma ideia.
Gustavo Freitas: Protetor de aro, definitivamente. Existe uma grande diferença entre o Heat de temporadas anteriores e o atual Cavs: dois dos três astros não defendem bem. Em Miami, todos faziam uma boa cobertura – em especial, Dwyane Wade. Com alguém que defenda a cesta, você ainda pode trabalhar melhor os minutos de Love e Varejão.
Ricardo Romanelli: Protetor de aro. Ele não apenas taparia o buraco que é Love na defesa, como também deixaria o elenco mais completo para ser competitivo nos playoffs.
Vitor Camargo: Ala atlético defensivo. O Cavs precisa muito de defesa de perímetro agora que LeBron oficialmente desistiu de defender e alguém atlético para jogar nos contra-ataques ajudaria muito a desafogar o ataque. Pena que eles não tenham um jogador assim neste começo.
4. Há alguma forma de contornar a fragilidade do banco do Cavs sem novas contratações?
Ricardo Stabolito Jr.: Sim. É possível “camuflar” o banco dividindo os minutos dos principais atletas com mais cuidado. Para mim, Blatt deveria investir mais em manter sempre (no mínimo) um de seus astros atuando com os reservas. Impulsionaria a produção geral e ajudaria o time a continuar minimamente andando diante da carência de talento entre os suplentes. Tirando isso, não sei se há solução sem reforços.
Gustavo Lima: Sim. Blatt poderia mudar o quinteto titular novamente. Acho que uma dessas mudanças seria Joe Harris no lugar de Shawn Marion. Acredito que o veterano deixaria o banco mais encorpado, com Waiters e Tristan Thompson fazendo companhia. Mas, obviamente, o ideal seria trazer os dois reforços da pergunta anterior.
Gustavo Freitas: É complicado, porque as peças não se encaixam. Para mim, ainda falta um arremessador de ofício entre os reservas: Mike Miller não parece mais ser esse cara e Joe Harris também não pode ser, por enquanto. Acho que seria necessário trocar Waiters ou Tristan Thompson.
Ricardo Romanelli: Difícil. A verdade é que o banco de Cleveland é muito fraco: um misto de jogadores que ainda não são provados, atletas de pouca habilidade e veteranos em condições questionáveis. Não é como se um deles fosse se transformar em algo maior em curto prazo.
Vitor Camargo: Não. Passar Waiters para a reserva já foi feito e existe uma simples limitação de elenco. De certa forma, o Cavs tem pagado o preço por escolhas ruins em drafts recentes: atletas como Waiters e Thompson falham em oferecer ajuda vindo do banco.
5. O sucesso do Cavaliers ainda é uma questão de tempo?
Ricardo Stabolito Jr.: Sim. Organizar uma equipe não é questão de astros ou pura qualidade técnica, mas de encaixe. E isso demanda tempo – algo que sobra em uma temporada de 82 jogos. Não há passe de mágica aqui. Assim como aconteceu com o Heat do “Big Three”, a tendência é que – mais cedo ou, provavelmente, mais tarde – o bom basquete apareça. Se isso significa título de imediato é outra história.
Gustavo Lima: Quero acreditar que sim. Não custa lembrar que o supertime do Heat demorou um pouco para se encaixar. Quando o Cavs trouxe um técnico com currículo invejável na FIBA, sabia que estava correndo o risco da transição. O começo de temporada vem sendo abaixo do esperado, sobretudo na defesa. Espero que Blatt não seja fritado, pois acredito que possa implantar uma filosofia de jogo mais coletiva em Cleveland.
Gustavo Freitas: Sim, talvez não para este ano. Tinha grandes expectativas, mas sabia que a defesa era o grande problema. Love não se ajustou neste sentido e a ausência de alguém no banco capaz de “trancar” o garrafão é sentida. Não canso de dizer que um Timofey Mozgov mudaria o esquema de jogo, com mais consistência e balanço defensivo. No ataque, qualquer um do Big Three consegue resolver.
Ricardo Romanelli: Sim, pois ainda é uma equipe e elenco em formação. A grande questão é que o tempo do Cavaliers pode não ser mais nesta temporada e, sim, na próxima.
Vitor Camargo: Bem, vai melhorar com o tempo. Especialmente no ataque. Mas o Cavs não mostrou nenhuma evolução em 13 jogos e isso é o que mais preocupa. Todos se lembram do Heat de 2011, mas aquele time tinha saldo de +5.3 pontos a cada 100 posses de bola em seu início. Cleveland registra só +0.1 ponto. O potencial está lá, assim como os problemas são os mesmos. E o tempo não para.