“De olho no seu time” é uma coluna quinzenal em que o Jumper Brasil foca sua análise em uma equipe específica, interagindo com torcedores e fãs que gerenciam páginas brasileiras sobre as franquias. Kaio Kleinhans e Ricardo Stabolito Jr. coletam perguntas entre a torcida dos times e convida os blogueiros/internautas – além de convidados especiais – para ajudá-los a esclarecer as questões.
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O Houston Rockets é o tema da segunda edição da coluna “De olho no seu time”.
Durante as últimas semanas, nós consultamos alguns torcedores do Houston Rockets para coletar as perguntas que julgam importantes a respeito do time neste momento e, desde já, agradecemos suas contribuições. Para respondê-las, Ricardo Stabolito Jr. e Kaio Kleinhans recebem: Ricardo Grecco (Jumper Brasil), Zeca Oliveira e George Raposo (do blog Houston Rockets Brasil).
1. O Rockets é um dos times que mais “abraçaram” as estatísticas avançadas na concepção de seu estilo de jogo, evitando os arremessos de média distância para apostar pesadamente nos tiros de três pontos e no garrafão. Até o momento, como você avalia os resultados desta estratégia?
Ricardo Stabolito Jr.: Ótimos. Como dizer algo diferente de um time que tem 35 vitórias em 52 partidas e está próximo de conseguir mando de quadra nos playoffs do Oeste? Eu acho a filosofia em si muito simplista, mas eles possuem o pessoal certo para fazer funcionar e os resultados estão aparecendo. Só acredito que, em longo prazo, isso vai acabar por limitá-los (como prova a derrota recente contra o Thunder).
Kaio Kleinhans: Ótimos. Toda a ajuda é bem-vinda na busca pelo sucesso na liga, inclusive os estudos avançados das estatísticas. Ter um gerente-geral “versátil” no uso dos múltiplos dados que possui à disposição é uma vantagem e os resultados falam por si até agora.
Ricardo Grecco: Razoáveis. A estratégia dos arremessos de três não tem funcionado bem e o time converte apenas 34% de suas tentativas. Já dentro do garrafão, a coisa tem sido melhor. Howard vem sendo efetivo na área pintada e outros jogadores também jogam bem dentro do garrafão. Acredito que deveriam balancear mais os chutes de média distância e três pontos.
Zeca Oliveira: Bons. Isso acontece bastante no basquete universitário e, como por lá, o que tem sido feito no Rockets não é algo forçado: a mudança veio de forma gradativa e o sistema só se consolidou quando os jogadores certos chegaram. Eu acho que é difícil você questionar um ataque que vem sendo um dos mais eficientes da NBA ultimamente.
George Raposo: Ainda não dá para avaliar. O momento é de adaptação. A ideia é bastante interessante, mas o Rockets tenta muitos arremessos de longa distância sem ter um ótimo aproveitamento, por exemplo. O que não pode acontecer é uma dependência de cestas de três, como acontece em alguns jogos. Ter a dupla Howard-Harden em quadra dá opções ofensivas ao técnico Kevin McHale, mas não tem sido bem utilizada.
2. O gerente-geral Daryl Morey diz que Omer Asik não será trocado nesta temporada. Você acha que esta é a decisão certa a se tomar?
Ricardo Stabolito Jr.: Não. Na maioria dos casos, manter um jogador insatisfeito no elenco é ter um a menos. Pouco adianta Asik ser um bom reserva no papel se não quiser ser um. Morey não está se ajudando nesta situação e só derruba o valor de mercado do atleta com suas altas exigências. Acreditar que o turco vai render duas escolhas de draft ou um astro ao Rockets é fora de realidade.
Kaio Kleinhans: Não. Na verdade, eu acho que Asik pode estar disponível no mercado ainda. Morey pode ter dito que o pivô vai ficar com a expectativa de que seu valor de mercado suba e melhores negociações surjam. Tudo pode não passar de uma estratégia para conseguir um melhor acordo para o Rockets.
Ricardo Grecco: Não. O Rockets deveria trocar Asik por mais peças que agreguem ao elenco. Eles precisam de um bom chutador vindo do banco e o turco não está lá muito feliz em voltar a ser reserva. Por mais que Morey o valorize, é melhor trocá-lo por alguém que esteja satisfeito com sua condição na equipe.
Zeca Oliveira: Sim. Eu sempre achei que ter a melhor rotação de pivôs da liga é um grande diferencial se você quer brigar por algo. Se isso funcionará ou não, depende da disposição do turco em aceitar um papel menor. Ele conseguiria um espaço maior se estivesse em qualquer outra franquia.
George Raposo: Sim. O valor de mercado de Asik caiu um pouco no meio desta temporada não porque não seja um bom jogador, mas pelo objetivo de vários times. Manter o pivô como reserva é a melhor alternativa caso não possa trocá-lo por outro astro. No segundo semestre, com contrato expirante, seu valor poderá ser maior.
3. Muitos analistas acreditam que o Rockets está a uma peça de ser um verdadeiro candidato ao título. Considerando que eles possam estar certos, qual seria o perfil do “atleta que ainda falta”?
Ricardo Stabolito Jr.: Um ala defensivo que arremesse de três. Alguém como Shane Battier há alguns anos, por exemplo. É o tipo de atleta que se encaixa no sistema ofensivo e eleva o nível do time no outro lado da quadra.
Kaio Kleinhans: Acho que o Rockets tem dois caminhos a seguir: buscar um ala-pivô de alto nível, uma peça de real impacto, ou contratar dois bons jogadores para fortalecer o banco de reservas e dar mais opções ao elenco. A semelhança entre as duas é que Asik seria a moeda de troca necessária para alcançá-los.
Ricardo Grecco: Um bom armador e um “cão de guarda” no perímetro já fariam uma bela diferença. Com a adição de um reforço na posição um, Harden teria de se preocupar apenas em pontuar. Um bom marcador ajudaria Howard na missão de arrumar a defesa de um time que toma 101.5 pontos por jogo.
Zeca Oliveira: Um defensor de perímetro que possa, de alguma forma, encaixar no sistema ofensivo sem comprometer. Com certeza. Uma lágrima de arrependimento cai do meu olho sempre que vejo James Johnson atuando pelo Memphis Grizzlies e lembro que o ala jogava pelo Rio Grande Valley Vipers (franquia afiliada do Rockets na D-League).
George Raposo: Um defensor de perímetro que possa arremessar de longa distância. Beverley pode ser considerado um bom defensor, mas ainda deixa muito a desejar caso tenha que defender Tony Parker, Russell Westbrook e Chris Paul em uma série de playoffs.
4. Recentemente, as críticas ao trabalho de Kevin McHale vêm crescendo entre os torcedores. Uma troca de técnico pode realmente ser parte do caminho para fazer a equipe ainda melhor?
Ricardo Stabolito Jr.: Sim. Um técnico mais experiente pode ajudar, acelerar o processo. Mas não faria sentido demiti-lo neste momento. É preciso ver McHale com o time nos playoffs para ter uma ideia real sobre sua capacidade de levar a equipe ao título.
Kaio Kleinhans: Sim. Não sou fã do trabalho de McHale e acho que o time pode render mais do que vem apresentando. O mercado oferece algumas alternativas interessantes (George Karl, Lionel Hollins) que poderiam ser analisadas. O único problema seria definir quem se encaixa melhor com o elenco atual.
Ricardo Grecco: Sim. A filosofia do Rockets vem falhando e o time é uma das decepções do Oeste, ao lado do Clippers. Eles arremessam de longa distância sem ter, ao menos, dois bons chutadores no elenco. Quando uma filosofia de trabalho não dá certo e o técnico insiste nela, é melhor trocar o comando da equipe.
Zeca Oliveira: Sim. McHale veio para uma franquia que estava em reconstrução, para crescer junto com o jovem elenco que treinava. Mas, a partir do momento que chegam dois astros e as expectativas aumentam, ele pode acabar se tornando o cara certo no lugar errado. Se ele não conseguir encaixar Dwight Howard no sistema até o fim da temporada, eu acho que tem tudo para dar lugar a alguém mais experiente.
George Raposo: Sim. McHale ainda é um treinador em desenvolvimento. Um técnico mais estabelecido seria melhor para as aspirações de título do Rockets nas próximas temporadas. A equipe é muito nova e precisa de alguém mais rígido em suas jogadas e convicções para ter sucesso.
5. Verdadeiro ou falso: como está montado neste momento, o Rockets está pronto para vencer um título da NBA.
Ricardo Stabolito Jr.: Falso. É perceptível que ainda falta alguma coisa em termos de talento humano e experiência. Isso é algo natural: dificilmente, um time está pronto para ser campeão no primeiro ano de formação. O tempo costuma trazer maior entrosamento dentro de quadra e competitividade – além de contratações para formar um banco mais sólido..
Kaio Kleinhans: Falso. Ainda não está. Não que seja impossível que sejam campeões, pois contam com Howard e Harden – os melhores jogadores de suas posições na liga. Isso conta muito e pode pesar na hora dos playoffs. Mas o Rockets ainda precisa dos reforços que comentamos antes para ser realmente um sério candidato ao título.
Ricardo Grecco: Falso. O Rockets está longe de estar pronto para disputar o título. O time seria facilmente derrotado por um Miami Heat, Indiana Pacers, Oklahoma City Thunder ou San Antonio Spurs que são sérios candidatos a vencer um anel. São, de longe, mais completos do que os texanos.
Zeca Oliveira: Falso. É fato que ainda não vimos o verdadeiro Rockets porque as lesões estão minando as alternativas do elenco. Mas esta é uma equipe jovem, inconsistente e com grande potencial de “autodestruição” quando não controla o ritmo de jogo. Nesta temporada, Houston deve ficar satisfeito com o acúmulo de experiência – ainda que uma eliminação na primeira rodada dos playoffs vá ser considerada uma decepção.
George Raposo: Falso. Ainda faltam peças fundamentais para a equipe brigar pelo título, além de experiência. Eu diria que, com dois reservas experientes e um armador – ou um ala-pivô arremessador de elite –, o time estaria pronto. Um treinador mais experimentado em playoffs também ajudaria.
Agradecemos ao Zeca Oliveira e George Raposo por suas participações neste post. Visitem o Houston Rockets Brasil.