Reunir grandes jogadores geralmente transforma uma equipe comum ou até tecnicamente fraca em séria candidata ao título. Isso já aconteceu outras vezes e o resultado nem sempre é o esperado. As lembranças dos fracassos não conseguem superar o sucesso de franquias que se tornaram verdadeiras dinastias.
A grande pergunta que eu faço é: transformar um time em vencedor via draft ou por trocas e agência livre?
Voltando no tempo, vamos ver exemplos de equipes formadas por negociações. Algumas chegaram ao título, enquanto outras passaram longe disso e por pouco não se classificaram para os playoffs.
Chicago Bulls – 1995
Michael Jordan havia acabado de retornar às quadras após uma passagem não tão brilhante pelo beisebol. O Chicago Bulls ainda tinha Scottie Pippen, era comandado por Phil Jackson e tinha um novo jogador crescendo de produção, o croata Toni Kukoc. O time foi eliminado pelo Orlando Magic na semifinal do Leste e então era a hora de algo mudar.
O Bulls perdera Horace Grant para o mesmo Magic e Bill Cartwright aposentou-se depois de uma breve passagem pelo Seattle Supersonics. O garrafão estava enfraquecido e a diretoria tentava a contratação de um jogador para aquele setor, mas esbarrava no teto salarial. A solução era ir atrás de um veterano com a capacidade de suprir todas as necessidades defensivas.
O problema é que atletas assim, já não reúnem as melhores condições físicas. Com raras exceções, isso era possível.
Dennis Rodman era quatro vezes seguidas o melhor reboteiro da NBA, enquanto o San Antonio Spurs conquistou a melhor campanha da temporada regular. Entretanto, Rodman foi considerado o principal culpado pela eliminação para o Houston Rockets e sua saída do Texas era questão de tempo. Então, ele recebeu uma ligação de Jackson aos 34 anos e aceitou na hora o desafio. Foi trocado pelo obscuro Will Perdue.
Ron Harper chegou ao Bulls um ano antes, mas estava longe de reproduzir suas grandes apresentações dos tempos de Cleveland Cavaliers e Los Angeles Clippers. B.J. Armstrong foi para o Golden State Warriors e então, Jackson optou por algo inédito em sua carreira: ser armador principal.
O time estava pronto. Com Jordan, Pippen e Rodman, o Bulls era a equipe a ser batida. Quebrou o recorde de vitórias em uma só temporada com 72 triunfos e foi questão de tempo para superar o Seattle Supersonics e o Utah Jazz duas vezes para um segundo tricampeonato.
New York Knicks – 1998
Jordan se aposentou pela segunda vez, os jogadores entraram em greve, e a temporada teve apenas 50 jogos. Receitas ideais para uma mudança completa de foco. O Bulls perdeu quase todos os atletas e o New York Knicks resolveu ir ao mercado.
O elenco já contava com Patrick Ewing, Larry Johnson e Allan Houston, mas faltavam algumas peças para fazê-lo vitorioso. O Knicks foi atrás de Latrell Sprewell e Marcus Camby para formar um dos grupos mais caros da época. Sprewell havia brigado com P.J. Carlesimo no Warriors e tornou-se dispensável.
Só que as coisas não foram tão boas quanto o imaginado.
Sprewell chegou machucado, Johnson já não era tão explosivo quanto nos tempos de Charlotte Hornets, e Ewing estava em decadência física. Nada dava certo para Jeff Van Gundy, que alternava entre Kurt Thomas e o apenas esforçado Chris Dudley, enquanto Camby ainda não conseguia provar o seu valor.
O Knicks foi para os playoffs apenas na oitava posição do Leste e precisava encarar o Miami Heat na primeira rodada. O time da Flórida era muito forte e por lá estavam Alonzo Mourning, Tim Hardaway e Jamal Mashburn. No quinto jogo, porém, Houston fez a cesta da vitória e levou sua equipe para a próxima fase.
A superação que teve diante do Heat deixou os jogadores motivados e, nas semifinais, não tomaram conhecimento do Atlanta Hawks. O Knicks tinha pela frente o Indiana Pacers de Reggie Miller, Chris Mullin e Rik Smits. Então, mais uma vez o time precisou do improvável. Na terceira partida da série, o Pacers liderava por três pontos, restando 12 segundos. Johnson acertou de três, sofreu falta e virou o placar no lance de bonificação. O Knicks ganhou força e a série final do Leste. Encarou, no entanto, um Spurs com David Robinson e um tal de Tim Duncan em busca do troféu Larry O’Brien. Não deu. Perdeu, mas de cabeça em pé.
Los Angeles Lakers – 2000
Se tinha um time com a chance de repetir o sucesso do Bulls, era o Los Angeles Lakers. Não havia nenhuma dúvida que Phil Jackson lideraria aquele grupo aos títulos. Shaquille O’Neal estava na melhor fase de sua carreira e ninguém era tão dominante quanto ele em quadra. Kobe Bryant ainda era jovem, e totalmente capaz de ser uma segunda opção ofensiva. Tanto era, que a diretoria trocou Eddie Jones por Glen Rice para dar espaço ao então camisa 8.
O triângulo ofensivo já era prioridade, mas causou estranheza a alguns de seus principais jogadores. O’Neal, por exemplo, reclamou dizendo: “Então quer dizer que vamos usar os triângulos? Legal, agora eu sou Luc Longley”.
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Esses problemas foram embora rapidamente com as vitórias. Shaq incorporou o sistema e viu Kobe começar a brilhar. O Lakers teve quase os mesmos adversários nos três anos seguintes durante os playoffs. Não foi fácil superar Portland Trail Blazers, San Antonio Spurs e Sacramento Kings. O’Neal travou verdadeiras batalhas contra um combalido Arvydas Sabonis e, depois, suou sangue para superar Vlade Divac, Mike Bibby, Chris Webber e Peja Stojakovic nas três temporadas. Posteriormente, alegações sobre manipulação de jogos foram investigadas e o ex-árbitro Tim Donaghy chegou a ser preso.
O elenco foi alterado no processo: Grant e Harper chegaram, mas Rice foi trocado em uma negociação que envolveu quatro equipes, enquanto Isaiah Rider e Mitch Richmond fizeram apenas figuração.
Apesar disso, o Lakers não encontrou grandes dificuldades nas finais contra New Jersey Nets e Pacers e conquistou um tricampeonato de forma brilhante, enquanto Jackson acumulava o seu nono título como treinador.
Los Angeles Lakers – 2004
Após falhar no ano seguinte ao tri, a diretoria do Lakers queria manter o espírito de vencedor em seus atletas e trouxe os renomados Gary Payton e Karl Malone para formar um quarteto ao lado de Kobe e Shaq. Só que tudo começou a dar errado logo no início.
Payton não entendia os triângulos, Shaq estava muito acima do peso, Malone se lesionou em dezembro ao tropeçar no pé de Derek Fisher e só retornou três meses depois, sem o melhor ritmo. Para piorar, Kobe entrou em conflito com O’Neal e Jackson em uma guerra de egos e nada funcionava, apesar de tantos talentos.
Por fim, o Lakers chegou às finais passando por adversários de peso como o Houston Rockets, Minnesota Timberwolves e o então campeão Spurs. Contra um subestimado Detroit Pistons, o time californiano não foi páreo para Chauncey Billups, Rip Hamilton, e a dupla de Wallaces, Ben e Rasheed.
Perder aquele título para o Pistons causou uma verdadeira implosão no elenco. Shaq foi trocado para o Miami Heat, Payton rumou para o Boston Celtics, Malone aposentou-se, Jackson foi embora e escreveu um livro denominado “Um time em busca de sua alma”.
Boston Celtics – 2008
Danny Ainge assumiu a diretoria do Boston Celtics em 2003 prometendo reconduzir a franquia aos títulos. Em seus primeiros anos, ele encontrou muitas dificuldades, mas conseguiu realizar boas escolhas no draft. Uma delas, Al Jefferson. Acreditando em seu potencial, o GM bancou que Jefferson seria um astro em pouco tempo.
De fato, isso não aconteceu. Mas aquele potencial foi utilizado para enviá-lo ao Minnesota Timberwolves, ao lado de outras peças, pelo ala-pivô Kevin Garnett. O Celtics aproveitou o momento e trouxe Ray Allen em uma negociação com o Sonics. Na época, Jeff Green foi envolvido na transação.
Paul Pierce ainda era o principal nome do elenco e tinha um jovem armador chamado Rajon Rondo em seu primeiro ano como titular. O Celtics enfrentou o Lakers nas finais de 2007-08 e 2009-10, conquistando um título.
A parceria com todos eles e o técnico Doc Rivers durou até 2011-12, quando Allen foi para o Heat. No ano seguinte, Garnett e Pierce foram para o Brooklyn Nets. Rivers se transferiu para o Clippers.
Miami Heat – 2010
Depois de frustradas tentativas de fazer o Cleveland Cavaliers reunir um grupo forte ao seu redor, LeBron James aceitou a ideia de jogar ao lado de seu melhor amigo, o ala-armador Dwyane Wade. Chris Bosh deixou o Toronto Raptors e se juntou a eles na Flórida.
O primeiro ano foi muito complicado, já que o técnico Erik Spoelstra não tinha muito prestígio. Zydrunas Ilgauskas e Mike Bibby fizeram parte do elenco, mas longe de suas melhores formas. A situação era ruim nos vestiários, mas mais uma vez o talento prevaleceu e o Heat foi às finais diante do então azarão Dallas Mavericks. LeBron foi muito mal na série, promovida por uma piada de péssimo gosto com o alemão Dirk Nowitzki.
O resultado não poderia ser muito diferente, e o Mavs sagrou-se campeão pela primeira vez, assim como Jason Kidd e Nowtizki.
Serviu como lição e, nos dois anos seguintes, o Heat dominou a liga. Primeiro, passou pelo Oklahoma City Thunder no primeiro título de James e Bosh — Wade já havia conquistado o seu em 2006, ao lado de Shaq. Na temporada seguinte, a equipe continuou com a confiança em alta após derrotar o Pacers e superou o Spurs após uma cesta milagrosa de Ray Allen, quando torcedores do time texano já comemoravam a vitória.
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O troco veio logo em seguida e o Spurs não deu a menor chance ao Heat. Bosh chegou a afirmar que o ambiente estava longe de ser o mesmo dos anos anteriores e deu um recado a Kevin Love sobre jogar ao lado de LeBron: “É frustrante”.
Quase todos do elenco optaram por deixar seus contratos, mas apenas James resolveu não seguir no grupo e retornou ao Cleveland Cavaliers.
Los Angeles Lakers – 2012
Kobe Bryant estava chateado com a direção do Lakers e pressionou para que contratações de peso fossem feitas. A alta cúpula entendeu o recado e se virou para trazer Steve Nash e Dwight Howard. Kobe foi cercado de talentos e o time já contava com o espanhol Pau Gasol no elenco.
Por infelicidade e incompetência, o técnico Mike Brown teve vida curta, sendo demitido após apenas cinco partidas. Mas a bagunça já estava feita. Gasol e Nash passaram boa parte da temporada no estaleiro. O jogo de Bryant limitava-se somente a pontuar em abundância, porém sem sucesso nos resultados.
Não durou mais do que um ano e Howard deixou o Lakers para assinar com o Houston Rockets. Kobe ganhou um contrato generoso aos 35 anos, enquanto o time optou por não reassinar com Gasol. Já Nash, vive mais contundido do que em quadra e nunca conseguiu repetir seus ótimos momentos da época de Phoenix Suns.
Cleveland Cavaliers – 2014
Dois títulos em quatro anos deixaram a torcida do Miami Heat contente o bastante para não crucificar LeBron por sua saída para o Cavs, ao contrário do que aconteceu em Ohio, quando torcedores demonizaram o astro, queimaram camisas e banners. Mas James tinha uma missão a ser cumprida com a franquia que o escolheu no draft de 2003.
Em julho, ele decidiu voltar ao time e trouxe o ala-pivô Kevin Love na bagagem. Kyrie Irving era a única estrela em um apagado Cleveland. Nos anos em que LeBron esteve fora, o Cavs jamais se classificou aos playoffs. Sua relação com Dan Gilbert se esfacelou após uma polêmica carta, porém agora o dono da equipe o recebeu de braços abertos.
Para comandar tudo isso, o GM David Griffin trouxe David Blatt, um técnico experimentado no basquete FIBA, mas sem qualquer contato anterior com a NBA.
O sucesso deste grupo vai depender muito da individualidade de seus jogadores até que a filosofia de Blatt esteja totalmente implantada. Enquanto isso, derrotas terão de ser encaradas como naturais. Os ajustes do treinador e dos atletas vão acontecer gradativamente.
O fato é que por mais que equipes recheadas de astros não vençam, elas se tornam o foco de todo mundo. Vendem camisas, ingressos, a receita aumenta sensivelmente. Todos ganham, mas em quadra, a história mostra que fracassos acontecem.
O Cavaliers é o exemplo de maior evidência no momento. São muitas incertezas, apesar do talento. Será que isso basta?
PS: eu seria injusto se listasse o Brooklyn Nets da temporada passada pelo simples motivo de que eram veteranos em fim de suas carreiras.