Uma revolução silenciosa: cai marca histórica na NBA

Por Henrique Lima A temporada atual da NBA quebrará um recorde histórico da liga. Pela primeira vez desde que os dados de rebotes começaram a ser computados juntamente com os de pontos, nenhum atleta vai conseguir alcançar 20 pontos e dez rebotes de média por partida. No gráfico abaixo, está relacionado o número de atletas […]

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Por Henrique Lima

A temporada atual da NBA quebrará um recorde histórico da liga. Pela primeira vez desde que os dados de rebotes começaram a ser computados juntamente com os de pontos, nenhum atleta vai conseguir alcançar 20 pontos e dez rebotes de média por partida.

No gráfico abaixo, está relacionado o número de atletas por temporada que alcançaram o popular “20-10” desde a campanha regular 1949-50 (leia-se a temporada atual como 2013, pois é o ano em que termina. Então, por exemplo, 1988 representa a temporada 1987-88). Clique nele para ampliá-lo:

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Gráfico - Artigo do Henrique

Mais importante do que o simples dado em mãos é saber interpretar o porquê da mudança drástica no perfil do jogo. Podemos imaginar várias situações que ajudam a chegar neste ponto e vamos tentar analisar uma por uma daquelas que eu conseguir lembrar. Caso vocês, leitores, lembrem mais, por favor, coloquem nos comentários que vamos analisando.

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O basquetebol sempre exerceu muita curiosidade pelo fato de reunir gigantes em uma quadra. Nenhum outro esporte de contato físico tem atletas tão altos disputando o mesmo espaço. Isso torna o basquete único e com uma imagem bem singular.

A verdade é que ao longo de muitos anos tivemos o domínio total de seres de altura quase surreais para suas épocas, como: George Mikan, Bill Russell, Bob Pettit, Wilt Chamberlain, Kareem Abdul Jabbar, Moses Malone, Bill Walton, Hakeem Olajuwon, Patrick Ewing, David Robinson, Tim Duncan e Shaquille O´Neal. Aqui, só listo alguns dos gigantes bem conhecidos que tiveram importância crucial dentro da evolução do jogo.

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Desde Mikan, a corrida para ter um cara alto, que conseguisse correr a quadra inteira, fosse forte, pegasse rebotes, defensor, que soubesse definir próximo do aro e levasse seu time às vitórias sempre foi vital pautando ações dos times nos recrutamentos de universitários. De tempos para cá, também na observação de jogadores estrangeiros. Por anos, as equipes tentavam achar esse protótipo de atleta – algumas conseguiam e outras passaram décadas procurando sem sucesso. De toda forma, a procura por caras que pudessem fazer diferença significativa próximo ao aro sempre existiu.

Primeiro de tudo, o dado mostra que atuar no garrafão não tem sido fácil atualmente. Aí temos algumas hipóteses. Pelas restrições nas regras, pela dinâmica ou até mesmo pela qualidade dos atletas, o jogo tem se voltado para o perímetro com uma quantidade de chutes de três jamais assistida e, principalmente, a busca por espaçamento.

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A palavra mágica é espaçamento. Em várias clínicas de treinadores (participei de algumas com Hall of Famers como palestrantes, por exemplo), a palavra espaçamento é citada como crucial. O jogo de hoje depende bastante de ter as peças bem colocadas no ataque. Isso ocorre porque, com o passar dos tempos, o espaço no basquetebol tem sido vital para qualquer tipo de ação. Os sistemas defensivos se desenvolveram em verdadeiro “rochedos” que são complexos para ser transpostos apenas com jogadas desenhadas na prancheta. É necessário um verdadeiro sistema, um padrão de jogo bem treinado, bem pensado em todos os seus desdobramentos, para que o ataque consiga concluir com qualidade e eficiência.

Se antes o jogo chegou a ser totalmente focado no garrafão, (afinal, Tim Duncan e Shaquille O´Neal reinaram entre 99 e 2007: todos os times campeões neste espaço de tempo, exceto 2004, tinham um dos dois atletas), hoje a corrida é por mais velocidade, agilidade e mobilidade. Bem, coisas que alguns caras de mais de 2,13m não ”acham” com facilidade. É muito difícil achar caras como Duncan e O´Neal nos dias modernos – que juntam técnica, tática, psicológico, físico em níveis bem acima da média para a posição. É raro. Não por acaso, são os dois últimos exemplos de seres que dominaram o garrafão ofensivo por anos.

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A temporada atual é um marco da história da NBA. É uma revolução silenciosa sendo feita. O Miami Heat, time de melhor campanha na temporada regular, não tem um pivô de ofício. Raro vermos um time que abdicou da presença de um pivô e, mesmo assim, conseguiu vir muito bem. Chris Bosh não é um pivô. Ele é um ala, que nem joga tão próximo assim da cesta e também não é nem um dominador de rebotes, por exemplo.

Outras franquias bem colocadas na tabela não têm pivôs que sequer incomodem ofensivamente, a não ser com tapinhas e uma ou outra jogada isolada. O primeiro pivô das melhores equipes que atua ofensivamente com poder para atrapalhar defesas é Marc Gasol, do Memphis Grizzlies, mas longe de estar no nível de fazer médias de 20 pontos e dez rebotes com facilidade.

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Se considerarmos que Tim Duncan é um caso raro de híbrido entre ala e pivô, o San Antonio jogou por tempo com dois pivôs, uma vez que Tiago Splitter é o pivô titular (com algo em torno de 24 minutos por jogo de média, ou 50% do tempo da posição).

Neste formato atual, em que ataque e principalmente defesa (regra dos três segundos defensivos) não podem ficar tão estáticos quanto antigamente, não é complicado supor o motivo pelo qual o perfil dos jogadores de garrafão vem mudando.

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Os novos homens de garrafão não precisam ser “mutantes” na altura, mas sim na agilidade, velocidade, explosão física e, principalmente, domínio do corpo, para aguentar o contato físico com os rochedos ainda existentes na liga (caso de pivôs extremamente fortes como Brendan Haywood, Marc Gasol, Tyson Chandler, Kendrick Perkins, Andrew Bogut, para citar alguns).

De qualquer forma, estamos observando uma revolução do jogo sem alardes. Não é necessário a correria de um time ou a lentidão de outro, não é necessário somente uma enxurrada de chutes de três pontos ou infiltrações mirabolantes para percebemos. Apenas com uma análise mais sutil podemos evidenciar que:

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I – Um pivô dominante nos moldes de Shaquille O´Neal não nasce todos os dias. Ter as qualidades do “Big Fella” é algo raro. Para os leigos, é somente tamanho e força física. Aqueles que dominam o jogo sabem, porém, que se tratava dos giros, a coordenação, o monstruoso domínio da bola. Enfim, era bem mais do que ser alto e forte. Ele é o que podemos considerar ponto fora da curva. Contamos nos dedos a quantidade de pivôs fora de série (como ele) que surgiram por aí. Não é fácil acha-los.

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II – O jogo está mais veloz na transição, o que não quer dizer que seja correria. Pelo contrário, o jogo acelera a passagem defesa/ataque para que os times possam ter mais tempo para trabalhar a posse na meia quadra. Isso é visível em várias equipes mundo afora. Logo, é complicado ter alguns atletas por 35 minutos na quadra sendo que eles, por vezes, não conseguem acompanhar este ritmo. Não veremos Kendrick Perkins correndo como um maluco na quadra. Não é compatível com a realidade.

III – O perfil do homem de garrafão poderá e deverá ser um híbrido entre um pivô (aquele “cincão” clássico) e um ala de força com jogo de meia distância (também um clássico da posição). Talvez por isso, Dwight Howard tenha tantos problemas em determinadas situações: faltam-lhe recursos técnicos para atuar de frente para a cesta e também em uma distância superior ao bloco do lance livre. Ele fora deste espaço é como um peixe fora d’água – fácil de ser marcado e apenas um cara alto para realizar bloqueios indiretos.

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IV – Na quadra defensiva, como o jogo tem se espaçado demais, é complicado pedir para que tanques de guerra saiam da linha dos três para defender o pick and roll e voltem com velocidade/agilidade que não possuem. Um Chris Bosh é e sempre será mais veloz do que um Brendan Haywood na recuperação de um pick and roll. O mesmo vale para alguns jogadores do estilo de Serge Ibaka em relação a pesos pesados como DeSagana Diop. Então nem sempre os cinco ou seis centímetros a mais de altura valem nesse aspecto. A agilidade tem sido algo que é muito explorado (principalmente) na defesa, além do bom controle corporal para evitar contatos ilegais e excesso de faltas.

 

Podemos também avaliar e lembrar as gerações de homens altos e dominantes que atravessaram a NBA ao longo dos tempos. A atual geração não é a melhor que temos, mas também não é pior. Não podemos dizer que não temos bons pivôs. Temos bons, porém não temos nenhum fora de série atualmente. O fora de série é o desvio da curva, aquele que foge do padrão, aquele que tem o ”algo mais”. Da mesma forma, é raro termos temporadas com apenas um ou dois caras alcançando o “20-10”. Ter mais de sete ou oito atletas fazendo isso também não é comum.

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Ainda assim, NENHUM, será a primeira vez na história!

O jogo vem evoluindo em todos os seus aspectos. De modo geral, podemos dizer que uma série de fatores levou ao recorde ser quebrado na atual temporada. Vamos checar se, na próxima temporada, teremos algo mais próximo da atual ou mais próximo de algumas passadas – em que chegamos a ter oito, nove ou dez atletas acima de 20 pontos e dez rebotes. Acredito plenamente que vão encontrar uma atleta que possa estabelecer o domínio que os grandes pivôs tiveram ao longo dos anos. Mais cedo ou mais tarde, sempre acham o cara fora da curva, o cara especial. E este será aquele grande craque, o futuro Hall da Fama. Enfim, o que levará a revisar os conceitos do jogo.

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A cada draft que temos, a busca pelo projeto ideal de dominador dos garrafões está em questão – sempre revista, lembrada e citada. Hoje, parece claro que, quem tiver seu 20-10 garantido, terá uma joia rara na coleção.

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