Se você viu a foto do artigo e nunca ouviu falar, eu tenho pena de você. Eu explico: era o melhor chocolate dos anos 80 e o mais legal de tudo é que tinha a imagem de um animal em alto relevo na barra. Era muito bom. Mas como o Jumper não é um blog ou site, como queiram, de culinária, vamos falar do que interessa. Da surpresa. Na realidade, no plural.
Voltando nos anos 90, o Seattle SuperSonics era um time muito forte e rivalizava sempre pelas primeiras posições da conferência Oeste. Com George Karl no comando, a equipe terminou a temporada 1993-94 com 63 vitórias e 19 derrotas, garantindo a melhor campanha e enfrentou o Denver Nuggets, oitavo. Acontece que o Nuggets tinha um jogador que se tornou um verdadeiro mito na carreira, Dikembe Mutombo. Mas do outro lado os nomes eram Shawn Kemp, Detlef Schrempf, Gary Payton e Sam Perkins.
Em cinco jogos, o Nuggets eliminou o Sonics, tornando-se o time mais improvável a conseguir o fato.
Alguns anos depois, o Miami Heat tinha a melhor campanha do Leste, mas o New York Knicks ficou próximo de algo quase impossível. Com uma cesta de Allan Houston com menos de um segundo para o fim, o Knicks não só superou o Heat, mas como foi para as finais. Perdeu para o San Antonio Spurs e a chance de ver Patrick Ewing com um título. Mas foi genial.
Existem outros exemplos, como o Golden State Warriors em cima do Dallas Mavericks em 2007 ou do Detroit Pistons, campeão de 2004 diante do Los Angeles Lakers. E agora, temos várias chances em um só ano.
Quatro times, pelo menos, me surpreendem nesses playoffs e isso está tornando as séries ainda mais empolgantes.
Vamos começar pelo Washington Wizards, que aposto aqui, poucas pessoas acreditavam no time da capital em cima do Chicago Bulls. E olha só: o Wizards lidera a série com duas vitórias jogando fora de casa. Mas tem uma coisa que quase ninguém deve ter notado é que a equipe do brasileiro Nenê teve a mesma campanha tanto dentro quanto jogando longe de seus domínios, com 22 vitórias e 19 derrotas.
Jogando diante de Joakim Noah, melhor defensor da temporada, Nenê está tendo uma grande performance. Tudo bem que nem sempre quem o marca é Noah, mas em alguns momentos fica por conta de Taj Gibson, um cara que evoluiu bastante e é um dos principais atletas de Chicago. Isso aumenta ainda mais o feito de Hilário.
E o que dizer sobre a dupla John Wall e Bradley Beal?
Jovens e talentosos, os dois carregam os adversários com faltas e estão sempre na linha do lance livre. Os 26 pontos que Beal fez na segunda partida deixaram o pobre Jimmy Butler falando sozinho. E olha que estamos falando de um excelente defensor.
Quando a temporada estava para começar, no Rio de Janeiro, conversávamos sobre o quão feio era o Wizards, mas que pela falta de força no Leste, poderia se classificar. Não me lembro quem, mas algum dos caras perguntou respondendo: “E se os dois se enfrentarem nos playoffs? Coitado do Wizards”. Com a enorme possibilidade de ter sido eu, pois estava saboreando alguns chopes (sim, se escreve assim para a minha infelicidade e aproveitando para confirmar alguns comentários do meu último artigo se eu escrevo bêbado), acho que me dei mal.
O Wizards joga na falta de uma coisa chamada “o cara” do Bulls.
Ei, não estou desmerecendo o time de Washington. Só que o Bulls não tem um sujeito para pontuar na hora H. Na ausência de Derrick Rose, não tem ninguém para isso. Vence na base da ótima estratégia de Tom Thibodeau e nos improvisos que fez ao utilizar mais Gibson e encontrar D.J. Augustin na agência livre. E Augustin virou mais do que um plano B. Tornou-se a principal arma ofensiva.
Mas mais que o Wizards, quem me impressiona é o Portland Trail Blazers. Bem, mais precisamente LaMarcus Aldridge.
Ah, seria bobagem e chover no molhado elogiando o ala-pivô do Blazers. Mas contra o Houston Rockets, outrora favorito, LaMarcão tem um retrospecto formidável.
Veja os últimos cinco jogos diante do Rockets:
12/12/13 – 31 pontos e 25 rebotes
20/01/14 – 27 pontos e 20 rebotes
09/03/14 – 28 pontos e 12 rebotes
Jogo 1 – 46 pontos e 18 rebotes
Jogo 2 – 43 pontos e oito rebotes
Na primeira partida da série, Aldridge quebrou o recorde da franquia em pontos nos playoffs. No segundo jogo ele tornou-se o primeiro jogador a fazer 43 pontos, oito rebotes e três bloqueios desde Shaquille O’Neal, em 2001, e o primeiro desde Tracy McGrady a anotar ao menos 43 pontos nos dois primeiros jogos de playoffs. Ou seja, ele é a diferença.
James Harden e Dwight Howard simplesmente não estão conseguindo responder ao ataque de Aldridge. O primeiro está sendo engolido por Nicolas Batum e Wesley Matthews. Já Howard, foi a diferença no primeiro embate, quando perdeu lances livres importantes em um momento crucial. Mas isso não chega a surpreender ninguém, não é mesmo? Sua falta de habilidade no quesito é algo conhecido por todo mundo.
Entendo que o Blazers teve um grande momento durante a temporada regular, quando chegou a liderar a conferência Oeste, mas agora parece que tudo voltou. Damian Lillard pode alternar bons e maus momentos, Wesley Matthews deixar de arremessar bem, e Batum não defender. Porém uma coisa é fato: o Blazers tem hoje um dos poucos jogadores em toda a NBA que conseguem fazer a diferença no garrafão e dominar um jogo. Aldridge não é o time todo de Portland, entretanto faz a diferença ao ponto de ter gente aqui do Jumper querendo mudar o voto para MVP.
Então vemos o Memphis Grizzlies ganhando do Oklahoma City Thunder. Um time que, por conta da forte concorrência no Oeste e pelas contusões de seus melhores atletas, penou para se classificar para os playoffs. Pode, eventualmente, perder toda a vantagem que conseguiu ao derrotar o Thunder fora de casa, mas é inegável como essa equipe joga bem.
Por mais que eu ache Tayshaun Prince tão importante quanto um peso para papel ou um imã de geladeira, o Grizzlies possui outras armas para tentar parar Kevin Durant. Não estou dizendo que Prince sempre foi tão tuim. Ele era um dos melhores defensores da NBA. Entretanto, isso ficou no passado. Tony Allen, voltando de contusão, está em melhor fase técnica e física. Aliás, fisicamente, Allen é um monstro, que certamente estaria no primeiro time de defesa caso não tivesse ficado tanto tempo de fora (23 jogos).
Apesar de o Grizzlies seguir previsível (jogo nos dois caras do garrafão e só), Mike Conley e Courtney Lee tentam tirar o time da zona de conforto. Até mesmo Mike Miller, que há dois anos eu nem sei como conseguia ficar de pé, por conta de tantos problemas nas costas, joelhos e tornozelos, consegue ajudar mais que Prince.
Zach Randolph e Marc Gasol são os dois pilares do time, sim. Mas existem outras opções dos dois lados da quadra para fazer a diferença contra o Thunder. Se fizer, garantir a classificação em cima do time do virtual MVP, essa será uma das maiores surpresas dos últimos tempos. Não que o Grizzlies não seja tão bom. Até é. Porém, está enfrentando Russell Westbook e Durant, uma das melhores duplas da NBA na atualidade.
Por fim, o Atlanta Hawks, que vai batendo o Indiana Pacers sem o seu melhor jogador, o pivô Al Horford. Como se não bastasse perder Joe Johnson e Josh Smith em anos consecutivos, o Hawks vai superando o Pacers sem Horford e com autoridade.
Tudo bem que o Pacers está em um péssimo momento, mas de onde surgiu isso? É mais fácil ficar criando teorias, pois o time era o melhor do Leste até pouco mais da metade da temporada. Como é possível um pivô, que foi para o All Star game em 2012-13, ficar 17 jogos seguidos arremessando abaixo de 50%? Pois é. Roy Hibbert está em sua pior fase da carreira, justamente quando não podia. George Hill não está muito longe.
Zebras ou surpresas, os quatro times não possuem nada em comum, além do fato de estarem batendo adversários considerados mais fortes. Se vão passar para a outra fase, a história é outra. Mas que conseguem deixar os playoffs ainda mais legais, conseguem.
[polldaddy poll=7995531]