Por Ricardo Romanelli
O San Antonio Spurs tem sido uma das forças da NBA nos últimos 16 anos. Desde a chegada de Tim Duncan, em 1997, a equipe se tornou-se uma das maiores potências da liga. Neste ínterim, conquistou quatro títulos e foi para os playoffs em todas as temporadas. Por conta deste sucesso duradouro, muitos profetizam a iminente queda de rendimento dos texanos já há alguns anos. Não estaria longe o dia em que a idade alcançaria Duncan e seus escudeiros, Manu Ginobili e Tony Parker, e o time precisaria entrar em reconstrução.
Tais previsões, no entanto, têm falhado sistematicamente. O Spurs é um desafio a qualquer lógica de análise. Com 37 e 36 anos respectivamente, Duncan e Ginobili estão longe de seus melhores momentos. A produção de ambos tem decaído violentamente. Apesar disso, a equipe parece melhor do que nunca: acaba de vir de uma temporada onde foi finalista da NBA e perdeu em sete jogos disputadíssimos para o badalado Miami Heat com LeBron James no auge.
Depois desta final, mais uma vez, muitos previram o fim do Spurs. A base estaria envelhecida – e isso não é segredo pra ninguém. A derrota também “quebraria a alma” de San Antonio, acreditavam os analistas. Mais uma vez, desafiando a lógica, nada disso aconteceu. Duncan e Ginobili mais uma vez caíram de produção, e, mesmo assim, os texanos fazem campanha incrível. Até aqui, nove vitórias e uma derrota no disputadíssimo Oeste. Aproveitamento de 90%, mesmo da sensação da temporada Indiana Pacers.
Mas o que exatamente permite que o Spurs, ano após ano, consiga se reinventar e adiar o processo de reconstrução, mantendo a mesma base que conquistou títulos uma década atrás?
Não é segredo para ninguém que a equipe tem uma das melhores gestões da liga. Liderados por R.C Buford e Gregg Popovich, respectivamente gerente-geral e técnico, os envolvidos na formação e treinamento do elenco do Spurs têm demonstrado ao longo dos anos excelente avaliação de talento e profissionalismo – selecionando jogadores não apenas bons, mas que encaixam perfeitamente na filosofia do time.
E este é outro ponto que explica o sucesso do Spurs. A equipe está construído em torno de uma filosofia que prega coletivismo e meritocracia. Nenhum atleta está acima do time e todos ganham uma oportunidade se demonstrarem que a merecem. Isso permitiu que pudessem diminuir os minutos das estrelas que conquistaram os títulos na década passada, deixando que jogadores que poucos acreditavam ter tanto potencial se tornassem contribuintes de peso para o sucesso da franquia.
Kawhi Leonard, Danny Green e Tiago Splitter são atletas que jogam em excelente nível e dão condições para que Duncan e Ginobili possam descansar. A queda nos números deles está diretamente atrelada à queda de minutos, calculada por Popovich para que eles estejam “inteiros” para os playoffs.
O técnico, por sua vez, é outro grande trunfo da franquia. Não existe outro comandante na história da NBA que tenha sido capaz de implementar um sistema de jogo tão altruísta e meritocrático quanto ele. A personalidade dos jogadores ajuda muito e o time leva muito em conta este aspecto na hora de contratar, mas é Popovich quem cria o ambiente de auxílio mútuo e desprovido de estrelismo. Algo altamente improvável e até mesmo admirável em uma era onde super-atletas com gigantesca exposição de mídia dominam o mercado.
Por fim, aquele que se tornou a alma do time. Tony Parker entrou na NBA como um armador francês com pouca perspectiva de futuro. Muitos achavam que ele não teria capacidade de marcação e nem de arremesso para ficar na liga.
Por trás de suas jogadas plásticas e imprevisíveis, muitas das quais aprendidas do arsenal de Ginobili, está um armador de inteligência e visão privilegiadas. Nem de longe é um armador clássico, que distribui a bola, mas também não é isso que o sistema do Spurs necessita. Parker é um jogador implacável nas jogadas de transição e bagunça defesas como poucos com suas jogadas fora do comum. Isso abre espaços na defesa e permite que crie oportunidades para seus companheiros.
De cinco anos para cá, ele tomou as rédeas do time (passadas por Duncan), ficando mais uma vez evidente o companheirismo que é a marca deste time.
É dessa maneira que o Spurs vem desafiando toda e qualquer lógica na NBA. Anualmente, pelo menos alguns colunistas se atrevem a dizer que a equipe finalmente estaria velha demais. Que a idade e a fadiga de material alcançariam o time. Que Duncan deveria se aposentar e o Spurs recomeçar.
Ano após ano, aqueles que fazem estas previsões queimam a língua. Depois da final do ano passado e da performance neste começo da temporada, qualquer um que apostasse contra o Spurs para ganhar o título da NBA não teria argumento válido. Isso é verdadeiramente incrível. O modelo de gestão do Spurs é algo a ser estudado e seguido por qualquer time que deseje ter sucesso duradouro.
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