Mike Dunlap e o futuro do Charlotte Bobcats

A notícia de que Mike Dunlap seria o novo treinador do Charlotte Bobcats foi um choque para quase todos. Não um choque por ser uma escolha brilhante ou péssima, mas porque foi uma grande surpresa. A verdade é que ninguém fazia ideia de quem era Mike Dunlap. Depois de entrevistar nomes do calibre de Jerry […]

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A notícia de que Mike Dunlap seria o novo treinador do Charlotte Bobcats foi um choque para quase todos. Não um choque por ser uma escolha brilhante ou péssima, mas porque foi uma grande surpresa. A verdade é que ninguém fazia ideia de quem era Mike Dunlap. Depois de entrevistar nomes do calibre de Jerry Sloan, o homem escolhido para tirar a franquia do posto de pior time da história da liga é um total desconhecido. A piada estava pronta: contrataram um assistente universitário para ser técnico principal na NBA.

A opção parecia ser um reflexo perfeito da situação precária em que o Bobcats se encontra, mais um tropeço para a coleção do dirigente Michael Jordan. Eu não sei se concordo. Quer dizer, é inegável que a contratação de Dunlap dá noção deste momento (ruim) da franquia. Para mim, porém, revela também um time consciente da alternativa que possui para sair do buraco em que está. E isso é algo importante para alguém na posição de Charlotte.

A primeira coisa a ser dita sobre a contratação é que anonimato não significa inexperiência ou falta de qualificação. Longe dos olhos do grande público, Dunlap construiu uma carreira de 32 anos ininterruptos no basquete. Vinte e sete deles foram dedicados ao circuito universitário, onde ajudou o desenvolvimento de talentos e “ensinou” o jogo (seja em grandes ou pequenos programas) a vários jovens. Curiosamente, quando foi anunciado como novo treinador do Bobcats, ele estava comandando atividades com alguns dos prospectos do draft deste ano, mostrando diferenças da NCAA e NBA.

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É verdade que, no fim das contas, seu currículo só inclui uma passagem de dois anos pela competição profissional dos EUA – como assistente de George Karl no Denver Nuggets (2006-08) –, mas isso parece ter mais a ver com a falta de oportunidade do que competência. A verdade é que grandes universidades pagam quase tão bem quanto franquias da NBA para técnicos e profissionais com o background de Dunlap são mais valorizados nos níveis de formação. Isso sem contar que estamos falando da liga em que Vinny Del Negro é técnico, enquanto Ettore Messina retorna para a Europa.

A pouca vivência na NBA pode prejudicar o tal ilustre desconhecido? Evidente. Mas isso não tende a fazer a diferença que se espera aqui. Cerque-o de assistente com rodagem de NBA para não correr perigo, se for o caso. O principal é que o plano do gerente geral de Charlotte, Rich Cho, é montar o elenco por meio do recrutamento – sem pressa ou investimentos de grande porte em agentes livres. Neste caso, mais do que um veterano, a equipe precisa de alguém que possa se comunicar e lapidar jovens atletas. Em Dunlap, consegue um testado profissional na tarefa. É uma contratação alinhada com os objetivos e futuro do Bobcats.

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O espelho do plano de Cho é o Oklahoma City Thunder, onde trabalhou entre 1995 e 2010. Inclusive, esteve ao lado do GM Sam Presti na formação do jovem elenco que acaba de disputar a final da liga. Quem é o treinador do time? Scott Brooks. E quem era Brooks em 2008, quando assumiu o cargo? Alguém com oito anos de carreira, que foi escolhido exatamente por saber se comunicar com jovens. Ele era o “desconhecido” da vez, com a única diferença de ter sido promovido, não contratado. Hoje, está prestes a assinar uma extensão de quatro anos. Nada mal para um cara que ninguém conhecia…

Com o tempo, Brooks foi aprendendo a treinar. Evoluiu. Isso é algo em que, na teoria, Dunlap parece já estar milhas a frente. Há poucos dias, George Karl o definiu como uma das mentes mais criativas pensando estratégicas defensivas com que já trabalhou. Foi duas vezes campeão da segunda divisão da NCAA. Rodagem de 30 anos dentro de quadra. Por mais que nunca tenhamos ouvido seu nome, ele não é o “paraquedista” que parece à primeira vista.

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Claro que Michael Jordan adorou a escolha do ponto de vista financeiro. Dunlap será o técnico de menor salário da NBA – certamente, vai receber bem menos do que Sloan, Brian Shaw ou Quin Snyder. E o agora dirigente está certo em não querer gastar muito. Não são nomes caros que revolverão as coisas. Sejamos sinceros: Paul Silas não levou este time aos playoffs, Phil Jackson não levará e Red Auerbach não levaria. A chave aqui é investir com sabedoria, pensando a frente. E, neste sentido, Dunlap é um achado.

O que eu estou tentando dizer é que o desconhecido Mike Dunlap não tem como dar errado, será um sucesso certo? Não. Se fosse, já estaria trabalhando para alguém na NBA. Mas sua escolha mostra uma equipe que tem consciência do que precisa para crescer. Dunlap já transformou muitos meninos em homens. É hora de tentar transformar uma franquia.

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