Em três anos, dois títulos e um vice. Nada mal para uma equipe que se reconstruiu a partir do nada, com um técnico o tempo todo sob desconfiança. Diferentemente do que foi nas temporadas passadas, o Miami Heat teve que contar mais ainda com o talento do astro LeBron James.
Primeiro, porque Dwyane Wade teve sérios problemas justamente na parte final da fase regular, o que acabou refletindo diretamente nos playoffs. Fisicamente, Wade precisou superar as dores no joelho e jogou no sacrifício. Considerado um dos melhores jogadores da NBA nos últimos dez anos, ele foi apenas sombra daquilo que fizera.
Chris Bosh, um talentoso ala-pivô, viu-se obrigado a jogar em muitos momentos de costas para a cesta, e o pior, tendo que marcar os maiores jogadores adversários. Bosh teve um rendimento bastante prejudicado por isso, e acabou perdendo, ao menos na minha opinião, o status de estrela. Tornou-se um jogador importante, porém não muito mais. O exemplo claro disso é a sétima partida da final, quando saiu de quadra sem pontuar.
James teve de colocar a bola debaixo do braço e fazer com que seu time jogasse por ele. Claro que em alguns momentos, Wade contribuiu como no passado recente e assim, as coisas ficaram menos complicadas. Os coadjuvantes tiveram participações especiais em determinadas situações, mas em outras não puderam fazer absolutamente nada.
Herói na vitória do jogo seis, o veterano Ray Allen esteve apagado durante alguns jogos, incluindo o último, quando, assim como Bosh, saiu zerado. Udonis Haslem, peça importante contra o Indiana Pacers, perdeu a titularidade durante as finais e atuou por apenas 20 minutos nos últimos três embates.
Quem estava sumido, acabou sendo fator determinante no jogo decisivo. O ala Shane Battier converteu seis arremessos de três, depois de amargar muito tempo no banco de reservas durante toda a fase de playoffs. Apareceu quando o time mais precisava.
Contratado para ser o primeiro reserva há três anos, Mike Miller não passou de um rascunho de outros tempos, muito por conta das intermináveis lesões nas costas, no pulso, no tornozelo, e no joelho. Miller chegou ao ponto de ir para a linha de lance livre em apenas 11 vezes nesta temporada em 59 partidas. Ganhou a posição de Haslem na reta final muito mais pela estratégia de Erik Spoelstra do que qualquer outra coisa. Mesmo no quinteto titular, ele zerou em três dos quatro jogos.
Apesar de tantos problemas, o Heat superou uma equipe acostumada com finais e com jogadores de altíssimo nível, como Tim Duncan e Tony Parker, além de um técnico chamado Gregg Popovich.
O título de 2012-13 foi, com toda certeza, muito mais difícil de ser conquistado do que no ano passado. O Heat, que chegou a obter 27 vitórias consecutivas durante a temporada regular, teve a vida complicada durante os playoffs. Não na primeira rodada, quando atropelou um desorganizado Milwaukee Bucks, mas depois, ao enfrentar Chicago Bulls e Pacers até chegar nas finais contra o Spurs. Em todas as três séries, a equipe perdeu uma partida em casa e depois retomou o mando de quadra. No caso do Bulls e do Spurs, o time foi derrotado logo no primeiro embate.
Fator LeBron
Ainda existem pessoas que conseguem dizer que James não é decisivo. Devem estar vendo outro jogo ou simplesmente ignorando o fato de o jogador ter sido o principal responsável por diversas vitórias do Heat nos momentos finais. Talvez seja a pecha de ter perdido duas finais na carreira sem ter jogado o quanto joga. Talvez…
Mas para quem ainda acha que ele é amarelão, vou mostrar alguns fatos legaizinhos: no triunfo sobre o Pacers na primeira partida da final do Leste, James girou em cima de Paul George, fazendo a cesta da vitória. Depois, no sexto jogo diante do Spurs, LeBron anotou 18 pontos entre o quarto período e a prorrogação. Por fim, no sétimo embate, ele fez nove pontos no último quarto. Definitivamente um jogador que desaparece, né?
Agora, para aqueles que juram para o Papai do Céu que ele é apenas físico e não sabe fazer nada longe do garrafão: nove de suas 12 cestas foram fora da área pintada, sendo cinco delas de três pontos. Durante os playoffs, ele teve um aproveitamento de 37.5% de longa distância.
O futuro
Para a próxima temporada, todos os jogadores do elenco de apoio estão sob contrato, exceto Chris Andersen. Ray Allen, James Jones, e Rashard Lewis, possuem opção em seus acordos. Alguém acha mesmo que eles vão abandonar o barco para uma tentativa na agência livre? Terei uma enorme surpresa se isso acontecer.
Existem vários jogadores que chegaram a manifestar interesse em atuar pelo Heat em 2013-14, como Samuel Dalembert e Chauncey Billups. Sabe-se ainda que o pivô Chris Kaman, agente livre irrestrito do Dallas Mavericks, é sonho antigo da franquia.
O time possui algumas lacunas e aparentemente o maior desejo da diretoria é contratar um pivô que tenha capacidade de ser titular. Para que isso aconteça, somente via trocas ou na free agency. Resta saber se vão de Dalembert ou Kaman.
Na armação, Billups pode chegar como um veterano que saiba defender e que tenha um ótimo aproveitamento nos arremessos de longa distância. Resta saber se as condições físicas são as ideais, o que neste momento não parecem ser. Mario Chalmers deve iniciar o próximo ano no quinteto inicial, mas será expirante.
Existe uma certa gratidão em cima de alguns jogadores. O pivô Joel Anthony, por exemplo, tem contrato até 2014-15, quando terá opção em seu acordo. Outro que dificilmente sai. Mike Miller e Udonis Haslem, idem.
Aliás, todos os principais atletas da equipe estão com a mesma situação. James, Wade, e Bosh, terão opções nos contratos em 14-15. Se o resultado de 2013-14 for outro título, é provável que todos eles fiquem para pelo menos mais um ano.
O técnico
Erik Spoelstra conduziu o Heat nas últimas cinco temporadas, levando o time para os playoffs em todas as oportunidades, e conquistou dois títulos e um vice. Na fase regular acumula 260 vitórias e 134 derrotas. Acho que já passou da hora de ele ser encarado como um treinador de verdade.
Fator Wade
As contusões não param e os anos também não. Dwyane Wade completou 31 anos em fevereiro. Seu jogo, porém, não mudou. É algo que venho dizendo nos meus últimos artigos. Wade não evoluiu em nada no arremesso de longa distância, mas ele segue com as investidas para dentro do garrafão, usando o seu físico. Uma hora o seu corpo vai pedir trégua.
Nas últimas duas temporadas, o camisa 3 ficou de fora de 30 partidas, o que é preocupante. Existem alguns rumores pela liga que, se Wade não estiver saudável em 2013-14, LeBron James testará novamente o mercado e há quem diga que ele retornará para o Cleveland Cavaliers.
Curiosidades
– Mesmo não jogando em boa parte da temporada regular e sequer ter entrado em quadra nos playoffs, o veteraníssimo Juwan Howard conquistou o seu segundo título consecutivo na carreira. Aos 40 anos, ele jamais havia sido campeão antes de 2011-12.
– Depois de anotar 18 pontos em dois jogos seguidos nos playoffs, o armador reserva Norris Cole teve uma final bastante apagada: não pontuou em duas partidas e nas duas seguintes não saiu do banco.
– Chris Andersen estava sem espaço na NBA depois de problemas fora das quadras, mas o Miami Heat lhe deu uma oportunidade e não se arrependeu. Andersen foi o jogador que mais “incendiou” o time vindo do banco de reservas, trazendo muita intensidade e defesa.
– Companheiros no Seattle Supersonics quando eram protagonistas, Ray Allen e Rashard Lewis conquistaram o título pelo Heat como reservas. Allen já havia sido campeão pelo Boston Celtics, enquanto Lewis disputou uma final, e perdeu, para o Los Angeles Lakers na época em que jogava pelo Orlando Magic.