Por Ricardo Romanelli
Alguns anos atrás, Dirk Nowitzki e o Dallas Mavericks assinaram uma extensão contratual que trazia novos padrões para franchise players com maior experiência na liga. Dirk aceitou uma substancial redução de salário, para que a franquia conseguisse ser competitivo no mercado de agentes livres dos anos seguintes – especialmente sob a ótica do novo acordo coletivo de trabalho, que entrou em vigor logo em seguida.
Com isso, gerou-se grande expectativa sobre o futuro do Mavs. Campeão em 2011 com um elenco veterano, parecia questão de tempo para que o time se reequipasse e trouxesse novas estrelas para jogar ao lado de Nowitzki.
No entanto, lá se vão duas offseasons em que a equipe teve a tão alardeada flexibilidade financeira, mas não conseguiu contratar nenhum nome de peso, tendo obrigado a direção do time a investir em jogadores de médio calibre para tentar montar uma equipe balanceada.
A equipe de Dallas tem Nowitzki: um veterano que, além de ser um dos melhores da história em sua posição, é um dos melhores companheiros de time da liga. Tem Mark Cuban, um dono que não mede esforços (financeiros) para ver sua equipe competitiva. Tem também Rick Carlisle, um treinador bastante respeitado por jogadores em toda a liga.
Tem também um título bastante recente e uma história de campanhas vencedoras na temporada regular desde que Cuban assumiu a equipe. Foi uma das forças da liga na última década.
Sendo assim, o que poderia afastar os agentes livres do Dallas Mavericks? Uma equipe com tantos pontos positivos e com a flexibilidade financeira proporcionada pelo novo contrato de Nowitzki, como se explica o não interesse de diversos jogadores?
O problema não é do Mavericks, que foi escolhido aqui apenas pela facilidade do exemplo, e sim das novas regras salariais implementadas em 2011.
Sob a nova CBA, fica muito mais vantajoso para qualquer jogador permanecer em sua equipe de origem, pois ganha maiores salários e mais anos de contrato. Esta diferença é ainda maior quando se fala em jogadores draftados pela equipe, que possuem ainda mais incentivos contratuais e ficarem com sua equipe de origem.
Com isso, se o plano para reconstrução parecia simples em um passado recente, pois tudo que as equipes precisavam fazer era conseguir grandes contratos expirantes e ir às compras, agora o modelo é outro. Sob a lógica, é muito mais importante uma boa escolha de draft e um programa de desenvolvimento e retenção de jovens talentos. Sem qualquer sombra de dúvida, esse é o novo caminho para o sucesso na NBA.
Claro que sempre algumas peças virão pelas contratações de mercado, mas as principais referências do elenco deverão vir via draft ou desenvolvimento de talentos adquiridos a baixo custo.
Neste ponto, está errado o Dallas Mavericks ao esperar que tudo se resolverá indo às compras. Correto está o Indiana Pacers, que já colhe os frutos de um trabalho dentro desses parâmetros. Também está correto o Boston Celtics, que, a exemplo do que fez outras vezes em sua história, está jogando a temporada fora, adotando a prática do “tank” – palavra da língua inglesa para representar a prática de um time que deliberadamente coloca um time ruim em quadra para tentar uma posição melhor no próximo Draft.
Neste sentido, também está fazendo errado o Los Angeles Lakers, que acredita que vai construir um elenco vencedor no próximo ano, quando terá espaço na folha salarial para até três jogadores com salário máximo. O problema é que os jogadores dignos de salários máximos têm cada vez menos incentivos para sair de suas equipes originais.
Por isso mesmo é que, nesta temporada, devemos observar números recordes de equipes adotando a prática do “tank”. O próximo draft deve ser um dos melhores da história, segundo as previsões iniciais. Todo mundo vai querer tentar a sorte, e as equipes que chegarem à metade da temporada já virtualmente eliminadas entrarão em uma nova competição, cujo prêmio é a primeira escolha no próximo recrutamento. A chance real de terem um futuro melhor.